"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

SAÚDE PÚBLICA NO CANADÁ... VOCÊ ACREDITA? É O QUE SE FAZ LÁ COM OS IMPOSTOS!

http://www.youtube.com/watch?v=gCkaC9sK-4g&feature=player_detailpage


21 de agosto de 2013


NOTA AO PÉ DO VÍDEO

E o palanqueiro teve o cinismo, a coragem de dizer que o SUS se encontrava a beira da perfeição!
Ao assistir o vídeo, acredito que qualquer brasileiro se sinta afrontado e envergonhado. Pagamos impostos absurdos, assistimos o descalabro moral dos políticos que infestam a 'casa do espanto', e o mais grave, pagos regiamente com o dinheiro do que os trabalhadores e empresários produzem. Ou seria melhor, são achacados pela Fazenda, para assistir o espetáculo da dinheirama desviada nas práticas da corrupção e da ilicitude. Para assistir recursos sangrados da nação escorrer pelo bueiro da safadeza, da desonestidade, da molecagem irresponsável de homens públicos, sempre no olho dos escândalos que assolam este pobre país.
E notem, estamos falando de saúde pública!!!
Envergonho-me, não de ser brasileiro, mas de assistir como se pratica, criminosamente, a política no Brasil.

m.americo
 

PROTESTOS VAMOS PRA RUA

http://www.youtube.com/watch?v=_mHzXz2wS4k&feature=player_detailpage


21 de agosto de 2013

NOTA AO PÉ DO VÍDEO

COMO DIZEM OS MORADORES DE RUA, JÁ ESTAMOS NELA HÁ MUITO TEMPO...
E NÃO POR VONTADE PRÓPRIA, MAS POR DESEMPREGO, MISÉRIA, ANALFABETISMO, DROGAS E OUTROS MALES QUE ASSOLAM UMA NAÇÃO ENTREGUE AO "DEUS DARÁ",
E SE DEUS NÃO DER, EU VOU ME INDIGNAR, COMO CANTAM OS VERSOS DE CHICO BUARQUE.

http://www.youtube.com/watch?v=TNRM_g0IGqI&feature=player_detailpage

VAMOS SERIAMENTE PARA AS RUAS, DENUNCIAR A IMPUNIDADE, A CORRUPÇÃO, O DESPERDÍCIO DOS IMPOSTOS EM 'MARACAS' SUNTUOSOS, ENQUANTO HOSPITAIS SEQUER TÊM ALGODÃO E ESPARADRAPO...
DISSE O OUTRO QUE NÃO SE JOGA FUTEBOL EM HOSPITAIS... UMA TOTAL FALTA DE CONSCIÊNCIA, QUE APENAS MOSTRA A INSENSIBILIDADE DE UMA FIGURA PÚBLICA, QUE SE DIMINUI, QUANDO DEVIA SER EXEMPLO.
VAMOS PARA AS RUAS COBRAR NOSSOS DIREITOS DE CIDADANIA, SEM ARRUAÇAS, SEM QUEBRA-QUEBRA, IDENTIFICANDO E EXPULSANDO OS QUE PROCURAM INVALIDAR NOSSO DIREITO DE COBRANÇA.

m.americo

ACORDA BRASIL! A DIFERENÇA ENTRE OS IMPOSTOS NO BRASIL E NO CANADÁ

SALÁRIOS DOS POLÍTICOS

http://www.youtube.com/watch?v=nuzCsW77nT8&feature=player_detailpage


21 de agosto de 2013


NOTA AO PÉ DO VÍDEO

SEMPRE QUE O ASSUNTO É SALÁRIO DE POLÍTICOS BRASILEIROS - E CHAMAR DE SALÁRIO O QUE ELES RECEBEM, É BRINCADEIRA! - EU COLOCO O VÍDEO DOS POLÍTICOS DA SUÉCIA. É COMO UMA ESPÉCIE DE SENTIMENTO MASOQUISTA, SABER O QUE UMA NAÇÃO ENTENDE POR POLÍTICA, O QUE OS HOMENS QUE SE CANDIDATAM A POLÍTICOS PENSAM DO ATO DE SER POLÍTICO, O MODO COMO UM PAÍS RESPONSÁVEL ACEITA SEUS POLÍTICOS, NO VERDADEIRO SENTIDO GREGO DA PRÁTICA POLÍTICA...
É ADMIRÁVEL A DIFERENÇA DE COMPORTAMENTO DO HOMEM PÚBLICO DE UMA NAÇÃO CIVILIZADA, QUANDO COMPARADA AO TRISTE ESPETÁCULO QUE ASSISTIMOS NO BRASIL.
CONFESSO QUE NÃO HÁ MAIOR VERGONHA DO QUE ASSISTIR AOS SUCESSIVOS ESCÂNDALOS QUE ADOECEM O SENTIDO DE PATRIOTISMO, CONTAMINADO JÁ
PELA CORRUPÇÃO, PELA IMORALIDADE, PELO DESCASO COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS. QUE FAZ RENASCER O VELHO DITO 'GERSONIANO' DE "GOSTAR DE LEVAR VANTAGEM EM TUDO, CERTO?".
TENHO A IMPRESSÃO DE QUE SUBSTITUIU O ATÉ ENTÃO FAMOSO "ESPÍRITO CORDIAL" QUE DEFINIA O CARÁTER BRASILEIRO.
CORDIALIDADE E MOLECAGEM SÃO COISAS BEM DIFERENTES...
E TOMEM O VÍDEO!

Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=0n3fQDAfJmM&feature=player_detailpage


Parte 2
http://www.youtube.com/watch?v=3iLEN2_UpDA&feature=player_detailpage

m.americo
 

IMPOSTOS MALDITOS

                                              

O HUMOR DO DUKE



20 de agosto de 2013

JORNALISMO, ORA DIREIS...

 

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As duas grandes conquistas de Geraldo Alckmin em SP, o último bastião ainda não violado pelo petismo, foram fazer o maior metrô do Brasil e derrubar a criminalidade em 80%, fato que foi saudado em seção especial da ONU mas nunca rendeu um único título de jornal ou especial de televisão de que eu me recorde.

Às vésperas da última eleição uma onda de assassinatos de policiais que cessou tão misteriosamente como começou logo que as eleições passaram dispensou o PT de discutir esse assunto na campanha, apesar da estatística resultante continuar representando um feito único no mundo.

O outro grande trunfo que restava ao partido acaba de ser destruído com o concurso decisivo das redações dos jornais e das televisões com cuja incompetência/cumplicidade o PT conta cegamente em um mês de incessante bombardeio contra “o cartel do PSDB”, num setor de mega engenharia no qual não existem em todo o mundo mais que meia dúzia de empresas “concorrentes“, três ou quatro das quais com poder de fogo bem maior que as outras, fato que nunca chegou a ser mencionado ao longo dessa campanha.

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Isso acontece porque 99% das matérias que chegam ao distinto público são enfiadas na imprensa por fontes oficiais.
Dado o start por um deles, o resto acontece sozinho em função da corrida dos pauteiros uns atrás dos outros e da absoluta ausência de qualquer orientação firme nas redações.

Nas raras vezes em que ha investigação jornalística de fato acontece o que aconteceu no Estadão de 13 de agosto que mostrou tarde demais que a mesma denuncia que apontava cartel em SP aponta o mesmo desvio em todas as capitais onde o metro está nas mãos do Ministério das Cidades da Dilma.

Foi por isso que o PT acionou até o seu ministro da Justiça para impedir o acesso dos acusados e, principalmente, do público aos autos do processo.
Ou o que foi revelado no Globo deste domingo que, também tarde demais, apresentou uma longa reportagem mostrando o que acontece em matéria de transportes públicos em todas as capitais do país.

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Eis os principais highlights:
  • O transporte urbano não é licitado em mais da metade das capitais brasileiras.
  • No Rio a primeira licitação foi feita em 2010.
  • No RJ, SP e BH 49 empresas e 17 empresários individualmente, que estão na lista de licitantes, também estão da de devedores do governo e/ou do Fisco, o que é contra a lei. Eles nos devem 2,8 bi, o que equivale a 32 x o valor desembolsado para todo o “Programa de Mobilidade Urbana” pelo Ministério das Cidades da Dilma.
  • A lei diz que inadimplentes com o governo, o Fisco ou o Trabalho ficam inelegíveis para licitações em 75 dias. Mas a Justiça expede liminares a esse pessoal para seguir nas licitações “enquanto não for julgado”. Ou então o interditado simplesmente cria um novo CNPJ e segue no jogo.
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  • Só no Centro Oeste todas as capitais tiveram licitação.
  • No Sul e no Nordeste só Curitiba e João Pessoa têm serviços licitados.
  • No Norte só há três capitais com licitação.
  • No Sudeste todas as capitais tiveram licitações exceto Vitória.
  • No RJ o TCM abriu processo de cartel. Jacob Barata Filho aparecia entre os proprietários de sete empresas “concorrentes” e 12 outros empresários tiham participação em mais de uma. Mesmo assim o TCM arquivou o processo.
  • Na Prefeitura de SP (hoje do PT) a licitação que é de 2003 (então também do PT, com Martha desde 2000) venceria este ano mas foi prorrogada por mais 1 ano. Jilmar Tatto (PT-SP) é o secretário atual.
  • A única das 8 áreas de SP que não terá nova licitação é a que tem mais queixas. Pertence ao Grupo Ruas que detém mais três áreas.
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  • No DF as duas companhias “em disputa” pertencem à mesma família. Mas, segundo autoridade do Ministério das Cidades, “o fato de serem irmãos não configura cartel”. CNPJs diferentes é quanto basta para “iludir” as autoridades e a Justiça.
  • Essa mesma “empresa familiar”, a Piracicabana, contratou o escritório Guilherme Gonçalves & Sacha Reck, Advogados Associados, para orientá-la na licitação. Sacha é filho de Guilherme Reck, diretor da empresa contratado pelo DF para fazer o edital da licitação.
  • O negócio tem sido tão bom no Distrito Federal que operando ônibus acaba-se comprando Boeings como fez o Grupo Constantino que se tornou dono da Gol.
  • Em Salvador a ultima licitação foi há 40 anos. Desde 2006 o MP exige nova licitação.
Há não muitos anos atrás, em tempos bem mais conflagrados ideologicamente do que estes, tais “furos” provocavam reuniões nas redações e todo mundo saia correndo atras do prejuízo, para lucro do leitor e da democracia brasileira.

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Hoje esses pontos fora da curva em que se transformaram os raros trabalhos reais de reportagem na imprensa não provocam reação nenhuma nas redações “furadas“. Em geral são abafados até mesmo pelas próprias redações que os publicaram, senão por titulares de postos de comando estrategicamente “aparelhados”, talvez porque, de tão tardios, criam um constrangimento já que se constituem em verdadeiros atestados da leviandade com que foi tratado o assunto por elas desmentido até então.

Já os empresários no comando dos jornais e das televisões não se dão nem parecem querer se dar conta desses fatos. É que na direção das empresas jornalísticas, ultimamente, tem havido banqueiros, empresários, tecnocratas e até semi-jornalistas. Mas jornalistas não. Quando os há, estão escanteados e cientes de que sua linguagem não é entendida nem desejada nas reuniões onde as coisas realmente são decididas.
 
Jornalismo não é, para esses “líderes“, nem um objetivo prioritário, nem uma missão nem, muito menos, uma ferramenta precipitadora de reformas imprescindível para o funcionamento das democracias. É apenas o fator atrapalhador das contas que melhoram quanto mais se espreme e encurrala as redações.
De modo que não é só a internet o problema que ameaça a imprensa. O buraco é muito mais em cima.

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20 de agosto de 2013
vespeiro

A SUJEIRADA DO GOVERNO SÉRGIO "GUARDANAPO" CABRAL CADA VEZ ENVERGONHA MAIS O RIO DE JANEIRO




Reportagem da revista ‘Veja’ deste fim de semana revela que 60% do faturamento do escritório de advocacia da mulher do governador Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, vêm de honorários recebidos por serviços prestados a empresas que, “direta ou indiretamente, dependem de dinheiro público”, ou seja, do governo do Estado do Rio, como concessionárias e prestadoras de serviço.
 
De acordo com a reportagem, antes de Cabral tomar posse, o escritório Coelho & Ancelmo Advogados Associados tinha apenas 2% de seu faturamento vindo desta origem. A revista destaca ainda que o escritório teve um crescimento “espetacular” nos últimos seis anos, saltando de três profissionais e 500 processos em carteira para 20 advogados e cerca de 10 mil ações.

A receita do escritório, segundo a “Veja”, também saltou de R$ 2,1 milhões em 2006 para R$ 9,5 milhões no ano passado, o que faz com que os rendimentos de Adriana Ancelmo cheguem a R$ 184 mil mensais.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
 
Entre as concessionárias e prestadoras de serviço que são clientes do escritório da mulher de Cabral estão o MetrôRio, a SuperVia, a Telemar e a Facility (fornecedora de serviços de segurança). O MetrôRio toca atualmente as obras da construção da Linha 4, cujo consórcio conta com a participação da Odebrecht e que estão orçadas em R$ 8,5 bilhões. O trajeto da linha foi alvo de polêmica e contestações, mas foi mantido pelo governador.

A SuperVia foi adquirida em 2010 pela mesma Odebrecht e tem no seu histórico incontáveis relatos de acidentes e mau funcionamento. Revoltados com a qualidade do serviço prestado, passageiros já realizaram inúmeros protestos, sem contudo obter algum resposta para as suas queixas.
 
A Telemar, uma das campeãs de reclamações por parte dos consumidores, tem entre seus donos a construtora Andrade Gutierrez, também sempre presente nas mais importantes obras tocadas pelo governo do Estado.
 
Por sua vez, a Facility se viu recentemente envolvida num escândalo sobre fraudes em licitações. De acordo com denúncias investigadas pelo Ministério Público, concorrências eram forjadas para que suas propostas vencessem a disputa.
 
A denúncia da revista “Veja” se junta a muitas outras envolvendo o governador e o mau uso do dinheiro público. Helicóptero oficial usado indiscriminadamente pela família de Cabral em viagens particulares e relações nebulosas com empreiteiras, como a Delta de Fernando Cavendish, também vieram à tona, causando indignação da sociedade.
 
Os protestos que sacodem o Rio de Janeiro desde junho são uma consequência clara, direta e objetiva do mau exemplo que vem da maior autoridade do Estado.

20 de agosto de 2013
Deu no JB

IVO CASSOL COMPARA PAPUDA À CASA DO ESPANTO

Reditario quer ser suplente do filho no HSV e Eduardo Paes promete contratar Black Blocs para garantir o troféu

   


“O chefe ainda não enxergou nada de mais para tanto estardalhaço”, confidenciou um dos 98 assessores do senador Ivo Cassol durante o lançamento da candidatura do mais novo parlamentar-presidiário do país ao título de Homem sem Visão de Agosto.

“Do jeito que anda o Congresso ele acha que tanto faz ficar hospedado na Papuda ou na Casa do Espanto”, revelou a fonte.
“Mas desconfia que na penitenciária vai encontrar gente com uma capivara menor que a dos campeões do Senado”.
Ivo Cassol prometeu que, se mantiver o mandato, tentará aumentar a semana legislativa de três para quatro dias e, assim, escapar das chibatadas paternas.

Informado da oficialização da candidatura do filho, Reditario Cassol anunciou imediatamente a entrada na briga de foice – nem que fosse como suplente. “Ele acha que tem chance por ter enxergado no chicote a solução para os problemas do sistema penitenciário e da segurança nacional”,  contou um amigo da família. “Se perder, pode substituir o filho enquanto ele estiver atrás das grades e não puder participar dos eventos envolvendo os craques do HSV”.

De bermuda havaiana, camisa florida havaiana, óculos escuros havaianos e sandálias havaianas – apesar da temperatura de 12 graus e do céu nublado –, Eduardo Paes foi o terceiro candidato a entrar na disputa. “O chefe está enciumado porque o Sérgio Cabral levou o troféu antes dele”, murmurou um secretário da prefeitura do Rio que pediu para não se identificar. “Vai contratar um pessoal para se fantasiar de Black Bloc e fazer piquete na frente da casa dele para aparecer no jornal e na TV com mais destaque”.

A corrida pelo troféu de agosto começou, leitores-eleitores! As inscrições estão abertas! Outros candidatos ainda vão surgir! Que vença o pior!

20 de agosto de 2013
Augusto Nunes

"TRANCOS E BARRANCOS"

Por mais desagradáveis e condenáveis que sejam, por mais atenção que chamem as explosões de temperamento do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, não têm prioridade sobre o conteúdo do julgamento do mensalão – ora na fase de recursos – nem influência sobre o resultado.

Ele não teve o apoio que continua tendo da maioria da Corte por intimidação de seus pares. Invertendo o raciocínio: ainda que fosse a mais polida das criaturas, não seria por esse motivo que os ministros teriam seguido e/ou continuariam seguindo majoritariamente a posição do relator.

Joaquim Barbosa ganhou na narrativa que fez a partir da denúncia do Ministério Público, dos dados da CPI dos Correios, da instrução do processo desde 2007 e da metodologia proposta para o exame da ação pelo colegiado.

Perde-se ao expor alma despótica? Sem dúvida. Inclusive exibe assim a razão pela qual seria uma temeridade pensar nele como hipótese de presidente da República. Nem por isso o tribunal se perde junto.

De onde, peço licença para discordar dos que consideram o comportamento do presidente um fator preponderante de desqualificação do STF. Ele não é o único a se atritar com colegas. Há vários exemplos de escaramuças anteriores sem a participação de Barbosa.

Tampouco é o primeiro presidente a tratar com soberba e ironia os demais integrantes. Nelson Jobim, com palavras menos abjetas é verdade, interrompia votos, fazia julgamentos de valor, conduzia sessões com ares de imperador.

Nem por isso de lá (2004) para cá o Supremo viu-se diminuído em suas funções ou teve subtraída a importância de suas decisões. Ao contrário, só fez crescer aos olhos do País. Não pela forma deste ou daquele ministro se portar, mas pela maneira de o conjunto se conduzir: muito mais atento às demandas dos tempos que seus dois companheiros de República, o Executivo e o Legislativo.
Jobim passou. Barbosa também passará e o Supremo Tribunal Federal permanecerá.

Há as seguintes expectativas sobre a reabertura dos trabalhos amanhã: Barbosa se desculpa? Ricardo Lewandowski, que ainda não desencarnou do papel de revisor, insiste em algum tipo de retratação? A Corte compõe uma proposta de saída honrosa?

Não querendo subestimar a pertinência das dúvidas, francamente, nessa altura os trancos e os barrancos são secundários diante do tema que está para ir ao debate, uma vez concluída a etapa dos embargos de declaração.

Se houve divergências nestes, tidos como quase formais, haverá muito mais quando o presidente levar à votação o agravo regimental apresentado pelo advogado Arnaldo Malheiros contra a rejeição de Joaquim Barbosa ao pedido de revisão da sentença de Delúbio Soares relativa ao crime de formação de quadrilha.

Malheiros foi o único a se antecipar na apresentação de embargo infringente, em maio. Parecia querer tomar o pulso da Corte sobre os embargos infringentes e levar à firmação de jurisprudência para os outros.

A esses recursos têm direito os condenados que obtiveram quatro votos ou mais pela absolvição. A questão já se tornou conhecida: a lei 8.038, de 1990, que disciplina o julgamento de ações penais nos tribunais superiores, não prevê esse tipo de recurso, mas o regimento interno do Supremo prevê; o que vale mais, a lei ou o regimento?

A discussão será intensa e acalorada. Queira o bom senso que se dê nos limites da civilidade.
Sinuca - Nos últimos anos o STF aceitou examinar 54 embargos infringentes. Embora só tenha mudado sentença em um deles, reconheceu todos como admissíveis.

Não adaptou seu regimento à nova legislação e agora terá de enfrentar o problema justamente em meio a um julgamento que mexe com a percepção da sociedade em relação à eficácia da Justiça.

20 de agosto de 2013
Publicado no Estadão
DORA KRAMER

DESINFORMAÇÃO: DE BENGHAZI AO TERRORISMO NUCLEAR

           
          Artigos - Desinformação 
Na análise do ex-chefe de espionagem comunista, o atentado à embaixada americana em Benghazi é o pior escândalo de Obama.

A politização sem precedentes do IRS (Internal Revenue Service) à moda soviética foi, dentre todos os escândalos que infestam a administração Obama, o que maior indignação popular causou, pois muita gente sentiu na pele a arrogância da IRS.

Entretanto, muito mais importante é o encobrimento da verdade sobre o bárbaro assassinato do embaixador J. Christopher Stevens e de três dos seus subordinados dentro do nosso posto diplomático em Benghazi, cometido na emblemática data de 11 de setembro.

Por que digo isto? Na minha antiga vida como comandante-chefe de espionagem do bloco soviético, passei anos observando, a partir de um ponto de vista privilegiado e exclusivo, como um tipo de maldade rapidamente leva a outra maldade muito maior. Acredito que Benghazi é o
escândalo da presidência Obama.

Para resumir: descrevendo de forma enganosa o ato de guerra cuidadosamente preparado contra os EUA como um caso de “violência espontânea”, esta administração provou que não está disposta e nem é capaz de defender o nosso país e as nossas vidas contra o terrorismo
externo, que - e aqui está a parte crítica – está agora muito perto de ter armas nucleares para lançar contra nós.

James Woolsey, ex-diretor da Central de Inteligência, publicou recentemente um artigo no Wall Street Journal documentando como os EUA se tornaram tão vulneráveis ao terrorismo internacional, a ponto de até mesmo o ridículo governo norte-coreano poder detonar uma pequena arma nuclear sobre o território americano.

“A Coréia do Norte só precisa de um míssil balístico intercontinental capaz de transportar um única ogiva nuclear para se tornar um perigo real para os EUA”, escreveu Woolsey, juntamente com Peter Pry, diretor executivo da Task Force na National and Homeland Security.“ A Congressional Electromagnetic Pulse Commission, a Congressional Strategic Posture Commission e diversos estudos do governo americano demonstraram que a detonação de uma arma nuclear sobre qualquer parte do território americano geraria um pulso eletromagnético
catastrófico.”

Uma única explosão - algo que a Coréia do Norte é realmente capaz de fazer - constituiria um ataque por pulso eletromagnético capaz de, nas palavras do nosso ex-chefe da CIA, “causar um colapso na rede elétrica e na infraestrutura dela dependente - comunicações,
transportes, sistema financeiro, comida e água - necessárias para manter a sociedade moderna e as vidas de 300 milhões de americanos.”

Outra análise bem feita, recém-publicada no Weekly Standard, confirma que em meados de 2014, o fanático e anti-americano governo terrorista do Irã provavelmente será capaz de enriquecer urânio e plutônio de forma tão rápida que os EUA não conseguirão detê-lo
militarmente. Quando um regime insano e metastático - obcecado pela destruição (em primeiro lugar) do “Pequeno Satã”, Israel, e (em seguida) do “Grande Satã” (EUA) - tiver um arsenal nuclear, estaremos realmente vivendo em um mundo muito diferente e incerto.

Quando eu era conselheiro de segurança nacional do presidente da Romênia comunista, uma das minhas principais tarefas, era, ironicamente, impedir a ação terrorista. A prevenção, é claro, era muito mais fácil numa ditadura cruel onde a polícia política desfrutava de poder ilimitado. Entretanto, experiências recentes provam o bom funcionamento da prevenção nos EUA. A Heritage Foundation noticiou em 2008 que cerca de 40 ataques terroristas foram evitados desde 11 de setembro de 2001.

Infelizmente, em 2009, por razões sobre as quais podemos apenas especular, a administração Obama descartou a frase “guerra contra o terrorismo” do seu vocabulário, reclassificando um bem sucedido ataque terrorista no território americano (Fort Hood) como “violência no
local de trabalho” e abandonou inúmeras medidas anti-terrorismo adotadas após o 11 de setembro. Marc A. Thiessen, colunista do Washington Post, observou: “No seu segundo dia no cargo, Obama encerrou o programa de interrogatório da CIA. (...) Num discurso no National
Archives, Obama eviscerou os homens e as mulheres da CIA, acusando-os de “tortura” e declarando que o trabalho deles ‘não ajudou na nossa guerra e nos nossos
esforços contra o terrorismo - eles os enfraqueceram.’”

Voltando a 2012: “bin Laden está morto e a General Motors está viva” se tornou um dos mais vibrantes slogans da campanha de reeleição de Obama. A mensagem: o terrorismo e a Al-Qaeda estão derrotados; portanto, reeleja-me. Se a administração tivesse admitido que o
embaixador Stevens e os seus três subordinados foram mortos por terroristas dois meses antes da eleição, o slogan mais real da campanha de Obama exporia publicamente o
absurdo que realmente era.

Como todos sabem, durante semanas, a administração - incluindo o próprio presidente Obama nas Nações Unidas - bizarramente jogou a culpa por toda a confusão, morte e
destruição de Benghazi em uma paródia islâmica no YouTube assistida por pouca gente.

Após o atentado a bomba na maratona de Boston – cujos resultados foram a paralisia de uma das maiores cidades dos EUA, três americanos mortos e cerca de 200 feridos, muitos
deles gravemente - o presidente Obama, sob pressão do Congresso, tratou do perigo do terrorismo em um discurso de uma hora no dia 23 de maio. Foi um bom discurso, como os
discursos costumam ser, exceto pelo fato de que ele sequer ter mencionado a ameaça real enfrentada hoje pelo nosso país - o risco crescente do terrorismo nuclear - e, em vez
disto, menosprezou o perigo de um futuro terrorista. “Extremistas regionais. Este é o futuro do terrorismo” proclamou o presidente. Tudo o que precisamos fazer realmente é fechar Guantânamo e efetuar uma leve mudança no modo como usamos drones.

Com o devido respeito, tenho que contrariar o presidente Obama. O terrorismo anti-americano atual não foi gerado nos EUA. Foi concebido 48 anos atrás em Lubianka, quartel-general da KGB, e tem sido levado a cabo por fascistas islâmicos armados com granadas soviéticas
propelidas a foguete, Kalashnikovs e coquetéis Molotov - incluindo os terroristas responsáveis pela morte do embaixador Stevens.

Infelizmente, eu testemunhei o nascimento do terrorismo anti-americano. Anos atrás ouvia o general Aleksandr Sakharovsky, chefe da espionagem estrangeira da União Soviética, pontificar que a nossa maior arma contra o nosso “principal inimigo” (os EUA) deveria ser, a partir de então, o terrorismo, pois as armas nucleares haviam tornado obsoleta a força militar convencional.

Conheci bem Sakharovsky - ele foi conselheiro chefe da inteligência soviética para a Romênia durante cinco anos. A sua aparência não era a de uma pessoa cruel, mas o terrorismo era a sua solução favorita para problemas políticos; durante os seus anos de atuação na
Romênia, instigou a matança de cerca de 50 mil anticomunistas. Depois, Sakharovsky serviu 16 anos - período sem precedentes - como chefe do serviço de inteligência estrangeiro da União Soviética (1956-1972), tempo durante o qual espalhou o terrorismo antiamericano pelo mundo.

Em 1969, Sakharovsky transformou o sequestro de aviões – a arma escolhida para o 11 de setembro - em terrorismo internacional. Em 1971, lançou a Operação Tayfun (palavra russa para “tufão”), destinada a transformar o antigo ódio mundial contra os nazistas em um ódio contra os EUA, o novo “poder de ocupação”.

Sakharovsky até mesmo estabeleceu uma “divisão socialista de trabalho” com o objetivo de criar e armar organizações terroristas antiamericanas em todo o mundo - a qual chamou “combatentes da liberdade”.

Em meu novo livro, Disinformation, em coautoria com o professor Ronald Rychlak, explico bem tudo isso, em seus diversos aspectos. Aqui, quero brevemente afirmar que o sucesso das operações terroristas de Sakharovsky encorajaram o seu superior, Yuri Andropov, chefe da KGB, a - como costumava dizer - “transformar todo o mundo árabe em um explosivo inimigo dos EUA” recorrendo ao antissemitismo, arma emocional manejada com sucesso por
vários ditadores ao longo do tempo.

A máquina de desinformação de Andropov, naquele tempo estimada em mais de 1 milhão de pessoas (detalhadamente descrita em nosso livro), não mediu esforços para convencer o mundo islâmico de que os EUA eram um país sionista em guerra comercial, financiado pelo dinheiro judeu e administrado por um ávido “Conselho dos Sábios de  Sião” - epíteto de Andropov para o Congresso americano.

O objetivo desta imensa operação de desinformação era fazer o mundo islâmico temer que os EUA pudessem transformar o resto do mundo em um feudo judeu. A manobra de Andropov funcionou. É só lembrar a tomada islâmica da embaixada americana em Teerã e m 1979, o atentado a bomba ao quartel dos marines em Beirute em 1983, o sequestro do Achille Lauro em 1985, o ataque terrorista ao World Trade Center em 1993, a destruição das embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia em 1998 e os catastróficos ataques de 11 de setembro.

O sucesso de Andropov fez dele o primeiro oficial da KGB a sentar no trono do Kremlin e a ter o seu escritório na KGB transformado em santuário.

Quando Andropov e a sua União Soviética se foram, uma nova geração de russos lutou para dar àquele país feudal uma nova identidade. Mas o ódio pelos EUA introduzido no mundo islâmico pela KGB de Andropov ainda está vivo e se espalhando.

Na minha outra vida, no topo da inteligência do bloco soviético - o serviço de inteligência estrangeiro romeno (DIE) - eu gerenciava extensas redes de inteligência no mundo islâmico, e conheci muito bem aquela região. O seu povo não odiava os EUA. Milhões deles ainda hoje esperam na fila para serem aceitos nos EUA porque admiram este país. Apenas alguns poucos líderes fanáticos fascistas islâmicos, devido à sua imensa raiva contra esta grande nação de liberdade, sonham em destruí-la.

O prolongado ódio destes líderes islâmicos fanáticos pelos EUA e o fantasma de que consigam poder nuclear mostram, no meu ponto de vista, que é o momento para os líderes do nosso Congresso e dos nossos partidos Democrata e Republicano esquecerem os belos discursos do presidente Obama e começarem a construir uma política única para vencer a guerra contra a praga do terrorismo. É importante, além de esclarecer totalmente a verdade sobre Benghazi, tomarmos medidas para evitar novos desastres terroristas. A competição pode ser o motor do progresso americano, mas, em tempo de guerra, é a união que faz dos EUA o líder do mundo.

Não sei como deve ser a nova política anti-terrorista americana. Na realidade, ninguém em nosso país sabe. Sei, entretanto, como o terrorismo anti-americano foi gerado, e recomendo fortemente, à administração atual e ao Congresso, a análise séria do relatório National
Security Council Report 68, do presidente Truman (NSC 68/1950), que definiu a estratégia de contenção e se tornou a nossa principal arma durante a Guerra Fria.

Este documento de 58 páginas não joga a culpa pela Guerra Fria em vídeos do YouTube. Descreve os desafios dos EUA em termos desastrosos.

“Os problemas que enfrentamos são graves”, diz o documento, “envolvendo a sobrevivência ou a destruição não apenas desta República mas da própria civilização”. Assim, definiu uma
estratégia política “de dois dentes”: 1) poder militar superior e 2) uma “Campanha da Verdade”,
definida como “uma luta, acima de tudo, pelas mentes dos homens”. A propaganda usada pelas “forças do comunismo imperialista” só podia ser derrotada, argumentou Truman,
pela “verdade plena, absoluta e simples”. A Voice of America, a Radio Free Europe e a Radio Liberation (logo em seguida chamada de Radio Liberty) tornaram-se parte da “Campanha da Verdade” de Truman.

Esta mesma estratégia “de dois dentes” – superioridade militar total e uma resoluta campanha pela verdade absoluta - permitiu aos EUA vencerem o comunismo, e é hoje igualmente essencial se quisermos assumir a posição de controle em um ameaçador mundo de terrorismo nuclear inimaginável.


20 de agosto de 2013
Ion Mihai Pacepa
O general Ion Mihai Pacepa é o oficial de mais alta patente do bloco soviético que obteve asilo político nos EUA.


Publicado no
WND.

Tradução: Ricardo Hashimoto

MEMÓRIAS DE UM EX-ESCRITOR (X)

Quando abordamos a obra de um escritor de renome, as mulheres que o acompanharam fazem parte de sua fama, trate-se de um Balzac ou de um Vinícius de Morais. Mas quando o candidato a escritor começa a fugir da monogamia, a gostar de muitas mulheres, seu gesto é quase criminoso. Se o candidato em questão for mulher, pior ainda: é puta e fim de papo.
Em um escritor famoso, as muitas mulheres são um adorno à sua biografia. Como em uma escritora ou artista de renome, os vários homens que freqüentaram seu leito constituem currículo, aí estão Lou Salomé, Anaïs Nin, Frida Kahlo, Patrícia Galvão. No adolescente que começa a rabiscar seus contos, seja macho seja fêmea, a diversidade de parceiros é um estigma.
Mesmo em Porto Alegre, em ambiente universitário, este comportamento não era muito bem visto.
Na época, um radical de esquerda, mais tarde alcaide da capital e hoje ministro da Cultura, comentou que eu deveria ter muitos problemas, pois sempre andava com várias mulheres. Mandei um recado de volta: problemas teria ele, que andava sempre com a mesma. Eu tinha, isto sim, muitas soluções. Mais ainda: sem jamais ter mentido a nenhuma parceira.

Outro atrito com a cidade, a polêmica em torno à reforma agrária. Com os debates sobre a prostituição, foram surgindo detalhes que não imaginávamos existir. Por que uma mulher se torna prostituta? Por prazer é que não é. Havia o problema da migração do homem do campo para a cidade.

Se o pequeno proprietário rural abandonava o campo com sua prole, era porque o latifúndio o expulsava. Os comunistas que nos rodeavam foram pródigos em bibliografia. Na época – final do governo Goulart – a grande questão nacional era decidir se a reforma agrária já estava prevista na Constituição, ou se seria necessário reformá-la para dividir as terras.

Lançamos então – éramos uns cinco ou seis pivetes, na faixa dos 14 ou 15 anos – um manifesto no Pirilampo, um jornalzinho estudantil que havíamos criado, em defesa da reforma agrária, solidamente fundamentado em Direito Constitucional. Era impresso na gráfica do Ponche Verde, de propriedade de Bernardo Munhoz, jornalista e fazendeiro. Na mesma semana, o jornal nos desancava em furioso editorial, assinado pelo Dr. Márcio Bazan.

(Nas cidades do interior, todo bacharel se intitula doutor). O editorialista, advogado ao estilo antigo, em um texto pontilhado de muito latim, alertava a comunidade para os perigos do comunismo. O que preocupava as "forças vivas do município" era saber onde nós, pivetes, havíamos encontrado tantos argumentos jurídicos. Só podia ser coisa de comunista.

Não estavam longe da verdade. Naquela época, chegavam a Dom Pedrito dois exemplares do jornal Brasil, Urgente, editado em São Paulo por dominicanos de esquerda. Um dos exemplares era nosso, o outro do partido.

Quem os distribuía era o Gerson Prabaldi, operário e militante, um dos raros comunistas que até hoje merece meu respeito. Funileiro, patrão de si próprio, lutava por uma sociedade mais justa, nada a ver com os filhos da classe média que fizeram carreira e fortuna montados nos ideais socialistas. Final de tarde, fechava a funilaria, pegava uma bicicleta e saía a fazer seu apostolado, o porta-cargas repleto de ideologia.
Líamos as revistas China e Unión Soviética, ambas em espanhol, mais aquele catecismo em edições mensais do PC, a revista Problemas, e muita imprensa de esquerda.

O funileiro acreditava na utopia e dedicava suas horas de lazer à construção do socialismo. Homem de uma era pré-televisiva, na qual mesmo os jornais que eventualmente chegavam a Dom Pedrito desconheciam o que se passava no mundo soviético, Gérson acreditava piamente nos panfletos vindos de Pequim ou Moscou.

Fosse um dia ao paraíso que louvava, ou tivesse melhores fontes de informação, tenho certeza de que faria marcha à ré. Era homem desinformado, mas honesto. Em sua oficina, rodeado de pneus e aros de bicicletas, recebi minhas primeiras aulas de marxismo, baseadas em um livrinho de Georges Politzer, Curso de Filosofia - Princípios Fundamentais.
Primeiras e primárias: sua argumentação simplória não me convencia. No entanto, este divulgador menor foi bastante significativo. Em sua tentativa de trocar em miúdos o marxismo para um público operário, Politzer despe a doutrina de sua retórica e a exibe em sua indigência.

Nem por isso deixo de admirar o apóstolo da bicicleta, apesar de sua visão simplista do mundo. Com sua assessoria, argumentos para debate ideológico ou constitucional era o que não nos faltava.

Enquanto os oblatos nos falavam em corpo místico de Cristo, estávamos mergulhados em estudos de materialismo dialético. Hoje, sabemos que as duas religiões pouco diferem uma da outra.
Na época, eu julgava estar manipulando um método científico para encontrar um pouco de luz em meio às trevas clericais. Esconjuradas as trevas, acabei jogando no lixo o suposto método científico.
Foi precioso como instrumento de libertação de uma fé. Eu conseguira escapar de uma religião, com não pouco sofrimento. Não estava disposto a submeter-me ao jugo de outra.

No dia seguinte às catilinárias do Ponche Verde, estávamos batendo às portas do Dr. Munhoz, de Constituição e Lei de Imprensa em punho, indignados. Exigíamos direito de resposta, o que nos foi concedido. Apelávamos aos sentimentos cristãos da comunidade, talvez até antecipando a dita teologia da libertação. Título:

Exigência de Cristo: amor aos comunistas

Para não fazer feio ante o latinista, jogamos cá e lá alguns datas venias e quousque tandens na réplica, mais ou menos ao azar, assim como quem joga sal em uma picanha. O artigo foi publicado, cercado de editoriais. Novo mistério, nosso conhecimento do latim dos juristas.

O único a matar a charada foi o padre Francisco, outro oblato vindo da Alemanha, professor de matemática: "Focês non me enganan, focês lerram as páchinas finais do Aurrélio". Na época, havia uma edição do Aurélio com expressões latinas ao final. Mas pesquisa nunca foi pecado.

Em meio a réplicas e tréplicas, um de nossos professores de português começou uma frase com um pronome oblíquo. Fomos implacáveis: "Admoestamos o ínclito mestre da língua vernácula que as mais elementares regras gramaticológicas coarctam o emprego do pronome oblíquo nos proêmios de uma frase".

A resposta veio curta e grossa: "Rui Barbosa não foi presidente da República". Gerson Prabaldi voava em sua bicicleta, difundindo a polêmica. Me consta que as edições do semanário se esgotaram naqueles dias.

20 de agosto de 2013
janer cristaldo

DILMA FAZ "MEDIA TRAINING" PARA RECUPERAR SOTAQUE MINEIRO E VISITAR TERRA NATAL DE AÉCIO

Ontem Dilma dedicou boa parte da tarde a um media training para aperfeiçoar o sotaque mineiro. Haverá muito uai,  ocê, trem bão e dimais da conta no discurso da presidente... 

É de costas para a estátua de Tancredo Neves que a presidente Dilma Rousseff anuncia nesta terça-feira em São João del-Rei, Região Central de Minas e terra natal do ex-presidente da República, a destinação de R$ 1,3 bilhão para a recuperação do patrimônio histórico de 44 municípios brasileiros. O palco montado para receber Dilma foi instalado na Avenida Tancredo Neves, logo atrás da imagem erguida em homenagem a um dos mais ilustres filhos da cidade, o avô do senador Aécio Neves (PSDB), provável adversário de Dilma nas eleições de 2014. Esta é a segunda visita da presidente ao estado somente em agosto. Até o fim do mês estão programadas outras duas viagens dela a Minas.

Para atrair a população para o evento, um carro de som circula pelas ruas da cidade convidando todas as famílias para o anúncio dos “R$ 42 milhões que a ministra da Cultura (Marta Suplicy) e a excelentíssima presidente da República vão trazer para São João del-Rei”. Esse é o valor que a cidade vai receber para recuperar suas principais igrejas, o prédio da prefeitura, o Chafariz da Legalidade e algumas das pontes. Os recursos fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas.
 
O aposentado Francisco Maximiano Souza, 78 anos, que acompanhava atento os preparativos da visita presidencial, acredita, porém, que a motivação da presença de Dilma em São João é política. “Ela nunca veio aqui antes. Agora que o Aécio é candidato a presidente, ela aparece por aqui. Sei não...”, comenta seu Francisco, que, quando menino, frequentava a casa da família Neves. “Meu pai foi advogado do Tancredo”, conta. Para Expedito Lázaro, de 58, outro motivo é o fato de a vice-prefeita da cidade, Cristina Lopes, ser casada com o presidente do PT mineiro, deputado federal Reginaldo Lopes.

“Muito antes de a gente saber da visita o povo do deputado já dizia que ela vinha aqui na cidade.” Filiado ao DEM, ele garante que vai acompanhar a presidente hoje. “Vou anotar tudo que ela falar que vai fazer para a cidade para cobrar depois.”

De acordo com a gerente da Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei, Patrícia Inês dos Santos, o fechamento do comércio foi uma exigência da Segurança do Gabinete Institucional da Presidência da República. Segundo ela, alguns comerciantes reclamaram da determinação de não abrir as portas, mas não teve jeito. A circulação de pessoas na região só vai ser autorizada um pouco antes do evento, respeitando a proibição de portar garrafas, objetos cortantes, inclusive dentro das bolsas e mochilas.
 
Para um comerciante, que preferiu não se identificar, a exigência é uma medida preventiva para evitar manifestações contra a vinda da presidente. “Para mim é um absurdo”, disse, garantindo que vai funcionar normalmente. Segundo ele, no domingo, um grupo de pessoas se reuniu na Praça da Estação Ferroviária para organizar um protesto contra a visita de hoje. A convocação está sendo feita pelo Facebook. Uma página batizada de “Boas-vindas à Dilma” chama para um protesto contra a presença da presidente.

“Em São João e no Brasil, há muito pelo que lutar, e não vamos deixar que este momento passe em branco. Ótimo momento para dar visibilidade aos nossos problemas. Levem seus cartazes, faixas e reivindicações. Já está provado que só mudaremos nossa realidade com o povo nas ruas. Não deixem que junho se torne uma exceção, mas, sim, a regra”, diz a publicação que convidou para o evento.

Até o fim da tarde de ontem, 4.959 pessoas haviam confirmado presença. Autores da página mudaram a foto da capa. Nela aparece uma imagem da presidente e a inscrição: “Fora, Dilma. Você não é bem-vinda a São João del-Rei”. No perfil há quem defenda que a presidente seja recebida com ovos e tomates. Outros concordam com protesto, mas “sem violência e com educação”.
 
(EM)
 
20 de agosto de 2013
in coroneLeaks

DILMA ANUNCIA MAIS VERBA PARA REDUTO DO PT

Após destinar R$ 8 bi para Haddad na capital, presidente libera R$ 2,1 bi para o ABC, região de predominância petista
 
Cem prefeitos do interior receberam da União caminhões, retroescavadeiras e motoniveladoras
Em sua quarta viagem ao Estado de São Paulo em 20 dias, a presidente Dilma Rousseff anunciou ontem a destinação de R$ 2,1 bilhões para obras no ABC, reduto petista na região metropolitana.
 
A promessa de recursos ocorre em um momento em que Dilma busca recuperar a popularidade perdida após os protestos de junho e o PSDB, que governa São Paulo há quase 20 anos, enfrenta desgaste devido às denúncias de cartel em licitações do trem e do metrô.
Os petistas consideram a elevação dos índices de aprovação de Dilma em São Paulo fundamental para sua reeleição no próximo ano.
 
Ela já havia destinado, no dia 31 de julho, R$ 8 bilhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para a capital paulista, administrada por Fernando Haddad (PT), um dos principais alvos das manifestações.
 
Ontem, em São Bernardo, as sete cidades do ABC --três delas governadas por petistas-- foram contempladas com R$ 793 milhões para a construção de corredores de ônibus, R$ 1,8 bilhão para unidades do programa Minha Casa, Minha Vida e R$ 104 milhões para contenção de encostas em áreas de risco.
 
Segundo os ministérios do Planejamento e das Cidades, os recursos para os corredores virão do pacote de R$ 50 bilhões que Dilma anunciou para a mobilidade urbana após os protestos.
 
O Planejamento informou que o pleito total dos municípios do ABC para mobilidade era superior a R$ 4 bilhões.
Em seu discurso, Dilma não fez referência explícita aos adversários, mas disse que, "no passado", o governo federal não investia em obras de transporte coletivo.
 
"Foi no final do governo Lula que começamos a fazer", declarou a presidente.
Dilma também reuniu cem prefeitos do interior, onde o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tem os maiores índices de aprovação, para entregar a cada município as chaves de uma retroescavadeira, uma motoniveladora e um caminhão.
 
20 de agosto de 2013
DIÓGENES CAMPANHA - Folha de São Paulo

"CENÁRIO PERIGOSO"

Disparada do dólar agrava risco de inflação e ameaça bandeira dos juros baixos; condução da economia torna-se ainda mais difícil
 

Por dever de ofício, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na semana passada que não têm fundamento as análises pessimistas a respeito do crescimento da economia brasileira.
 
Não se exclui, é claro, que o ministro de fato acredite no que diz. Ele tem razão, por exemplo, ao lembrar que a inflação está em queda --ao menos por ora-- e ao depositar alguma esperança nas licitações de obras de infraestrutura, neste segundo semestre.
 
A realidade, porém, se mostra mais complexa --a começar pelo câmbio. Apesar das intervenções do Banco Central, o dólar disparou nas últimas semanas e, ontem, fechou o dia acima de R$ 2,40.
 
Verdade que a valorização da moeda americana é um fenômeno global. Mas sua intensidade no Brasil tem sido maior que a média.
 
Uma das consequências para o país é o agravamento do risco inflacionário. Com o dólar mais caro, aumentam os custos das empresas que utilizam insumos importados, e repasses ao consumidor tendem a ser inevitáveis. Estima-se que, com a atual cotação, a inflação possa subir de 6,27% (acumulada em 12 meses) para até 7%.
 
A desvalorização do real também impõe prejuízos bilionários à Petrobras --a estatal importa combustíveis e os revende a um preço inferior, sob controle do governo. A empresa clama por um reajuste para não inviabilizar planos de investimento, mas cada 10% de aumento na gasolina eleva o IPCA em meio ponto percentual.
 
Há também o represamento das tarifas de transporte e energia. A falta de planejamento do governo desorganizou a área elétrica. Esgotaram-se os recursos de fundos setoriais e será inevitável um repasse ao consumidor.
 
Fica claro que o trabalho de combate à inflação do BC não é facilitado pelo governo. Não por acaso, os juros no mercado só fazem subir, a despeito do crescimento pífio da economia e da grande probabilidade de alta no desemprego.
 
O mercado financeiro já projeta juros de 10% ao final deste ano e acima de 12% a longo prazo. Começa a desbotar outra das sonhadas bandeiras do governo --a dos juros baixos. Questiona-se, assim, se o crescimento de 2014 será mesmo maior que o deste ano.
 
O acúmulo de decisões voluntaristas e inconsistentes cobra sua fatura. O ambiente externo mais adverso é apenas o estopim.
 
Ainda não chega a ser o caso de falar em crise, pois há margem de manobra --do lado fiscal, por exemplo, há o que fazer para restaurar um semblante de seriedade.
 
Não se pode ignorar, contudo, que certas crises demoram a chegar, mas atingem com mais força aqueles que não se preparam para seus efeitos. E o governo Dilma Rousseff não parece ter-se dado conta de que as dificuldades se avolumam.

20 de agosto de 2013
Editorial da Folha

O PREÇO DA IMPREVIDÊNCIA SE PAGA EM DÓLAR

 

A primeira reação do governo à escalada do dólar tem sido a de sempre: culpar o mordomo. Na visão petista, o responsável por todas as nossas mazelas é o resto do mundo. Está na hora de começar a assumir que as dificuldades estão aqui dentro mesmo. Dilma Rousseff pena agora para enfrentar uma confluência de adversidades que, em boa medida, ela mesma semeou. Esta conta amarga vai ser paga em verdinhas, e cada vez mais caras.
 
A primeira reação do governo à problemática escalada do dólar tem sido a de sempre: culpar o mordomo. Na visão petista, o responsável por todas as nossas mazelas é o resto do mundo. Quando o país vai bem, é por mérito próprio; quando vai mal, é por causa dos outros. Está na hora de começar a assumir que as dificuldades estão aqui dentro mesmo.

A primeira atitude a tomar deveria ser tratar a situação, que é severa, com realismo. De nada vai adiantar continuar sustentando que está tudo sob controle, que a perspectiva é positiva, e que o que pode e deve ser feito já foi feito. O governo precisa mostrar-se pronto para reagir e evitar que o pior prevaleça.

Até agora não é isso o que tem se visto. Ontem, a presidente Dilma Rousseff voltou a vender facilidades, quando o mais adequado seria admitir fragilidades e começar a atuar mais firmemente. Ela disse novamente – em entrevistas a rádios paulistas, durante mais uma de suas viagens com viés tipicamente eleitoral – que a inflação "está sob controle”. Todos sabemos que não está.

Na realidade, a inflação só não foi totalmente para o espaço até agora porque o governo está garroteando os preços administrados, como combustíveis e eletricidade. Na média, eles só subiram 1,3% nos últimos 12 meses, na menor variação desde a criação do regime de metas, em 1999. Em contrapartida, os preços livres sobem 7,9%. Esta é, pois, a verdadeira inflação que os brasileiros experimentam no seu dia a dia. E com o dólar mais alto, vai doer mais ainda.

Já Guido Mantega prefere ignorar os riscos que a disparada do dólar pode causar na nossa economia como um todo. O ministro opta por ver apenas os efeitos positivos do dólar mais caro sobre os ganhos das empresas exportadoras – que até existem, mas, diante da larga maré negativa, tornam-se bem menos relevantes. Otimismo demais numa hora destas soa como alheamento.

O que está acontecendo, na realidade, é que o Brasil está pagando a conta de um histórico de imprevidência que o governo petista fez o país incorrer ao longo dos últimos anos. Como a cigarra da fábula, atravessamos os áureos tempos da bonança econômica mundial, entre 2004 e 2008, sem investir em criar condições favoráveis para sobreviver quando o inverno chegasse e a onda virasse.

Quando o mundo todo afundou em crise, a partir de 2009, o Brasil optou por uma estratégia que, no primeiro momento, até se mostrou correta: incentivar o consumo. Mas, uma vez superadas as dificuldades iniciais, o governo continuou insistindo na mesma receita quando a maré já era outra e nosso problema era de excesso e não de falta de demanda.

Chegamos a 2013, depois de dois anos de desempenho medíocre da nossa economia sob o comando de Dilma, com um cenário turvo pela frente e sem apresentar credenciais para poder surfar na onda quando o crescimento mundial embicar, novamente, para cima, o que pode ocorrer assim que a economia dos EUA firmar sua recuperação. As perspectivas que o país hoje oferece são desanimadoras.

O que poderia ter sido feito e não foi? Quando o país estava na crista da onda, o governo brasileiro deveria ter criado condições para que o investimento privado florescesse, mas investiu suas melhores energias no agigantamento da presença do Estado na vida de todos. Sufocou, com isso, boa parte do "espírito animal” dos empreendedores, dos grandes aos pequenos.

Descuidou, também, do dinheiro que recebe dos contribuintes, torrando-o impunemente. Jamais se preocupou em domar a escalada dos gastos públicos improdutivos. Recusou-se a manifestar compromisso mais sério com a responsabilidade fiscal e, talvez o mais grave de tudo, tratou a inflação como se fosse intriga de críticos e da oposição, esquecendo que quem mais sofre com a escalada dos preços são os brasileiros pobres.

É por este conjunto da obra que o governo Dilma pena agora para enfrentar uma confluência de adversidades que, em boa medida, ele mesmo semeou. O que o país precisa para reagir, a presidente não tem para entregar: regras claras e transparentes para investimentos, compromisso firme com a boa gestão, seriedade no trato da coisa pública. A partir de agora, esta conta amarga vai ter de ser paga em verdinhas. E com um dólar cada vez mais caro.
20 de agosto de 2013
Instituto Teotônio Vilela
 

EL PAÍS: BRASIL NUNCA MAIS SERÁ O MESMO. SERÁ UM PAÍS MELHOR?

O Brasil nunca mais será o mesmo, será um país melhor?
O questionamento está na primeira página do jornal El Paìs (Madri), nesta terça-feira (20/08). A matéria assinada por Juan Arias destaca e entrevista do jornalista William Waak, da Globo News, a três analistas políticos sobre as manifestações que vem ocorrendo em todo o país.
Arias classifica o antropólogo Roberto da Mata como um dos profissionais mais respeitados no país e ressalta que, durante a entrevista, ele não arriscou a “profetizar” como será o Brasil após “o despertar da sociedade”.  
O texto de Arias afirma que o Brasil quer “algo melhor” e tem esperança “de quem não desiste da democracia como a única forma de desenvolvimento humano e econômico".
A reportagem cita a ação de pequenos grupos “extremistas” nos protestos e esclarece que eles não representam os desejos da maioria da população, que não quer a volta do regime militar ou pregar a anarquia. O enterro simbólico do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, pela classe de professores tem destaque na matéria, numa narrativa do jornalista para explicar as causas dos protestos brasileiros.
“Como sair deste dilema?”. “Como mudar os políticos e os partidos para que a sociedade  se sinta representada, sem ferir gravemente o sistema democrático que não pode, neste momento, existir sem mediação política?”, pergunta Arias, que destaca que a solução não será fácil, mas os brasileiros vão encontrá-la e a resposta deve vir em breve, nas urnas.
O jornalista arrisca caminhos que partidos políticos devem tomar após a mudança que mudou o país e encerra afirmando que o “Brasil deixou de acreditar nas promessas” e “Tornou-se um adulto”. 
20 de agosto de 2013
 Jornal do Brasil

COM DÓLAR ALTO, PACOTES DE VIAGEM SOBEM ATÉ 42% E IMPORTADOS REPASSAM CUSTO

Nas operadoras, procura cai até 70%. Vinhos, cerveja e até sabão ficam mais caros

Duda Simonsen, sócia do site de cervejas artesanais Beershop, reajustou o preço da bebida em até 15%
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Duda Simonsen, sócia do site de cervejas artesanais Beershop, reajustou o preço da bebida em até 15%Márcia Foletto / Agência O Globo
 
A forte alta do dólar em quase três meses já fez o preço de produtos e serviços aumentarem até 42% para o consumidor. O setor de aviação e turismo, muito suscetível à variação da moeda americana, é um dos que mais sofrem o impacto. Já há pacotes para fins de semana em Buenos Aires sendo vendidos a R$ 2.000 por pessoa, ante R$ 1.400 em agosto de 2012. Em lojas de produtos importados, a alta nos preços chegou a 15%. E a indústria de produtos de limpeza sente o custo maior da matéria-prima e avalia que o repasse será inevitável.
Na operadora de turismo ACC Tours, o preço dos pacotes para destinos internacionais subiu, em média, 30% de junho até a primeira quinzena de agosto, em relação a igual período do ano passado. Uma das maiores altas foi o pacote para Buenos Aires, que aumentou 42%, para R$ 2.000. A procura por viagens internacionais caiu até 70%.
 
— Aqui o telefone não toca. Está assustador — diz Franklin Campos, dono da ACC Tours.
 
Aumento de estoque para segurar cotação
 
Para evitar a queda na demanda, a líder de mercado CVC tem adotado estratégias de congelamento do câmbio e parcelamento em até dez vezes. Em julho, quando o dólar chegou a R$ 2,282, a CVC manteve o câmbio usado em seus pacotes em R$ 1,99, o que garantiu aumento de 10% nas vendas em relação ao mesmo mês do ano passado. Em agosto, quem comprou pacotes para viajar com a American Airlines até esta segunda-feira conseguiu fazer a conversão com o dólar a R$ 2,09. A operadora estuda novas promoções de câmbio congelado para o futuro. Nesta segunda, o dólar fechou a R$ 2,416.
 
As passagens aéreas também estão mais caras. Segundo levantamento do site de busca de preços Mundi, feito a pedido do GLOBO, as tarifas subiram em três (Miami, Nova York e Paris) dos quatro destinos internacionais pesquisados na primeira quinzena de agosto, em relação a igual período de 2012. A maior alta foi verificada nos bilhetes para Nova York: 23,08%, para uma média de R$ 2.441,48. O valor considera ida e volta a partir do Rio, sem data específica para o embarque.
 
— O câmbio subiu mais forte em julho, mas o repasse não é imediato. Os efeitos da alta do dólar estão sendo sentidos agora — avalia Rodrigo Waissman, diretor de marketing do Mundi.
 
Sócio da importadora D.O.C.G, Alexandre Ventura reajustou em 13% a tabela dos vinhos que vende para restaurantes e lojas. Para não perder clientes, reduziu sua margem de lucro:
 
— Fiquei um mês e meio pagando o dólar alto, sem atualizar tabela. Chega uma hora que não dá.
 
No site de cervejas artesanais Beershop, a sócia Duda Simonsen viu quatro de seus seis fornecedores reajustarem os preços. Os outros dois seguirão no mesmo caminho. A saída para manter a margem foi repassar a alta de 10% a 15% para os clientes:
 
— Quando vi o dólar subindo, também comecei a estocar os rótulos de cerveja que têm mais saída, já que tem a questão da validade. Em julho, comprei 30% a mais do que compraria.
 
A empresa paulista Razzo, que produz sabão, sabonetes e detergentes, importa óleos vegetais. Em média, o produto importado representa de 10% a 15% do custo da matéria-prima.
 
— O produto com matéria-prima importada é vítima. Fatalmente isso impactará o preço em algum momento — afirma Luiz Magno Silva, gestor de negócios internacionais da Razzo.

20 de agosto de 2013
Danielle Nogueira  e Lucianne Carneiro - O Globo
Colaborou João Filipe Passos