"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

BLOWIN ' IN THE WIND

 

O HUMOR DO DUKE

 
20 de setembro de 2013

MÃO NO BOLSO

TCU condena envolvidos em esquema de desvio de recursos do Conselho Federal de Enfermagem

O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou os envolvidos no esquema de desvio de recursos públicos do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) a pagar quantia superior a R$ 14 milhões.

As fraudes somam R$ 7,5 milhões, em valores da época em que ocorreram as ilegalidades, entre 1995 a 2002, e deverão ser atualizados para pagamento.
O restante, cerca de R$ 6,8 milhões, refere-se a multas aplicadas pelo TCU aos responsáveis.

As fraudes envolveram 31 empresas e 45 pessoas, que atuaram em 41 licitações. As empresas apresentavam propostas fictícias e emitiam notas fiscais frias para recebimento de valores, repassados a beneficiários pré-definidos.

Segundo constado pelo tribunal, o esquema acontecia da seguinte forma: inicialmente, tinha-se a realização de licitações forjadas, com participação de empresas ligadas entre si, de servidores do Cofen ou de terceiros, com objetivo de aparentar competitividade e dar legalidade às contratações.
Posteriormente, as empresas vencedoras emitiam notas fiscais frias, sem contraprestação de serviços ou fornecimento dos produtos requeridos. Por fim, representantes da alta gestão do Cofen autorizavam o pagamento com base nas notas fiscais, mediante cheques endossados por pessoas físicas ou jurídicas ligadas ao esquema.

O TCU declarou as 31 empresas ligadas ao esquema inidôneas para participar de licitações com a administração pública. As penas variaram entre quatro e cinco anos. Os envolvidos ainda ficarão impedidos de exercer cargos públicos em comissões ou funções de confiança, por períodos que variam entre cinco e oito anos. As irregularidades também estão sendo apuradas pela Justiça Federal. (Com informações da assessoria do TCU)

02 de setembro de 2013
ucho.info

USAGATE: UM ATO DE PIRATARIA

USAgate: um ato pirataria

Eduardo Pimenta
Gate é o sufixo indicativo de escândalos na esfera política. Com a vigília na rede computadores pelos Estados Unidos e o acesso aos emails e dados pessoais de brasileiros (pessoas físicas e pessoas jurídicas), incluindo os emails do Governo Brasileiro, estamos diante de mais um episódio arbitrário na esfera política o USAgate.

Esses atos arbitrários consistem na violação de emails representados por uma base de dados cujo conteúdo são mensagens enviadas, expressadas por linguagem binária.
Tal ato, quando cometido sem a prévia autorização judicial, é classificado legalmente como ato de pirataria cometido pelo Governo Americano, haja vista não ter havido autorização para o uso ou acesso a esses emails, ainda que o provedor fosse norte americano e tivesse poder para o uso outorgado pelo internauta quando da concordância do termo de abertura de conta de email.

Os emails só existem pela comunicação na internet. Deve estar claro que a internet é uma rede de computadores sustentada pelo uso de programa de computador (software) e pela base de dados protegidos pelos direitos autorais. A Lei n. 9610/98, que regula a proteção os direitos autorais, prevê em seu artigo 7, incisos XII e XIII, a proteção pelos direitos autorais sobre o programa de computador (software) e a base de dados.

Violar os direitos autorais é um ato de pirataria conforme enuncia o Dec. 5.244/2004, que criou o Conselho Nacional de Combate a Pirataria, indica quais são esses atos de pirataria, vale dizer, todos aqueles atos que violem as disposições da Lei n.9610/98 e a Lei n.9.609/98.

É de ser lembrado que o Governo dos Estados Unidos da América em um passado próximo ameaçou denunciar o Brasil junto a Organização Mundial do Comércio, pela falta de política pública para o combate da pirataria, o que poderia implicar na perda das isenções tarifarias para os produtos brasileiros. Daí motivou a criação do referido Conselho.

Na atualidade podemos estar diante de atos de pirataria praticados pelo Governo dos Estados Unidos da América contra o Governo da Republica Federativa do Brasil, ou seja, o Governo Americano pode estar violando os direitos autorais dos brasileiros. Legalmente esse ato é um ilícito, a sua autoria, no entanto, depende de confirmação com provas irrefutáveis, o que rotularia o autor de PIRATA. Se confirmado o ato de espionagem do Governo dos Estados Unidos da América poderemos dizer que existe uma violação aos direitos autorais da base dados, logo é um governo praticante de ações PIRATAS contra os direitos autorais.

Contudo, renascerá o tema do projeto-lei do marco civil da internet, que tem como base jurídica às diretrizes doutrinárias norte americanas, cuja base atinge o sistema de proteção autoral brasileiro que segue a diretriz humanista do direito francês (droit d’auteur), transformando-o para o sistema empresarial do Copyright (direito de cópia) – sistema jurídico que não protege os direitos morais do autor. Isto significa desqualificar o provedor da condição de editor, que faz a comunicação de conteúdo ao público, para mero distribuidor de conteúdo. No sistema jurídico do copyright, os provedores não têm responsabilidade sobre o que os internautas disponibilizam.

Por esse sentir, com o ressuscitamento do projeto-lei do marco civil, implicará no resgate do projeto-lei que altera a lei de direitos autorais, que se encontra em estudo no Ministério da Cultura.
Ressuscitar os diversos projetos-lei para discussão e para consulta popular é extremamente salutar. Já restringi-los às casas legislativas é atender aos anseios exclusivamente empresariais dos defensores do Copyright, leia-se política norte-americana. Como se vê, ainda mais neste momento, todo cuidado é pouco.

02 de setembro de 2013
Eduardo Pimenta é advogado especialistas em direitos autorais, professor universitário e escritor.

DECISÃO DA CÂMARA TEM REQUINTE DE CRUELDADE


A indignação é o sentimento que todos os brasileiros, certamente, estão sentindo com a decisão da Câmara de Deputados de manter o mandato de Natan Donadon.

O que o Parlamento quis dizer com a decisão não é difícil entender. O que é incompreensível é o afrontamento descarado e livre de qualquer culpa – é a negação de qualquer tipo de representatividade. Os senhores parlamentares desrespeitaram a Constituição, o Supremo Tribunal Federal e, mais precisamente, cada cidadão brasileiro.

O que chama a atenção é que o momento não é bom para decisões tão impopulares como a tomada anteontem. Mas os parlamentares não se importaram com isso. Aproveitaram a oportunidade que ainda têm de votar secretamente e resolveram dizer para a sociedade que estão acima da lei, do bem e do mal.

Talvez seja uma tentativa desesperada da elite política brasileira de se manter no poder da mesma maneira de quando começou a ocupá-lo – sem nenhuma ética e sem nenhuma vergonha de não tê-la. Para essa classe de político, o poder é apenas algo a ser usurpado e uma fonte de renda inesgotável.

ESPETÁCULO DE TERROR

E para que o espetáculo de terror apresentado fosse mais emocionante não faltaram requintes de crueldade. Aquele discurso do deputado (sempre deputado) Natan Donadon sobre as dificuldades encontradas para a sobrevivência na Papuda é uma fraude. Não que as condições das carceragens brasileiras sejam adequadas. Muito pelo contrário, as condições são precárias e desumanas.

A questão é que o senhor deputado não está à altura de representar a população carcerária. Como ele mesmo disse ontem, jamais esteve numa penitenciária ainda que fosse para verificar como os presos são tratados. Ele também jamais recebeu um só voto desse população condenada pela Justiça porque preso condenado não vota, mas deputado condenado pode ter mandato.

Ora, se era para representar as dificuldades dos presidiários que um deles o faça. O Congresso deveria votar um projeto permitindo aos presos condenados o direito de voto. Se eleito, esse representante poderia pegar uma carona com Donadon toda a vez que precisar ir a Casa legislativa.
Ainda sobre o discurso de Donadon, se a votação para cassação de parlamentar continuar secreta, a chance de mais condenados manter seus mandatos é muito grande. Tem pelo menos mais quatro – os mensaleiros – candidatos a essa condição de deputado e presidiário.

Na verdade, se a Justiça continua fazendo o seu papel, como fez no mensalão, e o Congresso continuar renegando o seu, como fez anteontem, é melhor que seja criada uma ala para políticos nas principais carceragens do Brasil. Uma será pouco.

(transcrito de O Tempo)

02 de setembro de 2913
Carla Kreefft

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
02 DE SETEMBRO DE 2013


O HUMOR DO DUKE

Charge O Tempo 28/08
 
02 DE SETEMBRO DE 2013





 

FARSANTÁSTICO ANUNCIA QUE DILMA É ESPIONADA POR OBAMA


Se isso fosse verdade, simplesmente fundiria a cuca de todo o sistema de inteligência americano, que estaria hoje se perguntando como é que uma idiota de tal calibre pode comandar um país do tamanho e da importância do Brasil. E mais: como é que um povo pode ser tão burro a ponto de eleger esse substrato de peido da mosca do cocô do cavalo do bandido como “presidenta”.


02 de setembro de 2013

IMAGENS EM MOVIMENTO

A cidade que entra pela janela




Foi em 300 a.C que Aristóteles, sentado sob uma árvore, observou a imagem de um eclipse “replicada” no chão ─ a luz passava por um pequeno orifício numa folha e, ao encontrar uma superfície paralela, reproduzia a imagem invertida. Leonardo da Vinci, já no Renascimento, considerou o experimento como uma ferramenta auxiliar para desenhos. Com o tempo, este fenômeno natural foi dominado e sua técnica transportada para um objeto chamado câmera escura. A primeira iconografia que temos de uma câmera escura ─ utilizada justamente para observar um eclipse ─ data de 1545.

Por volta de 1600, no lugar do orifício foi adicionada uma  lente. As objetivas possibilitavam a formação de uma imagem mais nítida. Apesar dos avanços tecnológicos, em 1850 o cientista escocês David Brewster voltou a fotografar utilizando câmeras sem lentes e usou a palavra pin-hole (buraco de alfinete, em inglês) para descrever o aparato.

O fascínio provocado pelas pinholes permanece até hoje. Dois fotógrafos, Romain Alary e Antoine Levi, decidiram usar esse “processo primitivo” em um projeto experimental: transformar um apartamento em Paris numa gigantesca câmera pinhole. No site stenop.es podemos assistir a trechos desse processo. Nele, um buraco minúsculo é aberto em uma das janelas e, por aí, as imagens externas invadem os cômodos. A cidade se transforma em luz e reflete a paisagem do lado de fora nas paredes, no chão, no teto. Uma experiência incrível.


A PERSEGUIÇÃO A SABOIA CONFIRMA QUE, NO ESTATUTO DO GRANDE CLUBE DOS CAFAGESTES, CUMPRIR UM DEVER MORAL É CRIME HEDIONDO




“O caso da retirada de um senador de uma embaixada brasileira e sua condução sem garantias ao território brasileiro é um fato grave e que está sendo apurado”, miou o novo chanceler Luiz Alberto Figueiredo nesta sexta-feira, ao baixar no Suriname para acompanhar a presidente Dilma Rousseff na reunião da Unasul. Fato grave foi o desprezo pelas convenções internacionais reiterado por Evo Morales, que se negou a emitir o salvo-conduto devido a um político oposicionista asilado na embaixada brasileira. Fato grave foi a submissão do Planalto à insolência de um tiranete que trata o Brasil como um grandalhão pusilânime. Previsivelmente, o ministro das Relações Exteriores acha que fato grave foi a libertação de Roger Pinto Molina ao fim de 15 meses de clausura num cubículo.
Na abertura da coluna publicada na edição de VEJA, o jornalista J. R. Guzzo faz um brilhante resumo da ópera (irretocavelmente analisada no restante do texto, que pode ser lido na revista). Confira a introdução. Volto em seguida.

O servidor público mais detestado pelo governo da presidente Dilma Rousseff no presente momento é um tipo de ser humano raríssimo de encontrar no mundo de hoje ─ um homem de bem. Seu nome é Eduardo Saboia. Sua profissão é diplomata de carreira, em serviço no Itamaraty. Tem 45 anos de idade, mais de vinte na ativa e era, até a semana passada, encarregado de negócios na Embaixada do Brasil em La Paz, na Bolívia. Não há, na sua ficha criminal, nenhuma nota de reprovação.
Ele acaba de ser afastado do posto, vai responder a uma comissão de inquérito no Itamaraty e tem pela frente, provavelmente, uma sucessão de castigos que promete mantê-lo num purgatório profissional até o dia em que se aposentar. Não podem botá-lo na rua, como gostariam, porque exerce função de estado e a lei não permite que seja demitido ─ mas entrou para a lista negra da casa e parece improvável que saia dela enquanto valores como justiça, decência e integridade continuarem vetados no Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Saboia cometeu um delito que Dilma, seu assessor internacional Marco Aurélio Garcia, intendente-geral do Itamaraty, e os principais mandarins do PT não perdoam: teve a coragem de cumprir um dever moral. 

Aí está, em sua essência, a explicação para os chiliques presidenciais que começaram no dia 24, quando Dilma soube da operação que enfureceu o Lhama-de-Franja, e atravessaram a última semana de agosto. O surto de cólera atingiu sucessivamente o chanceler Antonio Patriota, o embaixador Marcel Biato, o senador Pinto Molina e, com especial intensidade, o diplomata que ousou desafiar o companheiro Evo Morales. Por não ter descoberto e abortado o resgate, Patriota foi rebaixado a chefe da representação na ONU. Por ter acolhido o parlamentar boliviano quando comandava a embaixada em La Paz, Marcel Biato viu cancelada sua iminente transferência para Moscou. Por ter chegado ileso ao país que lhe garantira a sobrevivência, o senador boliviano foi punido com a cassação do status de asilado político.

E Saboia, por ter feito o que devia, vai percorrendo as estações do calvário previsto no artigo de J. R. Guzzo. Cumprir um dever moral é mais que perigoso. Segundo o estatuto do grande clube dos cafajestes, é crime hediondo. Em vez de averiguar as patifarias jurídicas e diplomáticas de Morales, uma comissão de sindicância montada pelo governo federal caça pretextos para implodir a carreira de Saboia. Na cabeça despovoada de neurônios, o homem decente é um traidor da causa. E o vilão merece o tratamento de herói ultrajado, informou o encontro entre Dilma e Morales no sarau em Paramaribo.

Vejam a foto. A presidente brasileira contempla o vigarista de estimação com o olhar da debutante prestes a dançar a valsa com o padrinho que aparece toda noite na novela da Globo. O casal segura dois bonecos manufaturados que Morales deu de presente a Dilma. Ela retribuiu com um quadro e, na conversa a dois, com a cena de vassalagem explícita pressurosamente divulgada pelo chanceler Figueiredo. Assim que as portas se fecharam, contou o novo porta-voz de Marco Aurélio Garcia, a presidente manifestou ao parceiro seu “repúdio” à operação arquitetada e conduzida por Eduardo Saboia. “Repúdio completo”, acrescentou o chanceler. Para tamanha vileza, só um substantivo não basta.

Os  afagos retóricos desnudaram de novo a rainha de araque. O que Dilma e Morales queriam era induzir Pinto Molina a compreender que seu cativeiro só seria interrompido pelo suicídio, pela loucura ou pela rendição. Teriam vencido se não surgisse em seu caminho um diplomata sem medo. Foram derrotados por um homem disposto a cumprir seu dever. Não conseguirão devolver o senador ao governo boliviano. Quem promoveu a asilado político um Cesare Battisti, assassino condenado à prisão perpétua na Itália democrática, não se atreverá a entregar um perseguido sem direito a um julgamento justo. Resta a Dilma Rousseff, sempre orientada por seu chanceler portátil Marco Aurélio Garcia, insistir no cerco a Eduardo Saboia.

A dupla deixaria de sonhar com vinganças se fosse homenageada com uma exclusiva, pessoal e intransferível manifestação de rua. Mas ninguém sabe onde andam os indignados de junho.

02 de setembro de 2013
Augusto Nunes

O CASO DIAS TOFFOLI DEMONSTRA QUE A ORDEM É NIVELAR PELO SUBSOLO

 

O que será necessário acontecer para que Dias Toffoli, o birreprovado, tenha a dignidade de se declarar impedido em ações quando claramente tem ligações com uma das partes?
E não é somente ele. A AGU de Luis Adams também deveria ser uma advocacia da União. E não do governo federal.

Se for submetido ao plenário do STF um pedido de suspeição, os outros ministros, que terão de optar pelo óbvio ou pela indignidade.
É impossível alguém se sentir livre de pressões ao julgar quem recebe mensalmente 92% de seu próprio salário! Sem falar na atuação em processo cujos acusados/condenados eram antigos empregadores e atuais patrões da companheira.

Será que nosso sentimento de revolta e vergonha é de menor importância?  Não entendem que não queremos criticar pela crítica em si? Toffoli é ministro do Supremo. Não queríamos. Mas é. E, como tal, possui estabilidade funcional, não podendo ser demitido por ninguém. Esta é a essência do estado de Direito, que protege os juízes em nome da independência. Por isso a necessidade de contar-se sempre com a reputação ilibada, ao lado do notório saber jurídico. Toffoli falha clamorosamente em ambos.

A reputação que está sendo construída (ou reforçada) pode ser tudo, menos ilibada. Até o saber jurídico mínimo entende o que seja suspeição.
Valeria a pena relembrar as causas de IMPEDIMENTO (mais grave) e da SUSPEIÇÃO (menos grave, porém também excludente)?

Causas de IMPEDIMENTO:
─ quando o julgador tiver funcionado (na demanda) seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
─ quando ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
─  quando ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Pergunta-se: em qual destas razões de impedimento Toffoli se enquadra? A companheira ainda é advogada de um dos réus do Mensalão. Toffoli atuou como defensor de um dos réus e da organização criminosa (PT) a que o defendido pertencia. Basta?

Quanto à SUSPEIÇÃO, ela se aplica a alguém que for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes.
Mais claro impossível. Mais fiel ao caso atual, inimaginável. Afinal, Toffoli é devedor POR ANOS de 92% do salário que recebe como ministro do Supremo. Pouco importa se tem outras rendas. É muito estranho que um magistrado precise de rendas extras, nestas proporções, para a própria subsistência. Não é moralmente aceitável. Nem eticamente compreensível. Mas, todos nós sabemos, são valores ignorados nestes novos tristes tempos.

Também era inimaginável o desprezo que estes novos donos do poder têm pelo país. E acreditávamos impossível o escárnio de quem se julga acima das leis e da ética.
O que os leva a se julgarem invisíveis ou isentos de avaliação moral? Acreditam que nós somos cegos ou que desconhecemos as leis do Brasil?
É o retrato do país aparelhado. Do Judiciário atacado diariamente. Da tentativa permanente de transformar códigos em estatutos partidários, tribunais em assembleias políticas e juízes em parlamentares ou ministros do Executivo.

A ordem é nivelar pelo subsolo.
Tudo bem. Toffoli ─ pela própria visão e por quem deveria defender a União ─ está apto a julgar quem lhe tunga 92% do salário. Mas não está apto a ter o respeito de brasileiros com vergonha na cara.
Na Era da Mediocridade, Toffoli já não é mais medíocre. Ao contrário: é a representação da excelência. Isso explica muita coisa; até o cargo que ocupa em uma escolha que era, para alguns, incompreensível.

02 de setembro de 2013
REYNALDO ROCHA

"O TEMPO FORA DO TEMPO"

 

Diz o Eclesiastes, um dos livros da Bíblia, que há um tempo para tudo, um tempo para tudo o que ocorre. Há, pois, que ter o tempo como aliado; e saber quando a hora não chegou. E, quando não for o tempo, adiar o que se deseja.
É justo ou não o pedido do ministro Joaquim Barbosa de aumento de salários no STF? Pode ser; mas não é hora de elevar agora o salário do STF para mais de R$ 30 mil, quando o salário mínimo talvez vá para R$ 722, e só no ano que vem. É correto manter o mandato do deputado federal Natan Donadon, do PMDB, preso por corrupção? Este colunista acha que não, a Câmara acha que sim; mas não é hora de criar a figura jurídica do deputado sem direitos políticos, que não pode votar nem ser votado, nem comparecer às sessões, mas continua deputado.

Não é o tempo certo para que a cúpula do país faça reivindicações, por justas que lhe pareçam. Multidões foram às ruas pedir seriedade na administração pública. Não é o tempo certo para que o governador do Ceará, do PSB, compre quatro helicópteros sem licitação e contrate bufês suntuosos para servi-lo; nem para que o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, arranje emprego público para a namorada, a sogra e o cunhado; nem para que o governador gaúcho, do PT, gaste R$ 400 mil do Tesouro para avaliar se o jornal Zero Hora o trata com imparcialidade; nem para que o governador do Piauí, do PSB, queira pagar seu hidratante, xampu reparador e gel esfoliante com dinheiro público. Puro deboche.
Parafraseando o Eclesiastes, que proveito tirou o povo de suas manifestações?

Sabedoria antigaUm grande historiador, Capistrano de Abreu (1853-1927) dizia que a nossa Constituição deveria ter apenas dois artigos: “1 – Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara. 2 – Revogam-se as disposições em contrário”.

O caminho das pedrasEm duas semanas, dois jogos em Brasília, com times de fora, e duas grandes brigas no Estádio Mané Garrincha. Um torcedor do Flamengo foi seriamente machucado por são-paulinos; corinthianos e vascaínos brigaram a pauladas, ignorando a polícia. Três dos brigões corinthianos estavam entre os detidos em Oruro, após a morte do garoto boliviano Kevin Strada. Fala-se em proibir as torcidas organizadas, mas isso não funciona: basta que troquem de nome, e pronto.
No caso Watergate, a principal fonte dos jornalistas que revelaram o escândalo repetia sempre um lema: “Sigam o dinheiro”. O que se tem de fazer no futebol é buscar o caminho do dinheiro. Como puderam os briguentos ir a Oruro, viajar de avião a Brasília, comprar os caros ingressos, fora outras despesas? Os que ficaram detidos em Oruro por vários meses certamente perderam o emprego. Quem paga suas viagens?
Achando-se a resposta, as brigas acabam na hora.

Ela não sabia!Eduardo Gaievski, assessor da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, está foragido: exonerou-se e desapareceu depois de ter sido acusado de abusar sexualmente de meninas pobres, pagando-lhes de R$ 150 a R$ 200 (há outras acusações contra ele, mas esta é a mais grave). Gaievski foi prefeito de Realeza, no Paraná, preparava sua candidatura a deputado estadual pelo PT e seria coordenador da campanha de Gleisi ao Governo do Estado, no ano que vem.
E que disse a petista Gleisi sobre o caso? Claro: que não sabia de nada. Que, antes de nomear o assessor, o Governo consultou a ABIN, a Justiça, cartórios “e todos os órgãos necessários”, mas não recebeu informações porque os processos contra ele corriam em segredo de justiça. Pois é. Mas talvez tenha se esquecido do Cartório da Comarca de Realeza.
A certidão, mediante simples consulta, lista 12 ações contra Gaievski, incluindo a de exploração sexual.

Dúvida pertinente
Uma pergunta: que significa “rigoroso inquérito”? Há inquéritos dignos desse nome que não sejam rigorosos? A propósito, já existe algum resultado do “rigoroso inquérito” sobre as denúncias da Siemens a respeito do cartel nos fornecimentos para trens urbanos e Metrô em São Paulo, que conforme as denúncias funcionaria desde o Governo Mário Covas, o primeiro da atual dinastia do PSDB?

Há gente daquela época até hoje ocupando cargos importantes, e seria de seu interesse que tudo fosse logo esclarecido, para afastar qualquer suspeita.

A fila anda
É bom que o “rigoroso inquérito” sobre o cartel em São Paulo ande logo, porque parece que há mais coisas rolando. Existe quem fale em problemas em outros Estados, em fornecimentos para usinas e trens de passageiros regionais.


Faça o que eu digoEstá em pleno desenvolvimento o esforço governista de demonização do senador boliviano Roger Pinto, que ficou 455 dias isolado num quarto da Embaixada brasileira em La Paz e fugiu para o Brasil com auxílio do diplomata Eduardo Saboia. Todas as acusações que o Governo boliviano fez contra ele foram descartadas pelo Governo brasileiro, ao conceder-lhe asilo; mas agora são utilizadas como se fossem verdadeiras e comprovadas.
Veja o que diz José Dirceu – o próprio – em seu blog: “Molina, que deveria estar cumprindo pena (…)”

02 de setembro de 2013
CARLOS BRICKMANN

CAFUNDINDO TUDO...

O dia em que Dilma Rousseff confundiu tijolo com diploma, piso com cobertura, primário com ginásio, Bolsa Família com bolsa escolar — e invocou dona Maria na hora errada




O que a presidenta fala não se escreve ─ o dilmês, inédito idioma com um único usuário, estacionou sua semântica na fase pré-escrita da linguagem e, por isso, não pode ser transcrito sem grave ofensa à instituição da Presidência da República. Ao quebrar esse dogma, reproduzindo os discursos de Dilma com fidelidade quase integral, minutos depois de terem sido cometidos, o Portal do Planalto oferece à consulta pública, em tempo real, documentos preciosos que um dia serão analisados por historiadores isentos ─ e só então encarados com o devido espanto.

Desde o início das manifestações de rua, com a consequente queda vertiginosa de sua incrível popularidade, os discursos de Dilma se avolumaram em duração e frequência ─ às vezes três numa mesma cidade, no mesmo dia, cada qual numa plataforma diferente do Brasil Maravilha. Só de “comprimentos”, dá mais de meia hora/dia.

Mas esta semana, em Campinas, onde participaria de duas cerimônias, o espanto foi da própria presidente, logo aos 32 segundos do primeiro discurso, que celebraria a entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida na cidade, ao se dar conta de que um auto-hacker, falando em dilmês escorreito, invadira sua fala.

O preâmbulo “cut-cut” do discurso seria o caso edificante de uma mulher resgatada de sua miséria por um curso profissionalizante ─ e que talvez já tenha até casa própria, mas não é da Dilma.
“Eu quero cumeçá contando uma história pra vocês de uma mulher que estudou somente até a 5ª série ginasial e… aliás, a 5ª série do curso fundamental, porque vivia na roça com mais nove irmãos e não teve condições de continuar estudano. Mas essa mulher… eu vou tratá dela nu, na, na próxima cerimônia que eu vou participar aqui em Campinas…”

Continuar estudano? Só aí caiu a ficha: “essa mulher” era figurante do discurso seguinte, o de entrega de diplomas de cursos profissionalizantes para formandos do Pronatec. O que estaria fazendo ela numa entrega de casa própria? Ao perceber o erro, a presidente promete “tratá dela” na próxima cerimônia ─ seria quando falasse do Mais Médicos?

Enquanto o pânico certamente se instala nos arredores ─ com os assessores remexendo nervosamente a papelada para encontrar o texto da vez ─ Dilma não acusa o golpe e, sem perder a embocadura, como sói acontecer entre os grandes oradores, tenta encenar o teletransporte, à cerimônia seguinte, da personagem que não pertencia àquele mundo:
“… na próxima cerimônia que eu vou participar aqui em Campinas, que é a formação…do Bolsa Família”.


Espere: não seria do Pronatec? Que formação é essa do Bolsa Família? Da poupança?
Não há nada que não possa ser consertado em dilmês:
“Quiquié formação do Bolsa Família? Quando a gente dá o Bolsa Família, nós estamos permitindo que as pessoas sobrevivam..”.


Humm, essa história não vai acabar bem… Enfim, depois de segundos que pareceram uma eternidade, a mão salvadora ─ veja no vídeo acima ─ deposita sobre o púlpito o papel certo. Seria a hora de mudar de assunto e abandonar o penoso improviso ─ o tema da cerimônia, afinal, é a casa própria. Mas não Dilma.
Ela vai até o fim. A tal “formação do Bolsa Família” ─ que parece ter deixado de ser esmola para ser escola ─ precisa ser explicada.

“Quando a gente dá o Bolsa Família, nós temos de dá também condições pras pessoas mudarem de vida. Mudá de vida ocê muda de várias formas. Primeiro, estudano….”.
É o toque aristolélico, que explica a “formação do Bolsa Família”. Mas, espere: de novo, e a casa própria? Aqui está ela, gloriosa, embora em versão “própia”:

“Primeiro a casa própia. Segundo, curso profissionalizante pra pessoa tê a carteira assinada e podê consegui um emprego”.

Fechou o raciocínio? Sem dúvida, mas é preciso dar uma caprichada no enunciado, inclusive linkando a coisa com o motivo do discurso seguinte, de onde “essa mulher” saiu inadvertidamente:
“Tô feliz, bastante feliz, porque hoje, aqui em Campinas, é minha primeira visita como presidente. E como presidente, eu venho fazer dois atos que são essenciais pra mudar a vida das pessoas: casa própia de um lado, formação profissional de outro lado”.

E dona Maria ─ como se verá adiante ─ no meio dos dois.
Bem, o discurso prossegue, além do vídeo, por longos 22 minutos, integralmente transcritos pelo Portal do Planalto, com Dilma em seu melhor habitat: a velha história da casa que é muito mais do que uma casa. É uma casa:

“Hoje, nós estamos entregando 1060, 1060 moradias que são na verdade, não são construção, porque uma casa pode ser de material, pode ter azulejo, ferro, aço, alumínio, mas uma casa não é isso. Uma casa é onde a gente cria os filhos, onde a gente mora com a família, onde a gente recebe os amigos, onde a gente cria os laços afetivos que qualquer ser humano quer carregar ao longo da sua vida”.

Passada a tensão inicial, Dilma parecia exultante ─ mas com os pés no chão:
“Eu estou muito feliz, porque eu entro lá nos apartamentos para olhar o quê? Eu olho o chão, eu olho se o chão está coberto. A moça ali me perguntou, porque antes não se cobria o chão. A primeira fase, a primeira fase não se cobria o chão, agora que se começou a cobrir. Nós decidimos várias coisas, melhorias, porque você vai aprendendo. Agora é obrigado ─ é bom vocês saberem o que é obrigado a fazer: por exemplo, o chão tem de estar coberto, ou por madeira ou cerâmica, e a área social também. Se o seu não estava, ele terá de estar”.

E nada como o olhar de uma igual:

“Eu sou, como vocês… hoje eu não sou dona de casa porque eu sou presidente, mas eu fui dona de casa até pouco tempo atrás. Quero dizer para vocês que, como qualquer dona de casa, vocês têm de fazer o seguinte: vocês têm de olhar os preços nas lojas. E olhar o preço, ver qual é o melhor e comprar o que é melhor”.
Não é à toa que se tornou presidente: alguém já tinha pensado nisso antes?

A seguir:

─ A mulher que invadiu por engano o discurso da casa própria volta com tudo no discurso certo e é obrigada a ouvir a profissão de fé da presidente na educação e nos nossos mestres:
“E o professor, o professor, a pessoa professor e professora, nós, sociedade brasileira, governo, estudantes, nós temos de valorizar”
“Independentemente de quem quer que seja, nós carregamos a educação que nós conquistamos para nós”

─ Dilma pede ajuda aos universitários para lembrar o nome do micro-ondas
─ Os desafios do Mais Médicos:
“Nós vamos primeiro atacar o grosso”
“Gripe é aquilo que ataca cada um de nós”
“O Brasil precisa de oncologista, que vai tratar das doenças do câncer”


02 de setembro de 2013
CELSO ARNALDO ARAÚJO

QUOUSQUE TANDEM...

JORNALISTA DO SBT ACABA COM MARTA SUPLICY



TRÊS COMENTÁRIOS A TRÊS ABSURDOS

           
          Artigos - Conservadorismo 
Analisar a economia sem examinar os valores que se mantêm ou se perdem na sociedade é bobagem sem tamanho, bastante praticada por economistas esquerdistas e liberais, mais próximos um do outro do que se pensa.
 
Um: A educação brasileira está no fundo do poço. Esse poço tem dois nomes compostos: Doutrinamento Esquerdista e Pornografia Explícita. Veja o vídeo do senador Demóstenes Torres, do dia 21 de junho deste ano, que descreve (com citações) algumas obras aprovadas pelo MEC para as escolas públicas e trema de horror ao pensar no estado mental e emocional das crianças expostas àquilo. Eu tremi. E nunca é demais enfatizar: LEGALIZAÇÃO DO HOMESCHOOLING JÁ! O governo não tem competência, nem sabedoria, nem lisura para educar nossos filhos!

Dois: Leio aqui que a Europa está ficando vertiginosamente mais pobre. De três anos para cá, o desemprego e a queda na renda são males generalizados. Por trás dessa decadência, há causas que raramente são citadas nas análises.
A mais decisiva é o banimento cada vez maior do substrato cristão na cultura. Embora esse substrato em si não converta ninguém (pois a conversão é um fenômeno espiritual, não cultural), os países influenciados pelo cristianismo são abençoados pela graça comum de Deus, que se revela nas leis e em sua aplicação (freios para o pecado), na liberdade individual (pois o Deus cristão está acima dos consensos humanos e valoriza cada ser humano independentemente desses consensos), na proteção aos mais fracos (pobres, viúvas, órfãos) etc.
Não é à toa que o comunismo (que dá superpoderes aos governantes e esmaga o indivíduo) só floresce em meio ao materialismo ateu. (O comunismo não respeita indivíduo algum, nem o pobre, nem a viúva, nem o órfão.)
Quando esse substrato cristão é varrido para longe, o resultado é desastroso: sem os limites bíblicos na cultura, há o consequente relativismo; os homens se sentem livres para dar curso a tudo o que não presta (ganância, imoralidade, violência); as leis refletem essa falta de limites e se tornam frouxas e vazias, dando lugar à impunidade; sem um Supremo Juiz e um horizonte transcendente, não há estímulos para levar-se a vida de modo honesto e simples (e aqui entram em cena as drogas, a promiscuidade e todo modo de vida destrutivo).
Tudo isso tem seu peso sobre a economia, que se subordina à liberdade, à transparência nas relações humanas, à subjetividade. A economia (tal como muitas outras atividades humanas: a educação e a constituição da família, por exemplo) depende diretamente da disposição interior para o sacrifício do bem imediato pelo bem duradouro.
E nossa sociedade, sem Deus, tem se esfacelado em um hedonismo suicida. Um dos maiores exemplos - e que também se reflete na economia - é o aborto praticado à solta, que amputa as famílias, envelhece a população e perpetua uma extrema insensibilidade, um pessimismo abissal, diante da vida.
E, por fim, o esquerdismo generalizado falseia a realidade, desorienta a mente e promove, entre os líderes, as decisões erradas, quando não moralmente espúrias, desestabilizando as gerações seguintes.
Analisar a economia sem examinar os valores que se mantêm ou se perdem na sociedade é bobagem sem tamanho, bastante praticada por economistas esquerdistas e liberais, mais próximos um do outro do que se pensa.
Precisamos clamar a Deus pelo Brasil. Aqui, a igreja, se santificar-se, ainda pode fazer a diferença para que não sigamos rumo ao mesmo buraco.

Três: Alejandro Peña Esclusa, escritor conservador de oposição na Venezuela, foi preso sem julgamento sob ridículas e infundadas acusações de terrorismo.

É o famoso método cubano adaptado para a Venezuela: quando o elemento perturbador do sistema é razoavelmente conhecido, não o matam, mas o prendem e o deixam morrer (como descrevi aqui). Peña Esclusa está doente, com câncer na próstata.
A doença estava sob controle até o momento em que, encarcerado, ele não pôde mais tomar os remédios. Está na prisão há um ano e o câncer, sem tratamento, continua evoluindo.
Leiam mais notícias sobre o caso no blog de minha amiga Graça Salgueiro, o Notalatina. O Paraguai já aprovou uma petição formal para que Peña Esclusa seja liberto.
O que faz o Brasil, ainda enaltecendo os ditadores da América Latina e completamente surdo à injustiça da perseguição política sob regimes comunistas?
O que faz a igreja, que não levanta a voz a favor dos oprimidos nesses regimes, sejam eles cristãos ou não? Vamos acordar!
O detalhe impressionante nessa história de Peña Esclusa é que o presidente Hugo Chávez, como agora se sabe, confirmou que está com câncer. Claro, ele está sendo tratado - em Cuba. Seu longo sumiço da vida pública dá a entender que a doença é grave. Talvez seja um pequeno aviso de Deus. Talvez.

02 de setembro de 2013
Norma Braga              

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

           
          Notícias Faltantes - Foro de São Paulo        

Os cubanos exilados alertaram os venezuelanos de que depois dos médicos viriam os educadores, depois os desportistas e quando eles abrissem os olhos Cuba já teria invadido e dominado o país.

Os venezuelanos debocharam e afirmaram ser exagero.

Esse assunto já está desgastado antes mesmo de os médicos estrangeiros começarem a exercer as funções para as quais foram contratados, mas a histeria da mídia e dos esquerdistas circulantes pelas redes sociais, blogs e sites é tão grande, que não dá para deixar passar em branco certas afetações que revelam os dois pesos e duas medidas tão comuns na praxis comunista.
 
Não tenho qualquer intenção de defender quem quer que seja, muito menos os médicos cubanos, pois as denúncias feitas por aqueles que conseguiram escapar da Venezuela, Bolívia e aqui mesmo do Brasil (ver meu artigo Contratação dos médicos cubanos: o que há por trás disso?) são demasiadamente claras para quem analisa os fatos sem paixão, sobretudo para aqueles que têm algum respeito pela vida, liberdade e dignidade da pessoa humana.
A mídia inteira tem se esmerado em acusar os médicos brasileiros de “racistas”, ardilosamente usando como argumento a foto de um cubano negro, cujo fisionomia denota tristeza e constrangimento diante de uma sonora vaia em Fortaleza, como se esse gesto tivesse sido dirigido apenas a ele, por ser negro, e não a 
todos os demais integrantes do grupo. Não sou dada a agressões desse tipo, preferindo sempre o embate verbal com argumentos e provas, mas não posso fazer de conta que desconheço não somente as vaias como as tentativas de agressão física que estes mesmos defensores dos cubanos castristas fizeram com a “blogueira cubana branca” Yoani Sánchez, quando esteve no Brasil no início deste ano.

Todo mundo sabe que fui talvez a primeira pessoa no Brasil a denunciar a falsa oposição desta blogueira mas, mesmo assim, jamais me passaria a vaiá-la ou agredi-la da forma covarde - afinal, ela era uma só! - como ela foi por parte de uma turba ensandecida que a julgava “vendida ao império”, “agente da CIA” e outras sandices mais. Cubanos são todos os que nascem em Cuba, evidentemente, mas os que vêm através de um acordo espúrio entre os ditadores Castro e o governo petista são os únicos que merecem respeito. Qualquer outro cubano que não faça parte do esquema é “gusano”, e não só merece como deve ser apedrejado, cuspido e vaiado.
Os “médicos” cubanos que estão dando declarações vieram com um discurso pronto e ensaiado, com frases de efeito bem ao gosto do socialismo, como“vamos aos lugares onde ninguém quer ir” ou “nós não trabalhamos por dinheiro, trabalhamos por amor”. Essa última frase, então, comoveu os corações humanistas dos defensores dos Castro, esquecendo, convenientemente, que se isso fosse verdade a ditadura cubana não receberia nenhum centavo por este “gesto humanitário”. 
Há exatos dois anos o governador do Ceará, Cid Gomes, causou justa indignação e foi duramente criticado por professores ao declarar, por ocasião de uma greve desta categoria profissional, que Professor deve trabalhar por amor, não por dinheiro. Ninguém trabalha “só por amor” e deve ser remunerado por seus serviços, a menos que escolha o voluntariado - que não é o caso dos cubanos -, assim como esses médicos não vão tratar uma apendicite aguda ou um infarto com “amor”, mas com procedimentos e medicamentos que inexistem nesses lugares inóspitos que os médicos brasileiros se recusam a ir. E merecem ser remunerados como qualquer outro trabalhador, assim como os médicos de outros países que chegaram aqui através do mesmo programa. 
É espantoso, portanto, que os comunistas falem tanto em “respeito aos direitos humanos” e “igualdade” e não percebam a discrepância abissal entre a forma de pagamento e valor do salário entre os médicos cubanos e os demais, e que ainda defendam o absurdo de que os cubanos não tenham um contrato individual mas terceirizado, através da OPAS, que repassa o dinheiro para Cuba, que lhes paga o que bem entende. É absurdo que esses “humanistas” aceitem a desculpa de que, como Cuba age assim em mais de 50 países isso, por si só, é correto. É ultrajante que pessoas que reclamam de seus baixos salários, como professores, e façam greve por melhorias, aceitem como normal e legal que outros profissionais, só porque são regidos por uma ditadura comunista possam vir ao seu país como escravos, pois não têm direito a um contrato de trabalho individual, não têm direito a uma remuneração direta com o empregador - o Governo brasileiro -, não tenham liberdade de locomoção, não possam trazer suas famílias como os demais, e que a AGU tenha dito de antemão que a Justiça negará asilo político caso eles venham a solicitá-lo. 
Segundo o advogado geral da União, Luís Inácio Adams“Esses médicos vêm como profissionais, eles vêm em cima de um compromisso, de um acordo, de um programa, de uma relação de trabalho. Não me parece que sejam detentores dessa condição de permanência. Os boxeadores vieram aqui ao Brasil participar de evento, é diferente a situação”. Sim, a situação é diferente de fato. A única coisa em comum é que eles não são donos das próprias vidas, sãopropriedades do Estado cubano, tanto é assim que dentro do grupo há alguns “capitães-do-mato” que retêm os passaportes para que não haja possibilidade de fuga. Nem todos são médicos, daí a pantomima de descer do avião de jaleco como se o aeroporto já fosse um hospital cheio de pacientes necessitados de socorro urgente. Com todos vestidos iguais, ninguém sabe quem é médico e quem é agente do G2.
Quer dizer, se já foi anunciado que a Justiça brasileira irá negar o asilo político, é porque tanto o Brasil como Cuba SABEM que muitos desses médicos “aceitam” trabalhar nessas missões pela oportunidade de sair da ilha e tentar escapar para algum país livre. E isso não chama a atenção de nenhum dos que criticam os que estão condenando a vinda desses “médicos” ao Brasil, e sua raiva vem exatamente porque querem camuflar que Cuba é uma ditadura miserável e que ninguém foge “para lá” mas “de lá”!
Nos primeiros anos da ditadura chavista os cubanos exilados, que conhecem sobejamente a prática castrista de ir entrando sorrateiramente nos países com a desculpa dessas “missões humanitárias”, alertaram os venezuelanos de que depois dos médicos viriam os educadores, depois os desportistas e quando eles abrissem os olhos Cuba já teria invadido e dominado o país. Os venezuelanos debocharam e afirmaram ser exagero. Hoje, só de “médicos” (e escrevo com aspas porque muitos deles têm competência para ser, no máximo, auxiliares de enfermagem e NUNCA apresentaram diploma a ninguém) há em torno de 30.000. A infiltração nas Forças Armadas é algo alarmante, ao ponto de ocuparem até cargos de comando, além de notarias, ministérios e controle total dos registros civis e de comunicação (internet, telefonia fixa e móvel, imprensa) totalmente em mãos dos cubanos.
Caminhamos para o mesmo, pois o governo já advertiu sobre um programa semelhante na área de educação. Enquanto o problema está atingindo a classe médica as esquerdas estão rotulando essa categoria de xenófoba, racista, elitistas desalmados e mercenários que têm nojo de pobre. Quero ver quando a invasão cubana for se estendendo a outras categorias, como a dos professores, se eles vão ser tão solidários e humanistas como estão sendo agora.
Quando o Papa Francisco esteve no Brasil, fez uma declaração em um de seus discursos públicos alertando para o uso do povo pelos políticos. Alertava, sabiamente, o amado pontífice, que para os políticos o “povo” era apenas um chavão para manipular votos. Apesar do programa “Mais Médicos” ter sido acordado desde o ano passado, o “povo” nem as casas legislativas que supostamente são seus representantes foram ouvidas, nem antes nem agora. Foi criado um decreto especial para receber esses profissionais sem ter que passar pelo Revalida e eles estão sendo impostos aos brasileiros na marra. Os que questionam ou rechaçam são tratados como desumanos e elitistas O dinheiro que está sendo gasto com esses contratos daria perfeitamente bem para abrir postos de saúde, ambulatórios e hospitais equipados com o mínimo necessário para atender a população, além de ambulâncias para atendimento de urgência. Mas isso não abasteceria os cofres dos ditadores cubanos. 
Outra aberração imposta de cima para baixo sem direito a recusa, é o alojamento desse pessoal nos quartéis das Forças Armadas. Seria a forma mais prática de manter um controle sobre este pessoal, uma vez que há regras a serem cumpridas que não existem nos hotéis? Se esses médicos cubanos são pessoas livres como os demais, por que foi necessário a ministra da Saúde cubana acompanhar a frota e fazer discurso em Brasília?
Ano que vem haverá eleições presidenciais e prevejo que nas campanhas não faltarão imagens dos pobres do fim do mundo abraçados aos “doutores cubanos”, agradecendo ao governo por ter-lhes dado assistência médica, mesmo que continuem padecendo o flagelo da seca, da fome, da miséria e da falta de perspectiva. Quando o povo brasileiro abrir os olhos já será tarde demais. Que o diga a Venezuela que não quis dar ouvidos a quem sabe quem são os ditadores Castro e hoje já é um país miserável, onde falta até papel higiênico. Como em Cuba.

02 de setembro de 2013

Graça Salgueiro

MARILENA CHAUI TRANSFORMA INOCENTES EM UTILITÁRIOS DA REVOLUÇÃO

           
          Artigos - Governo do PT 
xauíOráculo da revista “Cult” e de professores da UFG, a filósofa uspiana finge defender as instituições, mas seu violento discurso contra a classe média é uma pregação quase explícita do terror revolucionário.

O marxismo é uma ideologia política para a maioria das pessoas comuns. Já para a maioria dos intelectuais, ele é uma teoria científica, um instrumento de interpretação da realidade que continua atual, especialmente no campo da história e da sociologia, com ramificações em muitas outras disciplinas. O alemão Karl Marx (1818-1883) divide com o francês Émile Durkheim (1858-1917) e com seu compatriota Max Weber (1864-1920) o título de “Pai Fundador” da sociologia.
Além disso, ele é praticamente o único cientista social que, diretamente ou por intermédio de seus discípulos, influencia as chamadas “ciências duras”, como a biologia e a física. Todavia, o marxismo é mais do que uma teoria filosófica ou científica. Emendando Jean-Paul Sartre (1905-1980), o marxismo não é a filosofia insuperável de nosso tempo — ele se tornou a cultura da nossa época. Mesmo quem nunca abriu um livro de Marx, usa cotidianamente seus conceitos por força da hegemonia das ideias socialistas, começando pela concepção de capitalismo, que é um derivado marxista.
Um exemplo da força do marxismo é sua incrível capacidade de se adaptar ou distorcer a realidade, conforme sua conveniência. Como oficiante de um ritual religioso, o intelectual marxista realiza cotidianamente a transubstanciação da realidade, criando verdadeiros universos paralelos, através dos quais julga vivos e mortos. É o que faz, por exemplo, a filósofa Marilena Chauí, professora titular da Universidade de São Paulo (USP), em uma longa entrevista à “Cult” do mês de agosto. A capa da revista traz a foto da filósofa metida numa blusa “vermelho-dilma” com uma manchete encomiástica: “A lucidez de Marilena Chauí”. E o título da entrevista não é menos laudatório, transformando a fala da entrevistada numa admoestação: “Pela responsabilidade intelectual e política”. Aos 71 anos de idade e 46 de magistério superior, a filósofa — que, desde a crise do mensalão, parou de escrever na “Folha de S. Paulo” e de conceder entrevistas à grande imprensa — tornou-se uma espécie de oráculo da “Cult” e é saudada pela editora da revista, Daysi Bregantini, como “a maior referência intelectual do País”.

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Marilena Chauí, filósofa: amaldiçoando os burgueses e a classe média que, além de pagar seu salário, financiam suas palestras, livros e viagens

A afirmação é questionável, mas não deixa de ser verdadeira. Marilena Chauí talvez seja o único intelectual brasileiro que transita, com a mesma desenvoltura, tanto na ciência esotérica da pós-graduação quanto na didática do ensino médio, ajudando a formar gerações desde a década de 70. Ela foi um ícone da “Coleção Primeiros Passos”, da Editora Brasiliense, alcançando mais de 40 edições com o opúsculo “O Que É Ideologia”. Colaborou na Coleção Pensadores, da Editora Abril, e seu livro “Convite à Filosofia”, destinado ao ensino médio e publicado pela Editora Ática, já está na 14ª edição. Na outra ponta, é autora do que talvez seja o mais ambicioso tratado filosófico já escrito no Brasil: o livro “A Nervura do Real”, um estudo sobre Espinosa, com 1.240 páginas, anunciado como primeiro volume de sua reflexão sobre o filósofo holandês, filho de judeus portugueses. Para se ter uma ideia do prestígio da filósofa, “A Nervura do Real” foi publicado pela Companhia das Letras, com ampla divulgação na grande imprensa, quando o destino normal de tratados do gênero é o gueto de uma editora acadêmica, sem circulação comercial.

Filósofa patrocinada pela “mídia burguesa”
 
A despeito desse invejável currículo, que inclui o título de “doutor honoris causa” na Universidade de Paris (o primeiro conquistado por uma mulher brasileira), Marilena Chauí se mostra cada vez mais caótica em sua vã tentativa de conciliar o saber filosófico com a militância política. A filósofa uspiana parece viver num universo paralelo, ao ponto de atribuir ao fantasma do general Golbery do Couto e Silva os males da política atual, mesmo depois de dez anos de poder do PT. E Marilena só não se saiu pior porque o entrevistador, Juvenal Savian Filho, estudioso da filosofia medieval, foi seu orientando no doutorado de filosofia da USP e não fez nenhuma pergunta crítica para sua mestra, por quem nutre profundo respeito. O mote da entrevista são as manifestações de junho e, a partir delas, a filósofa discorre sobre a política brasileira, fazendo uma apaixonada defesa do Partido dos Trabalhadores. O que fica claro na entrevista é que Marilena Chauí nunca foi levada a sério pela cúpula do partido, que a vê como uma figura excêntrica, incapaz de compreender o pragmatismo da política. Quan­do ela atacou violentamente a classe média, no lançamento de um livro organizado por Emir Sader, Lula estava no encontro e se limitou a sorrir, condescendentemente.

Felizmente para Marilena Chauí, marxistas como ela não precisam do governo do PT — a sociedade capitalista os financia fartamente. Seu “Convite à Filosofia” é publicado por uma das maiores editoras didáticas do País, a Editora Ática, que integra o Grupo Abril, amaldiçoado pela esquerda por publicar a revista “Veja”, e suas palestras são regiamente financiadas pela direita, que gosta de pagar para apanhar. Em 13 de março deste ano, Chauí esteve em Goiânia, no “Café de Ideais” do Centro Cultural Oscar Niemeyer, órgão do governo de Goiás, proferindo a palestra “Democracia e Sociedade Autoritária”. Como sempre, ela atacou a democracia liberal e o capitalismo — e foi paga para isso (provavelmente de modo régio) por um governo capitalista, ainda por cima do PSDB, partido que ela costuma incluir, raivosamente, na “direita”. Pela lista de patrocinadores do evento, percebe-se que ela cuspiu no prato de um dos melhores restaurantes da cidade, onde deve ter comido, e se hospedou no mesmo hotel cinco-estrelas onde o músico Paul McCartney também ficou quando cantou em Goiânia. Além disso, teve o apoio da “mídia burguesa” (e põe burguesa nisso), representada pelo Grupo Jaime Câmara.

A palestra de Marilena Chauí na capital de Goiás ilustra o universo paralelo em que vivem os intelectuais de esquerda. Mesmo sendo financiada pela “burguesia” do Estado e falando para uma plateia de classe média (“desgraça” de seu imaginário), a filósofa não se mostrou capaz de compreender a essência da democracia, que ela reduz a um sistema de criação de “direitos” de mão única, sem se dar conta da contrapartida dos deveres. Bastava Chauí ter atentado para o nome do centro cultural em que pronunciou sua palestra — Oscar Niemeyer, típico representante da “esquerda caviar”, que morreu defendendo o comunismo à revelia de seus mais de 100 milhões de cadáveres. Se até um governo tucano, ao construir seu mais ambicioso centro cultural, rende culto a um comunista impenitente, e nele proliferam palestrantes de esquerda, com as bênçãos de dois intelectuais conceituados (os professores Nars Chaul e Lisandro Nogueira, da UFG), como é que Chauí ousa se encolerizar com o suposto poder hegemônico da direita, desmentido pela aceitação que ela e sua obra desfrutam?

Na entrevista à “Cult”, Marilena Chauí comporta-se da mesma forma. Ela demoniza a grande imprensa, acusando-a de ser porta-voz da “direita”, mas, já na primeira resposta, sem querer, ela reconhece que foi justamente a grande imprensa que deu vida para os manifestantes de junho atacarem os bancos e outros símbolos da elite burguesa. 


 
“Gatos pingados” da USP fomentam badernas
 
Senão vejamos. O professor Juvenal Savian lhe pergunta: “Qual foi a sua primeira reação ao ver tanta gente nas ruas durante as manifestações de 2013?” Marilena responde: “Um susto! Acompanhei as tentativas de manifestação do Passe Livre na USP e vi que o movimento não conseguia mais do que três gatos pingados para escutar. Nem digo participar da manifestação, mas escutar. Imaginei que iram para as ruas com cinquenta, cem pessoas. Então, levei um susto, pois não tinha entendido a relação entre o que eles estavam fazendo, ou seja, a fórmula clássica da mobilização, e o uso das redes sociais. Se eu soubesse que eles iriam usar as redes sociais, não teria me assustado, pois associaria com outros eventos que vi no mundo”.
 
Marilena Chauí é decana da USP e, como se sabe, a universidade pública é um dos ambientes mais informatizados do País. Ela própria se mantém em dia com a Internet, pois seu currículo Lattes foi atualizado em 12 de junho último. E, ao dizer que acompanhou as “tentativas” de manifestação do Passe Livre na USP, ela confessa que não soube do movimento por acaso, através de terceiros, depois que ele eclodiu; não, Chauí era uma observadora (simpatizante? orientadora?) do Movimento Passe Livre, pois sabia de sua existência ainda embrionária e já o acompanhava quando ele ainda não passava de uma “tentativa” de manifestação de gatos pingados dentro da USP e dificilmente seria “acompanhado” por pessoas que não estivessem diretamente envolvidas com ele, ainda mais uma decana septuagenária. Ora, se Marilena Chauí tinha esse envolvimento com os gatos pingados do Passe Livre ao ponto de acompanhar até mesmo suas “tentativas” de manifestação, como é que nunca imaginou que eles iriam usar as redes sociais para tentar mobilizar a sociedade?

É óbvio que Marilena Chauí tenta enganar seu leitor. Para não saber que os manifestantes iriam usar as redes sociais só se ela fosse uma pessoa autista (sem querer ofender os autistas). Seu fingido espanto é de conveniência. Ela não quer admitir que os gatos pingados do Passe Livre, insignificantes até dentro da USP, só foram ouvidos pelo País afora e pela presidente da República porque contaram com total apoio da imprensa, que, de forma ingênua, irresponsável e suicida, deu vida cívica aos devaneios virtuais de seus integrantes. O próprio fato de se ter a elitista USP servindo de criadouro para esse tipo de movimento radical é uma prova de que Marilena Chauí vive num universo paralelo, povoado pelas figuras fantasmagóricas de ricos burgueses pançudos e fumarentos, cujo esporte predileto é violentar os pobres e censurar seus críticos. Nem era necessário que vivêssemos sob a opressão da elite burguesa que Chauí enxerga (repetindo Lula) para que esses grupos radicais não existissem na USP. Bastava um regime verdadeiramente democrático, não refém da chantagem das minorias, para vermos os membros do Passe Livre e seus congêneres sumariamente expulsos da USP e das universidades públicas que, criminosamente, os homiziam.
 
Chauí, a tia-avó de Pablo Capilé 
 
A exemplo de todo intelectual de esquerda, como o legendário Sartre, Marilena Chauí não enxerga o mundo real, mas o mundo de seus desejos: se está num país comunista, vê tudo cor de rosa; se está num país capitalista, nada presta. Na entrevista, ele teve a coragem de afirmar textualmente, afrontando os fatos: “Na USP, quando há manifestações, a primeira atitude do reitor é chamar a polícia”. Ora, o que se costuma ver na USP, bem como nas demais universidades públicas do País, é a covardia de reitores e professores, para não dizer cumplicidade, diante dos profissionais de passeata travestidos de alunos. Esses militantes de partidos de esquerda buscam a reprovação voluntária para continuarem infernizando a vida da universidade, mesmo não passando de meia dúzia de “gatos pingados”, para usar a expressão da própria Chauí. Dinheiro público não é capim e se um aluno não retribui o investimento da sociedade em sua formação, preferindo dedicar-se a depredações do patrimônio público, deve é ser expulso não só da escola onde estuda, mas de toda a rede pública, até o ano letivo seguinte. É isso ou a educação no Brasil vai continuar de mal a pior, obstruída pela violência cotidiana e impune dos próprios alunos.

Mas a filósofa Marilena Chauí pensa justamente o contrário. Como integrante do Conselho da Cidade de São Paulo, convocado por Fernando Haddad (PT) depois das primeiras manifestações de junho, ela aconselhou o prefeito a transformar os “gatos pingados” do Movimento Passe Livre — que não foram eleitos por ninguém — em verdadeiros gestores da maior metrópole do País. Após defender Haddad, dizendo ele não foi ambíguo ao não revogar o aumento da passagem de imediato, Chauí faz a seguinte ressalva: “Faltou intuição política, pois Haddad poderia ter dito: ‘Vou revogar, mas convido o Movimento Passe Livre para uma reunião comigo e com o secretariado para fazermos um estudo de onde vamos tirar o subsídio’. Com isso, ele incorporaria o movimento à discussão de outros problemas da cidade e teria sido mais politizador. Haddad deu uma resposta técnica em um momento que pedia uma resposta política”. Reparem que Chauí tem 71 anos de idade e uma livre-docência, mas em vez de ralhar com a molecada do Movimento Passe Livre candidata-se a tia-avó de Pablo Capilé, deixando-se guiar por jovens incautos, que ela quer ver comandando a cidade ao lado do prefeito.

A concepção de democracia de Marilena Chauí é a mesma do “fora-do-eixo” Pablo Capilé — por sinal, seu colega no Conselho da Cidade de São Paulo, instituído pelo petista Fernando Haddad. Chauí vive criticando duramente a democracia representativa (a única possível) e, como fez em sua palestra em Goiânia, chega a demonizar o consenso (que constitui a essência do regime democrático), preferindo enaltecer o conflito permanente, fomentado pelas facções de esquerda, que julgam falar em nome do povo. Contradito­riamente, na mesma entrevista à revista “Cult”, logo depois de afirmar que Haddad deveria convocar o Movimento Passe Livre para ajudá-lo a administrar a cidade, Chauí — obviamente pensando no PT, expulso de algumas manifestações — lamenta que os manifestantes tenham se voltado contra a política institucional, formada pelos partidos, e diz temer que isso favoreça a manipulação dos movimentos pela direita, como se houvesse alguma direita organizada no País. Ocorre que, na cabeça de Marilena, até a “Folha”, o “Estadão” e a Globo, com novelas que mais parecem manifestos estudantis de esquerda, não passam de ferozes esbirros da direita.


 
Crítica aos manifestantes que antes ela apoiava
 
O sonho de Marilena Chauí era ver o Estado de São Paulo pegando fogo para que caísse por terra o único bastião de resistência (por sinal, muito frouxo) ao poder totalitário petista. Como as manifestações se generalizaram e acabaram chamuscando o PT, especialmente depois da atabalhoada reação da presidente Dilma Rousseff, Chauí acabou criticando os manifestantes que inicialmente apoiara. E só pelo fato de seu partido estar no poder é que a filósofa ainda finge respeitar as instituições democráticas e critica os grupos radicais que recusam a mediação dos partidos políticos. Na “Cult”, ela chamou de “pueril” a conduta dos manifestantes que arrebentam com a institucionalidade, o que levou o entrevistador a reconhecer que “há uma espécie de incitação à violência por parte de alguns líderes de movimentos sociais e intelectuais de esquerda”, com a palavra “esquerda” devidamente colocada entre aspas. Coitado de Juvenal Savian! Sua mestra quase o repreendeu por esta pergunta: “Olha, existe a violência revolucionária” — disse Chauí, e quase vemos seu olhar de reprovação.

Depois de fazer essa ressalva taxativa, Marilena Chauí passa a defender — com entusiasmo — o terrorismo, mascarando-o com a suposta nobreza da revolução. Vale a pena ler sua fala: “Olha, existe a violência revolucionária. Ela se dá no instante em que, pelo conjunto de condições objetivas e subjetivas que se realizam pela própria ação revolucionária, se entra num processo revolucionário. E, durante um processo revolucionário, a forma mesma da realização é a violência”. Notem que ela própria admite que “as condições objetivas e subjetivas da revolução” não estão dadas pela própria realidade — são provocadas pela ação dos revolucionários, que, feito bactérias morais, destroem o tecido social do qual se alimentam. É o que tem feito a esquerda no Brasil, sobretudo após a abertura política. As absurdas regalias legais para criminosos violentos, travestidas de direitos humanos, são um exemplo dessa ação revolucionária da esquerda, que visa criar um ambiente de anomia, propício a desesperar o cidadão e fortalecer o poder do Estado.
 
Pregando a violência revolucionária 
 
Mas Chauí vai mais longe. Sem explicar como é possível impedir que justamente os mais pobres sejam os principais ovos do omelete revolucionário (pois todas as promessas redentoras do gênero resultaram em milhões de cadáveres anônimos), ela deixa claro que o papel do movimento revolucionário é destruir a sociedade vigente para criar outra sociedade. “E isso se faz com violência, não é por meio da conversa e do diálogo”, enfatiza. E, sem querer, revela toda a ética amoral da esquerda, a ética da morte, a ética do mal travestido de bem, que levou o pensador francês Alain Besançon a considerar o comunista até mais perverso do que o nazista. Marilena Chauí prova isso ao discorrer sobre o que entende ser as formas de violência: “Porque a forma fascista é a da eliminação do outro. A violência revolucionária não é isso. Ela leva à guerra civil, à destruição física do outro, mas ela não está lá para fazer isso. Ela está lá para produzir a destruição das formas existentes da propriedade e do poder e criar uma sociedade nova. É isso que ela vai fazer. A violência fascista não é isso. Ela é aquela que promove a exterminação do outro porque ele é o outro”.

Notem o valor instrumental que a filósofa da USP confere à vida humana: para ela, a vida humana só tem valor até o momento em que terá de ser sacrificada em prol da revolução. É a mesma ética destruidora do pedagogo Paulo Freire, afirmada no best-seller “A Pedagogia do Oprimido”, manual de autoajuda marxista: “A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida”. Como já expliquei em outros artigos, essa frase de Paulo Freire é sua justificativa para os fuzilamentos sumários praticados pelos carniceiros da Revolução Cubana. Mas como o PT está no poder, não é hora de matar em nome da revolução, como explica sua colega de petismo Marilena Chauí: “Não estamos num processo revolucionário e por isso corremos o risco da violência fascista contra a esquerda (mesmo quando vinda de grupos que se consideram de ‘esquerda)”. Ou seja, se a violência dos manifestantes de junho se limitasse aos Estados governados pela oposição, sua violência seria revolucionária. Como ela atingiu até o cerne do poder federal em Brasília, então passou a ser fascista, na concepção da filósofa.

Mas Chauí quer se mostrar sensível e, fingindo não saber que o líder da Revolução Bolchevique foi o criador do terror e dos campos de concentração que inspirariam Hitler, afirma: “Eu me lembro de uma frase lindíssima do Lênin em que ele dizia assim: ‘Há uma coisa que a burguesia deixou e que nós não vamos destruir: o bom gosto e as boas maneiras’”. Ou seja, justamente Chauí, que revira os olhos e espuma a boca ao xingar a classe média de “desgraça”, aprendeu com Lênin que o único valor da burguesia que não pode ser destruído é justamente sua casca. Como bem sabe Lula, bom mesmo é terno de grife e uísque importado. Por isso, o filósofo Alain Besançon, no livro “A Infelicidade do Século”, definiu, de forma lapidar, a essência de esquerdistas como Marilena Chauí: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência”. E Marilena Chauí, com seu inegável talento, é quem melhor transforma os inocentes em meros utilitários da revolução. 
02 de setembro de 2013
Do Jornal Opção.

José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.