"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de outubro de 2013

PT AVANÇA NAS PRIVATIZAÇÕES AO AUTORIZAR AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO ESTRANGEIRA NO BB

 

Quem te viu – Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP) afirmou que ao elevar a participação estrangeira no Banco do Brasil de 20% para 30%, conforme autoriza decreto presidencial publicado nesta sexta-feira no Diário Oficial da União, o PT subiu ainda mais na escala das privatizações.

“O mesmo PT que, na oposição, tinha um discurso raivoso contra as privatizações e fazia campanhas eleitorais combatendo-as, hoje, no governo, está cada vez mais abraçado a elas”, declarou o tucano.

Sampaio ressalta que, como todas as ações do Banco do Brasil têm direito a voto, isso significa que 30% do controle da instituição estarão nas mãos do capital estrangeiro.
O parlamentar lembra que no leilão do Campo de Libra, realizado na última segunda-feira (21), as empresas estrangeiras ficaram com 60% do consórcio e a Petrobras com os 40% restantes. “Além de privatizar, o PT privatiza para capitais e grupos estrangeiros o que, para os militantes mais históricos do partido, deve ser uma ousadia e tanto”, afirmou.

A lista das privatizações realizadas pelo PT inclui ainda os aeroportos, rodovias, ferrovias e portos. “Hoje, até os projetos das privatizações são privatizados”, afirma o líder, referindo-se à EBP (Estruturadora Brasileira de Projetos), empresa controlada por bancos que faz os estudos e define modelos das privatizações que o governo resolve proceder.

“Se por um lado a adesão às privatizações é positiva para o país, à medida que o governo finalmente reconhece que a iniciativa privada deve ser parceira, por outro, deve representar uma enorme decepção para quem votou no PT e hoje, ao ver essa mudança de postura, pode se sentir enganado”, afirmou.
Xenofobia
De acordo com Carlos Sampaio, “ao dizer que é preciso acabar com a xenofobia, como afirmou ontem e reiterou hoje, ao se referir à participação dos estrangeiros no campo de Libra, a presidente Dilma Rousseff deve estar falando para dentro, mandando recado ao próprio PT”.

27 de outubro de 2013
ucho.info

IDIOTAS DA AMÉRICA LATINA REMONTAM A DOIS MILHÕES DE ANOS


“Certas épocas não podem ser satirizadas, pois são satíricas em si mesmas e, nelas, a piada é indiscernível da realidade.”  (Karl Kraus)

Essa frase que mantenho abaixo do título do blog é a síntese do que ocorre hoje na América Latina. Aliás, só hoje não. Faz tempo que os idiotas se sucedem, mandando e desmandando por aqui. Li hoje uma entrevista de Maria Beltrão, nossa mais importante arqueóloga, considerada no mundo inteiro, afirmando que, ao contrário do que se tem como verdade - a presença do homem na América tem 30 mil anos -, há registros de ancestrais do homo sapiens de dois milhões de anos no Brasil. Talvez a idiotice na América Latina também tenha essa idade.

A verdade é que hoje não faltam exemplos: Lula, Dilma, os irmãos Castro, Evo Morales, Rafael Correa, a viúva Kirchner, são apenas alguns membros dessa plêiade de imbecis, mas em se tratando de piada mesmo, nada supera Hugo Chávez e seu chaveirinho herdeiro que o incorpora, Nicolás Maduro, que de maduro mesmo não tem nada, parece uma criança brincando de governar.

Como bem lembrou a Theresa - ontem eu acabei esquecendo -, Maduro se superou mais uma vez com a criação do “Vice-Ministério para a Suprema Felicidade do Povo”, seguindo o pensamento de Chávez que, por sua vez sempre repetia como mantra a frase de Simón Bolívar “o sistema de governo mais perfeito é aquele que produz a maior soma de felicidade possível”.

No entanto é bom lembrar que nós, brasileiros, talvez sejamos os pioneiros da felicidade por decreto na América Latina, graças ao ciclotímico senador Cristovam Buarque que apresentou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), para incluir a “busca da felicidade” entre os direitos fundamentais do cidadão. Com ela, o Artigo 6º da Constituição Federal passaria a ser o seguinte: “são direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”.

E toca o bonde que isso aqui não tem jeito mesmo. Só nos resta rir.
 
27 de outubro de 2013

PERGUNTAS PARA (OU DE) FÁBIO PORCHAT

 

Fábio Porchat: Opiniões

O que você acha dos Black Blocks? É só vândalo, ou eles estão mostrando que é quebrando tudo que realmente se chama a atenção para as coisas que estão erradas? As manifestações de junho no fundo foram em vão? E os testes em animais? Maldade, necessidade ou faz parte do nosso processo evolutivo? E das biografias não autorizadas, o que você tem a dizer? É censura? Mas e a questão da violação da privacidade? Você viu a Paula Lavigne no Saia Justa? Já procurou saber?

E a greve dos professores? Eles tão certos em querer melhorias, mas é certo ficar meses sem trabalhar prejudicando as crianças? E os bancários? Humor tem limite? E a ditadura do politicamente correto? E essa Marina Silva, hein? Surpreendendo a todos! O que você achou dessa aliança dela com o Eduardo Campos? Será que vai dar uma chacoalhada nessa eleição? O Lula volta? Você viu a Marina Silva no Jô?

Esse Obama é que não sei não... Que você acha dele? O Papa é que tá fazendo uma limpa lá no Vaticano. Mais cabeça aberta esse cara, né? E agora gay não vai mais poder entrar em culto evangélico. Você concorda com o Feliciano? E com o Jean Wyllys? E o casamento gay? E a adoção de crianças por pais gays? Você viu essa lei nova que tá tramitando aí no Congresso?

A Copa do Mundo ser aqui foi um erro? E as Olimpíadas? Os recursos empregados em estádios não poderiam ser destinados a projetos mais relevantes como saúde e educação? E esses clubes brasileiros falidos, isso é má gestão, é muita roubalheira, é o futebol brasileiro que não soube evoluir e se profissionalizar ou é tudo junto?

O que você acha que aconteceu com o Eike Batista? Ele sempre foi uma fraude? E esses cubanos, hein? Isso vai dar certo? A culpa é dos brasileiros que não querem ir pra longe por falta de estrutura ou é culpa do governo, que não possibilita a estrutura? Ou dos dois? Mas não é melhor um médico no meio do nada sem recursos do que nenhum? E se fosse o seu filho numa situação de emergência no interior do sertão?

E a televisão? Acabou? A internet é o futuro? Ou já é o presente? Taí a NetFlix, né? A culpa é da nova classe C, que melhorou de vida mas não mudou de hábitos? Ou é a TV que tem que oferecer a ela coisas melhores? Como é que se resolve essa questão da Síria? É necessária a intervenção dos EUA? A ONU tem tomado as decisões corretas? Por que a Síria e o Irã não podem ter armas de destruição em massa e os EUA podem?

Mas é muito ministério, né não? É tudo jogo político pra empregar aliado que o pessoal teve que fazer pra ter mais tempo na TV. Partido nem existe mais. Ou você acha que era só ter menos siglas que resolveria muita coisa? Que você acha, Fábio? Bom, respondendo sua primeira pergunta...
 
27 de outubro de 2013

A TRADIÇÃO TEUTÔNICA E AS RAÍZES OCULTISTAS DO NAZISMO - PARTE 2


          Artigos - Movimento Revolucionário        
 
As fontes românticas e pré-românticas do nacional-socialismo: Sturm und Drang
 
A Beleza é uma manifestação de leis naturais secretas que de outro modo teriam permanecido escondidas de nós para sempre. (...) Mágica é acreditar em você mesmo, se você conseguir fazer isto poderá fazer qualquer coisa acontecer.
Johann Wolfgang von Goethe


O romantismo alemão caracteriza-se pela recusa do racionalismo imposto pelo Iluminismo e a elevação da subjetividade como bem maior. Já o movimento pré-romântico na música e literatura alemãs (1760-1780) se baseava na livre expressão da subjetividade, particularmente de extremos de emoção, como reação às amarras do racionalismo imposto pelo Aufklärung. Este período recebeu o nome da peça de Friedrich Maximilian Klinger primeiramente apresentada pela companhia teatral de Abel Seyler em Leipzig em 1º de abril de 1777:
Sturm und Drang. Este movimento representava o irromper do indivíduo contra a sociedade e da intuição, dos sentimentos e da emoção contra a fria razão e, paralelamente, a nostalgia do estado feudal medieval. A Idade Média era vista por estes românticos precoces como um período mais simples e integrado e tentaram, em seu tempo, uma nova síntese de arte, filosofia e ciência medievais.

Sturm und Drang, que podemos traduzir para o português por tempestade e ímpeto ou tempestade e paixão abominava o "desencanto" que o Iluminismo do século XVIII trouxera ao mundo cultural europeu.
O Iluminismo enfatizava a ciência, o racionalismo, a tecnologia e o progresso. Os românticos alemães preferem exaltar a natureza e o sentimento.
O Iluminismo trouxera a descrença na Igreja e a secularização. Como na fórmula de Kant: "Sapere Aude", ousa saber por ti mesmo. O Romantismo, em contrapartida valoriza a religião, mas também toda sorte de crenças populares, mitologias gregas, germânicas, nórdicas, bruxarias, ocultismos. Goethe e Schiller foram os líderes mais proeminentes deste movimento, que teria uma enorme influência em todos os setores culturais na Alemanha.
Romantismo (1783-1815)

Por que os rios e montanhas alemãs não podem ter um espírito (como o dos índios americanos)? ... defendamos o espírito nacional e mostremos através de exemplos que a Alemanha possui, desde tempos imemoriais, um espírito nacional fixo em todas as classes. E este espírito existirá para sempre. Quem escrever esta história, mais do que uma coroa cívica, uma grinalda de carvalho enfeitada de faias e ramos de tília.

Johann Gottfried Herder


Johann Georg Hamman, ardente patriota e francófobo, seguidor do místico Jacob Böhme, defendia as emoções contra a razão, produzia ditados e oráculos obscuros que lhe renderam o título de “mago do norte”. Seu discípulo Johann Gottfried Herder (estudante de Kant em Königsberg, Prússia Oriental), exerceu grande influência entre seus contemporâneos (7). Deu aos alemães um novo orgulho: adorava a tradição gótica desejando ter nascido na Idade Média e confundia germânicos com góticos. Sua coletânea de poesia folclórica inaugurou a grande voga por este tipo de literatura até então negligenciado.

Em 1772 publicou Über den Unsprung der Sprache (Sobre as Origens da Linguagem) que fundou o estudo de filologia comparada. Seus estudos culminaram em seu maior trabalho, iniciado em 1783: Ideen zur Philosophie der Geschichte der Menschkeit (Idéias sobre a Filosofia da História da Humanidade), onde sublinhou a influência do ambiente físico e histórico sobre o desenvolvimento humano. Herder substituiu o tradicional conceito de Estado político-jurídico pelo de nação-volk (Volksdeutsch) [8]: não é somente uma associação de cidadãos, mas se aproxima mais de uma comunidade tribal considerada como nação.

A palavra tem a conotação de homogeneidade racial e nada tem a ver com populacho, commons ou classes sociais inferiores. Cada nação é uma totalidade orgânica. Herder sublinhava principalmente um crescimento histórico orgânico: uma nacionalidade era como uma planta, e Herder falavam de “animal social” e da “fisiologia da totalidade do grupo nacional”.

Este organismo era completado pelo “espírito nacional”, a “alma da nação” sem limites geográficos definidos: a Providência, sabiamente, separou as nacionalidades não somente pelas florestas, montanhas, rios e desertos, mas particularmente pela língua, inclinação e caráter. Cada nação se distingue por seu clima, educação, relações com o exterior, tradição e hereditariedade.
 Encontram-se aqui os rudimentos da divinização do sangue e do solo germânico, de uma nova religião que prescindisse da Bíblia: Blut und Boden (Sangue e Solo): “as plantas e animais alemães não são desprovidos de alma, como os servos do Deus judaico [9]. Este tema foi retomado por Walther Darré, ministro da Alimentação e Agricultura do III Reich.
 
Herder glorificava o ponto de vista tribal: “o selvagem que ama a si mesmo, sua mulher e filhos com serena felicidade e se anima com o trabalho limitado por sua tribo e pela sua própria vida é, em minha opinião, um ser mais real de que o (homem) culto e cultivado entusiasmado pela sombra de toda a espécie”. “Os ingleses são germânicos e até os últimos tempos os alemães abriram o caminho para os ingleses em todas as grandes coisas”. Num desafio formal aos iluministas, celebra o Volks-Gedanke (pensamento popular) e adverte que este se encontra frente a um abismo: “A luz do assim chamado Aufklärung consome-o como um câncer. No último século vivemos envergonhados de tudo que se refere à Vaterland (pátria, no sentido de nação-volk). O caráter orgânico do volk era levado a extremos: só existe uma classe, o volk (excluindo a ralé ou populacho), e pertencem a ela tanto o rei como o servo da gleba.

Embora considerasse os judeus como asiáticos e estrangeiros vivendo na Europa, Herder recusou-se a se comprometer com uma teoria racial rígida.
Pode parecer exagero voltar atrás tantos anos – e voltaremos mais ainda – mas é aí que começam a se delinear o que Hitler tinha como objetivo: criar uma comunidade tribal – Volksgemeinshaft – uma rígida nação auto-confiante, “nosso Partido”, na verdade uma Nova Ordem, a Germanennorden.
Para avançarmos em nossa pesquisa falta anda mencionar outro autor desta mesma época em cuja obra já se esboça o futuro estado nazi-fascista [10].

Johann Gottlieb Fichte pode ser considerado, depois de Herder, como um legítimo formulador do pensamento nacional alemão. Fichte, o precursor metafísico de Hegel foi, inicialmente, outro opositor do Aufklärung e defendeu o obscurantismo prussiano, mas, sob a influência de Kant e da Revolução Francesa, dedicou-se ao estudo da liberdade individual, a lei natural e o cosmopolitismo. Gradualmente formou uma visão do Estado em seu Der geschlossene Handelstaat (O Estado Comercial Fechado) em oposição direta ao que Adam Smith defendera vinte anos antes na Riqueza das Nações. Sua tese inicial era de que “apenas o estado consegue unir uma multidão indeterminada de seres humanos numa totalidade delimitada (Allheit)”.

“A mais importante função do estado tem sido negligenciada: instalar cada cidadão no local apropriado para ele. (para isto) a anarquia comercial e a política devem se gradualmente removidas e o estado se fechar em si mesmo em suas funções legislativas e judiciárias.

Segundo Butler (loc. cit.) a tendência romântica de retornar à Idade Média está aparente na visão da economia: Fichte ressalta as garantias de seguridade social, sendo dever do estado que cada homem viva convenientemente em seu próprio benefício.

Como toda idealização da Idade Média, isto é uma falácia: a divisão fixa e hereditária de uma minoria de “senhores” e uma maioria de servos da gleba, nada tinha de conveniente para os últimos, embora tenha sido muito conveniente para os primeiros. Todos, sem exceção, que idealizam aqueles tempos, se imaginam como senhores, e não como servos. Caso contrário, jamais idealizariam este passado de horror.

Há nesta falácia entre os românticos antigos e atuais, uma hipocrisia idêntica a dos comunistas e nazi-fascistas: cada indivíduo no seu lugar, desde que eu fique por cima, que ninguém é de ferro! Por isto relacionei na primeira parte revolução como “volta ao passado” só que com os revolucionários no lugar da aristocracia. Os reacionários que se consideram conservadores não o são, pois cabe conservar o que de progresso já tivemos e aperfeiçoá-lo, nunca voltar aos tempos aristocráticos.

Retornando a Fichte, seu estado era um que instituiria um rígido corporativismo controlado, tornando impossíveis as empresas individuais, isto é, o direito de propriedade que deve ser absoluto para “a busca da felicidade”.

“... cada pessoa que deseja se devotar exclusivamente a uma ocupação deve, segundo a lei estabelecida, comunicar ao governo que, em nome de todos possui o direito exclusivo de conceder ou negar licença (de acordo com o bem comum pode obrigar o indivíduo a renunciar a seus desejos). (por exemplo): Se alguém quiser ocupar um determinado ramo de atividades que já está legalmente preenchida, seu direito será negado e ele será encaminhado para outros ramos de atividade nos quais seu empenho seja necessário”.

Estamos falando aqui no estado autárquico, raiz dos futuros estados totalitários do século XX, auto-suficiente, de economia fechada, no qual o governo tudo controla, e isola a nação do resto do mundo. Compare-se com o lema fascista: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”.

Os alemães, derrotados na I Guerra não foram capazes de se ajustar à vida burguesa e às instituições democráticas e liberais, princípios forçados sobre eles pelos aliados e necessitavam de um novo sistema de crenças que tinham perdido com a derrota do Império invencível. Rejeitaram Weimar e

“ansiavam por uma ordem política fundada num sistema de crenças. Ao invés de reconstruir a nação, abraçaram uma ordem quase religiosa, uma weltanschauung que satisfizesse seus conceitos e valores adequados a seus anseios e que, adicionalmente, prometessem recompensa material e segurança para o futuro” [11].

Exatamente o Estado Autárquico. Esta ordem, geralmente obedecida ao longo da história das SS dava a impressão de que estes possuíam algo simples, a verdade absoluta. Hitler concebeu seus SS não apenas como seguidores, mas como crentes incondicionais. Eles descobriram que “se” e “mas” não existiam, apenas disciplina partidária. (Steiner, loc. cit.)


Fichte, além disso, acreditava que a criação de estados comercialmente fechados promoveria a paz internacional: ao abandonar uma economia de maximização e revertendo ao conceito medieval de suficiência, a principal causa da guerra seria removida (Butler, loc. cit.).

Outros conceitos nazistas estão expressos na obra de Fichte Der geschlossene Handelstaat: ocupação territorial sem resistência com transferência de populações (Lebensraum – espaço vital), e cultivo do nacionalismo com coordenação de todas as instituições nacionais (Gleichshaltung).


Notas:

[7] Rohan D’O. Butler, The Roots of National Socialism, E. P. Dutton & Co., Inc., 1942: New York

[8] Volk deve ser traduzido para o inglês por folk, não people (Butler (op.cit., p. 25n). Em português não temos uma palavra que coincida com ela, a não ser no significado de folklore, que escrevemos folclore, por isto não a traduzirei no texto.

[9] Matilde Ludendorff, Deutscher Gottglaube, cit. por Richard Steigmann-Gall, O Santo Reich: concepções nazistas do Cristianismo 1919-1945, Imago, 2004: Rio.

[10] Depois de examinar alguns aspetos da obra de Nietzsche e Herder, este é o momento para esclarecer que meus conhecimentos filosóficos são modestos. Por esta razão pincei na obras dos autores aquilo que entendo e interessa ao assunto em questão.

[11] John Steiner, Power Politics and Social Change in National Socialist Germany: a process of escalation into mass destruction, Mouton Publishers/Humanities Press, 1976: The Hague/Paris

27 de outubro de 2013
Heitor De Paola

Publicado no jornal Visão Judaica, de Curitiba.


A TRADIÇÃO TEUTÔNICA E AS RAÍZES OCULTISTAS DO NAZISMO - PARTE 1


          Artigos - Movimento Revolucionário 
Persiste (na atualidade) uma idéia, amplamente estimulada por certo gênero sensacionalista de literatura [1], de que os nazistas eram principalmente inspirados por agentes ocultos que operavam desde antes de seu advento (...) resultando num fascínio pós-guerra. Este fascínio é talvez invocado pela irracionalidade e políticas macabras e pelo curto domínio continental do Terceiro Reich. (...) Para o jovem observador (atual) o naciona-socialismo frequentemente é tido como um misterioso interlúdio da história.
Nicholas Goodrick-Clarke
 
Se acreditarmos em absurdos, cometeremos atrocidades.Sarvepalli Rahda Krishnan

Os historiadores comumente se referem às fontes do nazismo como oriundas apenas de filosofias racionais nascidas do Iluminismo. No entanto, creio que seja muito mais derivada de uma reação à racionalidade do Iluminismo, assim como o comunismo, que não abordarei com profundidade neste momento.
Ambos são reações à ascensão da burguesia, dos ‘comuns’, dos sans-culottes [2] ao cenário político e à racionalidade e pragmatismo capitalistas, à democracia e à liberdade individual. Tanto os comunistas como os nazistas construíram, a ferro e fogo, sociedades tão aristocráticas como as do Ancien Régime, com a diferença de que esta ‘aristocracia’ não tinha por base as mesmas falsas premissas da antiga nobreza, baseada no sangue e na ‘unção por Deus’.
 
Foi John Locke o primeiro a advertir: ‘os reis também são homens’, em nada diferem dos demais. E acrescento eu: a ‘unção por Deus’ não passou de uma falácia inventada pelos chefes francos e endossada por papas que freqüentemente ‘esqueciam’ os Mandamentos Sagrados de Jesus e do Velho Testamento. Por esta - e outras razões - o verdadeiro clero cristão recolheu-se às ordens monásticas, onde foi resguardada a filosofia antiga e a riqueza da filosofia medieval.
 

Comunismo e nazismo substituíram os três Estados (nobreza, clero e burguesia) por um regime baseado em apenas duas classes: a ‘Nova Classe’ (apud Milovan Djilas) de aristocratas, e um povo escravo e ‘sub-humano’ ou, como diria Orwell, os membros do partido e os proles [3] e ao mesmo tempo tentaram fundar novas ‘religiões’. Os comunistas, conforme a premissa marxista de que a religião é o ópio do povo, tentaram uma nova religião ateísta, um verdadeiro ópio, o dos intelectuais (apud Raymond Aron), os nazistas fizeram renascer antigos mitos germânicos de uma raça superior, do Valhalla e Wotan. Ambos tentaram matar Deus.
 
E um povo sem Deus ‘não é que não acredite em nada, mas acredita em tudo’, como disse Chesterton, inclusive em absurdos (Rahda Krishnan). Foi Dostoiévsky quem disse: ‘se Deus não existe, tudo é permitido’ – o Gulag, as câmaras de gás nazistas, o terror comunista russo e chinês, Pol Tot, etc.
 
Os substitutos do Deus judaico-cristão foram fórmulas mágicas totalmente irreais e esotéricas. Ocultismo, misticismo, charlatanismo, orientalismo e crenças pseudo-científicas orientais como hatha-yoga, herbanismo, re-encarnações, não apenas são partes inerentes ao movimento nacional-socialista como estão entranhados em seu âmago e serão explicitadas ao longo deste texto. Antes, porém, é necessário examinar brevemente aquele que os nazistas chamavam de Mestre.
Friedrich Nietzsche: precursor do nazismo?

Muito do que Nietzsche escreveu é perfeitamente aproveitável pelo nazismo, mas nem tudo. Há certas passagens insuportáveis, que levaria uma pessoa a um campo de concentração se as repetisse durante o ‘Reich de mil anos’. Um dos pais dos totalitarismos do século XX, Nietzsche, é pródigo em condenar a civilização burguesa do século XIX como decadente, conservadora, mole, sem valor, e não merecedora da dura herança nórdica dos germanos. Tanto nazistas como marxistas fazem beicinho ao falar a palavra ‘burguês’ [4]. O desprezo de Nietzsche (assim como dos marxistas) pelo século XIX, seus ataques à Cristandade, aos movimentos humanitários e ao governo parlamentar evidenciam a revolta contra a razão e a liberdade. O que mais quereria um seguidor de Hitler senão a criação de um partido que unisse ambas as ideologias: um nacional-socialismo? No Anticristo afirmou Nietzsche:
 
A igualdade das almas perante Deus, esta mentira, (...) esta bomba anarquista em que se tornou a última revolução, a idéia moderna é o princípio da destruição de toda a ordem social – isto é dinamite cristã.
A paixão pelo refazer, renovar, nascer de novo, encontrados em todos os movimentos revolucionários, especialmente entre a elite revolucionária é encontrada com os nazistas e nas palavras de Nietzsche. Mas o uso da palavra ‘revolução’ é uma das maiores mentiras já inventadas pela humanidade. Entende-se como um movimento para o futuro, quando não passa de um retorno ao passado aristocrático:
 
A democracia tem sido em todos os tempos a forma pela qual a força organizada foi perdida... O liberalismo, ou a transformação da humanidade em gado... A moderna democracia representa a forma histórica de decadência do Estado...
Os dois partidos opostos, socialistas e nacionalistas – ou como forem chamados nos diferentes países da Europa – se merecem, inveja e vagabundagem são as forças motivacionais de ambos.
Acrescenta Brinton (loc.cit.): cristianismo e democracia são ambos demonizados e citados como parceiros preparando a destruição da velha sociedade antecipando a nova.
 
Pergunto: de que velha e nova sociedade falava Nietzsche? Não seria da velha e corrupta sociedade aristocrática e da nova sociedade da igualdade perante a lei, ao rule of Law e o direito dos abjetos ‘comuns’ escolherem livre e periodicamente seus governantes sem ‘sangues nobres’ mas iguais aos eleitores, e tirá-los do poder quando agem contrários à vontade dos eleitores?
Os europeus centrados em si mesmos jamais tomaram conhecimento das inserções pelos Founding Fathers e framers da Constituição Americana, de checks and balances que refreassem a democracia plena que viam como um perigo a ser evitado, mas através de processos legais e não autoritários e aristocráticos [5].
 
É necessário perguntar: será que a liberdade e a democracia são realmente valores primariamente cristãos, ou já se encontravam no Velho Testamento, a Torah? Os judeus já conheciam a liberdade e a ampla discussão das Escrituras milênios antes do nascimento de Jesus. A liberdade e os princípios da democracia são valores judaico-cristãos. Não estaria aí uma das razões do antissemitismo?
 
O ‘suposto assassino de Deus’ diz com toda clareza: ‘(os judeus) são parasitas, decadentes, e responsáveis pelos três grandes males da civilização moderna: cristianismo, democracia e marxismo’. Sua famosa expressão ‘vontade de poder’ sugere ausência de piedade, agressão, política de expansionismo, perfeitamente ilustradas pela ascensão de Hitler ao poder. Nietzsche detestava a democracia, o pacifismo, o individualismo, o cristianismo, as idéias humanitárias e adorava autoridade, pureza racial, espírito guerreiro e uma dura vida.

Como seria de esperar numa mente corroída pela sífilis terciária, Nietzsche era prenhe de paradoxos, como sua visão dos alemães e dos judeus oscilava freqüentemente. Num de seus surtos de antipatia pelos seus conterrâneos alemães, disse:
 
Confesso que os alemães são meus inimigos. Desprezo toda sorte de conceitos obscuros, toda sorte de covardia para decidir entre sim e não. Por quase mil anos eles se enrolaram e confundiram tudo que tocaram. Quando eu penso em alguém contrário a todos meus instintos, o resultado é sempre um alemão. (...) A estupidez anti-francesa e anti-polonesa, a estupidez romântico-cristã, a estupidez teutônica, a estupidez antissemita..... (...)
 
Os antissemitas não perdoam aos judeus por terem intelecto e fortuna. Antissemitismo: outro nome para a incompetência e para a destruição do que está bem feito. (...) Que benção são os judeus entre os alemães! Notem a obtusidade, o grossos cabelo amarelo, os olhos azuis e a falta de intelecto estampada em sua face, a linguagem, o comportamento... entre os alemães... (...) Os judeus são, sem sombra de dúvidas a raça mais pura, mais forte e mais inteligente da Europa atual.
 
Estas são precisamente as qualidades atribuídas pelos nazistas ao caráter völkish dos arianos! Bem se vê que os nazistas não podiam aceitar Nietzsche em bloc. Pelo contrário, quando ele falava como os nazistas, era considerado o profeta que possui a verdadeira visão do futuro, quando discorda, é apenas um mortal do qual não se pode esperar que se eleve acima de seu tempo e ambiente [6]. Certamente os nazistas aproveitaram das obras de Nietzsche o que lhes interessava e censuraram o resto!
 
Notas:

[1] Alguns exemplos: The Holcroft Covenant, de Roberto Ludlum, The ODESSA File, de Frederick Forsyth e Os Meninos do Brasil, de Ira Levin. Há livros sobra a incessante busca de Martin Borman, sobre uma possível sobrevivência de Hitler, etc. Mesmo que não seja esta a intenção dos autores os livros estimulam as fantasias sobre o fascínio de um nazismo super-poderoso que renasceu dos escombros da I Guerra Mundial. Esta observação nada tem a ver com os reais grupos de neonazistas.
[2] Sans-Culottes (do francês "sem calção") era a denominação dada pelos aristocratas aos artesãos, trabalhadores e até pequenos proprietários participantes da Revolução Francesa a partir de 1771, principalmente em Paris. Recebiam esse nome porque não usavam os elegantes culottes, espécie de calções justos que apertavam no joelho que a nobreza vestia, mas uma calça de algodão grosseira. Na época da Revolução Francesa, a calça comprida era o típico traje usado pelos burgueses.
 
[3] É preciso notar que a primeira tentativa de criar uma sociedade assim foi dos próceres mais privilegiados da Revolução Francesa como Robespierre, Danton, etc. Embora fossem tragados pelo Terror criado por eles, Napoleão o fez em seu lugar.
 
[4] Crane Brinton: The National Socialists Use of Nietzsche, Journal of the History of Ideas, Vol. 1, No. 2 (Apr., 1940), pp. 131-150 Published by: University of Pennsylvania Press. Os trechos de Nietzsche aqui citados são da seleção deste artigo de Brinton.
 
[5] Ao menos até o governo Obama que tende a se tornar imperial.

[6] Mutatis mutandis o mesmo ocorre com os marxistas e Marx: a teoria marxista básica, da evolução do capitalismo criando suas próprias contradições para a revolução proletária, não foi respeitada em nenhum país comunista. Os dois maiores países comunistas foram duas economias predominantemente agrárias: Rússia e China.

27 de outubro de 2013
Heitor De Paola
 Publicado no jornal Visão Judaica, de Curitiba.

A VERDADEIRA CABEÇA DO BRASILEIRO

            
          Media Watch - Folha de S. Paulo 
Essa população que Marilena odeia tem valores muito mais próximos de liberais e conservadores do que de esquerdistas, desde o tipo obamista-chique até o black bloc psolento.

Pesquisa do Datafolha, publicada na Folha de hoje (27), mostra que 95% dos paulistanos são contra os Black Blocs, ou seja, são contra a baderna, o vandalismo e o quebra-quebra. Noventa e cinco por cento.

Há 15 dias, o jornal publicou uma pesquisa dizendo que metade da população brasileira é “de direita” e apenas 30% são “de esquerda”, a partir de critérios enviesados, fabricados pelos esquerdistas do instituto e do jornal, que tendem a engordar os números da esquerda. É perfeitamente possível aceitar que mais de 70% dos brasileiros estão ideologicamente no centro, centro-direita e direita.

Na matéria, o jornal ainda comete o absurdo de dizer que ideologia “não se traduz em voto” porque o brasileiro, mesmo sendo de direita, não vota em candidatos de direita. O jornal só deixa de mencionar mais explicitamente que o Brasil não tem candidatos de direita, o que invalida a conclusão.

O jornalista e analista político da Folha Fernando Rodrigues escreveu um artigo recentemente chamando o Brasil de “atrasado’ e “conservador”, sugerindo que os dois termos seriam equivalentes.
Na mesma pesquisa, para 85% dos brasileiros, acreditar em Deus torna as pessoas melhores. Para 48%, os sindicatos “servem mais para fazer política do que para defender os trabalhadores”. Você pegou a idéia.

Em abril deste ano, o mesmo Datafolha mostrou que 93% dos paulistanos são a favor da redução da maioridade penal, o que deve reunir todos na cidade que não são professores da USP, blogueiros do UOL com sobrenome japonês ou presidiários. Diz a Folha: “Redução da maioridade penal opõe analistas e sociedade“.

O resumo de tudo isso é que o resultado das pesquisas, como admite a própria Folha, “opõe analistas e sociedade”. É óbvio e evidente que os chamados cientistas políticos, analistas, intelectuais, sociólogos, jornalistas, marqueteiros e consultores que assessoram os políticos brasileiros estão vivendo em outro país, não no Brasil.

Em maio, o cérebro ideológico do PT, das áreas de humanas da USP e do jornalismo brasileiro, Marilena Chauí, deu uma pista da motivação que separa o povo do que o Brasil convencionou chamar de intelectual:

- “Eu odeio a classe média.”

- “A classe média é o atraso de vida”

- “A classe média é estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista.”

- “A classe média é uma abominação política, porque ela é fascista, uma abominação ética, porque ela é violenta, e ela é uma abominação cognitiva, porque ela é ignorante”.

Para o IBGE, mais da metade da população do país está na classe média (renda per capita entre R$ 300 e R$ 1.000), portanto há uma chance bastante razoável da Marilena Chauí odiar a maioria dos eleitores que, por sua vez, só votam nos candidatos que ela defende por falta de opção. A rejeição é mútua.

Essa população que Marilena odeia tem valores muito mais próximos de liberais e conservadores do que de esquerdistas, desde o tipo obamista-chique até o black bloc psolento.

O brasileiro não quer quebra-quebra, baderna, fogo em ônibus, alta carga tributária, e não compra a tese de que bandido é vítima, de que Cuba é um paraíso, de que a redução do crime virá da liberação da venda de heroína nas escolas ou que a modernidade é todo mundo pelado, o dia inteiro sem trabalhar e recebendo dinheiro do governo.

É óbvio e evidente que o eleitorado brasileiro está pronto para uma candidatura viável de centro-direita e é essa cambada de vagabundos sanguessugas, com seus títulos acadêmicos em marxismo aplicado, que cercam os partidos e políticos brasileiros e dizem o contrário a eles. E é por isso que os políticos brasileiros estão hoje apenas brigando para dizer que são mais esquerdistas do que os outros.
 
O povo está preocupado com 70.000 homicídios por ano, o que certamente inclui gente que ele conhece, um vizinho ou um parente pelo menos. Os jornalistas e sociólogos estão preocupados com o Amarildo.
 
O povo está preocupado com o dinheiro no fim do mês que não dá, os jornalistas e sociólogos querem mais impostos e mais dinheiro na mão dos burocratas do governo.
O povo está preocupado com o futuro dos filhos, os jornalistas e sociólogos com o casamento da Daniela Mercury.
 
O povo está preocupado com o fogo no ônibus que ele pega e na destruição da estação de metrô que ele usa, os jornalistas e sociólogos estão preocupados em acabar com a PM.
 
O primeiro passo para uma candidatura de centro-direita: demitam todos esses pilantras, filhotes ideológicos da Marilena Chauí, que fazem fortunas dizendo que o povo é de esquerda. Coloquem todos no olho da rua aos pontapés, de preferência jogando o que tiverem nas suas gavetas de trabalho pela janela.
 
Mandem os sociólogos para a rua e aproveitem para ouvir as ruas diretamente, sem intermediários, sem “o povo disse isso mas quer na verdade aquilo”. O povo hoje só não vota na direita porque não tem alternativa.
 
A política brasileira é a negação do livre mercado até nisso: os “consumidores” gritando por um produto e todos os vendedores oferecendo outro, completamente diferente, e que só uma minoria engole com prazer.

27 de outubro de 2013
Alexandre Borges

AS FARC E SUAS VÍTIMAS MULHERES


          Notícias Faltantes - Foro de São Paulo     
   
A minoria que ainda acredita que as FARC respeitam suas mulheres deveriam ver o que declaram e escrevem as guerrilheiras que escaparam desse inferno.

Há alguns dias, uma guerrilheira e “negociadora” das FARC em Havana anunciou a criação de um portal web para “retratar” a vida delas “como rebeldes”, e para 
“acabar com o mito (sic) de que as mulheres do grupo são vítimas de seus companheiros homens”.
Uma página web de Bogotá deu essa notícia em sete linhas e sem comentários e desde então muito poucos retomaram esse tema. Entretanto, esse assunto convida a uma reflexão, pois o sapo que essa guerrilheira pede a todos para engolir é enorme e muito feio
 
As guerrilheiras não são vítimas de seus companheiros? O sofrimento das mulheres enredadas nas FARC, a força ou por convicção, é um mito? O que as ex-guerrilheiras desmobilizadas contam é pura mentira?
Se isso fosse assim, já se saberia. E muitas mulheres desgarradas iriam embora, sem pensar duas vezes, para viver no esplêndido mundo das barracas de acampamento e trincheiras das FARC.


Porém, isso não é assim. As FARC têm dificuldades para recrutar em geral e para recrutar mulheres, em particular. As FARC recrutam mediante a mentira e a violência, sobretudo as pessoas mais frágeis, e crianças e jovens que tiveram a desgraça de um dia cruzar o caminho desses matadores.
E assim, a verdade da condição feminina dentro das FARC sai à luz, uma a outra vez. Quando uma guerrilheira foge, ou se entrega à Força Pública, conta espontânea e escrupulosamente os incidentes mais tristes dessa experiência.
Os ex-seqüestrados também foram testemunhas do que ocorre às mulheres dentro das FARC, quer seja como combatentes e/ou como reféns.


A minoria que ainda acredita que as FARC respeitam suas mulheres deveriam ver o que declaram e escrevem as guerrilheiras que escaparam desse inferno. Ouçam, por exemplo, o testemunho de Brenda, recrutada aos 13 anos e que escapou em outubro de 2012.

Guerrilheira aguerrida, entretanto ela sofreu golpes por estar grávida. Seus três filhos eram considerados um estorvo e estiveram a ponto de ser abatidos pela guerrilha. O quarto filho dela foi assassinado por ordem de seu chefe.
Uma jornalista que apanhou o testemunho, contou que Brenda “ao ser descoberta no meio [do parto] foi golpeada e levada à força a um acampamento onde a anestesiaram com uma substância que se utiliza para sedar as bestas”.
O que segue é pavoroso: “Sem perder a consciência, ela observou como, depois de lhe abrir as pernas, um guerrilheiro lhe inseria uns tenazes e desmembrava seu bebê. Meses depois, quando [Brenda] soube que estava esperando outro filho, David, tomou a decisão de escapar”


Poderiam ouvir também Zenaida Rueda Calderón, guerrilheira que fugiu em 2009 com um seqüestrado que havia dois anos estava em poder das FARC.
Ela havia sido recrutada quando tinha 18 anos e terminou sendo membro da segurança de Jojoy.
Ela viu e viveu o inferno dos seqüestrados e dos guerrilheiros punidos, doentes ou feridos, sobretudo das mulheres guerrilheiras.
Ela foi vítima dos tratos cruéis de seus chefes. Ela narrou, entre outras histórias horríveis, a morte lenta e atroz de uma de suas companheiras que padecia de sífilis e que nunca foi tratada, pois o “comandante” de sua unidade dizia que ela era “manhosa” e que “se fazia de doente para não trabalhar”. Essa guerrilheira morreu pior que um cachorro:
“Inflamada e cheia de hematomas em quase todo o corpo, como se lhe tivessem golpeado. Ao namorado já o haviam matado. Acusaram-no de infiltrado. A ela a haviam deixado viva para lhe fazer inteligência e averiguar se era infiltrada e de quem. Diziam que os haviam mandado com essa enfermidade para que contagiassem outros guerrilheiros”
.

A disciplina e a vida cotidiana das FARC resume-se a isto: temor, traição e morte. O sofrimento e o medo são constantes.


Essa é a vivência real dos guerrilheiros, onde as mulheres levam a pior parte. É o que os chefes narcoterroristas em Havana, que dialogam com Santos, querem apagar com uma página web carregada de mentiras.


Às FARC não interessa se opor unicamente aos testemunhos cada vez mais numerosos de suas vítimas. Querem ir mais longe: com sua técnica de repetir e disfarçar as mesmas mentiras e de mudar o sentido das palavras, querem que os colombianos percam o sentido moral que lhes resta.
Que não possam distinguir entre o bem e o mal, entre a piedade e a crueldade, entre a liberdade e a escravidão. É uma velha receita bolchevique: quem consegue jogar com a realidade e com as palavras, para que o mal apareça como bem, pode controlar o mundo. Pois o mundo, para eles, está dentro do crânio das pessoas e não fora. O comunismo rechaça e difama todos os princípios da democracia, porém simula atuar em nome da democracia.
George Orwell estudou esse assunto e descobriu algo que chamou o “pensamento duplo”. Ele consiste “no poder de introduzir simultaneamente na mente humana duas crenças contraditórias para que ambas sejam aceitáveis”.
Com esse método, o comunista e o fascista conseguem apagar no outro uma verdade para que a repudie como uma mentira, e vice-versa.


Quando uma guerrilheira assegura que sua vida é satisfatória, que seus chefes e companheiros são humanitários, que a sexualidade nas Frentes não é um calvário, que ter filhos nas FARC é uma bênção, que servir de escrava sexual de um chefe fariano é agradável, que abortar brutalmente é indolor, que cravar um bisturi no filho recém-nascido de uma companheira é gratificante, que fuzilar seus companheiros pelo roubo de uma rapadura é banal, que degolar um refém porque não pode caminhar mais rápido é fácil, que matar é lutar pela paz, ela está tratando, como dizia Jean-Paul Sartre, de“deslizar o mundo para o meio do nada”, para abolir o espírito crítico e o senso moral do povo. Como a Colômbia se defenderá dessa nova ofensiva? Com a passividade e o silêncio?
 
Consultar estes textos:
“Así es la dramática vida de las mujeres en las FARC”
, por Jineth Bedoya Lima, 11 de junho de 2011.http://www.eltiempo.com/justicia/ARTICULO-WEB-NEW_NOTA_INTERIOR-9598605.html

“La miserable vida de las mujeres en las FARC

http://www.elmundo.es/america/2011/03/09/colombia/1299687650.html

“Videos muestran maltrato de las FARC sobre mujeres”
, 19 de novembro de 2010.http://www.terra.com.co/noticias/articulo/html/acu36527-videos-muestran-maltrato-de-las-farc-sobre-mujeres.htm

“Las mujeres de las FARC, abusadas e violadas. La igualdad de género no pasa del discurso. Un estudio advierte sobre las vejaciones como forma de castigo, el reclutamiento de niñas e el aborto forzado para controlar la natalidad. Vea las galerías de fotos y videos: 
http://www.infobae.com/2011/06/16/1027272-las-mujeres-las-farc-abusadas-y-violadas

“Desmovilizada de las FARC le contó a ‘El País’ sobre abusos que sufrió en la selva
, por Karen Daniela Ferrin, repórter de El País, Cali, 26 de novembro de 2012.http://www.elpais.com.co/elpais/judicial/noticias/desmovilizada-farc-le-conto-pais-sobre-abusos-sufrio-selva
 
 
27 de outubro de 2013
Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro

A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA

“Por que queríamos chegar ao governo? Não para agir como os outros, mas para atuar de maneira diferente”. A pergunta foi feita, há poucos dias, por Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se da mais emblemática peroração do fundador do Partido dos Trabalhadores sobre os rumos que a entidade tomou em seus 33 anos de vida.

Mesmo guardando considerações mais largas sobre as curvas de companheiros, Lula dá um puxão de orelhas em uns que dão muito valor ao parlamento e em outros, interessados em cargos públicos. E lembra os tempos heróicos d’outrora, quando “parecia bonito carregar pedra”, diferentes dos dias atuais, em que a pessoa “vai fazer uma campanha e todo mundo cobra”.

A evocação saudosa do guia do PT, mesmo que não tenha sido essa sua intenção, sinaliza o fim de um sonho, o mesmo que acolhe a intenção da ex-senadora do Acre, Marina Silva, de inaugurar, ao lado do parceiro Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, uma nova era na política.

Os visionários de ontem e os sonháticos de hoje imaginam plantar em todas as searas da República sementes imunes aos vírus da velha política – patrimonialismo, fisiologismo, mandonismo, grupismo, nepotismo -, capazes de gerar árvores frondosas e frutos saudáveis, todas irrigadas pelas limpas fontes da ética. Os campos pragmáticos dariam lugar às roças programáticas.

Diante da impossibilidade de substituir uma cultura política por outra da noite para o dia, principalmente quando não há movimentos capazes de redirecionar práticas, costumes e processos, torna-se evidente que a emblemática Marina se assemelha, em sua peregrinação, à imagem de “carregadora de pedra” do mesmo molde do empreendimento que o velho PT tentou construir, em 33 anos, e não conseguiu.

Por que uma “nova política” tem se tornado abstração em nossas plagas, não adentrando o território da práxis? Por ser complexa a tarefa de promover mudanças rápidas na fisionomia política, principalmente quando se vê nela a estampa dos valores do passado.

Os agentes políticos em atuação no Parlamento, a quem cabe dar o primeiro passo na direção das mudanças, não se motivam a avançar em qualquer vereda reformista, considerando que a equação custo-benefício não lhes rende.

Se os avanços não ocorrem por falta de suficiente motivação dos agentes partidários, o que a estática na política acarreta ao tecido institucional? Um agregado paralisante: acomodação, mesmice, burocracia, obsolescência, embrutecimento das estruturas e passividade dos gestores públicos.

A imagem se assemelha às árvores que chegam à velhice vegetal: o crescimento diminui, os processos de regeneração são lentos, as raízes não conseguem mais retirar água do solo e sais minerais em quantidade necessária; os vasos que conduzem nutrientes param de funcionar; as folhas caem, os galhos perdem o viço, o tronco ameaça tombar a qualquer momento. Não é o que ocorre com os partidos?

Em saudável Nação democrática, 20 anos no centro do poder amarram qualquer partido numa sequóia cheia de cupins. A deterioração se instala, um ambiente acomodatício se instala nas cercanias do poder, a criatividade emperra a máquina. No passado, cada ciclo tinha sua vitamina.

A era FHC exibia a charmosa bandeira social-democrata, a mesma que, em certo momento, enfeitou as cores dos governos europeus. Tinha, de um lado, a força dos capitais privados e, de outro, os braços do Estado do bem-estar, que exigia domínio sobre os serviços públicos.

O ciclo Lula, aproveitando a derrocada do choque liberal dos anos 90, revigorou o capitalismo de Estado, inaugurando o mais abrangente programa de distribuição de renda da comunidade mundial.

Hoje, esse modelo parece exaurido. Na era Dilma, a presença do Estado na economia se faz mais forte, causando certo desconforto junto aos investidores internacionais. O PT, por seu lado, passou a ser membro atuante no palco da velha política, disputando com apetite fatias de poder e usando métodos combatidos de cooptação política.

Na floresta dos tucanos, as árvores, com cascas cada vez mais despregadas, envergam de velhice. O PSDB não se renovou. A sigla vive de lembranças de quando os governadores Franco Montoro e Mário Covas brandiam seus escopos, envergando o estandarte da modernidade.

O tom lamuriento de Lula e o desespero tucano para unir suas alas e amenizar querelas internas constituem inequívoca sinalização de que, em 2014, assistiremos à última sessão de cinema, encenada pelos dois maiores competidores eleitorais.

PSDB e PT poderão, até, voltar a resplandecer no futuro, voltando a se espichar para cima e para baixo como uma árvore adolescente, mas esse renascimento implica profundo reencontro com ideários e valores. Não significa que outros deverão, a seguir, tomar seu lugar. Não há indicação disso.

O cenário é o de difusa disputa entre grandes e médios partidos, com foco em indivíduos e não das ideias, sob a égide de uma modelagem eleitoral muito permissiva quanto a uso de recursos financeiros e centrada na exuberância mercadológica.

Por ausência absoluta de vontade política para reformar costumes e ante o mesmo blábláblá que se ouvirá no próximo pleito, faz sentido a hipótese do esgarçamento maior do tecido institucional caso protestos e expectativas frustradas continuem a fazer barulho nos tensos meses do próximo verão.

Veremos dois grandes círculos concêntricos agitando as correntes: um, que se formará na onda da Copa do Mundo, a partir de junho; e outro, que tende a bater nas margens eleitorais e despejar suas águas (votos) nas urnas.

Os resultados de um evento impactarão o outro? Os perfis mais identificados com o novo (Marina veste esse figurino?) serão beneficiados? As velhas árvores voltarão a ser viçosas?

Sejam quais forem as respostas, não há como deixar de enxergar entulhos de velhos edifícios que desmoronam por falta de reboco. Paredes carcomidas, baús embolorados, ferramentas enferrujadas se espalham nos vãos e desvãos da Federação.

27 de outubro de 2013
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação