"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 8 de dezembro de 2013

ACUSADO DE SER INFORMANTE DO DOPS, LULA FOGE DA IMPRENSA

Escrito pelo ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Junior, que exerceu o cargo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o livro Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado, ainda nem chegou às livrarias, mas já está movimentando Brasília. A obra retoma alguns dos piores momentos do PT, como a morte do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, a criação de dossiês e o mensalão. O PSDB vai convidar o autor para dar mais detalhes sobre as denúncias no Congresso.
 
Em entrevista à revista Veja, Tuma Jr. disse que recebeu ordens para "produzir e esquentar" dossiês contra adversários do governo no período em que trabalhou no Ministério da Justiça. Disse ainda ter ouvido de Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, a "confissão" de que recursos "arrecadados" em Santo André na gestão Celso Daniel alimentavam campanhas do partido. Por fim, afirmou ter encontrado uma conta nas Ilhas Cayman que teria recebido recursos do mensalão.
 
Tuma Jr. perdeu o cargo no governo em 2010, após gravações telefônicas da Polícia Federal revelarem ligações entre ele e Li Kwok Kwen, apontado como um dos chefes da chamada máfia chinesa em São Paulo. Kwen foi preso e acusado de liderar uma quadrilha especializada em contrabando.
 
Roteiro. "É importante aprofundar questões colocadas por Tuma Júnior no livro. Ele retirou do armário alguns esqueletos", disse o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). O ideal, de acordo com o tucano, é que Tuminha, como é conhecido, faça um depoimento oficial na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. "É preciso ver se ele tem documentos que possam dar credibilidade às denúncias. Ele é um policial experiente, não faria isso (denunciar) sem ter algum material (que comprove as acusações)", considerou. "Ao ouvir o Tuma oficialmente, teremos subsídios para protocolar denúncia na Procuradoria-Geral da República e instaurar inquéritos."
 
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), chamou a entrevista do ex-secretário de "esclarecedora e estarrecedora" por meio de nota. Sampaio vai requerer no início da semana à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara a realização de audiência pública com a presença de Tuma Júnior para esclarecer as denúncias."O ex-secretário confirmou tudo aquilo que sempre denunciamos", disse Sampaio.
 
A reportagem entrou em contato com o Instituto Lula, que não preferiu não comentar as denúncias feitas por Tuminha no livro.
 
(Estadão)
 
08 de dezembro de 2013
in coroneLeaks

"MENTIRA E DEMOCRACIA"

John Mearsheimer, especialista em questões bélicas e diplomáticas, publicou em 2011 o livro Por Que os Líderes Mentem - Toda a Verdade sobre as Mentiras na Política Internacional. Ele comenta as práticas do governo americano após os ataques ao World Trade Center. Para Mearsheimer, a Casa Branca mentiu ao alegar a existência das armas de destruição em massa no Iraque, ao dizer que Saddam Hussein colaborava com Osama bin Laden, ao proclamar que o ditador iraquiano estava implicado nos ataques às torres gêmeas, ao anunciar negociação pacífica quando a invasão do Iraque estava pronta. Mearsheimer não é jacobino ("liberal"), sua posição tem forma conservadora. Após apresentar o que nomeia mentiras de George W. Bush, ele as justifica.
 
Dada a anarquia imperante na vida internacional (conhecida desde Tucídides, Maquiavel, Hobbes e Hegel), todos os Estados estão sozinhos se precisam defender a hegemonia. Sem aliado seguro não há quem obrigue uma potência a seguir a ordem kantiana de jamais mentir.
 
Afirma o autor que a mentira "é ação positiva, articulada para enganar a plateia alvo". A definição copia a de Santo Agostinho: mentir é "dizer o contrário do que se pensa, com a intenção de enganar" (De Mendacio). A mentira, comenta uma analista, "é boa se ajuda a superar situações sociais ou políticas"(Diana Margarit). Da "nobre mentira" platônica (A República, 414b-c) aos nossos dias, o tema integra a razão de Estado. Frederico II, diz Hegel na Filosofia do Direito, perguntou em 1778 se "é permitido enganar um povo".
 
Mas Hegel tem uma resposta maquiavélica: a plebe "engana a si mesma". O governante, se for eminente, conhece o verdadeiro e o falso, tem o direito de usá-los para garantir o Estado contra os ignaros.
 
Tempos atrás surgiu nos Estados Unidos o romance, escrito por um anônimo, intitulado Primary Colors (que resultou no filme Segredos do Poder). A trama é narrada pelo integrante de uma campanha presidencial. O candidato, tudo indica, seria Bill Clinton. O autor diz em prefácio que sua obra é pura fantasia. Mas os detalhes do enredo são confirmados pelas notícias. Após algum tempo surgiu o nome do autor, trata-se de Joe Klein, experiente jornalista político, profundo conhecedor dos bastidores partidários.
 
A campanha presidencial narrada segue receita antiga para ganhar eleições: mover os semeadores de boatos contra os adversários (os spin doctors), usar truques e fraudes virulentas. O mais importante reside na ambígua ética do candidato (Jack Stanton), que se imagina um mocinho, mas usa os meios dos bandidos para vencer. Na batalha pelas urnas, os "perversos" inimigos fabricam um elo extraconjugal do político. Detalhe: o fato é verdadeiro, mas para convencer os eleitores seria preciso "aprimorar a prova".
 
Daí, eles unem trechos de várias conversas gravadas, as quais, por si mesmas, nada diziam sobre as alcovas do político. Para refutar o truque os marqueteiros de Stanton colam falas de uma entrevista televisionada e a passam ao público. Mostram, assim, que houve fraude na montagem, mas eludem o trato entre candidato e amante. Relações homoafetivas do adversário são expostas sem clemência. Vale tudo no belicismo eleitoral.
 
Quando um membro da sua campanha quer deixá-lo, "Clinton/Stanton" arrazoa: "Dois terços do que fazemos é repreensível. Sorrimos, escutamos - podem crescer calos em nossas orelhas de tanto ouvir. Fazemos nossos patéticos pequenos favores. Falamos para eles o que desejam ouvir e quando lhes falamos algo que não querem ouvir, usualmente é porque calculamos exatamente o que desejam escutar. Temos uma eternidade de sorrisos falsos. É o preço pago por nós para liderar. Você não acha que Abraham Lincoln foi uma prostituta antes de ser presidente? Você entende, como eu, que há muita gente no jogo que nunca pensa nas pessoas mas só quer vencer?".
 
Comenta um filósofo: "Primary Colors analisa as rotas onde a democracia e seus ideais são erodidos e forçados por uma elite política e pela cultura midiática, em campanhas imersas na sujeira e na contra-sujeira, na corrupção e na tentação de dizer ao eleitorado o que ele deseja ouvir" (Jon Hesk, em Deception and Democracy in Classical Athens).
 
Voltemos ao maquiavélico Hegel (a massa engana a si mesma). É suspeito o prazer suscitado quando as carnes podres de um ou outro partido são expostas em boatos dos spin doctors e marqueteiros. O escândalo dura pouco tempo, sendo trocado pelo seguinte, e assim por diante. A vítima real das denúncias encontra-se na instituição política, corroída e impotente. Sem a fé pública, ela não mais oferece a segurança basilar da existência cidadã. Eleições, em casos assim, marcam a morte da vida democrática, não seu vigor.
 
Vivemos a guerra eleitoral de 2014. No mundo e no Brasil domina a propaganda mendaz (cf. Dennis W. Johnson, No Place for Amateurs: How Political Consultants Are Reshaping American Democracy). Se, como diz Mearsheimer, mentiras podem ser aceitas em plano internacional, na vida interna dos povos elas dissolvem a sociedade. Quando os líderes mentem para as plateias, difamam adversários e batem contritos no peito, o regime democrático fenece. Spin doctors, na imprensa e na internet, espalham calúnias e medos.
 
Eles vampirizam os sonhos da plebe. Tudo está programado para destruir os inimigos, no governo e nos recantos oposicionistas, e para rebaixar a cidadania. Lucram os oligarcas que pescam em águas turvas, mas quem lhes serve de instrumento vai para a cadeia.
 
Quando lembramos a tese de George Orwell, pervertida com sarcasmo em Primary Colors - "Se a liberdade tem algum sentido, ela significa o direito de dizer ao povo o que ele não quer ouvir" -, temos a consciência de que já ultrapassamos os limites da escravidão, apelido que damos a uma suposta e melancólica democracia.

08 de dezembro de 2013
Roberto Romano, O Estado de São Paulo

"A BABÁ DE BORGADO"

Quem diria, hein? O Paraguai, cantado em prosa e verso como o território da muamba, foi capaz de oferecer uma das mais vigorosas lições de cidadania nesta região tão pouco afeita ao civismo, à ética e à racionalidade. Na semana passada, a sociedade civil desse pequeno país de 6,5 milhões de habitantes, na onda da mobilização social que começa a sacudir o continente, decidiu realizar o mais veemente protesto contra a corrupção ao proibir a entrada de um grupo de políticos em bares, restaurantes, cinemas, supermercados, postos de gasolina e até em hospitais particulares. Isso porque 23 congressistas votaram contra a perda de imunidade do senador Victor Borgado, do Partido Colorado, denunciado pela Justiça por contratar com dinheiro público a babá de seus filhos.
 
A fogueira que se formou no rastilho da expulsão de senadores de alguns ambientes - aos gritos de "fora, ladrão!" - correu o país, multiplicando reações e induzindo garçons, vendedores, frentistas, etc., a não oferecer seus serviços a "corruptos", sob a percepção de que era necessário não apenas punir os agentes de um caso concreto, mas eliminar a impunidade.
 
A mobilização paraguaia assume extraordinária importância porquanto nosso vizinho exibe o estereótipo de terra do contrabando. Na linguagem das comparações em torno de objetos de consumo, o "relógio paraguaio" assume o sinônimo de falso, tosco, sem qualidade, imagem que ganhou força por estas bandas no enredo de novelas como Avenida Brasil ou de músicas como Muamba, de Bezerra da Silva: "Muamba, olha, quem vai querer muamba?/ Tô vendendo barato, malandro, quem vai?/ Tô levando minha sogra pra vender no Paraguai".
 
É verdade que os movimentos de junho, que abriram as portas da indignação em quase todas as regiões do nosso país, continham elevada taxa de repúdio a padrões e costumes da velha política, incluindo o combate ao nepotismo, um dos alvos da "guerra paraguaia". Ali, denúncias deram conta de centenas de familiares contratados para servir a S. Exas. os congressistas em funções tão desimportantes quanto singulares, como preparar-lhes o tereré, o popular chá de mate e água fria. Aqui não chegamos a esse passo avançado de democracia participativa, simbolizado pela decisão social de coibir a políticos o uso de serviços de lazer e alimentação.
 
A experiência do nosso vizinho, somada à semente cívica que se planta por estas plagas, permite vislumbrar cenários promissores no entorno da democracia participativa, que se expande no continente. Emerge, primeiro, a impressão de que a região fura a redoma da inércia e da tradição patrimonialista que por décadas tem impregnado sua cultura política. A paisagem calcinada de desconfiança e ódio, tão bem descrita por Simón Bolívar meses antes de morrer de tuberculose, em 1830, na região de Santa Marta, na Colômbia, não mudou por completo, mas permite enxergar avanços daquela visão pessimista: "Não há boa-fé na América, nem entre os homens nem entre as nações; os tratados são papéis; as Constituições são livros; a liberdade é anarquia e a vida, um tormento".
 
A boa-fé já se faz presente no sistema de parcerias e integração que caracteriza um bloco de países, como bem o demonstram organismos como o Mercosul, a Unasul e a Celac. Confiança também se observa no ingresso de novos parceiros na frente comercial, como é o caso da China, cujo efeito se dá por aqui na reversão da deterioração histórica de preços de produtos primários e na geração de superávits comerciais.
 
É patente a melhoria de condições de vida, apesar de remanescerem na região traços de populismo, demagogia e autoritarismo, como os que se observam na República Bolivariana da Venezuela, onde o falecido comandante Hugo Chávez elevou ao altar da veneração o Libertador Bolívar. Registre-se, ainda, a tendência de governos a incentivar um nacionalismo populista, vinculado a um capitalismo de Estado, a par da adoção dos fundamentos macroeconômicos neoliberais. Apesar de abrigar ainda cerca de 50 milhões de latino-americanos vivendo em condições precárias de alimentação, moradia, saúde e educação, merecem destaque políticas de inclusão social, a começar pela experiência brasileira, base de uma sociedade mais solidária.
 
Nesse desenho é possível divisar sinais de forte empuxo popular na direção do centro da política e um caminhar gradual, apesar de lento, na esfera participativa. Reformas lideram o vocabulário das ruas, como atestam pesquisas no Brasil - mesmo com 41% aprovando o governo Dilma Rousseff, 66% dos entrevistados, segundo o Datafolha, pedem mudanças na próxima administração. Na Argentina, passados dez anos de protecionismo, duras políticas fiscais e cambiais e reservas descendo a um piso de US$ 32 bilhões (eram US$ 52 bilhões em 2010), o kirchnerismo ameaça ruir.
 
A aprendizagem democrática obedece a um processo irreversível. As nações reconquistaram o direito de escolher seus governantes - equatorianos em 1979, peruanos em 1980, argentinos em 1983, uruguaios e bolivianos em 1985, paraguaios e chilenos em 1989, e no final desse ano também os brasileiros puderam escolher diretamente seu presidente. Tentativas golpistas, na Venezuela e no Peru, em 1992, foram frustradas. Maior transparência das administrações e combate ao poder invisível que age nas entranhas do Estado são ferramentas da modernização institucional. Órgãos em defesa da sociedade, a começar do Ministério Público, esforçam-se para extirpar os cancros que corroem governos.
 
As populações escancararam a vista, apontam o dedo para os malfeitos, chegando a fechar portas para corruptos. Maneira de evitar que helicópteros, lotados de cocaína, sejam abastecidos com o nosso "rico" dinheirinho. Ou que o povo paraguaio use seus parcos guaranis para pagar os serviços da babá do senador Borgado.

08 de dezembro de 2013
Gaudêncio Torquato, O Estado de São Paulo

"CADÊ O BÊ-A-BÁ?"

 


Chavão de candidatos de todos os partidos, de vereador a presidente da República, a tal da melhoria da qualidade de ensino não consegue descer do palanque e chegar às crianças e jovens do País. Ano a ano, o Brasil continua condenando milhões à ignorância simplesmente porque não leva a sério, não quer, de verdade, debruçar-se sobre a educação. Ou melhor, em como corrigir a falta dela.
 
O tema volta à baila sempre que se anuncia o desempenho medíocre do País em exames internos, como o Ideb, ou internacionais, como o Pisa, aplicado pela OCDE aos jovens de 15 anos.
 
No Pisa, o Brasil amarga a 58ª posição entre 65 países. E, embora tenha melhorado em matemática, saltando 57 pontos em 10 anos, os 391 que alcançou na matéria está 103 pontos abaixo da média da OCDE e mais de 200 pontos aquém dos asiáticos, tops da lista.
 
Nada disso é novidade.
 
Os governantes estão carecas de saber que a educação básica patina. Talvez por inapetência ou desprovimento de coragem de cutucar sindicatos ricos em votos, quase nada fazem. Há ainda os que sobrevivem dos pouco escolarizados. Esses temem que a mexida em uma única palha possa incendiar os currais que lhes garantem o mandato seguinte. Investem na falta de instrução.
 
 
 
 
Um quadro desanimador quando também se sabe que sem a política, no seu real significado, há muito esquecido, não será possível avançar.
 
Mas quem topa a parada?
 
Do governo Dilma Rousseff pouco se pode esperar. Basta ver a reação animada do ministro Aloizio Mercadante ao Pisa. Ele quase desbancou a imbatível cara de pau de Guido Mantega, que, no mesmo dia, anunciava com otimismo o recuo de 0,5% no PIB do trimestre.
 
O PT fez a opção pela “Universidade para todos”, ainda que milhares cheguem a elas sem compreender um texto simples. Jogou a educação fundamental para as calendas, embora esbraveje que está garantindo a ela recursos do pré-sal. Um dinheiro que pelo menos até 2020 continuará enterrado no mar profundo.
 
E a oposição, o que diz? Quais são os planos do tucano Aécio Neves e do governador do Pernambuco, Eduardo Campos (PSB)? Que tipo de debate eles pretendem travar – se é que pretendem – para que a educação não seja apenas um bordão de campanha? Dos candidatos recentes a Presidência, só Cristovam Buarque (PDT-DF) se dedicou à causa. E ainda que não tenha chegado lá, promoveu e contribuiu para um debate que o País precisa fazer com a urgência de anteontem.
 
Governos podem gastar milhões, tocar obras, lançar programas com siglas bonitinhas, como os PAC1 e 2. De nada adianta. Não há hipótese de se acelerar desenvolvimento sem promover o conhecimento.

08 de dezembro de 2013
Mary Zaidan

DECOTE DE FERNANDA LIMA FAZ SORTEIO DA COPA DE 2014 SER CENSURADO NO IRÃ

Sorteio da Copa foi censurado no Irã .  Motivo: a roupa da apresentadora Fernanda Lima

GENEBRA – O Irã esperava com ansiedade para saber quais seriam os adversários na Copa de 2014, no Brasil. Mas num país vidrado pelo futebol, a televisão que era responsável por transmitir o espetáculo da sexta-feira foi obrigada a suspender a emissão. O motivo: o decote de Fernanda Lima no palco.
 
No Irã, mulher não podem ir aos estádios com homens para ver partidas de futebol e uma série de restrições são estabelecidas para o comportamento e roupas femininas. Não por acaso, transmitir as imagens que quase todo o mundo viu na sexta-feira acabou sendo um problema sério.
 
O canal iraniano responsável pela transmissão, como de costume e para evitar “saias-justas”, faz a emissão com alguns segundos de atraso, justamente para poder suspender uma imagem não desejada. Segundo o site do jornal francês Le Point, o que os iranianos não sabiam é que, no caso do sorteio, Fernanda Lima permaneceria no palco durante todo o evento.
 
O iranianos acabaram sendo informados, momentos depois, que enfrentarão Argentina, Nigéria e Bosnia.

 
08 de dezembro de 2013
Jamil Chade - O Estado de São Paulo

DILMA "TRAMBIQUE" GASTA R$ 5 BILHÕES DO PAC PARA CHEGAR DE TRATOR À REELEIÇÃO

Dilma quer chegar de trator à reeleição.  Até o ano que vem, governo pretende contemplar 91% dos municípios brasileiros com retroescavadeiras, motoniveladoras e pás-carregadeiras.
Presidente tem feito as entregas pessoalmente

  
 
Dilma entregar motoniveladoras e retroescavadeiras para prefeitos de cidades do Rio Grande do Norte, em junho de 2013
AGRADO - Dilma entrega motoniveladoras e retroescavadeiras
para prefeitos de cidades do Rio Grande do Norte, em junho
(Roberto Stuckert Filho/PR)
 
 
Até 2014, o governo federal gastará 5 bilhões de reais para distribuir máquinas às prefeituras
 
 
O roteiro não varia muito: em menos de dez segundos, o prefeito se aproxima, cumprimenta Dilma Rousseff, recebe uma chave e posa para uma foto ao lado da presidente da República. Alguns puxam uma rápida conversa com a chefe do Executivo. E então o mestre de cerimônias chama o próximo da fila. A cena já se repetiu centenas de vezes desde que o governo federal começou a montar palanques para distribuir máquinas às pequenas cidades nos grotões do pais. São retroescavadeiras, motoniveladoras, pás-carregadeiras e outros equipamentos do tipo que, entregues a pequenos municípios, têm o potencial de criar uma dívida de gratidão dos prefeitos com a presidente, candidata à reeleição no ano que vem.


Os dois lados saem ganhando: para o chefe do Executivo municipal, a chegada de um equipamento novo é útil para melhorar as condições das rodoviais vicinais e conquistar o apoio de seus conterrâneos. Para a presidente, é uma garantia de proximidade com os líderes políticos de pequenas cidades, onde a influência do prefeito é significativa.


Nas cerimônias de entrega dos equipamentos, Dilma deixa claro que está fazendo uma espécie de favor aos prefeitos: "Essas estradas são verdadeiras veias de alimentação do organismo econômico. Por isso o governo federal resolveu fazer essas doações", disse ela, em outubro, em um ato no qual distribuiu máquinas de pavimentação a municípios do Paraná.


A ideia de criar uma rubrica dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a compra dessas máquinas foi anunciada por Dilma em 2012, durante a tradicional Marcha dos Prefeitos, mas as primeiras máquinas começaram a ser entregues apenas neste ano. Até o ano que vem, o governo deve gastar 5 bilhões de reais para distribuí-las às prefeituras. Até agora, foram entregues 8 949 equipamentos. Em 2014, o governo pretende ter contemplado 91% dos municípios brasileiros – mais de 5 000 cidades.


"Os prefeitos e os vereadores são, tradicionalmente, os grandes cabos eleitorais da política brasileira", diz a cientista político e professor da Universidade de Brasília Paulo Kramer.
 
As rodadas de distribuição de máquinas são uma ferramenta de Dilma para tentar disfarçar a falta de grandes realizações no interior do país. É verdade que o cenário nas pesquisas é favorável para Dilma – 41% de aprovação à gestão, segundo o instituto Datafolha. Mas, segundo aliados do governo, os números não são tranquilizadores: a avaliação é que Dilma, ao contrário do seu antecessor e padrinho político, o ex-presidente Lula, não detém carisma suficiente e enfrentará dificuldade na Região Nordeste se a candidatura presidencial da dupla Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva decolar.
 
Crítica - O senador de oposição Alvaro Dias (PSDB-PR) afirma que a entrega das máquinas não é invenção do atual governo. Mas, antes, nunca foi divulgada com tanta pirotecnia porque não se trata de um projeto dos mais grandiosos. "Eu, como governador, nunca ia pessoalmente entregar essas máquinas. Era um convênio que se fazia do estado com o Banco do Brasil e se entregava isso lá no município. O diretor do banco e o secretário de agricultura é quem iam. A presidente mostra que o governo não tem feito nada de espetacular para inaugurar", diz o tucano.


Os prefeitos dos pequenos municípios, que dispõem de pouca autonomia financeira e normalmente não poderiam pagar 600 000 reais por uma motoniveladora, agradecem – embora digam que o apoio eleitoral a Dilma não pode ser vinculado aos benefícios. "A gente fica grato ao governo federal, mas não tem compromisso nenhum", diz o tucano Edson Sima, prefeito de Taquarivaí (SP) – 5 000 habitantes e PIB de 82 500 reais –, que vai receber uma motoniveladora em 19 de dezembro. Ele diz não se incomodar com a possibilidade de tirar uma fotografia ao lado da presidente da República. "Fomos eleitos para trabalhar, independentemente de partido."


Na mesma cerimônia do dia 19 estará Araldo Todesco (PSB) – 8 000 habitantes e PIB de 67 800 reais –, que comanda a prefeitura de Tapiraí (SP). Ele também vai buscar uma motoniveladora para sua cidade. E diz que o benefício tem potencial para melhorar seu apoio popular: "Esse tipo de coisa sempre altera o panorama", afirma ele. Dividido entre o apoio à reeleição de Dilma e à possível candidatura de Eduardo Campos, o prefeito diz que vai esperar 2014 para tomar uma decisão mais clara.


O fato de o governo montar uma cerimônia a cada vez que vai entregar as máquinas às vezes atrapalha mais do que ajuda: além de onerar o governo federal com os altos custos da viagem da comitiva e da organização dos atos, o método obriga os prefeitos a providenciar o transporte das máquinas por centenas de quilômetros até suas cidades. Sima e Todesco, por exemplo, precisarão buscar suas motoniveladoras na pequena Campina do Monte Alegre (SP).

08 de dezembro de 2013
Gabriel Castro, Veja

CONVERSA VENCIDA


Muito pouca gente deve lembrar de alguma ocasião em que se falou tanto de dois internos do sistema penitenciário nacional como se fala agora de José Dirceu e José Genoino. Os dois magnatas estavam abaixo só de Deus, no PT - é natural, assim, que sua condenação no STF por crime de corrupção tenha rendido uma montanha de assuntos par^ a imprensa, os cidadãos que se manifestam pela internet e todo brasileiro que tem, ou acha que tem, algo a comentar sobre política. Genoino teve ou não um começo de infarto na prisão da Papuda, em Brasília, em razão do qual foi removido para um hospital? Aliás, existe mesmo isso - "começo de infarto"? O que José Dirceu tem no currículo profissional que justificasse sua contratação por 20 000 reais por mês para gerir um hotel quatro-estrelas de Brasília - emprego do qual acabou desistindo? Haveria alguma relação entre o convite, necessário para que Dirceu possa cumprir sua pena em regime semiaberto, e o dono do hotel, um íntimo amigo do governo petista e próspero beneficiário de concessões de rádio? Por que o PT chama Genoino e Dirceu de "presos políticos", mas não diz uma palavra sobre á condenação da banqueira Kátia Rabello ou de Marcos Valério, por exemplo, que receberam penas de prisão muito mais pesadas? A presidente Dilma Rousseff ficou contrariada, mesmo, com o tratamento diferenciado que os dois têm recebido na Papuda? Se Genoino é um homem inocente, por que renunciou, na semana passada, a seu mandato de deputado - estava achando que iria ser cassado pelo plenário?

Muita conversa, como se vê. Mas será que valeria mesmo a pena falar tanto assim desse assunto? Parece, num exame um pouco mais atento, que se está queimando muita vela para pouco santo. Começando por Genoino, por exemplo, logo se vê que a viga mestra do debate é o fato de que ele não se beneficiou financeiramente em nada com as traficâncias do mensalão - é um homem honrado e não enriqueceu no governo. Estaria provada, já aí, a injustiça da sua condenação. Mas os psuários desse tipo de argumento se recusam a aceitar uma realidade óbvia: nunca esteve em julgamento, em sete anos de processo, a integridade pessoal de Genoino. O que se julgou foi outra coisa: se ele violou ou não os artigos 288 e 333 do Código Penal brasileiro, que punem os crimes de formação de quadrilha e de corrupção ativa. Da mesma forma, os movimentos pró-Genoino - e ele próprio, ao levantar o punho esquerdo para os fotógrafos no momento da prisão, como se estivesse liderando um ato político - passaram a sustentar que o ex-líder está preso só porque foi presidente do PT. É o contrário dos fatos: Genoino está preso porque assinou cheques que serviram de base para uma vasta operação de fraude bancária. É a sua assinatura, e de ninguém mais, que está lá.

Gasta-se muito latim, também, com lembranças sobre o passado do chefe petista, como se ele fosse um herói da história brasileira recente. Mas, quando se sai da biografia e se vai ver a obra, o que aparece? Na vida como ela é aparece um cidadão que achou possível derrubar o governo do Brasil sem combinar nada com os 90 milhões de brasileiros da época, reunindo meia dúzia de seguidores mal armados, mal treinados e mal comandados num dos cantos mais remotos do território nacional - o fundão do Araguaia, onde se limitou, o tempo todo, a ficar fugindo da tropa, até seu grupo ser liquidado e ele próprio ser preso. O objetivo do seu movimento, para completar, era criar uma ditadura no Brasil, em substituição ao regime militar; nada mais distante da realidade do que a fantasia espalhada hoje segundo a qual Genoino foi um combatente da democracia e da liberdade no Brasil.

Dirceu, que também é discutido como um homem importantíssimo, não tem valor maior. Com 67 anos de idade e uns 45 de militância, passou a vida inteira fazendo tudo para chegar ao poder, por qualquer meio que fosse - e quando enfim chegou lá, com a vitória de Lula na eleição presidencial de 2002, mal conseguiu ficar dois anos no governo. Que gênio político é esse? Pior: na vida real, ninguém prejudicou tanto a Dirceu quanto o homem que ele tem servido há décadas: o ex-presidente Lula, que o demitiu do seu ministério já em 2005 e sepultou a sua carreira, sem jamais ter dito uma palavra para explicar por que fez isso. Não foi o ministro Joaquim Barbosa nem a "direita" que botaram Dirceu na rua - foi Lula. Se o mensalão não existiu e Dirceu não fez nada de errado, por que o ex-presidente lhe deu esse tiro na testa? Mistério.

Já venceu, para Genoino e Dirceu, o prazo de validade.

Genoino está preso porque assinou cheques que serviram de base para uma vasta operação de fraude bancária.

É a sua assinatura, e de ninguém mais, que está lá
08 de dezembro de 2013
J. R. Guzzo, Revista Veja

A CANTADA


 

NATAL! TOCA SIMONE ATÉ NA PAPUDA

 
Ninguém sabe o que é PIB! Eu sei! PIB é a Pobreza Individual do Brasileiro! Pinto Indo pro Brejo!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o Amigo Secreto no Congresso: "Meu amigo secreto tem seis mandatos, 16 processos por corrupção e nunca foi preso". "Sou eu!". "Sou eu!". "Esse sou eu!". E quem não gritou "sou eu" é porque tem mais de 16 processos. Rarará.

E o Zé Dirceu tem nova exigência: Papuda Padrão Fifa! Aliás, o Zé Dirceu devia ser gerente do hotel do "O Iluminado". Já imaginou você se encontrar no corredor com o Zé Dirceu e as gêmeas?

E na cela dos mensaleiros devia ter um alto-falante tocando dia e noite a Simone cantando "Então é Natal". Tipo cadeira elétrica! Rarará!

E o Twiteiro: "Dilma usa o aplicativo Lulu para avaliar desempenho do PIB do Mantega". Ela avaliou o desempenho do PIB do Mantega com o #mindinho! Rarará.

E sabe o que a Dilma gritou? "Maaantega, cuidado pra não pisar no PIB". Ouvir um grito da Dilma é pior do que prender o pinto no zíper da calça! Mas ninguém sabe o que é PIB! Eu sei! PIB é a Pobreza Individual do Brasileiro! Pinto Irremediavelmente Brocha! Pinto Indo pro Brejo! Rarará!

E o grande hit da semana: o helipóptero do senador Esparrella! "Deputado Gustavo Perrella, piloto e copiloto não sabem das drogas"! O pó entrou sozinho no helipóptero e se escondeu! Então não era pó, eram 450 quilos de polvilho pra fazer pão de queijo! Rarará!

E sabe qual é o barulho do helipóptero? "PÓ! PÓ! PÓ! PÓ!". E o chargista Aroeira mostra o piloto falando mineirês: "Pó pousar? Pó pousar?". "Pó pousar o pó, pó!". Rarará. O helipóptero é um drone. Um transformer. Todos foram enganados! Rarará.

Neste Natal vai nevar em Minas! E os petistas são petralhas. E os tucanos, com o escândalo do metrô, são metralhas. Petralhas x Metralhas. Grupo da Morte! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Cartaz num poste: "Evite solidão! Consertamos seu PlayStation". E essa em Pindobaçu, Bahia: "Caldo de cana. A 200 metros atrás". Rarará!

E esse preparado pra Copa: "Inglês não é o meu forte, mas portugues eu DESTRÓIO".

E essa faixa num posto em Paraty: "Não tenho dinheiro. Não faço fiado. Não dou informação. Não vi! Não fui! E não vou!". O cúmulo do mau humor! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!


08 de dezembro de 2013
José Simão, Folha de SP

NOVAS ASSOMBRAÇÕES


Vocês devem ter lido nos jornais, ou ouvido nos noticiários. A Amazon, cujo assustador objetivo é vender tudo a todo mundo, começou a testar um novo método de entrega expressa, por meio do qual o freguês receberá mercadorias de até pouco mais de dois quilos no prazo de trinta minutos, a partir da encomenda. A entrega poderá ser em qualquer ponto do território coberto pelo sistema, inclusive a sacada de um apartamento ou mesmo, imagino eu, um quarto de dormir. O transporte será tarefa de um drone (que quer dizer "zangão" em inglês, mas ninguém fez a tradução e ficou "drone" mesmo, em português), isto é, uma pequena ou minúscula aeronave sem tripulantes, cujas tecnologias se vêm aperfeiçoando com uma velocidade que torna quase impossível acompanhá-las.

Por enquanto, há diversas limitações e se espera até mesmo a autorização do governo para o início dos serviços. Mas isso virá, mais cedo ou mais tarde, assim como o desenvolvimento tecnológico para que o sistema - e muitos outros, igualmente baseados nos drones - se torne economicamente viável, ou mesmo imperativo, diante da concorrência entre os fabricantes e fornecedores de serviços. Já hoje mesmo, os drones são usados bem mais do que se divulga comumente. Não se limitam, como muitos pensam, à destruição de alvos no Afeganistão e a ações de combate em territórios longínquos, de que só tomamos conhecimento pela televisão. Muitas polícias urbanas, no mundo todo, já os empregam e também, com toda a certeza, serviços de inteligência e combate ao terrorismo. Acompanham os movimentos de indivíduos sob suspeita, filmam e gravam encontros, documentam movimentos de protesto ou individualizam e identificam participantes de multidões e podem transportar e acionar vários tipos de arma. É possível equipar um drone que sobrevoe locais públicos predeterminados e, conectado a sofisticadas bases de dados e programas de reconhecimento de feições, localize rapidamente algum fugitivo ou clandestino, que, se for o caso, poderá ser eliminado por meio do mesmo veículo, o qual disparará uma pequena granada, reduzirá a vítima a picadinho e, em seguida, desaparecerá sem deixar pistas. Dizem que este tipo de coisa já foi feito e continua sendo feito, não há como ter certeza.

E os drones estão cada vez menores, mais eficientes e mais sabidos, podendo, em alguns casos, ser controlados até mesmo por meio de um desses celulares espertinhos que hoje se encontram em toda parte. Um drone adequadamente equipado é capaz de filmar, de perto, em alta definição e som de boa qualidade, a uma distância da qual nem de binóculo será visto, tudo o que se passa num aposento. E os preços tendem a baixar sempre, de maneira que, se hoje só está ao alcance de governos e bilionários ter um drone como esse, daqui a pouco não será impossível que um cônjuge suspeitoso compre ou contrate um personal drone para o parceiro suspeito de infidelidade. Os ricos e poderosos talvez não venham mais a precisar de seguranças humanos, mas simplesmente de uma flotilha de drones pairando discretamente no alto, pronta a zapear o primeiro que esboce um gesto mais agressivo, ou a reconhecer e denunciar o rosto de um desafeto.

A vida, principalmente, nos grandes centros urbanos, vai mudar, embora não necessariamente para melhor. Numa cidade de engarrafamentos paralisantes, como São Paulo, sem dúvida haverá uma lua de mel deslumbrada com as entregas por drone. Mas receio que durará pouco, porque o enxame de centenas de milhares de drones, logo depois de passados uns dois meses, ia tornar necessária a adoção de estado de emergência na cidade, se não fosse disciplinado prontamente. Imagino drones colidindo no ar a cada vinte segundos, caindo na cabeça de gente e em cima de casas, derrubando helicópteros e sendo sugados por turbinas de aviões adentro. Não vai dar certo, de maneira que terá de ser instituído um grupo de trabalho para baixar normas de trânsito de grande complexidade, abrangendo horários, altitudes, velocidades máximas e assim por diante, com o resultado de que o engarrafamento logo voltará, desta feita por todos os lados. Os drones serão os motoqueiros do ar, mais onipresentes do que são hoje os motoqueiros de terra, e botar a cabeça para fora da janela de um edifício vai dar medo de trombar com um drone.

A segurança também será afetada, pois o mínimo que se terá de fazer, mesmo que se more no quadragésimo andar, é manter as janelas fechadas, se possível com vidraças blindadas. Até os helicópteros particulares poderão ser atacados e sequestrados por quadrilhas de drones. Ficará mais fácil para a polícia patrulhar grandes áreas, se estiver usando pouco pessoal e muitos drones com câmeras, mas a bandidagem também dispõe de armamento de primeira linha e terminaremos com batalhas de drones, em que não vai haver baixas nem na polícia nem entre os bandidos, mas certamente sobrarão projéteis perdidos para os circunstantes.

Tudo isso só ratifica que já é lugar-comum observar que a privacidade acabou. Não é por assim dizer; acabou mesmo e os vestígios que ainda sobram por aí também vão embora brevemente. Valores que venerávamos como perenes agora se encontram à beira da caduquice e deverão ser substituídos por outros, mais em consonância com novos tempos e novas condutas. Há não muito, por exemplo, era cafajestada para os homens e impensável para as mulheres fazer comentários sobre performances sexuais de ex-parceiros. Hoje, é tema de redes sociais, assunto para tevê e bate-papos no boteco. Não tem mais sentido questionar se vale a pena perder a intimidade e a liberdade em troca de segurança. Os que governam o mundo já decidiram que sim, faz tempo.
 
08 de dezembro de 2013
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S Paulo

DE VOLTA AO ARMÁRIO


MENOS INOVAÇÃO

Uma empresa inova se consegue fazer dinheiro com processos e produtos novos. Normalmente, isso ocorre quando consegue cobrar mais por seu produto, que se diferencia da concorrência, ou, mesmo oferecendo um produto igual aos outros, melhora sua margem, usando a tecnologia para reduzir prazos e custos.

Não é por acaso que os resultados da balança comercial brasileira vêm se deteriorando. O saldo comercial, que havia sido de R$ 46,4 bilhões em 2006, chegou a R$ 19,4 bilhões no ano passado. Neste ano, até outubro, o comércio exterior brasileiro acumulava déficit de R$ 1,8 bilhão. Isso mostra a dificuldade das empresas brasileiras em conquistar mercado, e até mesmo em competir com os produtos importados no próprio mercando nacional.

Você pode dizer que essa falta de competitividade não está relacionada à inovação, mas aos componentes do chamado custo Brasil, como a infraestrutura logística precária. Mas acontece que vários desses componentes também são barreiras à inovação.

Um exemplo é a falta de mão de obra qualificada. A Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, apresentou, pela primeira vez, essa deficiência como uma das principais barreiras à inovação. A formação inadequada do trabalhador ficou atrás somente dos custos elevados entre as principais preocupações das empresas quando o assunto é inovação.

Outro componente que emperra a inovação brasileira é a burocracia. É muito difícil abrir uma empresa por aqui e ainda mais difícil fechá-la. E não existe inovação sem a possibilidade de fracasso. Não pode ser complicado tentar de novo, porque o empreendedor perde a oportunidade de aprender com os próprios erros.

No Vale do Silício, berço de algumas das principais empresas de tecnologia americanas, se o fracasso não foi motivado por alguma ilegalidade ou comportamento muito estúpido, o empresário costuma ter nova chance.

Se um investidor coloca dinheiro numa startup americana e a empresa quebra, ele perde o que investiu. Aqui, se a startup deixar dívidas, ele é obrigado a assumir os débitos deixados pela empresa. Por causa de diferenças desse tipo, o apetite por risco costuma ser bem menor no Brasil.

Todo mundo já cansou de ouvir que brasileiro é criativo. Talvez esteja na hora de parar com essa conversa condescendente. Se alguém tem uma ideia e não consegue colocá-la em prática, não ganha nada com isso. Ideia todo mundo tem. O que faz diferença é a execução.

FOFOCA TURBINADA


SÃO PAULO - Muito se fala nos apps Lulu, Tubby e no "revenge porn", que estariam inaugurando uma nova modalidade de violência sexual. É claro que esse tipo de exposição pode provocar vítimas, mas receio que o fenômeno não seja novo nem passível de controle por leis. Estamos, afinal, diante da versão tecnológica e indelével da boa e velha fofoca, que é um universal humano.

Vemos a futrica com desconfiança. Ela fica em algum ponto entre a informação não confiável e a intriga. Já o hábito de mexericar é descrito como vício moral. Tudo isso é verdade, mas há um lado positivo nas indiscrições que raramente é destacado.

Para começar, a fofoca é o mais antigo e, provavelmente, mais eficiente dos mecanismos de controle social. Muito antes de haver polícia, as pessoas puniam o membro do grupo que se desviasse da norma falando mal dele. Numa comunidade de algumas dezenas de pessoas, ser objeto de comentários e olhares tortos tende a ser mais do que suficiente para restaurar o bom comportamento. Medidas mais extremas, como banimento e execução, são eventos relativamente raros nas sociedades de caçadores-coletores que ainda sobrevivem.

O antropólogo Christopher Boehm, em seu fascinante "Moral Origins", vai além e afirma que foi a fofoca que permitiu a nossos ancestrais chegarem aos consensos sociais --como o incentivo à generosidade e à cooperação-- que constituem a base de nossos códigos morais.

No plano individual, somos atraídos pelo diz que diz porque ele nos inunda com informações potencialmente úteis sobre nossos semelhantes. É assim que ficamos sabendo se fulano é confiável para retribuir um favor e se beltrana é boa de cama. A informação nem precisa ser exata. Basta que a central de boatos não erre sempre para que seja preservada.

Isso produz injustiças e até tragédias, mas me parece improvável que se possa banir da rede um traço tão caracteristicamente humano.

 
08 de dezembro de 2013
HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de SP

O LIVRO BOMBA - ROBSON BONIN


As impressionantes afirmações do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior sobre a fábrica de dossiês dos petistas contra os adversários, o assassinato do prefeito Celso Daniel, o mensalão e o passado do ex-presidente Lula
A Secretaria Nacional de Justiça é um posto estratégico no organograma de poder em Brasília. Os arquivos do órgão guardam informações confidenciais de outros países, listas de contas bancárias de investigados e documentos protegidos por rigorosos acordos internacionais.
Cercado por poderosos interesses, esse universo de informações confere ao seu controlador acesso aos mais restritos gabinetes de ministros e a responsabilidade sobre assuntos caros ao próprio presidente da República.

Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos.
Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder - um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos. Entre 2007 e 2010, período em que comandou a secretaria, o delegado testemunhou o funcionamento desse aparelho clandestino que usava as engrenagens oficiais do Estado paia fustigar os adversários.

As revelações de Tuma sobre esse lado escuro do governo estão reunidas no livro Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado (Topbooks: 557 páginas; 69,90 reais), que chega às livrarias nesta semana. Lançado no momento em que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, enfrenta acusações de ter usado a estrutura da pasta para vazar detalhes de uma investigação que comprometeria líderes da oposição, o livro mostra que esse procedimento, mais que uma coincidência, é um método dos petistas para perseguir e difamar desafetos do governo. Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações seguia um padrão.
O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial. Depois, alguém dava uma dica sobre o caso a um jornalista.

A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação existia, mas dizia que ela era sigilosa e ele não poderia fornecer os detalhes. O "investigado", é claro, negava tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre agem da mesma forma. O estrago, porém, já estará feito.

No livro, o autor apresenta documentos inéditos de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele reuniu para comprovar a existência de uma "fábrica de dossiês" no coração do Ministério da Justiça. Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem foi o governador de Goiás. Marconi Perillo (PSDB). Senador à época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando revelou à imprensa que tinha avisado Lula da existência do mensalão.

O autor conta que em 2010 o então ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto entregou em suas mãos um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano. As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir uma investigação formal. O trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente Lula.
Contrariado, Tuma Junior refutou a "missão" e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não impediu novas investidas.
A fábrica de dossiês voltou então a sua artilharia contra o então senador Tasso Jereissati (PSDB), severo opositor de Lula no Congresso. A fórmula era a mesma.
Tuma Junior relata que foi chamado ao Congresso para uma conversa com o então senador Aloizio Mercadante (PT). No encontro, recebeu dele um pen drive e um pedido para que investigasse Jereissati.
O autor abriu o dispositivo e constatou que se tratava de outro dossiê apócrifo. O livro conta que até o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), também chefiado por Tuma Junior, chegou a ser usado clandestinamente na tentativa de obter informações desabonadoras sobre despesas sigilosas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Assassinato de Reputações é um livro cujas revelações não podem simplesmente ser varridas para debaixo do tapete. Seu autor afirma relatar apenas fatos e situações vividas por ele próprio. E é rigoroso. Não se vale de depoimentos de terceiros nem passa adiante boatos ou insinuações. "Eu conto aquilo que vi", disse Tuma Junior a VEJA. Ele viu muita coisa. Seu livro traz documentos que deixam o governo Lula em péssima luz.

Alguns deles mostram que o governo agiu para engavetar uma investigação que identificara uma suposta conta do mensalâo no exterior. O ex-secretário revela que todos os ministros do Supremo tribunal Federal foram grampeados ilegalmente pela Polícia Federal e pela Abin em 2007.
Um dos capítulos é dedicado ao ainda misterioso assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em 2002. Tuma Junior reproduz um diálogo entre ele e Gilberto Carvalho no qual o ministro confessa que entregava o dinheiro desviado da prefeitura de Santo André nas mãos do mensaleiro José Dirceu.
O autor se convenceu de que Celso Daniel foi mono em uma operação de queima de arquivo.

Idealizado inicialmente para desconstruir a campanha de difamação de que o autor foi vítima (Tuma foi demitido do governo sob a acusação de manter relações com contrabandistas), o livro, escrito em parceria com o jornalista Cláudio Tognolli, professor de duas universidades em São Paulo, pescou mais fundo das memórias do autor:
"Entrevistei Tuma Junior seis dias por semana durante dois anos. Ele queria uma obra baseada na revelação de fatos, queria que a publicação do livro o levasse ao Congresso para depor nas comissões, onde ele poderia mostrar documentos que não tiveram lugar no livro na sua inteireza". Fica a sugestão.


"HAVIA UMA FÁBRICA DE DOSSIÊS NO GOVERNO"

Por que Assassinato de Reputações?

Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida.
Mas sempre me recusei. Tentaram me usar para esquentar um dossiê contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, só porque ele avisou o Lula da existência do mensalão.
Depois, quiseram incriminar o ex-senador Tasso Jereissati servindo-se do meu departamento para forjar uma investigação sobre contas no exterior. Havia uma fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês fajutos que chegaram até mim.
Por causa disso, virei vítima dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram minha reputação. Mas eu sempre digo: não se vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é a minha honra.

De onde vinham as ordens para atacar os adversários do PT?

Do Palácio do Planalto, da Casa Civil, do próprio Ministério da Justiça... No livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos. Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores petistas que hoje são figuras importantes no atual governo.
Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado à minha reputação, o que foi feito de forma sórdida.Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei.

O senhor queria denunciar a fábrica de dossiês do PT ou atingir o próprio partido quando escreveu o livro?

Tem muita gente do PT que eu respeito. Não escrevi este livro para atacar o PT. 0 maior problema do PT está nas facções do partido. Muitas vezes por disputas internas é que surgem os dossiês.
As disputas são legítimas, mas fazer dossiê é incompatível com qualquer prática republicana. Levantar falso testemunho contra alguém é uma prática violenta que enoja. 0 pior é que as coisas continuam exatamente iguais.
Se você trocar os personagens do livro, vai ver que os fatos continuam ocorrendo da mesma forma. É só olhar o que está acontecendo com o Cade nesse escândalo do metrô de São Paulo.

O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?

Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008, o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça para atingir os tucanos na eleição municipal. 0 ministro da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.

O senhor é afirmativo quando fala do caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos no crime.

Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.

Por que o senhor sabe tanto sobre a morte de Celso Daniel?

Eu era o delegado da área onde o crime aconteceu. Fui o primeiro a chegar ao local quando o corpo foi encontrado. Tanto que fui eu que reconheci oficialmente que era o Celso Daniel e mandei abrir a investigação para apurar a morte. Só que, naquela época, nem o PSDB nem o PT quiseram prolongar o caso por causa das eleições.
Fui afastado das investigações, mas apurei tudo. Eu encontrei o carro e fotografei os cabelos que, depois, os peritos disseram que eram pelos de cachorro. Mas eu sei que não eram. Só que nunca quiseram apurar a fundo. Ponho no livro o que descobri e não foi considerado.

O ministro Gilberto Carvalho disse ao senhor que havia um esquema de cobrança de propina na prefeitura?

Foi num momento de emoção, quando eu estava sob fogo cruzado na imprensa e fui falar com o Gilberto Carvalho. Desabafei, chorei e ele começou a chorar comigo. Aí ele falou: "Veja, Tuma, quanto fui injustiçado no caso Celso Daniel.

Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa-fé, procurei a família dele para levar um conforto. Fui dizer que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições".
Fiquei paralisado quando isso aconteceu. Pensei comigo: estou ouvindo uma confissão mesmo?

Com que convicção o senhor afirma que todos os ministros do STF foram grampeados?

Minha convicção está em tudo o que vivi e descobri conversando com alguns personagens dentro do governo na época. Eu não tenho dúvida de que os ministros foram grampeados. Se isso for investigado a fundo, com seriedade, será provado facilmente.

O senhor também diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior.

Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar.
Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe.
Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior.
O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.

Quem engavetou a investigação?

Eu levei o processo para o Tarso Genro e disse: olha, tem de apurar isso. Mas, quando veio essa resposta de Cayman, os caras pararam tudo. Isso foi para a gaveta da Polícia Federal e do ministro Tarso Genro. Estou esperando até hoje o retorno. Eu tenho certeza de que era a conta do mensalão. Eu publico no livro o documento para dizer isto: o governo não deixou investigar isso em 2007.

No livro, o senhor escreve que um dos réus confirmou que essa era a conta do mensalão.

Não posso revelar o nome, mas, quando ele soube, disse-me: "Você matou na mosca. Ainda bem que você não estava investigando isso". Seis meses depois da minha demissão, esse personagem me disse que eu tinha caído por mandar investigar a conta do mensalão, a conta que pagava as viagens para Portugal. Eu falei para ele: os caras vão mandar me matar.

Como surgiu a ideia de fazer o livro?

Quando a imprensa publicou todos aqueles fatos inverídicos sobre o meu envolvimento com uma suposta máfia chinesa, busquei toda as instâncias para me defender, mas não consegui contar a minha versão. Fui defenestrado do governo por fatos baseados numa investigação arquivada na qual eu não tinha sido denunciado nem processado.
Quando aconteceu tudo aquilo comigo na Secretaria Nacional de Justiça, percebi que não teria espaço para me defender em nenhuma instância, muito menos no governo ou na própria Justiça.
Conversando com dois jornalistas, meus conhecidos e amigos, resolvi escrever o livro para contar a minha história sobre os fatos que vi em três anos de governo, para explicar por que isso aconteceu comigo, por que tentaram me defenestrar, por que acabaram tentando assassinar a minha reputação.

É uma espécie de vingança pessoal?

De forma alguma. Quem ler o livro vai perceber que o que escrevo são fatos. Eu precisava explicar por que cheguei ao governo, por que havia a confiança do presidente Lula em mim.
Só dá para fazer isso contando as histórias que vivi com as pessoas, os fatos, e como a minha reputação foi construída para depois ser destruída.
0 livro é uma prestação de contas às pessoas que me querem bem, que sempre me honraram com sua confiança. É a forma que encontrei de tornar pública a minha história para aqueles que têm o interesse de conhecer esse retrato da minha vida profissional. Para que eles possam compreender o motivo pelo qual virei alvo do governo do PT.

As pessoas podem interpretar como vingança ou ressentimento, não?

É lógico que tem a mágoa. Eu vi meu pai, o senador Romeu Tuma, morrer por causa do que fizeram comigo no governo. Mas isso é diferente de vingança. Eu descrevo fatos no livro, conto a minha história, exponho a minha vida e até corro riscos.
Vingança não se faz assim. Eu não seria burro de praticar uma vingança dessa forma. As colocações podem ser fortes, mas é o meu jeito. Não tem nada ali que seja leviandade.
São fatos verdadeiros.

Por que o senhor decidiu fazer essas revelações só agora?

De tudo que vivi em três anos de governo, não há nada relatado no livro que eu não tenha denunciado imediatamente aos órgãos adequados. O livro só vai ser publicado agora porque demorei a escrever e porque precisei me aposentar da carreira de Estado para ter liberdade de tornar públicos os fatos sem ser acusado de oportunismo político ou eleitoral.
Eu sei que neste momento vão querer me atacar, dizer que estou a serviço de interesses escusos. Mas não sou de me prestar a servir ninguém. Quem me conhece sabe que falo o que penso e presto contas do que faço.

O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante da ditadura. É uma acusação muito grave.

Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento.
Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar que a confiança que o presidente tinha em mim no governo, quando me nomeou secretário nacional de Justiça, não vinha do nada. Era de muito tempo. O Lula era informante do meu pai no Dops (veja o quadro ao lado).

O senhor tem provas disso?

Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba. Era esse o codinome dele.
Os relatos do Lula motivaram inúmeras operações e fundamentaram vários relatórios de inteligência para evitar confusões maiores com os movimentos na época.
Ademais, o livro por si só é uma prova. Existe na área policial prova documental e prova testemunhal. Eu sou uma testemunha viva. Não tem nada contado no livro que eu não tenha vivido.
Ninguém me contou aquilo. Eu vivi e agora estou relatando. E digo mais: como informante do meu pai no Dops, o Lula prestou um grande serviço naquele período. Eu quero deixar isso muito claro. Graças às informações que o Lula prestava ao meu pai, muitos relatórios foram produzidos, muitas operações foram realizadas.

Uma afirmação dessas certamente vai gerar protestos e processos. É

uma forma de interpretação, mas eu não acho. Acho que o Lula prestou um grande serviço ao país. Por se portar dessa forma, ele chegou aonde chegou. Sabe essa violência nas manifestações de hoje com black blocs?
Se fosse no tempo do Dops com o Lula, não se criava. O Lula combinava tudo com o Tumão (Romeu Tuma, ex-chefe do Dops e ex-senador). Quando fazia as manifestações dos metalúrgicos, era tudo tranquilo. O Lula conseguia manter a manifestação sob o controle dele.

Além do senhor e do próprio Lula, quem mais sabe dessa história? Meu pai está morto. Então, só eu e ele. Talvez alguma pessoa próxima a ele saiba. Digo e repito isso em público, pessoalmente e até no Estádio do Pacaembu.
Quero que o Lula se sente na minha frente e diga que é mentira. Tenho fotos com ele desde a época do Dops. Ele e o meu pai tinham uma relação muito sigilosa. Se isso vazasse, os dois estariam mortos.


O CARTEL DOS TRENS

"Desde 2008 o PT queria que eu vazasse isso para atingir os tucanos na eleição municipal, e eu me negava por dois motivos: primeiro, por discordar do modus operandi; e, segundo, porque eu dizia que se aquilo vazasse nunca se chegaria ao final da investigação, à verdade dos fatos e a todos os envolvidos.
0 tempo mostrou que eu tinha razão, mas o PT nunca desistiu da tática.
0 ministro da Justiça, Tarso Genro, estava me pressionando pessoalmente, vinha à minha orelha como um grilo falante. Aliás, vinham também os deputados petistas, esperneantes, e com noções jurídicas e éticas muito vagas, estrilando que era para deixar sair essa história toda na mídia."


RUTH CARDOSO

"O PT usava o meu laboratório para fazer dossiês. A ex-ministra Erenice Guerra foi inocentada, em 2012, desse tipo de acusação. Mas eu sustento, com o nome que herdei do meu pai: havia, sim, uma fábrica de dossiês em via de ser normatizada, que inviabilizei com a mudança do laboratório para a estrutura da secretaria.
Estavam usando o meu laboratório para fazer um dossiê contra a finada Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente FHC, e obviamente contra o governo de seu marido."


DOSSIÊ TASSO JEREISSATI

"Em janeiro de 2009, fui chamado à liderança do governo no Senado, onde encontrei o senador Aloizio Mercadante e um deputado federal, para tratar de projeto de interesse do governo e do ministério. Lá me entregaram um pen drive com "seriíssimas denúncias" contra um adversário do governo. Pensei:

"Outro dossiê para destruir um novo "alvo" do governo". Dessa feita, o alvo era o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, naquele momento um dos senadores líderes da oposição. A exigência era que eu plantasse uma investigação em cima do Jereissati. Disseram-me que naquele pen drive havia um dossiê".


FULMINE 0 PERILLO

"Um dos mais escandalosos pedidos para fulminar alguém me foi feito pelo ex-ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto. Um dia, ele me chamou ao seu gabinete e. um tanto lívido, disse: "Isso aqui veio de cima, lá do Planalto, do Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente Lula. Ele quer que você atenda a um pedido do Lula e mande para o DRCI investigar isso aqui". 0 "isso aqui" do ministro da Justiça era um envelope numa pastinha que ele me entregou, com um dossiê contra Marconi Perillo."


GRAMPO STF

"Segue a verdade do caso: não só Gilmar Mendes foi grampeado como também todos os outros ministros do STF. 0 grampo foi feito com uma maleta francesa, empregada para rastrear celulares em presídios.

Todos os ministros do Supremo foram monitorados, quer através de escuta dos telefones móveis com a utilização da maleta móvel, quer por via da implantação física, em seus computadores, de aparelhos de escuta ambiental.Todo o aparato foi tocado com a participação de arapongas, que prestavam serviços de segurança e limpeza aos próprios gabinetes dos ministros e estavam vinculados aos agentes que operavam a Satiagraha."


MENSALÂO

"Em maio de 2006, VEJA publicou que José Dirceu, entre outros, teria conta em paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Eu, como secretário Nacional de Justiça, já investigava casos engavetados, relativos ao Opportunity.
Mas, nesse esforço, recebo um retorno diverso: Daniel Dantas aparecia como denunciante, e não como réu. Embora tivesse cargo executivo no governo petista, eu suspeitava da existência de tal conta. E mais: que essa conta era a lavanderia do mensalão no exterior. (...) Mandei cópia para o ministro Tarso Genro apurar isso, e espero a resposta até hoje... Será que fui defenestrado por ter chegado à conta caribenha do mensalâo?"


O CASO CELSO DANIEL

""Ministro, vou dizer ao senhor o que aconteceu no caso Celso Daniel até onde pude apurar. A priori, seus amigos de Santo André não queriam matá-lo, mas assumiram claramente esse risco.
Planejaram e mandaram executar o sequestro de Celso Daniel para lhe dar um susto. Sentiram-se ameaçados pela voracidade do partido." O todo-poderoso Gilberto Carvalho começa a chorar junto comigo, sua voz trôpega atropela minha fala e as próprias sílabas:
"Eu te entendo. Veja, Tuma, quanto fui injustiçado no caso Celso Daniel. Não aceito essa injustiça até hoje. Imagina você que eu era o braço-direito do Celso, seu homem de confiança. Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa-fé, procurei a família dele para levar um conforto. Fui dizer a eles que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo o recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições"."


Informações úteis

O sindicalismo de resultados de Lula desembocou no pragmatismo político que o levou à Presidência da República e na governabilidade pela compra de apoio no Congresso com o uso de diversos tipos de moeda.
A tilintante resultou na condenação e prisão de seu ministro-chefe da Casa Civil, do presidente e do tesoureiro de seu partido, o PT, que cumprem pena pelo escândalo do mensalão na penitenciária da Papuda, em Brasília.
Lula escapou do mesmo destino por conveniência dos políticos de oposição e pelo silêncio, entre outros, de José Dirceu e do publicitário Marcos Valério, cujas visitas à Granja do Torto, embora registradas na agenda presidencial, ainda não vieram a público.
O uso de outras moedas, por exemplo o relativismo moral que deu sobrevida a inimigos históricos que ele chamava de corruptos, como Paulo Maluf e José Sarney, teve um custo menor - pequenas retiradas do imenso tesouro de popularidade de Lula. Mesmo sabendo que Lula subordina a seus objetivos todas as demais considerações, são de estarrecer, se tomadas pelo valor de face, as afirmações de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de Justiça.

Tuminha diz que Lula foi informante do Dops, órgão que seu pai, Romeu Tuma, dirigia em São Paulo e no qual ele próprio trabalhava. Importante: ele não acusa Lula de ter traído sua causa ou seus companheiros.
Diz que Lula dava informações que ajudavam a evitar choques violentos com a polícia. Isso é prática comum hoje e, como diz Tuminha, se os black blocs fizessem o que Lula fez, haveria menos violência.
Seria de alto interesse histórico um encontro público entre Lula e Tuminha para compararem as lembranças pessoais que cada um tem daqueles tempos duros.

08 de dezembro de 2013
Revista Veja