"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 19 de janeiro de 2014

UM ANIMADOR SEM IGUAL

Ninguém precisa escrever pelos cotovelos para construir uma grande obra - e Aníbal Machado aí está para prová-lo. Ao morrer, faz hoje meio século, aos 69 anos de idade, o escritor mineiro não havia publicado mais do que uma dúzia de contos, reunidos em A Morte da Porta-estandarte e Outras Histórias, e um volume de poemas em prosa, relatos curtos e reflexões, Cadernos de João. Um mês antes, terminara seu livro mais ambicioso, o romance João Ternura, escrito ao longo de quatro décadas e editado postumamente, em 1965. Nos anos 90, inéditos e esparsos seriam recolhidos em Parque de Diversões e A Arte de Viver e Outras Artes.

Foi só - e foi bastante: cambaleante em sua magreza física (proporcional à do autor, diga-se), a obra de Aníbal Machado definitivamente para em pé na paisagem da literatura brasileira, e com muito mais firmeza do que tantas, imoderadas, enxundiosas, que nelas se esparramam. Meu predileto, mesmo não sendo o melhor (nada supera os contos), na cabeceira desde a adolescência: Cadernos de João, naquela esplêndida edição de 1957 que a José Olympio deveria relançar tal e qual, com as vinhetas ocre de Manuel Segalá. Quando acho no sebo, compro - e vou atrás de quem mereça.

À obra em papel se junta outra, imaterial porém não menos relevante: o generoso trabalho de divulgação de ideias e autores a que Aníbal Machado obstinadamente se entregou a vida inteira. Esforço difuso cuja face visível ficariam sendo as famosas "domingueiras" de Aníbal: as reuniões semanais que, de 1935 às vésperas da morte, ele promoveu em sua casa, primeiro na Francisco Sá, 12, em Copacabana, depois no 487 da Visconde de Pirajá, em Ipanema, ao lado das seis filhas (entre elas, Maria Clara Machado) e de Selma, a cunhada com quem se casou ao enviuvar de Aracy.

"Muitos novos receberam ali a iniciação literária e muito livro foi ali batizado", escreveu um dos habitués daquelas noitadas, Otto Maria Carpeaux. "Nenhuma estatística verificará jamais quantos livros importantes, bons ou sofríveis, qual parte da literatura brasileira entre 1930 e 1960, foram concebidos nas conversas daquela sala da rua Visconde de Pirajá; e quanta música boa se inspirou nos cantos folclóricos ali ouvidos."

Carpeaux dizia que Aníbal Machado, "animador sem-par", foi para o Brasil "o Colombo de novos continentes poéticos". Continentes que não se limitavam à poesia posta em versos: a sensibilidade e a inteligência do antenado Aníbal se interessaram igualmente pelas outras artes - em especial, as artes plásticas, o cinema e o teatro. Também nesse terreno foi ele um aplicado divulgador.

As domingueiras começaram sob a forma de jantares íntimos que a multiplicação de convivas logo tornou impraticáveis. O uísque e o garfo-e-faca deram lugar aos salgadinhos, à cerveja, à batida de limão e de maracujá. Não havia visitante ilustre que passasse pelo Rio sem ali fazer escala. Escritores como Albert Camus, a caminho da fama em 1949. Pablo Neruda, já celebridade em 1945. Gente de teatro, como o diretor Jean-Louis Barrault. Orson Welles, filmando no Brasil de 1942. Atrizes do porte de Janette Gaynor e Martine Carol.

Estrelas ou não, todos eram bem acolhidos. "Amigo de Aníbal Machado era quem chegasse, de qualquer país, de qualquer idade, de qualquer cor, de alta ou reduzida voltagem intelectual", escreveu Paulo Mendes Campos ao rememorar os forrobodós de Aníbal, a que não faltavam atrações como Vinicius de Moraes dançando boogie-woogie, Fernando Sabino impressionando a meninada com uma sessão de mágicas e Tônia Carrero, para todos a Mariinha, cintilando no auge de seus encantos. Quando ela entrava na sala, lembra Paulo, "só por um denodado esforço de compostura social a gente podia olhar para outra pessoa".

Não é de espantar que mesmo os penetras fizessem dos fuzuês anibalinos um programa sem erro nas noites cariocas de domingo. Em seu livro sobre Ipanema, Ruy Castro recuperou a deliciosa história de um desses bicões, que, sem saber com quem falava, propôs ao anfitrião um chope em lugar mais animado. "Não posso", explicou o escritor, "tenho que dormir com a dona da casa..."

O ROLEZÃO DO VERÃO



Rolezinho não é fenômeno político ou social, não é novidade. É um modismo da estação selvagem



Que me perdoem a ministra sem-noção, os policiais truculentos, os sem-teto oportunistas, os lojistas apavorados, os esquerdistas e os fascistas, que tal baixar a bola e parar com a histeria? Antes que realmente se dê motivo para vandalismo?

Um rolezão estava programado para este domingo no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, mas foi proibido por uma juíza. Oito mil jovens tinham confirmado pelas redes sociais que iriam a esse centro comercial de luxo, num dos metros quadrados mais caros do Brasil.

Eles curtem grifes, zoação, funk e beijaços. E detestam política (não há como culpá-los, não é, Roseana e Renan, a dupla caipira RR?). Pardos e mestiços, como a maioria dos brasileiros, e não brancos ou negros, eles parecem clones do Neymar sem brincos de brilhante.

Detesto shopping e multidão. Abomino a ânsia do consumo. Prefiro as ruas, mesmo com pedrinhas portuguesas. Entendo quem goste de shopping, e são consumidores de todas as classes sociais – especialmente em tempos de liquidação. Não dou rolezinho em shopping. Não como em shopping. Quando vou a um cinema ou teatro em shopping, subo de elevador para não rolar pelos corredores de vitrines, escadas rolantes e praças de alimentação. Minha praça é outra, tem árvore, vento, flores e banquinhos, seja no Rio, Londres ou Paris. Mais na Europa, admito, porque as praças brasileiras são maltratadas pelos prefeitos e pela população.

Evitar shoppings não me livra do rolezão do verão. As grandes cidades, especialmente as litorâneas, se tornam palco de um imenso rolezão – festivo ou agressivo – quando as temperaturas alcançam 40 graus e o Carnaval se aproxima. Quem viu as fotos do mar e da areia em Ipanema nos últimos fins de semana, quem testemunhou os arrastões... Quem caminha ou vai à praia no Rio na estação selvagem é personagem do rolezão. Está no calendário. Acontece antes de os blocos carnavalescos assaltarem (no bom sentido) as ruas e avenidas cariocas. Estamos todos misturados. Favelados, periféricos, suburbanos, playboys, peruas, gostosos, gostosas, atletas, atores, artistas, idosos, bebês.

Corre-corre dá medo? Dá, muito. Quando passo por um grupo grande e barulhento de pivetes, guardo meu iPhone. Preconceito ou realismo? Neste verão sem policiamento ostensivo (os policiais estão todos nas UPPs), o que tem de garoto roubando o celular direto do seu ouvido, no meio da conversa, seja você gringo ou local... Recordo um filme colombiano de 2000, La virgen de los sicarios (A virgem dos assassinos), baseado no romance homônimo de Fernando Vallejo. O filme, com roteiro do escritor, retrata sua cidade natal, Medellín, tomada por furtos e assaltos de adolescentes.

Nos rolezinhos dos shoppings, está cheio de gente mal-educada? Está. Acontece em todo lugar e com todas as classes sociais. Dos riquinhos e fortinhos aos pobrinhos e magrinhos, dos héteros aos gays, dos ambulantes aos quiosqueiros, dos flanelinhas aos motoristas de ônibus e de possantes. Como o brasileiro, em geral, é mal-educado! Socorro. Confunde extroversão com barulho. Espaço público de convívio social significa “espaço onde só se conversa aos gritos” e onde gente fura fila sempre que pode.

Não me venham classificar rolezinho como fenômeno político ou social... Ou, pior, como alguma “novidade”, positiva ou negativa. Enxergo como mais um factoide de verão abaixo do Equador, igual a tantos outros. Como o toplessaço que não colou por preconceito. Quanta hipocrisia numa sociedade hipersexualizada de bunda de fora.

A bagunça mudou de cenário porque está quente do lado de fora e, nos shoppings, o ar-condicionado funciona. Eles vão lá se divertir, “catar mulher”, provocar, conseguir seus 15 minutos de fama, fugir de policial, beijar como nos blocos. Não deram a sorte de entrar na casa do BBB. Recusam-se a ser eliminados. Torcem para o circo pegar fogo e, assim, aparecer na televisão, na primeira página dos jornais e na capa das revistas.

Anônimos e invisíveis, ganham aura de black bloc, experimentam o poder de arregimentar multidões nas redes sociais. Causam furor, torcidas pró e contra. Nunca sonharam tão alto. Só mesmo num país em que a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, incita ao racismo, dizendo que os problemas com os rolezinhos são “derivados da reação de pessoas brancas”. Santa ignorância. A escola é do Lula. Ele disse em 2009 que a crise era causada por “gente branca de olhos azuis”.

Os jovens dos rolezões são ajudados pela burrice dos policiais, prefeitos e governadores, que os transformam em mitos e inflam seus egos. Bombas de gás? Multa de R$ 10 mil? Se os policiais fardados são incapazes de evitar furtos de um bando de moleques sem apelar para a brutalidade ou a ignorância, estão eliminados do BBB – deu para entender, brothers?

MUDAREMOS

 

CARTILHAS



À ANTIGA: Eva viu a uva. O vovô viu a Eva

MODERNA: O vovô viu Eva vendo a uva.

PÓS-MODERNA: Eva viu a uva vendo o vovô.

CAPITALISTA: Eva vendeu a uva ao vovô.

SOCIALISTA: Eva e o vovô dividiram a uva.

COMPETITIVA: Eva viu a uva primeiro, o vovô ficou sem uva.

SOCIAL-DEMOCRATA: Eva e o vovô acabariam dividindo a uva, mas só depois de um longo processo de conscientização, sem recorrer à violência.

TRÁGICA: Eva tirou a uva da boca do vovô à força e depois engasgou-se com ela, enquanto o vovô tinha um ataque cardíaco.

ERÓTICA: Eva chupou a uva fazendo “mmmm” enquanto o vovô fingia que não via.

AMERICANIZADA: Eva viu the book on the table enquanto o vovô recebia o delivery da uva.

FILOSÓFICA: Eva viu a uva, logo existe. O vovô viu Eva vendo a uva, mas não pode dizer com certeza que viu mesmo Eva vendo a uva ou apenas uma projeção conceitualizada da sua imagem no seu sistema neurológico, o que não comprovaria sua existência.

NOIR: Eva pressentiu a presença da uva na escuridão, mas antes que pudesse virar-se e vê-la sentiu a ponta de uma arma nas suas costas e ouviu a voz do vovô dizendo: “Esta é minha, baby”.

SURREALISTA: Eva ouviu a vulva do vovô.

CULINÁRIA: Eva viu a uva, cortou a uva em pedaços, botou no molho do peixe junto com alcaparras e vinho branco – e o vovô só olhando.

SIMBÓLICA: Eva ver a uva significa a reiteração de um ato de conhecimento do mundo que está na origem da cultura humana. Eva, a primeira da sua espécie; uva, a coisa a ser entendida, a realidade extra espécie que, inaugurando a relação gente/mundo, é precondição para o desenvolvimento das artes fabris e da agricultura e, portanto, da civilização. Já o simbolismo do vovô não é tão claro.

TEATRAL:

Eva – Oba, uma uva.

Vovô – Cuidado.

Eva – Por quê?

Vovô – Você sabe, os agrotóxicos.

Eva –Ora vovô, fazer um drama só por causa de...

Vovô – Não. Conheço gente que comeu uma uva e morreu na hora. Uma uva pode ser tão mortal quanto os punhais que abateram Cesar, na peça de Shakespeare.

Eva – Não vou comer. Só vou olhar.

Vovô – Citando de novo o bardo: também nos envenenamos pelos olhos.

Eva – Shakespeare disse isso?

Vovô – Não sei, mas soa como dele.

Eva – De qualquer jeito, não vou comer.

Vovô – Vou ficar de olho em você, menina.

APOCALÍPTICA: Eva verá a uva, o vovô verá a Eva, e este será o último acontecimento na História do mundo antes de começar a chover enxofre.
 
19 de janeiro de 2014
Luis Fernando Veríssimo, O Estadão

TOPLESS

Nos primeiros dias do ano foi organizada uma manifestação no Rio de Janeiro a favor do topless, mas, para desapontamento geral, teve adesão de algumas poucas gatas pingadas e o assunto não evoluiu.

Brasil, país da liberalidade, do Carnaval, das popozudas, das mulheres-fruta, da globeleza, do fio dental e demais manifestações de culto ao corpo (sem que nada disso altere a paz familiar), proíbe o topless na beira da praia. Um contrassenso? É, mas explica-se.

O Brasil é permissivo quando o assunto é sexo. De letras de música a comerciais de tevê, aqui quase tudo tem apelo erótico e tudo bem, aceitamos a lascívia como traço de caráter. Seios de fora é uma representação da nossa identidade, da nossa latinidade, das nossas raízes – desde que associada, de forma sutil ou não, à malandragem, à sacanagem, à libido. Por incrível que pareça, é mais chocante ver uma mulher amamentando seu bebê dentro de um ônibus do que arregaçando a camiseta e mostrando os peitos em frente às câmeras num estádio de futebol. Esta será candidata à musa. Ela pode. Mas o gesto maternal sugere indecência.

A amamentação em lugares públicos não é uma atitude sexual, portanto, é algo que perturba, que está fora do nosso contexto. Com o topless se dá o mesmo. Uma mulher com os seios de fora à luz do dia, em volta dos filhos, tomando mate gelado? É atentado ao pudor.

Topless não é um ato de exibicionismo, e sim uma atitude naturalista. Na Europa, basta despontar o primeiro raio de sol para a população tirar a roupa, inclusive nos parques. Em Munique, homens e mulheres dos oito aos 80 anos se reúnem no Englischer Garten, tiram toda a roupa – toda – e ficam lendo seu livrinho numa boa, com a pureza de um recém-nascido. Ninguém sai batendo fotos, salivando com cara de tarado ou marcando encontros atrás da moita. Desde a loira escultural até a senhora pelancuda, todos têm sua privacidade respeitada.

À beira mar o topless é ainda mais comum. Muitas mulheres dispensam o sutiã, não importa o estado de conservação de suas mamas. Fazem isso porque é mais confortável e também para ganhar um bronzeado uniforme, sem as marcas do biquíni. Particularmente, acho mais bonito usar as duas peças, mas não é de estética que se está falando. É do direito que uma pessoa tem de vestir-se (ou, no caso, despir-se) como bem entender, desde que num ambiente propício e sem agredir quem está a sua volta.

Aqui, na novela das nove, homens disputam para ver o “bigodinho” (depilação da virilha) de uma colega de trabalho, e o povo acha a maior graça, mas topless é perversão. Dançamos na boquinha da garrafa, mas não toleramos a liberdade de costumes. E como não se muda a mentalidade de um país por decreto, fazer topless sem estardalhaço ficará para uma próxima encarnação.

DO ROLEZINHO AO ROLEZAÇO


GÉLIDAS LEMBRANÇAS


 
19 de janeiro de 2014
Ferreira Gullar, Folha de SP

A TERRA É UMA NAVE E ESTAMOS NUM VOO CEGO: PARA ONDE VAMOS?

 


01
 
Se a Terra fosse uma nave espacial, ficaria claro que seus passageiros viajam em condições totalmente diferentes. Um pequeno grupo de super-ricos ocupou para si a primeira classe, com um luxo escandaloso; outros felizardos ainda viajam na classe econômica, sendo servidos razoavelmente de comida e bebida; o resto da humanidade, aos milhões, viaja junto às bagagens, sujeita ao frio de dezenas de graus abaixo de zero, semimortos de fome, de sede e em desespero.

Esmurram as paredes dos de cima, gritando: “Ou repartimos o que temos nesta única nave espacial ou, num certo momento, acabará o combustível e morreremos todos”. Mas quem os escutará? Impassíveis, dormem depois de um lauto jantar. Metaforicamente, essa é a situação real da humanidade. Como chegamos a ela?
Temos experimentado dois modelos de produção e de utilização dos bens e serviços naturais para atender as demandas humanas: o socialismo e o capitalismo. Ambos fracassaram.

O socialismo real era de economia de planejamento estatal centralizado. Por razões internas e externas, especialmente por seu caráter ditatorial, não conseguiu resolver suas contradições e ruiu.
O capitalismo neoliberal de mercado livre também fracassou em razão de sua lógica interna, a de acumular de forma ilimitada bens materiais sem qualquer outra consideração.

O comunismo chinês é sui generis: pragmaticamente, combina todos os modos de produção, desde o uso da força física das pessoas e dos animais, até a mais alta tecnologia, articulando a propriedade estatal com a privada ou mista, desde que o resultado final seja uma maior produção com o mínimo sentido de justiça social e ecológica.

ESGOTAMENTO

Mas importa reconhecer que está crescendo o convencimento bem-fundado de que o sistema Terra, limitado em bens e serviços, pequeno e superpovoado, já não suporta um projeto de crescimento ilimitado. Mas, por ser uma superentidade viva, a Terra reage de forma cada vez mais violenta: mudanças climáticas bruscas, furacões, tsunamis, degelo, desertificação, erosão da biodiversidade e aquecimento global. Quando vai parar esse processo? Se continuar, para onde nos vai levar?

Somos urgidos a mudar de rumo, a assumir novos princípios e valores. O documento mais inspirador é, seguramente, a Carta da Terra, nascida de uma consulta mundial que durou oito anos, aprovada pela Unesco em 2003. Ela incorpora os dados mais seguros da nova cosmologia que mostra a Terra como um momento de um vasto universo em evolução, viva e dotada de uma complexa comunidade de vida.

Quatro princípios axiais estruturam o documento: o respeito e o cuidado pela comunidade de vida (1); a integridade ecológica (2); a justiça social e econômica (3); a democracia, a não violência e a paz (4). Com severidade, adverte: “Ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos nossa destruição e da diversidade de vida”.

HUMANIDADE

As palavras finais do documento apelam para uma retomada da humanidade: “Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a um novo começo. Isso requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal.

Só assim alcançaremos um modo de vida sustentável nos níveis local, regional, nacional e global”.
Não fala de reformas, mas de um novo começo. Trata-se de reinventar a humanidade. Tal propósito demanda um novo olhar sobre a Terra, vista como um ente vivo, e uma nova relação de cuidado e de amor.

Esse é o caminho que servirá de carta de navegação para a nave Terra aterrissar segura num outro tipo de mundo.

NOVOS TEMPOS

 

 

Vaticano diz que cerca de 400 padres foram afastados por suspeita de pedofilia   

Cidade do Vaticano – O Vaticano anunciou que cerca de 400 padres foram afastados durante o pontificado do papa Bento XVI, devido às queixas de crianças abusadas sexualmente por clérigos.
“Em 2012, foram cerca de 100, enquanto que em 2011 foram cerca de 300″, disse o porta-voz do Vaticano Federico Lombardi.

No entanto, a organização Snap, que junta vítimas de abusos sexuais por parte de membros da Igreja, disse em comunicado que essas medidas disciplinares não são suficientes e que “o papa deve afastar também os clérigos que encobriram crimes sexuais”.

As revelações dos crimes sexuais cometidos por membros do clero e o encobrimento pelos seus bispos começaram na Irlanda e nos Estados Unidos há mais de uma década e têm abalado a Igreja Católica.

Bento XVI, que renunciou o ano passado e foi substituído pelo papa Francisco, prometeu tolerância zero para os sacerdotes que cometeram os abusos e o Vaticano informou que recebeu milhares de relatos de abuso de dioceses locais.

ABUSOS SEXUAIS

Em uma ação inédita, uma delegação do Vaticano teve de dar, no início da semana passada, respostas às Nações Unidas sobre o seu compromisso para acabar com os abusos sexuais de menores por padres diante da Comissão de Direitos da Criança, em Genebra.

E o papa Francisco disse na quinta-feira  que os católicos devem sentir “vergonha” pelos escândalos. Mas as associações que juntam as vítimas insistem em que ainda há falta de transparência e que não foi feito o suficiente para denunciar os abusos à polícia.

“As autoridades católicas devem ajudar a garantir que os clérigos que abusaram de crianças sejam acusados criminalmente”, relatou o Snap em comunicado.

DIANTE DE SHOPPING FECHADO NO RIO, GRUPO DO ROLEZINHO FAZ PROTESTO CONTRA "PRECONCEITO"

 

 

 
Rio de Janeiro – Apesar de o Shopping Leblon ter fechado, algumas pessoas apareceram para o rolezinho marcado hoje (19) no local. O número de participantes, no entanto, foi inferior ao de jornalistas.

Mas a presença do pequeno grupo chamou atenção dos moradores do bairro e dos clientes desavisados que foram às compras. O shopping não abriu este domingo para evitar o rolezinho.

Do lado de fora, cerca de 30 pessoas fizeram perfomances, ao som de funk, contra o racismo e a exclusão social no país. Fantasiado de Batman, Heron Morais Melo criticou a falta de igualdade de oportunidades entre “ricos e brancos” e “negros e pobres”.

“Essa porta fechada [do shopping] é o melhor símbolo da desigualdade no nosso país. Quem não é da parte da elite, só encontra isso”, disse Heron, morador de Marechal Hermes, na zona norte.
Em uma performance para satirizar “madames que frequentam o shopping com menor número de pobres da cidade”, um participante, que não quis se identificar, disse: “Não vim para protesto, vim às compras! Pobre já aguento lá em casa, lavando, passando, levando meus filhos na escola”, como crítica ao preconceito.

Para o estudante de letras e integrante da Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel), Gabriel Melo, o rolezinho é derivado das manifestações de junho de 2013. “Quando um grupo de estudantes de universidades e escolas privadas vão para a praça de alimentação e bota música alta é uma coisa, mas quando esse grupo é de jovens negros o tratamento dado pelo shopping, lojistas e segurança é outro: fecham as portas e põem para fora”, disse.

POLICIAMENTO

Apesar de a Secretaria de Segurança Pública ter informado que não reforçaria o policiamento, dezenas de policiais estavam próximos ao shopping. Seguranças particulares não identificados também estavam no local.

O Shopping Leblon cercou, com tapumes, toda a entrada de vidro localizada na Avenida Afrânio de Melo Franco. Foram colocados cartazes avisando os clientes de que o centro comercial foi fechado para “garantir a segurança”. O Shopping Rio Design Leblon, que fica do outro lado da rua, também fechou as portas, para evitar o rolezinho. Cerca de 9 mil pessoas haviam confirmado presença no ato por meio da redes sociais.

Do lado de fora, trabalhadores e lojistas criticaram o rolezinho. Para a dona de uma loja, que preferiu não se identificar, o shopping “é um espaço de lazer privado”. “Manifestação tem que ser na porta da prefeitura, não aqui”.

19 de janeiro de 2014
Isabela Vieira
Agência Brasil

NÃO HÁ ALTERNATIVA

Rolezinho terá de sair dos shoppings e ganhar as ruas




O chamado rolezinho é um  subproduto das manifestações do ano passado, que agora só tendem a se intensificar. É claro que os jovens e seus seguidores vão continuar se manifestando contra os principais problemas nacionais – educação, saúde, segurança e emprego.

Nada mais faziam do que reivindicar direitos que lhes são garantidos pela Constituição mas na prática inexistem. E exigiam o famoso “Padrão Fifa”, na certeza de que um país que pode realizar o maior evento  mundial nesse alto nível, certamente é capaz também de oferecer serviços de qualidade à sua população.

No ano passado, as centrais sindicais, orientadas diretamente por Lula, tentaram pegar uma carona e criaram o Dia Nacional de Luta, em 11 de julho, mas foi um enorme fracasso, mostrando que o movimento das ruas era de real oposição ao governo e não aceita imitações.

Mas as manifestações acabaram desvirtuadas pelo grupos de black blocs, que radicalizaram o movimento o transformaram num simples quebra-quebra, com inevitáveis choques com a polícia.

Agora, surge o rolezinho, sob proteção do espaço aparentemente livre e protegido dos shopping centers, onde não havia policiamento ostensivo. Mas é claro que essa estratégia não vai dar certo. As manifestações dos jovens ferem o direito ao livre comércio e até mesmo o direito de ir e vir, que tem de ser garantido a todos os cidadãos.

SHOPPING FECHADO

O Shopping Leblon não funcionou este domingo, devido ao rolezinho convocado nas redes sociais pelo grupo que se intitula Porque eu quis”. O fechamento foi determinado pelos lojistas, embora houvesse uma decisão judicial proibindo o rolezinho. O despacho da juíza Isabela Pessanha Chagas, da 14ª Vara Cível, estabelecia uma multa de R$ 10 mil a cada pessoa que desobedecesse a decisão. Mas quem pode confiar na Justiça no Brasil de hoje?

O certo é que não há como defender o rolezinho, sob argumento de que se trata de jovens de classe média baixa que estão sendo marginalizados. Por óbvio, o local não é apropriado. E o ajuntamento passa a a representar ameaça à segurança dos demais visitantes e dos próprios lojistas.

Só é admissível esse tipo de manifestação se ocorrer em áreas livres, de preferência praças e parques públicos. Caso contrário, os choques com a polícia serão novamente inevitáveis. Com a aproximação da Copa do Mundo, a tendência é de que os protestos aumentem progressivamente. Uma lição para determinados governantes como Sérgio Cabral e Eduardo Paes, que só pensam em se promover e desprezam o verdadeiro interesse público. E ninguém sabe aonde isso pode parar.

OS PORTAIS DA IMORTALIDADE

 

 

  

(JB) – O fim de 2013, e o início do novo ano de 2014 têm sido pródigos em notícias revolucionárias no campo da saúde. Cientistas da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, criaram nano-partículas anticancerígenas que “grudam” em glóbulos brancos, e, espalhadas pelo sangue, identificam e matam células tumorais, impedindo que o câncer, por meio de metástase, se espalhe pelo corpo, eliminando essas células do sangue de ratos e de humanos, em laboratório, em apenas duas horas.

Na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, uma equipe, comandada pelo professor Douglas Fearon, descobriu como funciona a barreira protetora que envolve certos tumores e desenvolveu uma substância que conseguiu rompê-la, permitindo que o sistema imunológico mate suas células, curando o câncer de pâncreas – altamente letal – em ratos, em apenas seis dias.

 E, na Universidade de Harvard, outro grupo de cientistas, liderados pelo australiano David Sinclair, conseguiu reverter o envelhecimento muscular em ratos “velhos”, com idade equivalente a 60 anos, permitindo que sua condição física voltasse a uma idade de aproximadamente vinte “anos”, em apenas uma semana.

O tratamento baseou-se na descoberta de uma nova causa do envelhecimento, principalmente muscular, que é a perda da comunicação entre os cromossomas do ADN do núcleo da célula e os do ADN das mitocôndrias, responsáveis pelo fornecimento da maior parte da energia necessária à atividade celular.

Para resolver o problema, os pesquisadores usaram uma molécula que elevou, nos ratos, os níveis de nicotinamida adenina dinucletídeo, (NAD), que se mantêm mais alta na juventude, e cai para a metade em idosos.

AINDA DEMORA

Naturalmente, esses tratamentos não estarão disponíveis em pouco tempo, e, em uma sociedade baseada no lucro, dificilmente chegarão tão cedo ao homem comum.

De qualquer forma, os avanços científicos que se multiplicam em todos os campos de atividade, nos fazem refletir sobre a importância, talvez ainda não adequadamente avaliada, do extraordinário período que estamos vivendo agora.

É tentador pensar que, se considerarmos o Universo como informação, o conhecimento do Cosmo e de nós mesmos nos permitirá mudar o mundo e a nós mesmos, da forma que nos for mais conveniente.
É claro que, para muitos, essa parecerá uma visão herética da aventura humana.

Se o infinito conhecimento é infinito poder, ele só pode pertencer a Deus e não ao homem e deveríamos ser punidos por buscar esse conhecimento, como nos alertaram os antigos gregos com o mito de Prometeu, ou Mary Shelley, com “Frankenstein”.

Outros acreditam que o homem só deveria ter acesso a conhecimento limitado, com propósito previamente determinado e especial permissão do Criador.

NO TIBET

No conto “Os Nove bilhões de nomes de Deus”, de 1953, o escritor norte-americano Arthur C. Clarke, autor também de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” brinca com o tema. Ele imagina o lama de um monastério Tibetano comprando um supercomputador Mark-V para realizar um trabalho, que, normalmente, seus monges levariam 15.000 anos: calcular todos os possíveis nomes de Deus, em palavras com 9 caracteres, usando um alfabeto especialmente inventado, sem que nenhuma letra figure mais de 3 vezes consecutivas em cada vocábulo.

Já instalados no Tibet, entre os muros da cidadela do templo, os dois engenheiros encarregados de montar e operar a máquina, descobrem – pouco antes do final dos cem dias de trabalho – que os monges acreditam que, uma vez finalizados os cálculos, a humanidade perderá sua razão de existir, e tudo acabará para sempre.

Preocupados com a reação dos monges caso as coisas não transcorram como eles esperam, os dois resolvem adiantar sua partida, e começam a descer a montanha onde está instalado o monastério, a caminho do aeródromo, no qual um DC-3 os aguarda, duas horas antes do horário previsto para que o computador imprima o ultimo nome.

É noite, e eles estão, sobre suas montarias, em um dos pontos mais altos da trilha, quando chega o momento da máquina parar de trabalhar. Instintivamente, seus olhos se voltam para a silhueta do monastério, ao longe, recortando-se contra o horizonte. E descobrem, perplexos, que as estrelas, estão, uma a uma, começando a se apagar.

Não sabemos se o homem, algum dia, vencerá definitivamente a morte, ou se estaremos entre as últimas gerações a viver estes modestos oitenta, noventa, cem anos, que nos cabem, agora, como limites quase que definitivos.

Navegantes do tempo, temos singrado, por milhares de gerações, as águas do receio e da ignorância, abraçados uns aos outros, no início e fim de nossas vidas, frágeis e impactados por imensa vulnerabilidade, tremendo ante a perspectiva da dor e a proximidade da morte. O certo é que, mesmo à deriva, parece que estamos prestes a conseguir atravessar o vasto oceano.

Finalmente, vislumbramos, ao longe, para além da bruma que nos cerca, quase como miragens, das quais nos aproximamos lentamente – graças ao estudo do genoma humano e de novas ciências como a engenharia genética e a nanotecnologia – os pilares que nos darão passagem para uma nova era. Eles estão à nossa frente. Os fabulosos e indefinidos portais da imortalidade.

O HUMO DO DUKE

 

  


Charge O Tempo 19/01

POPULAÇÃO DIVIDIDA PELO ABISMO SOCIAL

 

 

 
Os rolezinhos – “invasões” de grupos de periferia a shopping centers – podiam ser só mais uma brincadeira estranha e infantil de jovens da periferia, primeiro de São Paulo, depois do resto do país. Os objetivos eram “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”. Mas, trazidos ao centro do debate e para a zona Sul das capitais tanto pela esquerda como pela direita, os rolezinhos ganharam o status de manifestação social, amplificada pelo eco das redes sociais.

Pelo olhar de parte da direita: arruaça, bagunça, arrastão. Para setores da esquerda: protesto contra exclusão social, luta de classes, preconceito. Se não havia nenhuma bandeira política ou reivindicatória por trás das idas desses jovens aos shoppings, agora existem várias.

O mais interessante de observar nesse fenômeno, porém, é como a sociedade brasileira está dividida, fragmentada e em busca de uma politização perdida ou dizimada. O rolezinho é apenas a bola da vez. Nos últimos anos, com o Twitter e o Facebook, nada mais passa em branco. Reajuste de tarifa de ônibus, manifestações de junho, black blocs, letras de funk, piso nacional dos professores, tudo provoca discussão e polarização de ideias, mesmo essas não sendo muito claras.

LUTA DE CLASSES

Apesar do discurso do fim do embate ideológico entre direita e esquerda, impulsionado pela falência e pela corrupção da política institucional e partidária, os conflitos e contradições de uma sociedade de classes estão aí, à flor da pele, e as pessoas parecem ter achado espaço nas redes sociais para manifestar de qual lado estão, ou, pelo menos, para dizer: “olha, sou contra isso, sou a favor daquilo”.

Esse turbilhão de opiniões e embates, mesmo disperso e, por vezes, superficial, é positivo e indicativo de uma série de reflexões: as contradições e desigualdades da sociedade brasileira não são mais contornáveis por uma ideia ou um discurso de igualdade de consumo; a perda de representatividade dos partidos políticos não implica em uma população alheia à política; há uma enorme insatisfação no país, conectada pela internet e pronta para explodir em todas as direções.

Até a Copa do Mundo e, principalmente, durante o Mundial, outros fenômenos sociais irão colocar frente a frente diferentes partes da sociedade. A ideia de uma democracia madura, de um país onde o único problema é a corrupção política – passível de pequenos ajustes –, parece ter desmoronado de vez.

O abismo social é imenso e está escancarado. Resta saber o tamanho e a força das próximas manifestações. E também a reação a elas. Mesmo sem provocar uma revolução, esses protestos vão expondo cada vez mais um sistema inviável e os políticos profissionais sabem disso. Não à toa, o PT, preocupado com o respingo dessas convulsões sociais na reeleição de Dilma, já lançou uma campanha na internet com o tema #VaiTerCopa. A conferir.

(transcrito de O Tempo)

19 de janeiro de 2014
Murilo Rocha

A POLÍTICA COMO FARSA

 

No teatro da vida a farsa sempre esteve presente. A hipocrisia, a mentira, a simulação, a impostura, a bajulação ajudam os vencedores da arena da existência, sobretudo, se são dotados da retórica capaz de iludir e convencer.

Na atualidade o famigerado “politicamente correto”, que exclui valores, embaça percepções e nivela por baixo para atingir o que Alexis de Tocqueville denominou de “males da igualdade”, elevou ao máximo a farsa como modo de escapar ao julgamento negativo da maioria.

A pessoa diz o que se quer que ela diga e não o que pensa ou sente.
Na política, palco máximo da simulação, a farsa nunca esteve tão exacerbada na medida em que conta com o poderoso auxílio da propaganda, que se sofisticou e se disseminou através dos meios de comunicação especialmente os televisivos.

Esse ápice da arte de fingir chegou ao nosso país com o governo petista que, finalmente, conseguiu marqueteiros aptos a esculpir imagens ou confeccionar máscaras para compor personagens ideais e palatáveis ao gosto popular.

Assim, Lula da Silva, sindicalista esperto, verborrágico, afeito a retórica de porta de fábrica, vestiu a roupagem do operário pobrezinho, necessário à ideologia de esquerda que precisava de um representante do proletariado e, num passe de mágica virou estadista.

Nada mais longe da verdade, pois Lula de fato é um semianalfabeto que de pobre não tem mais nada, um populista ambicioso e sem escrúpulos que venceu pela sorte e não pelo valor. Sua fala vulgar, rudimentar, grotesca, algo circense provocou o sentimento de identidade com a massa, que sendo culturalmente necessitada de proteção viu nele o pai generoso a distribuir caridades oficiais que livraram os mais pobres da “maldição” do trabalho.
Mas ai de quem disser essas coisas do “líder”, imediatamente é tachado de preconceituoso e marcado com novos significados de certos termos inventados pelo PT.
 
Por exemplo: fulano é da elite. Elite quer dizer produto de qualidade, mas na “novilíngua” petista passa a significar rico e, portanto, mau.
As pessoas não percebem que os mandarins do PT estão riquíssimos e que Lula é o queridinho dos banqueiros, dos empresários dos empreiteiros que, aliás, sustentam suas ricas campanhas.

Sicrano é de direita. Direita é outro termo no linguajar petista que estigmatiza quem é assim chamado. Ser de direita ensina o PT é ser atrasado, neoliberal, mau-caráter, aquele que odeia os pobres.
O bom é ser de esquerda, aquela bem totalitária, que matou milhões em nome da causa, impediu a liberdade, infelicitou, oprimiu e igualou o povo na miséria conservando a rica classe dirigente. Curiosamente, o PT nunca conseguiu definir seu socialismo e sua classe dirigente adora gozar das delícias da burguesia.

Do alto de sua arrogância o boquirroto Lula, que gosta de ensinar ao mundo como é que se faz para converter um país em paraíso, elegeu a primeira mulher presidente.
E daí? Ela é a mulher submissa, que não dá um passo sem obedecer ao seu dono e senhor, a gerente que não conseguiu tocar nem loja de R$ 1,90.

Vergada sob a herança maldita do seu mentor e de sua própria incompetência, Rousseff está conduzindo o Brasil pelos fiascos dos pibinhos que nos torna lanterninha dos BRICS, pela calamidade da inflação, pelo flagelo da inadimplência.
Mas ela não é a mãe do PAC? O PAC foi um aborto, uma ficção como a transposição do Rio São Francisco e tantas outras promessas não cumpridas.

Na véspera de 7 de setembro, a governanta veio à TV fazer sua propaganda política. Reconheceu que “ainda somos um país com serviços públicos de baixa qualidade”, como se isso não dissesse respeito a seu governo. Entretanto, o que Lula e ela fizeram para melhorar estes serviços nos seus quase 11 anos de poder?

Como o forte do PT não é autocrítica, Rousseff, na mesma performance se vangloriou de trazer os médicos cubanos escravos, doutrinadores ou não, que dão um bom lucro para Fidel Castro e, provavelmente, para o governo brasileiro.

A última da governanta foi no G20. Ela discursou tirando satisfações do presidente Obama sobre espionagem. Uma tentativa de levantar os brios nacionalistas brasileiros e se colocar como vítima. Quem sabe também de obter o assento na Comissão de Segurança da ONU, almejado pelo PT há longo tempo.
Ficou falando sozinha, pois os participantes estavam preocupados com o importante caso da Síria.

O fato é que o Brasil está longe de alcançar sua independência enquanto o povo continuar a votar nesse tipo de gente. E não se duvide que a bancada da Papuda, que deve aumentar caso os “mensaleiros” sejam presos, possa ser reeleita, apesar da cusparada que o Congresso Nacional deu na cara do país mantendo o mandato do deputado presidiário, Natan Donadon. Infelizmente, o ser humano ama a farsa e a pratica.

19 de janeiro de 2014
Maria Lucia Victor Barbosa é escritora e socióloga.

"VADA A BORDO, CAZZO"



O comandante é o último a abandonar o navio? Nem sempre: o comandante Francesco Schettino foi um dos primeiros a cair fora, quando o seu Costa Concordia começava a naufragar.
O capitão Gregorio de Falco, da Guarda Costeira, indignou-se e mandou Schettino voltar ao navio. Vada a bordo, cazzo! ─ bradou. Schettino, cazzo, fingiu que não ouviu. Os passageiros que se danassem.

Mudemos de assunto. O presídio de Pedrinhas, no Maranhão, teve rebeliões sucessivas, o crime organizado tomou conta de tudo e promoveu assassínios com requintes de crueldade. O ministro da Justiça, esquecido de que seu partido está no poder há onze anos, reclama que o sistema penitenciário brasileiro é “medieval”, e diz que preferia morrer a ficar preso. Ele, a propósito, é o chefe do Departamento Penitenciário Nacional, que deveria cuidar do assunto.

Os rolezinhos se multiplicam e ameaçam transformar-se numa crise política ─ e numa crise se transformarão assim que alguém perder a cabeça e for para o confronto físico. E a segurança da Copa, que está sendo discutida, de que forma será equacionada?

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sabe perfeitamente o que fazer: como o comandante Schettino, abandonar o barco o mais rapidamente possível, antes que o naufrágio se complete, e deixar claro que tê-lo ou não como ministro da Justiça não faz a menor diferença. Cardozo descansou nos feriados de fim de ano, tirou férias entre 2 e 6 de janeiro, e, a partir de sexta, tira mais oito dias de folga. Volta dia 26.
E até agora, no Governo, ninguém lhe gritou Vada a bordo.

19 de janeiro de 2014
Carlos Brickmann

"MÉRITO? NÃO É AQUI.

 

Velhos marinheiros dos sete mares contam até hoje, geralmente em voz baixa, a história do Flying Dutchman. Não é uma história confortável. O Flying Dutchman, ou Holandês Voador, levantou âncora das docas de Amsterdã em 1751, rumo a Java, e depois de uma tormenta no Cabo da Boa Esperança nunca mais foi visto; naufrágio com perda total da carga e da tripulação, publicou-se nos boletins marítimos da época.

O grande problema é que, alguns anos depois, o navio holandês foi visto outra vez, velejando a todo o pano, o leme firme, como se estivesse rumando para um lugar preciso, e com a mais perfeita ordem no tombadilho; não era, de jeito nenhum, um barco que tinha afundado e depois, por algum fenômeno natural, voltado à tona.
Outro problema, já bem maior, é que não havia nenhum ser vivo (ou morto) ali dentro. Os tripulantes do barco que tinha feito a descoberta subiram a bordo e minutos depois, aterrorizados, chisparam de volta a seu navio e sumiram no horizonte.

Desde então a lenda insiste que o Flying Dutchman continua aparecendo nos oceanos, sempre em noites de tempestade; é a famosa “nau sem rumo”. Foi cometida a bordo, explicam os velhos marujos, alguma abominação prodigiosa, tão horrível que nem o demônio tem coragem de tocar no assunto. Tudo o que se sabe é que o navio foi amaldiçoado ─ e a alma de seus tripulantes condenada a navegar eternamente pelo mar sem fim.

E se em lugar de Flying Dutchman falassem de “um país chamado Brasil”? Em 1º de janeiro de 2003, sob o comando do almirante de esquadra Lula da Silva, ele levantou ferros do Lago Paranoá falando em vencer mares nunca dantes navegados e em edificar um novo reino social. Hoje, onze anos após a partida e já sob o comando da imediata Dilma Rousseff, a nau continua a procurar o reino que tinha prometido. Ao contrário do barco holandês, o navio brasiliense está abarrotado de gente; só de ministros são quase quarenta, e contando os subs, mais os subs dos subs, a coisa vai para a faixa dos milhares de tripulantes. Mas está na cara que os fantasmas do Flying Dutchman levam o seu barco muito melhor que os humanos de Dilma; pelo menos sabem o que estão fazendo.

Já o nosso navio ─ bem, é certo que algo deu fabulosamente errado com ele. Não navega para lugar nenhum. A tripulação não sabe distinguir proa de popa, e acha que o contrário de bombordo é mau bordo. A nau não perdeu o rumo ─ na verdade, nunca chegou a saber que rumo era esse. Como poderia saber alguma coisa, se a esta altura da viagem o presidente do Senado, Renan Calheiros, ainda requisita um avião militar para levá-lo de Brasília ao Recife, onde foi implantar 10 000 fios de cabelo numa clínica para carecas? O problema, é óbvio, não está com Renan; ele é assim mesmo. O problema é de quem manda nos aviões ─ a cadeia de comando da Aeronáutica, que só em 2013 já deixou o senador lhe passar a perna duas vezes.

Nesta última, foi ao extremo de soltar uma nota oficial dizendo que não iria avaliar “o mérito” da viagem, e que sua função se limita a fornecer “a aeronave” solicitada. Como assim? Se os senhores brigadeiros não avaliam o mérito ─ e a legalidade ─ de seus próprios atos, que raio estão fazendo nos seus postos? Estamos falando da Força Aérea Brasileira, santo Deus. A lei diz que os aviões da FAB só podem ser utilizados por autoridades em atos de serviço, questões de segurança e emergência médica. Em qual caso se encaixariam, aí, os 10 000 fios de cabelo do senador?

A lei diz também que desrespeitar essa norma é “infração administrativa grave”, passível de punições “civis e penais”. O comandante da FAB que serviu de piloto particular para Renan poderia perfeitamente ter pedido ao senador, com toda a educação, que lhe fizesse uma curta descrição por escrito, assinada embaixo, contando que serviço iria fazer no Recife ─ “mera formalidade, doutor, só isso””. Por que não agiu assim? Porque tem certeza, como toda a tripulação, de que está numa nau sem rumo onde cumprir a regra só dá confusão.

O navio Brasil está precisando de muita coisa. Uma delas é um oficial macho, que tenha entre os seus valores a decência comum, e que um belo dia diga algo assim: “Sinto muito, Excelência, mas a lei me impede de atender à sua solicitação”. Iríamos ver, aí, quem entre os seus superiores hierárquicos teria a coragem de prendê-lo por “insubordinação”, enquanto Sua Excelência ficaria livre, contando vantagem do tipo “comigo ninguém brinca”. Nesse dia abrirá falência o Táxi Aéreo FAB ─ e nosso navio, talvez, comece a encontrar seu rumo.

19 de janeiro de 2014
J. R. GUZZO

CADÁVER DE NEGRO HOMOSSEXUAL VALE OURO PARA AS ESQUERDAS

De repente, não mais que de repente, vejo no Globo News manchete falando na morte de um tal de Kaique, como se fosse um personagem que a ninguém é dado desconhecer. Imaginei que fosse uma dessas tantas celebridades que surgem da noite para o dia, e que geralmente desconheço. O nome soava a jogador de futebol, motivo a mais para eu desconhecer.

Não era. E sim um jovem gay – pelo menos assim a imprensa insiste em caracterizá-lo – que aparentemente se suicidou jogando-se de um viaduto. O rapaz alimentava inclusive uma espécie de diário, onde escreveu que tomaria "uma atitude, uma decisão" até segunda-feira (13). Deixou também um “adeus às pessoas que amo".

Parentes e amigos não acreditam em suicídio e suspeitam que o jovem tenha sido vítima de crime de homofobia. Negro e homossexual, só podia ter sido vítima desse crime que ainda não existe em nosso Código Penal. Contrariando a perícia policial, a secretária nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, do PT, emitiu nota oficial denunciando o crime. “As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima, segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime de ódio e intolerância motivado por homofobia” – diz a nota expedida pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Depois da queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, cadáver de negro homossexual vale ouro para as esquerdas. Particularmente nestes dias, em que outra celerada, a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros – não por acaso também do PT - acusa a polícia e os freqüentadores de shoppings de discriminar jovens negros nos ditos "rolezinhos". Como se negros um dia tivessem sido proibidos de entrar em shoppings. Luta de classes mortas, luta racial posta, costumo afirmar há mais de dez anos. E luta racial é mais consistente. Se as classes se diluem ou se mesclam, o mesmo não acontece com a cor. Negro nasce negro e morre negro, branco nasce branco e morre branco. É um projeto para a eternidade.

O lobo jamais come o cordeiro sem antes fazer um discurso. Quem sabia muito bem disto era Swift, que escreveu há três séculos As Viagens de Gulliver. Na viagem a Lilipute, uma autoridade explica ao capitão Lemuel como se divide sua sociedade:

— Embora o nosso Estado pareça florescente aos olhos do estrangeiro, o que é certo é que temos dois grandes males a debelar: de dentro, uma poderosa facção; de fora, a invasão de que estamos ameaçados por um formidável inimigo. Com respeito ao primeiro, preciso é que saiba que há setenta luas existem dois partidos contrários neste império, sob os nomes de Tramecksan e Slamecksan, termos derivados de altos e baixos tacões dos seus sapatos, pelos quais se distinguem. Não falta quem seja de opinião, é fato, que dependem da coroa. Pode mesmo verificar que os tacões de Sua Majestade imperial são, pelo menos, mais baixos um drurr do que os de qualquer outra pessoa da corte. (O drurr é aproximadamente a décima quarta parte de uma polegada). O ódio dos dois partidos — continuou Keldersal — estão em tal grau, que não comem, não bebem juntos, nem se falam. Temos quase que a certeza de que os Tramecksans ou tacões altos são em maior número do que nós; a autoridade, porém, está na nossa mão. Contudo, andamos suspeitosos de que sua alteza imperial, o presuntivo herdeiro da coroa, tem alguma inclinação para os tacões altos; pelo menos tivemos ocasião de ver que um dos tacões é mais alto do que outro, o que o faz coxear um pouco. Mas os Tramecksan não constituem a única ameaça ao poder:

- Ora, no meio destas dissensões intestinas, estamos ameaçados de uma invasão pelo lado da ilha de Blefuscu, que é outro grande império do universo, quase tão grande e tão poderoso como este, porque, segundo temos ouvido dizer, há outros impérios, reinos e Estados no mundo, habitados por criaturas humanas tão grandes e tão altas como vós; os nossos filósofos, porém, põem suas dúvidas e preferem conjecturar que caístes da lua ou de alguma estrela, porque o que é fato é que meia dúzia de mortais do vosso tamanho consumiria em pouco tempo toda a fruta e todo o gado dos Estados de Sua Majestade imperial. Demais, os nossos historiógrafos, há seis mil luas, não fazem referência a outras regiões senão aos dois grandes impérios de Lilipute e de Blefuscu.

- Mas o avô de Sua Majestade imperial, em criança, estando para comer um ovo, teve a infelicidade de cortar um dedo, o que deu motivo a que o imperador, seu pai, lavrasse um decreto, em que ordenava aos seus súditos, sob graves penas, que partissem os ovos pela extremidade mais delgada. Este decreto irritou tanto o povo, que consoante narram os nossos cronistas, houve por essa época seis revoltas, em uma das quais um imperador perdeu a coroa. Estas questiúnculas intestinas foram sempre fomentadas pelos soberanos de Blefuscu e, quando as sublevações foram sufocadas, os culpados refugiaram-se neste império. Pelas estatísticas que se fizeram, onze mil homens, em diversas épocas, preferiram morrer a submeter-se ao decreto de partir os ovos pela extremidade mais delgada. Foram escritas e publicadas centenas de volumosos livros acerca deste assunto; mas os livros que defendiam o modo de partir os ovos pela extremidade mais grossa foram proibidos desde logo, e todo o seu partido foi declarado incapaz de exercer qualquer função pública. Durante a ininterrupta série daqueles motins, os imperadores de Blefuscu fizeram freqüentes recriminações por intermédio dos seus embaixadores, acusando-nos de praticar um crime, violando um preceito fundamental do nosso grande profeta Lustrogg, no quinquagésimo quarto capítulo de Blundecral (que é o seu Corão).

- Isto, porém, foi considerado como uma simples interpretação do sentido do texto, cujos termos eram: que todos os fiéis quebrarão os ovos pela extremidade mais cômoda. Na minha opinião, deve deixar-se à consciência de cada um a resolução de qual seja a extremidade mais cômoda, ou pelo menos, é à autoridade do soberano magistrado que compete resolver. Ora, os partidários da extremidade mais grossa, que se encontravam exilados, viram tanta deferência na corte do imperador de Blefuscu e tanto auxílio e apoio no nosso próprio país, que se seguiu uma guerra sanguinolenta entre os dois impérios, guerra que durou trinta e seis luas, com vário êxito para cada uma das partes. Nesta guerra perdemos quarenta naus de linha e um grande número de navios com trinta mil dos nossos mais valentes marinheiros e soldados; dá-se como certo que a perda sofrida pelo nosso inimigo não foi inferior. Seja como for, o que é fato é que os de Blefuscu preparam agora uma temível esquadra, para operar um desembarque nas costas do nosso império.

Salto alto ou salto baixo, ponta grossa ou ponta fina, o ser humano sempre encontrará razões para lutar contra alguém. As esquerdas encontraram um imenso filão de ouro na luta racial. Se a luta um dia foi entre burgueses e proletários, hoje decreta-se que é entre brancos e negros. Com uma imprensa cúmplice, nunca foi tão fácil fabricar uma guerra.


19 de janeiro de 2014
janer cristaldo

PEQUENAS EMBALAGENS COM PREÇOS EXORBITANTES... UMA ESPERTEZA QUE NINGUÉM PERCEBE.!

Gastos com produtos usados no dia a dia, vendidos em volumes reduzidos, assustam quando se considera o valor por quilo

Gel mata-barata custa R$ 11,99. Um quilo custaria R$ 1.199, preço de uma lava-louças Brastemp Foto: Divulgação
Gel mata-barata custa R$ 11,99. Um quilo custaria R$ 1.199, preço de uma lava-louças BrastempDIVULGAÇÃO
 
As embalagens são pequenas, mas o preço é king size. Não são trufas raras, temperos exóticos ou produtos de alta tecnologia que podem assustar o consumidor, mas itens do dia a dia.
Um cartucho de tinta de módicos 2ml para uma impressora HP em cores sai por R$ 25. A princípio, nada de mais. O assombro surge quando se calcula o preço da tinta por litro: R$ 12.500, montante suficiente para comprar mais de cem gramas de ouro ou dois bilhetes de ida e volta Rio-Paris, além de duas garrafas de champanhe Veuve Clicquot (adquiridos no Brasil), com direito a algumas comprinhas.
 
Contrariando a lógica mercantil, o preço da tinta é de tal ordem que, com o valor de um litro, pode-se comprar 50 impressoras para a qual ela é feita.
 
Para o gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Carlos Thadeu de Oliveira, disparidades de preços como esta são injustificáveis:
 
- A tecnologia que está na impressora é infinitamente maior que a do cartucho. Só que, sem ele, a impressora não vale nada. É uma prática no mercado que deve ser combatida.
 
A tinta de impressora não é o único exemplo de preço disparatado. As gotas de esmalte que caíram no gosto da brasileira também pesam no bolso. Os 8ml do frasco do Colorama efeito ultraverniz saem por R$ 8,39. O que pode passar despercebido é que pelo litro do produto, paga-se R$ 1.048,75. A consumidora poderia trocar de adereço e escolher um par de brincos de ouro branco 18 quilates com diamantes, da MyCollection H.Stern, por R$ 996.
 
Até mesmo o orégano, tempero habitual da pizza de fim de semana, ganha status de iguaria requintada a julgar pelo preço. O quilo do produto chega a R$ 305. Com a mesma quantia, o consumidor pode se deliciar com macarons da Boulangerie Guérin, onde o quilo da preciosidade sai a R$ 249 ou experimentar um menu fechado do restaurante do incensado chef Claude Troigros.
 
Mas os preços estratosféricos não se restringem a cosméticos ou comida. Na família das supercolas, também há surpresas. Pela Araldite Hobby Cola Epóxi 16g, paga-se R$ 22. Considerando o valor do quilo, a conta chega a R$ 1.375. O quilo da gelatina sem sabor, usada em dietas, vale dois dias de spa no Espaço Nirvana, na Gávea, para horas de massagens, aula de ioga, tratamentos corporais. Que tal?
 
Para aqueles que acham que a embalagem justifica a cifra alta, não é bem assim. Ela pode compor o preço, mas não é a causa dele, afirma o presidente da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), Mauricio Groke:
 
- Existem embalagens que precisam ser maiores que o produto porque dependem da condição de exposição e, às vezes, elas também ajudam a vender a mercadoria.
 
O Idec fez um levantamento no ano passado e constatou que nem sempre a embalagem menor é mais cara. Ela poderia ser uma opção mais econômica que as maiores para algumas marcas de café solúvel, produtos de limpeza e cereal para criança. Oliveira, do Idec, diz que é preciso fazer distinção entre as medidas. Ele não vê abuso no preço se o consumidor não ficar preso a uma marca e tiver mais opções. Se preferir comprar o produto a granel, o comprador paga menos por um quilo em lojas especializadas. Ele lembra, ainda, que a indústria tem investido em embalagens de todos os tamanhos para se adequar a diferentes perfis de consumo e que fica cada vez mais difícil comparar preços.
 
- Constatamos que os fabricantes têm muitas estratégias de mercado, e para alguns produtos há um mix de até dez embalagens diferentes. São estratégias de mercado que são lícitas, mas que dificultam a comparação de preços e pegam o consumidor desavisado - afirma Oliveira.
 
Rotulagem transparente
 
Fato é que as relações de consumo ainda carecem de transparência. Para tentar ajudar o consumidor na hora de comparar preços, diversos supermercados do Rio assinaram termo de cooperação, em 2009, em que se comprometem a estampar o valor por quilo, litro ou metro nas gôndolas. Para Maria Inês Dolci, da Proteste, o ideal seria ver o preço total na etiqueta do produto e substitui-los quando as cifras são abusivas:
 
- Temos que lutar por uma etiquetagem adequada, com o preço por litro ou quilo e o valor daquela embalagem. Isso é importantíssimo para comparar preços.
 
A HP argumenta que vende para consumidores páginas impressas e não somente tinta. Segundo a empresa, dentro da linha de produtos HP, há impressoras a jato de tinta que imprimem páginas a um custo de R$ 0,03. No caso de uma impressora de entrada, a linha Ink Advantage oferece cartuchos a partir de R$ 19,90.
A Brascola, responsável pela cola Araldite, diz que tem um produto diferenciado no mercado e que está alinhada ao posicionamento de preço global. E acrescenta que, na França, produto semelhante é comercializado a € 7. A Kitano prefere não comentar. A Colorama foi procurada e não se pronunciou. Outras empresas não responderam aos pedidos de entrevista ou não foram localizadas.
 
19 de janeiro de 2014
CLARICE SPITZ - O Globo