"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 6 de março de 2014

NO PAÍS QUE ANDA EM CÍRCULOS, A FARSA SE REPETE COMO FARSA


Karl Marx acreditava que a História se repete, a primeira vez  como tragédia, a segunda como farsa. Se tivesse conhecido o Brasil Maravilha, o bisavô dos stalinistas farofeiros aprenderia que, aqui, um período histórico frequentemente começa já como farsa e como farsa continua a ser encenada anos a fio diante da plateia que engole qualquer história. Essa brasileirice é o tema do post reproduzido na seção Vale Reprise.
A briga reapresentada a cada quatro anos pelo PT e pelo PMDB faz mais que comprovar que, nestes trêfegos trópicos, a farsa se repete como farsa. Também demonstra que o País do Carnaval anda em círculos. No caso do espetáculo protagonizado pelos parceiros da base alugada, parece girar sempre em torno do mesmo picadeiro.

06 de março de 2014
in Augusto Nunes

A AFIRMAÇÃO DE QUE RUI FALCÃO É UM VAGABUNDO NÃO PODE SER DESMENTIDA

 

Vagabundo: “Que não trabalha ou não gosta de trabalhar; vadio: aluno vagabundo.
Figurado. Que expressa inconstância; que se comporta de modo volúvel.
Que apresenta péssima qualidade; inferior.
Desprovido de honestidade; que se comporta de modo desonesto; malandro ou canalha.
Pessoa que vagueia; quem não possui ocupação e/ou objetivos; andarilho, malandro”.


Raramente um adjetivo foi tão bem empregado como o que o deputado Jorge Picciani, presidente do PMDB do Rio de Janeiro, brindou o companheiro Rui Falcão.

Pela amizade fraterna que os une há tempos, pelo conhecimento de causa do declarante, pelos projetos em comum e pela intimidade forçada pela convivência, custa a crer que Picciani esteja mentindo. Ele sabe de quem fala.

Os mensaleiros corruptos (mas não quadrilheiros) foram substituídos no comando do PT por um VAGABUNDO. A definição é de quem o conhece bem. Tanto que fez questão de lembrar que no Rio o PT sempre foi conhecido como “o partido da boquinha”. E se mostrou indignado porque Falcão ousou comparar os próceres do PMDB com a matilha do PT.
São diferentes. Buscam caças de porte diverso. Uns caçam animais de grande porte. Outros se alimentam de roedores. Ou de restos de comida.

Quem somos nós para discordar de parceiros tão afinados?
Se um diz que não pode levar em conta a posição político-ideológica de um partido, pois este está interessado em cargos, o outro replica que o líder da base alugada federal é um vagabundo interessado em boquinhas.

Ambos têm razão. Jamais faria a indelicadeza de desmenti-los. Sabem quem são. E sabe-se quem são.
Não deixa de ser irônico que a perfeita definição tenha como autor quem convive há pelo menos dez anos com Rui Falcão: um VAGABUNDO em busca de boquinhas.
Neste tipo de desencontro só nos resta o silêncio: em briga de malandro, o melhor a fazer é observar. De longe.

06 de março de 2014
REYNALDO ROCHA

DEMOCRACIA AO GOSTO

1 No campo político, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, continua jogando pelas regras democráticas que ele manipula 
2 A China caminha para uma meritocracia que fará com que os escolhidos para o Parlamento possam representar realmente a vontade do povo e não apenas os que têm influência para atrair votos 
3 A definição do socialismo com características chinesas engloba não apenas a economia de mercado, inclui também a democracia e o Estado de Direito, mas promovidos pelo Partido Comunista
A discussão sobre os problemas que a democracia vem enfrentando em diversas partes do mundo, que a revista inglesa "The Economist" analisa em sua mais recente edição, coloca em primeiro plano o conceito mesmo de democracia. A revista inglesa atribui a decadência da democracia, entre outros fatores, ao sucesso do capitalismo de Estado na China.

No campo político, por exemplo, o presidente da Rússia (e não primeiro-secretário, como escrevi ontem), Vladimir Putin, continua jogando pelas regras democráticas que ele manipula.

A revista inglesa, aliás, ironiza o fato de Putin ter sido nos últimos anos duas vezes primeiro-ministro e duas vezes presidente. Em entrevistas recentes e artigos, Putin deixa claro que os grandes conglomerados estatais serão os coordenadores da transição econômica para a alta tecnologia de que a Rússia precisa para competir globalmente.

À medida que na Rússia a classe média vem crescendo, as reivindicações aumentam, e as críticas à corrupção se difundem na sociedade. Mas o controle pelo governo do Parlamento e do sistema Judiciário, o que caracteriza um hiperpresidencialismo próximo de uma ditadura disfarçada devido ao controle ou intimidação dos meios de comunicação, da mesma maneira que ocorre na Venezuela, impede que a insatisfação crescente se transforme, pelo menos até o momento, em uma reação mais concreta para barrar a ascensão de Putin.

A China, por sua vez, tem apresentado em diversos fóruns internacionais, através de acadêmicos chineses e estrangeiros, uma visão de democracia bastante crítica, muitas vezes correta, e ideias bastante criticáveis sobre o que seria a democracia ao estilo chinês. A The Economist cita algumas delas, como a de Zhang Weiwei, da Universidade Fudan, que diz que a democracia destrói o Ocidente por institucionalizar o bloqueio das atividades congressuais, como tem ocorrido nos Estados Unidos, e permitir que líderes de segunda classe como George W. Bush cheguem à Presidência da República.

Já Yu Keping, da Universidade de Pequim, diz que a democracia dificulta decisões simples e dá margem a que políticos populistas, mas de boa lábia, enganem o povo.

Daniel A. Bell, canadense professor de Teoria Política da Universidade Tsinghua, e Yan Xueton, reitor do Instituto Internacional de Estudos da mesma universidade, discorreram em Davos no Fórum Econômico Mundial, e eu já escrevi aqui, sobre o confucionismo, que define que o governo deve servir ao povo e ter como prioridade a moralidade, e o legalismo, que prioriza a punição e o forte controle do país.

Bell considera que a China, ao buscar essa força moral de sua liderança, pode caminhar para a implantação de um sistema político que não será a democracia como nós a conhecemos no Ocidente, mas uma meritocracia que fará com que os escolhidos para o Parlamento possam representar realmente a vontade do povo e não apenas os que têm influência para atrair votos.

Dentro da mesma linha de raciocínio, o professor de Filosofia da East China Normal University (ECNU) Tong Shijun fez na recente reunião da Academia da Latinidade em Kuala Lumpur uma análise sobre a importância do soft power , uma terceira dimensão do poder, superando em certas ocasiões o econômico e o militar, para a expansão da cultura chinesa pelo mundo dentro do atual século chinês . Num mundo multipolar, esse poder suave nas relações com aliados, na assistência econômica e em intercâmbios culturais resultaria em uma opinião pública mais favorável e maior credibilidade externa.

Segundo Tong Shijun, a importância do soft power chegou ao Congresso do Comitê Central do Partido Comunista Chinês em 2007, e, no ano passado, o próprio presidente chinês, Xi Jinping, afirmou em um discurso que, para fortalecer o ´soft power´ do país, devemos fazer nosso melhor esforço para aperfeiçoar nossa capacidade na comunicação internacional .

A definição do socialismo com características chinesas engloba não apenas a economia de mercado, inclui também a democracia e o Estado de Direito, mas promovidos pelo Partido Comunista.
06 de março de 2014
Merval Pereira, O Globo

COMEÇO DE CONVERSA

 
 
BRASÍLIA - O primeiro ano da morte do presidente Hugo Chávez confirma que não há chavismo sem Chávez. O país, que já vivia uma crise política e econômica, agora está um verdadeiro caos.

A Venezuela não é a Ucrânia, principalmente porque não há duas potências em choque e trocando farpas em público, muito menos com risco de invasões e guerras. Nem por isso a crise venezuelana deixa de ser grave.

Suplantada pela Ucrânia, saiu da mídia norte-americana, mas não das preocupações do Departamento de Estado e, claro, mobiliza Dilma e os demais presidentes da região.

Líderes do Mercosul (Cone Sul), da Unasul (América do Sul) e da Celac (que inclui o Caribe), mais do que emitir notas a respeito, estão trocando intensos telefonemas e discutindo alternativas. A Venezuela em chamas significa incêndio na região num momento internacional delicado.

Com Chávez lá e Lula cá, o Brasil capitaneou uma comissão externa para ajudar o país a deslizar do impasse para algum nível de normalidade. Agora não poderia ser diferente, mas o chanceler Elías Jaua já deu um chega pra lá ao dizer que o país não precisa de mediação externa para problemas internos.

Não pode ser para valer. O próprio presidente Nicolás Maduro tenta minar e reduzir a base oposicionista e já estendeu a mão para setores antes rechaçados pelo chavismo. A ajuda de aliados só ajudaria.

Uma mediação entre Caracas e Washington, aliás, também deveria ser bem-vinda. Apesar de os EUA terem reduzido bastante a importação de petróleo venezuelano em 2013, o país de Chávez e Maduro é um dos maiores produtores mundiais, o Oriente Médio não é confiável e o produto continua sendo essencial.

Um bom momento para colocar tudo isso sobre a mesa será na semana que vem, coincidindo com a posse de Michelle Bachelet, que está de volta à presidência do Chile. Mas só se Maduro autorizar e Chávez abençoar. Com esses dois, nunca se sabe.
 
06 de março de 2014
Eliane Cantanhêde, Folha de SP

OS CUPINS DA DEMOCRACIA

A ação dos cupins é lenta, persistente, eficaz e de difícil enfrentamento, sem que se saiba ao certo quando ela alcança um estágio de letalidade, a despeito de algumas evidências. A democracia brasileira, a "plantinha tenra" no dizer de Octávio Mangabeira (1886-1960), está sujeita a "cupins" que podem minar a festejada estabilidade institucional, condição indispensável à construção do desenvolvimento. O mais letal desses cupins é a violência disseminada contra as pessoas e contra a propriedade.

A violência pode ser admitida, ainda assim sujeita a regramentos, em situações extremas, como a guerra, a insurgência contra a ruptura do Estado Democrático de Direito ou a ação legítima do Estado justamente para deter a própria violência.

O acelerado processo migratório interno para as médias e grandes cidades, a partir dos anos 1960, produziu grandes bolsões de pobreza no entorno das maiores cidades, correspondendo a verdadeiras zonas de exclusão social, sem lei e sem Estado. Assim, as cidades brasileiras, relativamente seguras no passado, foram, nas últimas décadas, se convertendo em territórios do crime, desde os de baixo poder ofensivo, como as pichações, até a banalização dos assaltos, os sequestros, os arrastões, as explosões de caixas eletrônicos, as agressões de fundo homofóbico ou racista, etc. Os ricos tentam se proteger com seguranças armados, carros blindados e condomínios que mais parecem fortalezas. Já os pobres, porque indefesos, se tornam, não raro, reféns da marginalidade.

A tudo isso se soma a violência contra a propriedade. Movimentos políticos que se autoqualificam como sociais, na busca bem-sucedida por financiamento público, sentem-se investidos no direito de invadir propriedades privadas e edifícios públicos. As desocupações, determinadas pela Justiça, não geram qualquer ônus para os invasores. A destruição de pastagens, silos, laboratórios, etc., serviu como prenúncio da funesta ação dos black blocs.

Esses fenômenos, em tese isolados, compõem a matriz da violência no Brasil, que admite várias causas, como a incapacidade de o Estado lidar com o fenômeno da urbanização maciça e acelerada, a ineficácia no enfrentamento da violência e a condescendência perniciosa com as transgressões à lei. Se a primeira dessas causas pode ser cuidada com políticas públicas, as outras têm soluções complexas, difíceis e controversas.

A ineficácia no enfrentamento da violência começa pelas disfunções de um aparelho policial sem motivação, vulnerável à corrupção, despreparado e sujeito a inadmissíveis greves. Prossegue com um Judiciário moroso e excessivamente formalista, do que resulta uma clara sensação de impunidade. Culmina com a prisão em masmorras ofensivas à dignidade humana, verdadeiras escolas do crime.

A tolerância é a generosidade civilizatória. Tem, entretanto, limites (est modus in rebus, já dizia Horácio). Quando ela se torna excessiva, converte-se em condescendência perniciosa.

É admirável a preocupação com os jovens. A atenção ao menor infrator, contudo, é deplorável, limitando-se apenas a um discurso politicamente correto. As casas de reeducação são apenas sucursais das masmorras. A consequência disso é o crescente envolvimento de menores em práticas criminosas.

As pretensões de liberalizar as ditas drogas "leves" decorrem de teses ingênuas. Será que ficaria mais fácil enfrentar os traficantes se sua atividade ficasse restrita às drogas "pesadas"? Os que hoje traficam drogas "leves" iriam se inscrever num programa de reinserção profissional? Não há uma política pública voltada para os adictos, tanto quanto inexiste para a saúde mental. Algumas iniciativas, nessa área, são impressionantemente caricatas.

As manifestações públicas são o oxigênio da democracia, mas não podem ser abusivas. Não devem tolher o direito de ir e vir dos demais cidadãos. De igual forma, são inadmissíveis o vandalismo e as agressões a terceiros.

Urge cuidar da violência em suas diferentes vertentes, porque ela afinal é a negação da liberdade.

OS TRIBUTOS NOS TRIBUNAIS

O sistema tributário brasileiro é o pior do mundo, segundo a pesquisa ‘Fazendo Negócios’, do Banco Mundial

Há 14 anos, uma companhia de leasing de São Bernardo do Campo (SP) financiou um carro vendido por uma concessionária em Tubarão (SC). Recolheu o Imposto sobre Serviços (ISS, tributo municipal) na cidade em que estava sediada. A prefeitura de Tubarão, porém, argumentou que o ISS era devido na cidade em que o veículo fora vendido ou registrado. E mandou ver uma autuação de R$ 6 mil.

A companhia de leasing foi para os tribunais e, surpresa, acaba de ganhar o caso, neste ano. O Superior Tribunal de Justiça confirmou a tese de que o ISS deve ser recolhido na sede da empresa de leasing e, mais, determinou que a prefeitura devolva os valores cobrados indevidamente, assim como os depósitos judiciais já sacados.

A prefeitura de Tubarão disse que simplesmente não tem dinheiro para devolver nada. Seriam cerca de R$ 30 milhões. Não, aqueles R$ 6 mil não sofreram essa multiplicação. Ocorre que a prefeitura cobrou de todas as demais companhias de leasing que faziam negócios na cidade — e todas foram beneficiadas pela última decisão da Justiça. Na verdade, são milhares de casos espalhados pelo país, pois, como era de se esperar, outras prefeituras embarcaram na mesma prática. Em resumo, é possível que todas as companhias de arrendamento mercantil tenham sido cobradas e/ou autuadas — o que obviamente encareceu a operação de crédito.

Todas também adquiriram direito à devolução. Sem condição, argumentam as prefeituras. Essas empresas vão ter que entrar na fila do precatório — esse mesmo que todos os governos (federal, estaduais e municipais) passam o tempo todo tentando não pagar. Como o precatório é um pagamento que a Justiça impõe aos governos, reconhecendo o crédito das pessoas e empresas contra o setor público, não pagá-lo é um duplo calote — que ainda vai gerar um precatório do precatório.

Se apenas a prefeitura de Tubarão tem que devolver R$ 30 milhões, imaginem o tamanho da conta nacional.

A boa prática administrativa indicaria que a prefeitura não deveria gastar o dinheiro de um imposto que estava sendo contestado na Justiça. Mas a coisa foi pior: muitas prefeituras, como a de Tubarão, conseguiram nos tribunais o direito de sacar e gastar os depósitos judiciais, dinheiro que o contribuinte precisa deixar depositado para tocar a ação judicial.

Simplesmente, as prefeituras conseguiram o direito de torrar a garantia. E, agora, dizem que não é possível devolver.

Quer dizer, esses contribuintes levaram 14 anos para demonstrar que não precisavam pagar aquele ISS e vão levar muito mais para receber o que pagaram indevidamente, se é que vão receber. Lembram-se daquele debate — em torno do julgamento do mensalão — sobre a quantidade de recursos? Pois é a mesma coisa nessas pendências tributárias.

Todo dia está rolando um caso desses. Só de uma olhada nos jornais da semana: o Supremo Tribunal Federal está julgando, desde 2009, se os governos estaduais podem cobrar o ICMS sobre contratos de leasing de mercadorias importadas. Repararam? Todos querendo tirar casquinha do leasing.

O mesmo STF está julgando se a prefeitura do Rio pode cobrar ISS sobre as apostas feitas no Jockey Club Brasileiro (se decidir que pode, prefeituras de todo o país vão cobrar o ISS até de rifa de igreja).

O sistema tributário brasileiro é o pior do mundo, segundo a pesquisa “Fazendo Negócios”, do Banco Mundial. Não se trata da carga tributária, que é muito elevada para um país emergente. Trata-se, naquela pesquisa, do custo que as empresas têm para se manter em dia com suas obrigações fiscais. Calcula-se que uma empresa média brasileira gasta 2.600 horas/ano nisso.

É tão complexo o sistema que tudo acaba sendo discutido. Empresas têm espaço para tentar planejar e pagar menos, mas as receitas e procuradorias fiscais têm mais ainda para cobrar. Cobradas na Justiça, as empresas ficam diante de dois pesadelos: o tributário e a disputa nos tribunais. Segundo a mesma pesquisa, o Judiciário brasileiro também está entre os mais custosos do mundo.

No fim do ano passado, o governo federal arrecadou um bom dinheiro ao dar uma anistia parcial a grandes companhias, incluindo multinacionais brasileiras, que estavam sendo cobradas por impostos de renda e outros. Se desistissem das ações e pagassem um tanto à vista, o caso estava encerrado. Muitas companhias, como a Vale, que sustentavam suas teses há anos, simplesmente desistiram.

Pagaram para ficar só com um pesadelo, pelo menos por um tempo.

A ARITMÉTICA DO CRESCIMENTO

Os economistas podem não ser muito bons para projetar variáveis econômicas mas são hábeis na arte de simplificar o complexo mundo econômico e reescrevê-lo em algumas equações simples. Vejamos o caso do crescimento dos países. O processo costuma ser descrito por uma função de produção simples, onde o PIB (Y) depende de dois fatores, trabalho (L) e capital (K). O crescimento do PIB resulta do crescimento do estoque de capital e da quantidade de trabalho, em geral medida pela população ocupada. Ocorre que a soma ponderada do crescimento dessas duas variáveis costuma ser menor do que o crescimento do PIB. A diferença é explicada por um termo (A) que é chamado de produtividade total dos fatores. Esse termo é achado por diferença na equação, ou seja, é a diferença entre o crescimento do PIB e o crescimento dos fatores de produção, ponderado pelo peso de cada um na equação. Em geral, esse termo (A) é positivo e, nos países de crescimento rápido como a China, é altamente significativo e chega a explicar quase 50% do crescimento do PIB.

O termo (A) da função de produção não é usado apenas para se fazer uma conta de chegada. Ele é facilmente compreensível em termos intuitivos, pois representa as instituições, a qualidade da mão de obra (educação), o ambiente de negócios, a maior ou menor burocracia, a qualidade da infraestrutura, a inovação científica e tecnológica, enfim, coisas que não são capturadas diretamente pelo estoque de fatores de produção (capital e trabalho), mas que fazem muita diferença no desempenho de uma economia.

Quem já teve oportunidade de viajar para o exterior, seja para países desenvolvidos, como EUA, Europa e Japão, ou para países emergentes da Ásia, já deve ter notado a brutal diferença de infraestrutura entre esses países e o Brasil. Logo na chegada, percebe-se a diferença na dimensão e eficiência dos aeroportos. Em seguida, tem-se à disposição uma variedade de modais de transporte cuja integração acelera o deslocamento das pessoas e cargas a um custo mais baixo. O viajante se surpreende ainda com os processos mais eficientes no setor de serviços, como uma simples refeição, aluguel de veículo ou serviço de hospedagem, em que um número menor de pessoas consegue atender de forma mais rápida e eficiente as demandas. As comparações vão além para quem é empresário e se estabelece nesses países. A burocracia para abrir ou fechar uma empresa é menor, os impostos são bem mais simplificados, os serviços de apoio e fornecedores em geral são mais eficientes, o que resulta em maior produção com a mesma quantidade de trabalho e capital empregados. É isso que o termo (A) da equação representa.

Segundo o artigo "Crescimento Brasileiro Revisitado", de Edmar Bacha e Regis Bonelli, publicado em 2012, entre 2000 e 2010, o crescimento do PIB brasileiro foi de 3,7% ao ano, sendo a contribuição do fator trabalho de 1,3% e a contribuição do capital de 1,2%. Desse modo, a soma ponderada dos fatores de produção é de 2,5% e a sua diferença para o crescimento total do PIB é de 1,2%, o que é a produtividade total dos fatores (PTF). Na China, segundo um estudo do Morgan Stanley ("Asia Insight: Assessing China's current slowdown and long term potential growth", de 2012), no mesmo período, a contribuição do crescimento da força de trabalho foi de 0,8% ao ano, a contribuição do crescimento do estoque de capital de 4,6% ao ano e a PTF de 5,0%, explicando quase a metade do ritmo total de crescimento do período (10,4% ao ano). Ou seja, a produtividade na China cresceu quatro vezes mais do que no Brasil em uma década.

Se olharmos o que aconteceu em países como a Inglaterra, EUA, Japão ou Coreia do Sul, nos seus respectivos ciclos de crescimento acelerado, veremos que o mesmo fenômeno aconteceu. A conclusão é que não existe crescimento acelerado sem aumento substancial da produtividade. Isso se consegue com educação e treinamento da força de trabalho, melhoria do ambiente de negócios, simplificação da burocracia, redução de impostos e investimentos em infraestrutura. O Banco Mundial tem uma publicação chamada "Doing Business", em que há uma classificação dos países em quesitos que avaliam a facilidade de se fazer negócios em cada um. O Brasil figura em 116º lugar entre 189 países. Países em desenvolvimento como África do Sul (41º), Peru (42º), México (53º) e Turquia (69º) aparecem em posições bem melhores enquanto países da Ásia se destacam nos primeiros lugares: Cingapura (1º), Hong Kong (2º) e Coreia do Sul (7º). Melhorar a posição nessa lista deveria ser o objetivo número 1 de um governante brasileiro.

Por fim, é importante acrescentar que o Brasil não é mais um país de mão de obra abundante. Passamos por uma importante transformação demográfica, com queda substancial da natalidade. A população brasileira em idade ativa cresce atualmente a uma taxa que se aproxima de 1% ao ano. Por outro lado, o desemprego teve uma redução substancial ao longo dos últimos dez anos, o que garantiu um crescimento da população ocupada bem acima do crescimento da população em idade ativa. Isso não deve acontecer mais. Deste modo, a contribuição do fator trabalho para o crescimento do PIB tende a decrescer bem, do 1,3% ao ano apurado por Bacha e Bonelli (2012) para algo próximo de 0,5% ao ano. É urgente, portanto, a agenda do aumento da produtividade para se avançar mais rapidamente.

GOVERNO FEDERAL AMEAÇA AUMENTAR IMPOSTOS


1) De forma conveniente para o governo, o superávit primário concentra a atenção da mídia, que com ele repetidamente transmite à sociedade a falsa noção de que o governo é superavitário;
2) às vezes, o próprio noticiário até omite o adjetivo primário ao referir-se ao mesmo superávit;
3) desde que o conceito de superávit primário foi adotado, na gestão Fernando Henrique Cardoso, predomina na história de sua obtenção o aumento da carga tributária, e não a contenção de despesas, sendo assim um completo absurdo chamá-lo de "economia ou poupança" que o governo faz, o que é muito distante de seu hábito essencialmente gastador e arrecadador;
4) se concretizada a citada ameaça de novo aumento de impostos, sem compensá-lo com uma redução tributária, novamente o mesmo processo se repetirá;
5) o superávit primário deixa em segundo plano a avaliação do que é mais importante, o déficit fiscal, nominal ou final;
6) que, aliás, deve estar até aumentando com o crescimento da dívida bruta e da taxa de juros fixada pelo Banco Central.
 
06 de março de 2014
Roberto Macedo, O Estado de S. Paulo

CABEÇAS ILUMINADAS

Como é difícil concentrar no importante, pensar com clareza, evitar as banalidades e as chatices. Idade agrava o problema. Faço exercícios para pensar e reagir mais depressa, reforçar a memória, resolver problemas e associar ideias.

Funcionam, garantem os sábios da Universidade Stanford, um ninho de gênios em Palo Alto, na Califórnia. Lá, um grupo de professores criou este programa de exercícios chamado "lumosity".

A sacada é simples. No site Lumosity, há dezenas de exercícios provocantes, bonitos, engraçados e chatos, que medem com números exatos as forças e fraquezas da sua cabeça, progressos, regressos, e compara você com milhares de "lumositários".

Parece científico, simples, claro e preciso, mas tenho minhas dúvidas. Fiz progresso no números, mas todos os dias pergunto "como é mesmo o nome daquele cara"? E daquele filme? Daquele livro? E o pânico de não reconhecer a pessoa que te abraça, beija e convida para jantar?

Nas comparações com pessoas da minha idade, minha péssima memória é melhor do que a de 95% dos praticantes de "lumosity". Quando comparo com a turma de 20, 30 anos, caio para 65%. Números assombrosos.

Quando entrei no jogo, há pouco mais de um ano, "lumosity" era pouco conhecido. Agora brilha na internet. Há estudos pró e contra os efeitos dos exercícios, como há estudos que comprovam e desmentem que é possível exercitar a mente depois de certa idade.

Um outro gênio de Palo Alto, Michio Kaku, começou pela física. No curso secundário, montou na garagem dos pais um poderoso acelerador de partículas para gerar raios gama. Queria criar a antimatéria. Pouco depois, foi descoberto e recomendado por Edward Teller, pai da bomba de hidrogênio.

Michio se formou em primeiro lugar na turma de Física em Harvard, fez doutorado de Berkeley, escreveu livros, apresentou programas de televisão na BBC, tem mais de 70 artigos publicados, enfim, fez, faz e acontece. Mais: é um gênio para simplificar ciência para idiotas, como eu.

Ele é um homem da física quântica em busca da menor partícula do universo, um dos criadores da teoria das cordas. São filamentos parecidos com os da lâmpada incandescente, milhões - ou bilhões? - de vezes menores do que um átomo.

Ou, como ele explica: as partículas ou filamentos são como as notas musicais numa corda vibrante, a física é a harmonia destas cordas, a química é a melodia, o universo é uma sinfonia de cordas e a cabeça de Deus que Einstein tentou decifrar é a musica cósmica que ressona no espaço.

Sacou?

Se tem alguma dúvida, leia o livro dele, recém-lançado, The Future of the Mind, em que Michio Kaku nos conta que o cérebro é o maior mistério do universo e que, nos últimos dez, quinze anos, aprendemos mais sobre ele do que em toda a história. São capítulos com informações vibrantes, das mais metafísicas a aplicações práticas para nossas nossas doenças mentais - da memória fraca ao Alzheimer.

Com US$ 1 bilhão americano, outro bilhão europeu e milhões asiáticos, o cérebro está sendo mapeado, como foi feito com o genoma, mas é muitíssimo mais complicado.

O genoma tem mais ou menos 23 mil genes. O cérebro tem 100 bilhões de neurônios, cada um ligado a outros dez milhões.

Esquizofrenia, epilepsia e Asperger, são conexões defeituosas. O plano é limpar o cérebro de óleos e outras matérias e ter uma visão transparente da fiação com seus filamentos vibrantes e, aí sim, poderemos ver/ouvir a divina música cósmica.

Já é possível fazer um download do cérebro de um rato e a ressonância magnética de um cérebro humano durante um sonho. Num futuro não muito distante, daqui a uma ou duas décadas, vai ser possível fazer umdownload de todas as informações acumuladas num cérebro fragilizado ou ameaçado por doenças e reinseri-las para quando a memória começar a falhar.

Ou, mais assombroso, fazer um download de tudo o que está no nosso cérebro, inclusive voz, uma forma de vida eterna.

Quem está interessado no meu? Não tenho nenhum interesse de pegar o bonde da eternidade.

Meu sonho é um deletador de inutilidades e chatices e um download para achar os óculos e o chaveiro.


06 de março de 2014
Lucas Mendes, BBC Brasil

Prontuário eletrônico organiza e disponibiliza informação de forma ágil e eficiente. Decidi que não o usaria em meu consultório há anos. Um colega informatizou o consultório. É competente em sua área, temos vários pacientes em comum.
Quando ele foi um dos primeiros a usar prontuário eletrônico, achei que deveria fazer o mesmo. Logo porém, um paciente que atendíamos contou que a consulta com o colega havia mudado: “…ele quase não me olhou, só olhava a tela e digitava no computador…” Essa observação gerou a dúvida. Aos poucos firmei a ideia de não usar computador nos atendimentos.
 
Este instrumento entrou em nossa vida e trabalho. Em muitas ocasiões o utilizo para buscar informação, mesmo durante atendimentos. Mas não mudei, o foco da consulta é e tem que ser na pessoa. Se algo puder interferir na atenção, temos que evitar. Há quem utiliza prontuário eletrônico sem desviar o foco. Este não tem que mudar.

Há dias uma senhora sentiu-se tonta ao levantar, caiu, bateu a cabeça. Buscou atendimento no único hospital da cidade onde estava. Foi colocada no protocolo de infarto do miocárdio, embora faltassem muitos elementos para pensar em infarto. Após horas repetindo exames, já cansada e sentindo-se bem, retirou-se sob o protesto da equipe técnica, pois pelo protocolo faltava mais uma bateria de exames. Protocolos e computadores mal utilizados não ajudam, podem atrapalhar.

Atendimento médico é único e individual, não há dois iguais, cada pessoa é única, cada caso é peculiar. O encontro da pessoa com o médico não se repete nem padroniza. Se o foco for o meio (o registro) ao invés da finalidade (o atendimento), perde-se qualidade.

Pacientes perguntam por vezes se não vou aderir ao prontuário eletrônico. Conto-lhes a história do colega que deixou de olhar para os pacientes, e invariavelmente ouço situações vividas por eles que confirmam o desvio do foco. Isso acho inaceitável. O foco do médico continua e não pode deixar de ser na pessoa.

QUANTO VALE UMA OBRA DE ARTE?

Você acharia certo colocar vidas humanas em perigo para salvar tesouros culturais e artísticos?

Um jornalista perguntou a Marcel Duchamp: se você estivesse no museu do Louvre no meio de um incêndio e pudesse salvar só um quadro, qual obra você salvaria?

Duchamp tinha a (merecida) reputação de ser um provocador, e o jornalista talvez esperasse levá-lo a confessar algum amor envergonhado por uma obra clássica. Mas Duchamp respondeu à altura de sua reputação; ele disse, sem hesitar: "Salvaria o quadro que está mais próximo da saída".

Era também um jeito de dizer que nenhuma obra, para ele, justificaria que alguém se expusesse ao risco de perder a vida. Não é surpreendente, vindo de um artista que passou a segunda e maior parte de sua existência sem produzir obra alguma e tentando transformar sua própria vida numa obra de arte.

De qualquer forma, será que eu, se estivesse num hipotético incêndio, tentaria salvar um Duchamp? Pensei em duas obras que talvez valessem o esforço, "O Grande Vidro" e o "Nu Descendo a Escada". O "Nu", de 1912, é um quadro cubista, e eu não sou muito fã do cubismo (se fosse um Cézanne pré-cubista, já seria outra história).

"O Grande Vidro" tem o problema de ser, justamente, grande e de vidro --péssimo para transporte apressado em caso de incêndio. Os quadros que Duchamp pintou antes de 1912 são respeitáveis, mas só isso. E, quanto aos "ready-mades" (a roda de bicicleta, o urinol etc., que ele genialmente assinou e transformou em arte), o que importa é o ato, o conceito. Será que vou arriscar a vida por um urinol industrial, só porque ele foi assinado por Duchamp? Mesmo se o urinol fosse destruído, o ato de Duchamp não seria perdido; bastaria que alguém o relatasse e o interpretasse direito.

Nessa perspectiva, obras de arte conceitual ou de arte póvera, por exemplo, não valeriam o sacrifício de ninguém, nunca. Mas melhor não generalizar. (Nota. A pergunta é muito útil como quiz na hora de selecionar um casal: você encararia o incêndio para um Jackson Pollock? E para um Carpaccio?)

O filme "Caçadores de Obras-Primas", de George Clooney, é baseado em três livros de Robert M. Edsel, "Caçadores de Obras-Primas, Salvando a Arte Ocidental da Pilhagem Nazista" (Rocco) e também "Saving Italy" e "Rescuing Da Vinci" (com uma copiosa documentação fotográfica).

Edsel conta a história dos "Monuments Men", mais de 300 homens e mulheres de diferentes países que, durante a Segunda Guerra Mundial, no teatro de operações europeu, foram encarregados de salvar o patrimônio cultural da destruição e do saque. Eram diretores de museus, curadores, historiadores da arte etc.

A questão levantada pelo filme de Clooney não sai facilmente da cabeça: faz sentido colocar vidas humanas em perigo para salvar obras-primas?

Engraçado. Em geral, achamos aceitável morrer por dinheiro (muitos topariam correr riscos extremos numa grande caça ao tesouro). Também entendemos que alguém se sacrifique pelos princípios fundamentais nos quais ele acredita. E consideramos meritório morrer para salvar outras vidas. Mas para salvar uma obra de arte?

O filme de Clooney, que apresenta um verdadeiro dilema moral, responde mais ou menos assim: as obras de arte do passado (longínquo ou não) nos representam e nos definem. Sobreviver não é suficiente, é preciso preservar o patrimônio que nos lembra quem somos.

Concordo, mas a questão é complexa. As grandes obras do nosso passado, o políptico dos Van Eyck em Ghent ou a madona de Michelangelo em Bruges, são patrimônio de nossa cultura. Ora, somos todos filhos dessa mesma cultura, tanto nós, que nos identificamos com a cavalaria dos aliados, quanto os outros, que tentaram destinar a Europa à barbárie totalitária.

Os Van Eyck e Michelangelo são, em suma, antepassados de todos, de quem inventou os campos e de quem morreu neles: as obras são o passado de nossa civilização --e nossa civilização inclui nossa barbárie.

Outra complexidade vem do fato de que a ideia do valor insubstituível de cada vida humana é um achado recente. Até 200 anos atrás, havia pletora de coisas que pareciam valer mais do que a vida: a honra, a palavra dada, a fé... Por que não uma obra de arte?

Antes de negar com indignação, um teste. Você acha intolerável a troca de uma obra pela vida de um homem? Entendo. Mas imagine o pacto mágico seguinte: você poderia salvar da destruição "O Beijo", de Klimt, à condição de desejar que o pastor Feliciano contraia uma pneumonia grave. Sem hipocrisia, ok?

O SOL NEGRO DA MELANCOLIA

‘A calma dos dias’, livro de Rodrigo Naves, mistura ensaios sobre a cena contemporânea — reality shows, Gisele Bündchen, Michael Jackson — com pequenas ficções, perfis e obituários de artistas e amigos, análises de obras e indagações filosóficas

Rodrigo Naves, ficcionista e crítico de artes plásticas, se perdeu ao andar de carro pela cidade de Santos. Buscou placas que o orientassem na barulhenta algaravia de seres, coisas e fumaça. Topou com uma que dizia: Lar das Moças Cegas. “Um retiro de paz e silêncio pousou sobre a tarde agitada”, escreveu ele a respeito da visão. As palavras obsoletas, o mundo de noite e calma ao qual a placa remetia, o tiraram de súbito do presente da cidade vibrante e confusa. Lares não há mais. Moças tampouco. E os cegos tornaram-se há tempos deficientes visuais.

O Lar das Moças Cegas não lhe inspirou pena. Imaginou que moravam ali jovens operosas. Elas recolheriam apostas na lotérica à direita da fachada. Organizariam as terapias ocupacionais anunciadas numa faixa de pano. Empenhadas no bem-estar de seus semelhantes, as ceguinhas viviam do seu trabalho. Nas horas de folga talvez conversassem, costurassem, ouvissem música. “Com a delicadeza de quem precisou aguçar os sentidos, cuidavam para não invadir territórios alheios”, prossegue Naves em “A calma dos dias”, que a Companhia dos Livros acaba de publicar.

O Lar existe, e a descrição no livro lhe é fiel. Quanto ao que se passa com as moças, é tudo imaginação de Naves, “devaneios, momentos em que a continuidade dos dias e dos hábitos se interrompe”. Perdidaço no presente nacional, Naves capta poesia densa, ainda que numa vírgula do cotidiano; deixa-se encantar pelas evocações; imagina dignidade num mundo obscuro. Não é pouco.

E é só o começo. As moças cegas o ajudam a pensar dimensões incômodas da vida contemporânea. O Lar delas é contraposto à transparência da Casa dos Artistas, do Big Brother Brasil e de tantas residências “que fazem a delícia do público televisivo mundial”. Nessas casas, nota o escritor, como tudo é devassado, os seus moradores são reduzidos a corpos, a bíceps e glúteos. E o que os corpos fazem o tempo todo é se tatearem, diminuir a distância que os separa. O excesso de tato com que as santistas anônimas compensam a cegueira corresponde ao tato excessivo dos devassados nos BBB.

Naves desdenha a explicação corriqueira para as intimidades hiperexpostas: busca de erotismo e índices de audiência. Nas casas de boneca da TV o mundo se torna doméstico e apreensível, ele diz, e quanto mais complexa a vida contemporânea, mais agradáveis se tornam as explicações caseiras. O fenômeno não se restringe à indústria cultural. Ele começou na cultura dita superior. A arquitetura pós-moderna recuperou a fachada, transformando edifícios em casinhas. As instalações imperam nas artes plásticas, e a maior parte delas não passa de ninhos. O romance, arte que buscava a vida social, foi atropelado por biografias que trombeteiam a intimidade de indivíduos tidos por excepcionais. A alta costura é vista como grande arte, o que domestica a criação artística para torná-la ponta de lança da indústria da moda.

“A calma dos dias” mistura ensaios sobre a cena contemporânea — reality shows, Gisele Bündchen, Michael Jackson — com pequenas ficções, perfis e obituários de artistas e amigos, análises de obras e indagações filosóficas. Nuns textos sobressai o ensaísta de “A forma difícil”, livro que consolidou a sua reputação de grande crítico. Noutros, brilha o ficcionista de “O filantropo”, um escafandrista das fissuras do cotidiano.

Em “A calma dos dias”, o crítico e o ficcionista estão banhados pelo sol negro da melancolia. As artes plásticas sucumbem ao mercado e ao dinheiro, quando não à teorização que oblitera obras e homens. A arte se torna tão rarefeita que o crítico perde o objeto, deixa de ter o que analisar. Já a vida passa cada vez mais rápido. Os achaques se sucedem. O álcool, as drogas, o estudo, o sexo, a amizade, a política, talvez até mesmo o amor, deixam de ter aquele gosto.

O mundo objetivo e a existência subjetiva, como se sabe, se confundem. Difícil é saber quando falta vento social para mover o moinho da arte. Ou então se não há mais obras e indivíduos que captem a mudança de vento. A metáfora do vento e do moinho é de Van Gogh, e serviu de título para o livro anterior de Naves. Em “A calma dos dias”, ela reaparece: “temo ser hoje quase inaudível o rumor que moveu tantos engenhos”. Continua a faltar algo, mas é preciso fazer alo, nem que seja arrumar a mesa.

“Há horas de lutar e horas de se entregar”, dizia Mira Schendel aos amigos pouco antes de morrer. “Ouvi várias vezes essa frase no último mês, e confesso que sem a menor cumplicidade e, talvez, sem a menor compreensão do sentido da decisão de Mira”, relata Naves no livro. O seu livro, obra de um inconformista conformado, é sobre isso: luta e entrega na calma dos dias de moinhos imóveis.

 
06 de março de 2014
Mario Sérgio Conti, O Globo

O HUMOR DO DUKE


Charge O Tempo 06/03
 
 
06 de março de 2014


QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
 
06 de março de 2014


O BRASIL É ADMIRADO POR SER DIFERENTE

 


Não existe uma lei geral que obrigue as pessoas a serem tão estúpidas, a ponto de acreditarem que no Brasil nada presta.

Assim como Pitágoras contestou a astrologia simplesmente demonstrando que gêmeos não possuem o mesmo destino, dá para contestar agora a tendência pessimista dos que são treinados como uma foca a sugerirem sempre que o Brasil deveria copiar o modo de ser de outros países que eles consideram muito desenvolvidos. O Brasil é admirado exatamente por ser diferente.

Mentira e verdade são características de todos os mamíferos humanos, nada tendo a ver somente com os brasileiros. Nem o chamado Filho do Homem conseguia ser coerente, pois combatia os que acumulavam tesouros na terra, mas falava em mansões celestiais para os que acumulassem tesouros no céu.

Não discordo totalmente do texto publicado aqui no blog sobre mentiras e verdades. A própria verdade pode ser grosseira, como sugere aquele ditado: “Vou te falar umas verdades!”

Mas nem mesmo William Ockham, aquele filósofo franciscano medieval, seguidor de outro franciscano que dizia que falava com os pássaros, conseguia ser idêntico a este último e, aparentemente, não acreditava nessa história. Discordou tanto que foi chamado de herege pelo próprio papa em 1324. Mas teve a coragem de declarar que o papa é que era herege.

Muito difícil distinguir a verdade da mentira. Não concordo que o nosso Brasil seja pior do que outras nações, mesmo as mais desenvolvidas. É apenas diferente.

06 de março de 2014
Paulo Solon

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Creio que a questão de um pais ser melhor ou pior que outro, quanto ao seu desenvolvimento,
não expressa realmente as possíveis diferenças existentes. O que realmente faz a diferença entre países não é o seu povo, ou a sua economia, mas os governos que os dirigem.
Esta é a verdadeira raiz das diferenças. Políticas sérias, valores éticos, respeito a cidadania e aos direitos humanos desenham as qualidades que separam um país de outro, na escala de ser melhor ou pior.
m.americo

 

EM BUSCA DA CPI DA PETROBRAS

Deputado oposicionista defende reforço na busca de assinaturas para criação da CPI da Petrobras

petrobras_06Banco dos réus – Líder do PPS na Câmara dos Deputados, federal Rubens Bueno (PR) reforçou, na terça-feira (4), a necessidade da imediata criação da CPMI da Petrobras, no Congresso Nacional.

A declaração foi feita após auditoria da própria petroleira detectar irregularidades em contrato milionário firmado com a empresa Odebrecht.

O parlamentar afirmou que o país exige respostas sobre as inúmeras suspeitas que cercam a Petrobrás e que o parlamento brasileiro tem o dever de investigá-las.

Rubens Bueno classificou o resultado da auditoria como “mais um escândalo” da petroleira brasileira. As suspeitas, reveladas em 2010 pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, indicavam que um contrato no valor de U$ 825,6 milhões teria sido fechado entre ambas as empresas para a prestação de serviços na área de segurança e meio ambiente em dez países. Contudo, grande parte dos 8.800 itens do documento apresentava indícios de irregularidade.

“Cada dia que passa a CPI da Petrobrás do Congresso se mostra mais necessária. Temos agora a própria petroleira admitindo que houve superfaturamento de contrato com a Odebrecht. Além disso, investimentos mal feitos com prejuízos incalculáveis para o país. Pagamento de propina na Holanda, suspeitas de corrupção de toda ordem. Isso mostra o respeito que esse governo tem por uma empresa que tanto deveria orgulhar a nação. Não podemos permitir que esse descalabro continue”, afirmou.

O parlamentar defendeu reforço na busca de assinaturas para a instalação da CPMI. Bueno acredita que a insatisfação da sociedade com a administração da Petrobrás será refletida no parlamento brasileiro e que a criação da comissão será inevitável. “Nós do PPS vamos reforçar a busca de assinaturas para a criação da comissão. Não se trata de oposição ou base. A situação da Petrobrás está insustentável. Nos últimos anos temos acompanhado a petroleira se definhando por uma gestão duvidosa. Precisamos de respostas”, disse.

06 de março de 2014
ucho.info

MAIS MÉDICOS: PSDB RECORRERÁ À ONU E À OIT, QUER OUVIR OPAS E EXIGE EXPLICAÇÕES DO GOVERNO

 

medico_cubano_01Pano para a manga – Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA), anunciou mais uma série de ações sobre o programa “Mais Médicos” em virtude das informações reveladas pela imprensa de que o modelo de contratação dos médicos de Cuba não é igual ao adotado por outros países, como afirma o Ministério da Saúde, e também pela falta de transparência sobre as condições de admissão dos profissionais cubanos.

Imbassahy anunciou que apresentará pedido junto à OIT (Organização Internacional do Trabalho), em audiência a ser marcada no escritório da entidade em Brasília, para que seja investigada a provável condição de escravidão a que estão submetidos os médicos cubanos.

O parlamentar encaminhará também uma carta de alegações à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OMS (Organização Mundial da Saúde), entidades às quais a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), está vinculada, para que seja apurado se a conduta dos agentes da OPAS – a diretora que assinou o contrato e seus representantes no Brasil e em Cuba – fere os códigos de ética estabelecidos por essas entidades. Essas ações serão feitas em conjunto com o líder do Democratas, deputado federal Mendonça Filho (PE).

Os líderes do PSDB e Democratas também solicitarão audiência na representação da OPAS em Brasília, já na próxima quinta-feira. Os profissionais de Cuba são recrutados com a chancela da OPAS, mas sua contratação é feita por uma empresa sediada em Havana, a Comercializadora de Servicios Cubanos S.A, conforme revelado no contrato da médica cubana Ramona Rodriguez, que abandonou o programa. O objetivo da audiência é obter o detalhamento sobre as condições de contratação dos médicos cubanos, com quais países a entidade atua e os termos dos contratos nesses casos.

Segundo Imbassahy, não é aceitável que a entidade se omita de dar as informações sobre a contratação dos cubanos sob pena de sugerir que há algo de irregular ou interesses que vão além do de viabilizar a vinda de médicos estrangeiros para o programa.

“São intrigantes o silêncio da OPAS e o sigilo que se quer impor sobre as condições de contratação dos profissionais cubanos para o Mais Médicos. E, agora, temos o desmentido de informações prestadas pelo Ministério da Saúde sobre o programa. São indícios que precisam ser rigorosamente investigados”, afirmou Imbassahy.
Requerimentos

Também foram protocolados, na última sexta-feira (28), requerimentos de convocação do ministro da Saúde, Arthur Chioro, e de convite ao procurador-geral da União, Paulo Henrique Kuhn, na Comissão de Relações Exteriores.

Imbassahy quer que Chioro dê esclarecimentos sobre o modelo de parceria com Cuba que, segundo o ministro, é o mesmo adotado para mais de sessenta países. Chioro reitera a informação prestada pelo ex-ministro Alexandre Padilha durante Comissão Geral na Câmara dos Deputados, em 4 de setembro. “Minha preocupação é levar médicos para brasileiros que não têm médicos – é isso que nos move -, com base em parcerias que são feitas em 58 países, através da Organização Pan-Americana de Saúde”, afirmou Padilha, na ocasião.

Em relação ao procurador-geral da União, o Líder do PSDB disse ser necessário obter dele informações sobre o grau de acompanhamento que o governo brasileiro dispensa em relação aos profissionais cubanos e as informações que tem sobre as condições impostas a esses profissionais aqui no Brasil.

Em entrevista, Kuhn disse que o “Brasil não tem nenhuma orientação, não tem nenhuma restrição, não vai exercer nenhum controle com relação a esses médicos. Eles têm dentro do território brasileiro liberdade de ir e vir e de se relacionar”.

Essa informação contradiz os termos do contrato da médica cubana Ramona Rodriguez e também resolução do governo brasileiro originada de portaria interministerial assinada por Padilha e pelo então ministro da Educação, Aloizio Mercadante, objeto de representação protocolada pelo Líder do PSDB na PGR (Procuradoria Geral da República), no último dia 19 de fevereiro.

“É incabível que um procurador-geral da União desconheça as informações sobre um tema tão importante e que está em discussão há muitos meses, como é a contratação dos médicos cubanos. Ou, então, corrobora para tentar manter uma versão que, a cada dia, é desmentida”, afirmou.

06 de março de 2014
ucho.info

RACISMO POLITICAMENTE CORRETO TEM MÃO ÚNICA


Ainda no flash back, recuperando meus antigos textos da “Folha da Burguesia”, dei de cara com este, de 2007, ressaltando que a tal revista “Raça Brasil” existe até hoje.
 
O que será que aconteceria comigo se eu resolvesse editar uma revista chamada Raça Brasil e publicasse a lista dos 80 brancos mais poderosos do país? Eu só sei que cumpriria a pena em liberdade porque sou réu primário, não é assim que funciona? Pois é, a tal revista existe, com esse nome mesmo e publicou uma lista dos 80 negros mais poderosos do Brasil. E o que aconteceu com a Editora Símbolo? Nada, é claro.
E tome de dia da Consciência Negra, dia de Zumbi, lei para ensinar cultura afro nas escolas e até uma Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial com status de ministério. Sobre essa última gracinha, ela tem sessenta funcionários, sendo que, pelo menos 90% são negros. Cadê a igualdade? E o pior é a argumentação da “diretora da área de políticas de ações afirmativas”(?) que nos brindou com a seguinte pérola: “A direção da secretaria é toda negra. As outras minorias não estão preparadas para essa política. O acúmulo de conhecimento, de informação em torno da causa da igualdade racial está conosco”. Tem gente que tá se achando...
Tem até um texto gozado, exatamente sobre a confusão que essas leis provocam na cabeça do cidadão, escrito por Luís César Ebraico, quando da Lei 1.390 Afonso Arinos, sancionada em 3 de julho de 1951:
“Wellington, à época do diálogo que vou relatar, tinha cerca de 9 anos de idade. Era filho daquela minha empregada, Regina, preta retinta, que me havia atordoado com a pergunta sobre o porquê de todos terem sistema NERVOSO e ninguém ter sistema CALMO.
Estava eu, assim, posto em sossego, quando me aparece o garoto, perguntando:
WELLINGTON: - ‘Seu’ Luís - era assim que me chamava - se alguém chamar o outro de preto, vai pra cadeia?
LC (algo hesitante, pois ainda não conhecia o texto exato daquele diploma legal): - Bem..., acho que sim, filho!
WELLINGTON: - E se chamar o outro de filho da puta, também vai!
LC (mais hesitante ainda): - Bem..., acho que não!
WELLINGTON: - Então preto é pior que filho da puta?!
LC: - Bem, meu filho, para mim, não!”
 
A verdade é que está todo mundo como o menino Wellington, sem saber aonde mora o perigo. Proíbem por lei a reprodução da suástica, mas foice e martelo pode, como se Hittler tivesse matado mais que Stalin ou Mao; Veríssimo, o patrono da imbecilidade intelectual coletiva, repete asneiras sobre a escravidão no Brasil, atiçando ainda mais os ânimos dos panacas que acreditam na esquerda dele; políticos populistas se aproveitam do clima propício e promovem convescotes solenes em comemoração aos dias nacionais disso e daquilo negro nas Assembléias e Câmaras de todo o país e todos nós continuamos sem saber se, para a lei, preto é pior que filho da puta.

Nunca esse país foi tão idiotizado, desaculturado e dissociado da realidade como hoje. Esse governo parece que quer deixar também patente, além da sua desonestidade-padrão, a burrice crônica que lhe é característica inegável. Falar e legislar sobre raças hoje em dia é o sinal mais latente do anacronismo cultural que se pode manifestar. Desde que ficou provado irrefutavelmente que o homo sapiens surgiu na África Oriental, era negro e as suas mudanças no aspecto físico se deram exclusivamente pelas migrações e conseqüentes necessidades de adaptação ambiental, além do fato de nosso país ter talvez o povo mais misturado do mundo, ressaltar as diferenças da cor de pele entre seres humanos passou a ser uma grande burrice.
 
06 de março de 2014

MAL SABIA EU, EM 2007, QUE A COISA AINDA IRIA PIORAR...


Escrevi isso em outubro de 2007:
Faz tempo que eu esgotei a minha paciência com esse governo. Aliás, desde muito antes dele ser eleito pela primeira vez. Não há argumento forte o suficiente que possa convencer a alguém em sã consciência, que um sujeito ignorante, que além de tudo faz da sua estupidez motivo de orgulho, possa ter a capacidade de governar um país, mesmo que ele tenha o tamanho do Vaticano e seja habitado por meia dúzia de aborígines.

Sob todos os aspectos, Lula não passa de uma aventura desastrada. Até mesmo seu alegado carisma não passa de mera curiosidade, tanto para nós, brasileiros, quanto para o exterior, que o trata a pão-de-ló, assim como tratou os primeiros índios que daqui foram levados para o continente europeu: como figuras exóticas à parte de uma realidade que se chama civilização. Assim como nossos índios de outrora, Lula não é civilizado. Não tem noções de política, não sabe o que é sociedade, ignora economia, detesta trabalhar e, sobretudo, não sabe discernir entre o certo e o errado, tanto que defende renans e desconhece mensalões, valeriodutos, dossiês, e outras maracutaias mais.

Pode-se até perdoar a pessoa do Lula analfabeto, ter pena por ser tão pobre de espírito, lamentar pela sua resistência ao estudo ou tentar integrá-lo a sociedades mais evoluídas que a sua, mas sua atuação como presidente é imperdoável, assim como foi imperdoável a escolha dos brasileiros, elegendo o apedeuta por duas vezes.

Sua presença, pura e simples, como o ocupante do posto de Presidente da República, já é indigna pelo seu currículo. Some-se a isso à sua atuação e a dos que lhe são mais próximos e ver-se-á que nunca antes na História desse país a instituição da presidência foi tão aviltada, achincalhada, desonrada e desprestigiada. Até mesmo nos menores detalhes nota-se o despreparo da trupe que tomou de assalto os palácios e granjas de Brasília. É estrela do PT no jardim do Alvorada e no Torto, é galinheiro projetado por Niemeyer no Alvorada (é no palácio mesmo!), é Dona Marisa virando Madonna Marisa ao pedir e obter cidadania italiana em plena vigência do mandato do marido, no mais puro estilo capiau-chique, mas que é um acinte a qualquer brasileiro que ame seu país. Aliás, Palocci e mais 15 pessoas da sua família, nessa mesma leva, também ganharam cidadania italiana.

Quanto a esses “prazeres burgueses” da escumalha presidencial, é curioso lembrar um depoimento de Mangabeira Unger, em 26/08/03, na Folha de São Paulo: “O tom do regime é o de uma pequena burguesia entusiasmada com os confortos mais vulgares - desde os robes de algodão egípcio até as comilanças intermináveis. As fisionomias desfibradas e sorridentes, as figuras fofas e gozadoras, pródigas em brincadeiras, bebedeiras e choradeiras, dadas a comer, a viajar e a falar, mas sem apetência para fazer, construir e inventar, a frouxidão generalizada nas mentes e nos corpos encarnam deboche que o país prefere desconhecer. (...) Que conclusões devemos depreender desse desastre, que é moral e intelectual antes de ser político ou econômico? A primeira conclusão é que o PT se está revelando um desvio na história do Brasil. Veio, com a ajuda da igreja e da intelectualidade, para substituir o velho trabalhismo brasileiro. A substituição não presta: acabou em rendição”.

Pois é. Esse mesmo Mangabeira é para quem Lula tanto insiste em criar um ministério, valendo-se até de decreto-lei para tal. Falta vergonha na cara também. No caso a ambas as partes.

Quanto à sua efetiva ação como presidente, é muito pior, se é que isso seja possível. Nem Getúlio, nem Collor e nem a ditadura somados conseguem chegar aos pés desse governo em matéria de incompetência, repressão, corrupção, roubalheira e desrespeito ao povo. É bem verdade que, no quesito repressão, Lula e sua farândola bem que tentam, mas, efetivamente, só o que conseguem é mais revolta. É chamado “Frango à moda do PT”, muita farofa e pouco peito. De resto, é um festival de crimes, perpetrados pelas mais variadas camadas ligadas ao poder: vão, desde o presidente até seus “servidores de cafezinho”, passando por churrasqueiros com nome de chuveiro, ministros e muitos aspones.

Não é necessária a repetição do sem número de violações da lei cometidas pela corja, até porque eu precisaria escrever uma verdadeira enciclopédia de ilegalidades, que já são de conhecimento público, mas seria bom enfatizar o que os esquerdopatas andam fazendo com a educação no Brasil há algum tempo, talvez sem o conhecimento do Noço Líder, que não sabe o que é isso e manda comprar livros a metro só para enfeitar as prateleiras da sua estante. Mas a coisa é grave.

A recente “descoberta” de livros didáticos tendenciosos feita por Ali Kamel é importante porque expôs a vergonhosa e descabida orientação marxista a que são submetidas nossas crianças na escola, mas isso já ocorre há mais de vinte anos. A tal “consciência unitária” sugerida por Gramsci através da orientação dogmática dos alunos já é objetivo dos professores faz tempo e, para tal, usam toda a covardia e estupidez que tiverem à mão. Mentir, se preciso for; trair o ideal esquerdopata, nunca!

Um dos expedientes mais usados por essa quadrilha é o achincalhe sistemático das nossas figuras históricas mais importantes com o claro objetivo de substituí-las pelos “heróis” de merda criados e idolatrados por eles. Como prova que esse absurdo acontece nas nossas barbas há tempos, tão grave quanto Mario Schmidt escrever em seu livro recente, “Nova História Crítica do Brasil”, que “diziam que ela era feia como a peste e estúpida como uma leguminosa” referindo-se à Princesa Isabel é Francisco de Assis Silva chamar a família real portuguesa de “Corte corrupta e sua camarilha de parasitas” em seu livro “História do Brasil”, de 1981, usado por meu filho em 1992.

Pena que não há clima para um impeachment, mas, mesmo que houvesse, não seria nada aconselhável porque a seqüência de ratazanas determinada pela Constituição para ocupar o cargo de presidente obedece à seguinte ordem: José Alencar, Arlindo Chinaglia, Renan Calheiros, até chegar a uma opção razoável, que é a Presidente do Supremo Tribunal Federal, Hellen Gracie. É melhor deixar como está e sofrer mais três anos.
 
06 de março de 2014

O BRASIL QUE AMA AMADO BATISTA AGRADECE PELAS SUAS PALAVRAS LÚCIDAS

O cantor Amado Batista em entrevista ao comunicador Kaioba Sputnik
disse que não acredita em um Brasil melhor enquanto a esquerda
estiver no poder.
Para ele o País não merece a atual política implantada
pelo Governo atual.Na opinião de Amado Batista o Brasil "descamba"
para um regime socialista, pois está sendo governado por admiradores
de Che Guevara, Fidel Castro e Hugo Chávez.
Ele também defende a redução da maioridade penal no Brasil.

Assista o Vídeo

 http://www.youtube.com/watch?v=y6gDP9tuEvw&feature=player_embedded
 
06 de março de 2014
movcc

ACINTE COMUNISTA REVOLTANTE!


 
COMISSÃO QUER REBATIZAR DE RUBENS PAIVA A PONTE RIO-NITERÓI COMISSÃO DA VERDADE QUER ALTERAR O NOME DE COSTA E SILVA DA RIO-NITERÓI
 
                                                  A ponte Rio-Niteroi impressiona por suas dimensões
Com um comprimento de quase 14 quilômetros, dos quais oito sobre a água, e um fluxo diário em torno de 150 mil carros, a ponte Rio-Niterói completa hoje (04) quarenta anos de funcionamento ininterrupto. Considerada a 11ª maior ponte do mundo, a Rio-Niterói ganhou o nome oficial de Ponte Presidente Costa e Silva por ter sido construída durante o seu governo e ainda no período militar. No entanto, o presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous defende que a ponte passe a ser chamada oficialmente de “Deputado Rubens Paiva’.
 
06 de março de 2014
Diário do Poder
 

O AUTOR ESQUECIDO: MESLIER, O PADRE ATEU


Em 1729, morreu em Étrépigny, França, o abade Jean Meslier, com a idade de 65 anos. Ao morrer, após mais de quarenta anos à frente de sua paróquia, resolveu dizer o que pensava do cristianismo.
"De onde tiramos que um Deus que seria essencialmente imutável e imóvel por sua natureza poderia no entanto mover algum corpo?
De onde tiramos que um ser que não teria nenhuma extensão nem parte alguma seria no entanto imenso, e mesmo infinitamente esparso por toda a parte?
De onde tiramos que um ser que não teria cabeça nem cérebro seria no entanto infinitamente sábio e esclarecido? De onde tiramos que um ser que não teria nenhuma qualidade nem nenhuma perfeição sensíveis seria no entanto infinitamente bom, infinitamente amável e infinitamente perfeito?
De onde tiramos que um ser que não teria nem braços nem pernas e que sequer seria capaz de mover-se seria no entanto todo-poderoso e faria verdadeiramente todas as coisas? Quem teve a experiência disto?

"Depois disso, que pensem, que julguem, que digam e que façam tudo o que quiserem no mundo, pouco estou me preocupando; que os homens se ajeitem e governem como eles quiserem, que sejam sensatos ou sejam loucos, que sejam bons ou que sejam maus, que digam ou que mesmo façam o que quiserem depois de minha morte; não me preocupo; eu já quase não faço parte do que se faz no mundo; os mortos com os quais estou prestes a juntar-me não se incomodam mais com nada, não se intrometem mais em nada, e não se preocupam mais com nada. Terminarei então isto pelo nada, também sou pouco mais que nada, e em breve não serei nada.

"Que os padres, que os pregadores façam então de meu corpo tudo que eles queiram; que eles o rasguem, que o cortem em pedaços, que eles o assem ou façam dele um fricassé, e que mesmo o comam se quiserem, no molho que desejarem, eu absolutamente não me preocupo; eu estarei então totalmente fora de seu poder, nada mais será capaz de me fazer medo".

Do livro
Mémoire dés pensées et dés sentiments de Jean Meslier, prêtre, curé d’Étrépigny et de Balaives, sur une partie des erreurs et des abus de la conduite et du gouvernement des hommes où l’on voit des démonstrations claires et évidentes de la vanité et de la fausseté de toutes les divinités et de toutes les religions du monde pour être adressé à ses paroissiens aprés sa mort, et pour leur servir de témoignage de vérité à eux, et à tous leurs semblables.

06 de março de 2914
janer cristaldo