"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

ARROCHO É UM PONTAPÉ DO GOVERNO NA POPULAÇÃO MAIS POBRE

SE DOER, ME AVISA...

Dilma quer pagar a conta da roubalheira - petrolão é um "pequeno" exemplo - raspando os bolsos da população. Levy dos Impostos não está nem aí para a inflação: só pensa em arrecadar e cortar (menos no obeso governo). Vale a nota de Aécio Neves, presidente do PSDB (repetindo, não tenho nem nunca tive partido):

Cai em definitivo a máscara do governo do PT e o país conhece o pacote de medidas impopulares contra o povo brasileiro. Aumento de impostos, cortes de direitos trabalhistas e dos investimentos, incluindo os recursos fundamentais para a saúde e a educação.

Os cortes orçamentários anunciados esta tarde são mais uma face do arrocho recessivo promovido pelo PT em prejuízo da população brasileira.

Primeiro veio a diminuição dos direitos trabalhistas e de benefícios previdenciários, em parte já aprovados pelo PT e a base aliada no Congresso, com oposição coesa do PSDB.

Agora a tesoura do governo Dilma Rousseff compromete os investimentos públicos, prejudicando um dos motores que poderia ajudar a impulsionar a economia no momento em que o país necessita desesperadamente retomar o desenvolvimento.

Quem mais sofre com os cortes no Orçamento são os mais pobres, que precisam do governo federal para dispor de atendimento de saúde, de educação digna e de escolas de qualidade, de transporte e mobilidade. Todas essas áreas que agora são profundamente afetadas pelo arrocho anunciado.

O passo seguinte está traçado: aumento de impostos, já iniciado desde o início do ano e agora aprofundado. A carga tributária, que aumentou ininterruptamente no governo Dilma, vai continuar a subir.

Os R$ 70 bilhões anunciados hoje são apenas parte da conta que o brasileiro vai pagar por causa da gastança desenfreada ocorrida nos últimos anos com o objetivo de vencer as eleições e manter o PT no poder.

Caso a conduta do primeiro governo Dilma fosse responsável, sem os excessos eleitoreiros cometidos, como o próprio ministro da Fazenda reconheceu nesta semana, as famílias brasileiras não seriam agora obrigadas a passar por mais sacrifícios, além das enormes dificuldades que já vivem.

O arrocho recessivo somado ao forte aumento do desemprego e acompanhado da escalada da inflação trazem tristeza a todos nós s e torna a vida no país mais difícil.

É bom que fique claro: Essa conta não é do povo, é do governo do PT, mas é o povo que a está pagando.

Aécio Neves
Presidente do PSDB

SILAS MALAFAIA ACERTA UM DIRETO NO FÍGADO DO LULA

NEGÓCIOS DA CHINA: É "MENTILA" DA DILMA




(Veja) O anúncio de que a China trará mais de 53 bilhões de dólares em investimentos para o Brasil causou certo ceticismo entre analistas de mercado e empresários brasileiros. Isso porque o país asiático tem fama de divulgar obras megalomaníacas durante viagens oficiais que muitas vezes não saem do papel. Levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo publicado nesta sexta-feira identificou oito projetos anunciados pelo governo chinês no país que não foram realizados e totalizaram pelo menos 24 bilhões de dólares.

Entre eles, há desde um projeto de construção de uma fábrica e de um porto seco em Barreiras, na Bahia, a uma siderúrgica que seria erguida em parceria com Eike Batista em Porto do Açu, no Rio de Janeiro. Ambos foram cancelados.

Outro caso é o da construção de uma ferrovia que ligaria os municípios de Cuiabá (MT) e Santarém (PA). Em 2012, o Banco de Desenvolvimento da China e o governo do Mato Grosso assinaram um acordo de financiamento de 10 bilhões de dólares. Desde então o projeto está paralisado. Na área de mineração, a ECE (Organização de Exploração e Desenvolvimento Mineral do Leste da China) assinou carta para a compra da Itaminas por 1,2 bilhões de dólares, em 2010. O negócio, contudo, ainda não foi fechado.

O jornal ainda afirma que dos 35 acordos assinados na terça-feira entre a presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, apenas 14 têm recursos assegurados e estão com o processo mais avançado.

Após os anúncios feitos na terça, que iam desde uma ferrovia transcontinental que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico à criação de um fundo de investimento para infraestrutura de 50 bilhões de dólares, o governo federal fez questão de dizer que os acordos não passavam de "memorandos de entendimento" - ou seja, que ainda necessitavam de estudos de viabilidade e formalização de contrato.

22 de maio de 2015
in coroneLeaks

JANENE MORREU, MAS PASSA BEM, SEGUNDO O "DECLARANTE" YOUSSEF



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Não é difícil lembrar de algum escândalo do qual José Janene, deputado do PP morto em 2010, tenha figurado entre os envolvidos. Difícil é lembrar algum projeto do então deputado que tenha servido ao leitor.
Em vida, Janene era uma espécie de Forrest Gump de Brasília. Esteve em todas as confusões de seu tempo – por uma questão de timing os acordos sobre capitanias hereditárias não passaram por seu gabinete.
O deputado é peça-chave das investigações em curso sobre os desvios na Petrobras, onde seu partido, o mesmo de Paulo Maluf, tinha sua própria capitania. Só não apareceu algemado porque, por sorte, morreu antes. Ou não.
Em sessão aberta da CPI da Petrobras, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), presidente da comissão, levantou a hipótese de que o ex-colega esteja vivo. Janene morreu (ao menos oficialmente) de ataque cardíaco e seu caixão, segundo Motta, foi lacrado para o velório. Como ninguém viu o corpo, ganhou força, na CPI, a hipótese de que Janene havia simulado a própria morte para viver em paz na América Central.
REALISMO FANTÁSTICO
A história da exumação do corpo, definiu meu amigo Felipe Corazza, é o Brasil dando troco na Argentina de Jorge Luís Borges e seu realismo fantástico. Nosso Quincas Berro D’Água, personagem de Jorge Amado que morreu duas vezes antes de ser enterrado, não faria frente à imaginação do autor de Ficções. Nem a investigadores ou investigados da CPI.
Esteja onde estiver, o morto (ou vivo) não pode defender. Se ressurgir, será a maior homenagem a outro gênio do surrealismo latino: Roberto Bolaños – o pai do Chaves, não o chileno. Entrará para a história como o deputado que preferiu morrer do que perder a (boa) vida.
Vivo ou morto, o jornalismo local tem a chance de fazer frente à dura concorrência do Sensacionalista, o site de noticias absurdas inspirados no absurdo da vida real. Difícil seria escolher um título. “O morto segue morto”. Ou “Morreu, mas passa bem”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG - Com a divulgação do atestado de óbito de Janene pelo blog O Antagonista, a coisa se complica. No atestado, quem aparece declarando a morte do ex-deputado é justamente o doleiro Alberto Youssef, e não é preciso dizer mais nada. Exumação, já! (C.N.)

22 de maio de 2015
Matheus Pichonelli
Yahoo

DILMA VETA LEI E MANTÉM O SIGILO ILEGAL NAS AÇÕES DO BNDES



A presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.126, resultado da aprovação da Medida Provisória 661, que autorizou em dezembro do ano passado o Tesouro Nacional a conceder R$ 30 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A nova lei veio com sete vetos ao texto aprovado pelo Congresso no mês passado. Entre eles, a presidente rejeitou a emenda que determinava o fim do sigilo em todas as operações de crédito do banco. A quebra do sigilo foi apresentada pela oposição na Câmara e mantida no Senado.
O trecho vetado previa que “não poderá ser alegado sigilo ou definidas como secretas operações de apoio financeiros do BNDES, ou de suas subsidiárias, qualquer que seja o beneficiário ou interessado, direta ou indiretamente, incluindo nações estrangeiras”. A intenção da oposição era, com isso, ter acesso aos dados do financiamento do BNDES na construção do Porto de Mariel, em Cuba. As obras custaram US$ 957 milhões e receberam aporte de US$ 682 milhões do BNDES.
“JUSTIFICATIVA”
Nas razões do veto encaminhadas ao Congresso, Dilma argumentou que o BNDES “já divulga em transparência ativa diversas informações a respeito de suas operações, tais como clientes, projetos e, no caso de operações internas, os valores contratados em cada empréstimo”.
A presidente também justificou o veto afirmando que “a divulgação ampla e irrestrita das demais informações das operações de apoio financeiro do BNDES feriria sigilos bancários e empresarias e prejudicaria a competitividade das empresas brasileiras no mercado global de bens e serviços, já que evidenciaria aspectos privativos e confidenciais da política de preços praticada pelos exportadores brasileiros em seus negócios Internacionais”. Dilma ainda alegou que “o dispositivo incorreria ainda em vício de inconstitucionalidade formal”, já que o sigilo das operações de instituições financeiras é matéria de lei complementar.
CRÉDITO CONSIGNADO
Outros pontos incluídos na MP durante a tramitação também foram vetados pela presidente. Destaque para a rejeição aos dispositivos que ampliavam o limite do chamado crédito consignado, de 30% para 40% da renda. A medida abria a possibilidade para descontos em folha de diferentes modalidades de empréstimo, inclusive despesas com cartões de crédito. Se o trecho tivesse sido mantido, aposentados e pensionistas também iriam poder ampliar sua margem em folha para pagar empréstimos. Essa foi a segunda vez que o Congresso tentou ampliar o limite de comprometimento da renda dos trabalhadores. Na primeira vez, a presidente também havia vetado.
Ainda foi retirada da lei a emenda que determinava que 2,5% de todo o financiamento realizado pelo BNDES a taxas subsidiadas deveria ser destinado à extensão rural.
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A presidente Dilma acertou em cheio ao vetar a expansão do crédito consignado, que significa a exploração dos aposentados e servidores, uma das piores iniciativas de Lula. Mas Dilma errou feito ao manter o sigilo das operações do BNDES, que é uma iniciativa totalmente ilegal. Significa uma confissão do crime de usar indevidamente as verbas do banco de fomento. Simples assim. O Congresso tem o dever de derrubar o veto. Mas quem se interessa? (C.N.)
22 de maio de 2015
Deu no iG

E PODE ISSO, ARNALDO?

Dilma não quer revelar os juros que o BNDES não cobra de Cuba, Angola e Venezuela. Os da República Dominicana são 3% ao ano, uma barbada barbuda!




Da Folha:


Em uma medida para tentar atenuar as reações contrárias à decisão da presidente Dilma de vetar texto aprovado pelo Congresso que determinava o fim do sigilo nos empréstimos e financiamentos concedidos pelo BNDES, o banco de fomento deve liberar parcialmente dados das operações da instituição para Cuba e Angola, retirando na próxima semana o selo de sigilo para negócios com estes  dois países. A decisão não inclui, por exemplo, dados protegidos pelo sigilo bancário, como taxas de juros. Segundo assessores, com a medida, Cuba e Angola vão ficar no mesmo patamar dos demais países, com a liberação de dados de contratos. 

Do Antagonista:

O Antagonista publicou, hoje, cópia do contrato do BNDES com a República Dominicana, tendo como interveniente a Andrade e Gutierrez. uma das empreiteiras do Petrolão. O documento estava arquivado no Congresso dominicano, totalmente aberto para análise dos parlamentares.  

Do Blog do Coronel:

A taxa de juros é uma barbada: Libor (0,7% ao ano hoje) mais 2,3%, totalizandos uns 3%, com doze anos para pagar. Imaginem as condições para Cuba e Angola. Mas o mais grave não é nem isso. É o fato de que a empreiteira não importou um mísero parafuso do Brasil, quebrando a principal cláusula, a de que o dinheiro deveria ser utilizado para importar bens e serviços do país. É isso que Dilma quer esconder?

22 de maio de 2015
in coroneLeaks

EM VÍDEO PASTOR MALAFAIA DETONA LULA E LHE FAZ UM ALERTA

 "LULA, VOCÊ SABIA QUE JESUS LIBERTA DA CACHAÇA?"





Sempre atilado e em cima do lance full-time, o colunista do site de Veja Lauro Jardim mandou ver, postando o vídeo do Pastor Silas Malafaia que reproduzo acima e que responde a mais uma patifaria de Lula, que fez gozação até dizer chega dos pastores evangélicos e da crença bíblica em seu discurso ao um grupo de sindicalistas.

Lula mexeu num vespeiro.

Ao final deste vídeo, Malafaia, conclui afirmando: 
“Lula, você sabia que Jesus liberta da cachaça?

22 de maio de 2015
in aluizio amorim

A MARCHA DO SOLDADO 13


A editora Boitempo escolheu Frei Betto para escrever a orelha e um professor marxista para escrever o prefácio da edição brasileira de O homem que amava os cachorros, romance do escritor cubano Leonardo Padura. É mais ou menos como se Richard Dawkins prefaciasse Confissões de Santo Agostinho. Pois o prefácio e a orelha são os únicos trechos dispensáveis nas quase 600 páginas deste livro magistral. Padura concebeu uma obra-prima literária sobre o medo e o desamor.

O livro conta a história de três homens: Liev Trotski, líder comunista soviético, expulso da Rússia por seu arquirrival Stalin; Ramón Mercader, militante stalinista e assassino de Trotski; e Iván Cárdenas Maturell, obscuro escritor cubano mergulhado na miséria e na desolação da ilha socialista.

Ancorado na pesquisa histórica, Leonardo Padura narra a história de Trotski a sofrer no exílio (Turquia, Noruega, França e México), enquanto seus antigos companheiros de revolução eram perseguidos e assassinados a mando de Stalin. Com notável poder descritivo, o autor reconstitui as faces de Mercader, agente comunista espanhol escalado e treinado para se infiltrar nos círculos trotskistas e matar o exilado a qualquer custo.

Um de seus codinomes era Soldado 13. Entrementes, sem utilizar qualquer clichê sobre o tema, Padura conta os tormentos de Iván, que luta para sobreviver em um país mais parecido com um cárcere a céu aberto.

Tão diferentes, os três personagens possuem em comum o amor pelos cachorros. Mas há outra característica: são indivíduos esmagados pela força da ideologia e do coletivismo. A revolução só causa desgraças na vida de Trotski, Mercader e Iván.

Para alguém que, como eu, já levou a sério o trotskismo e teve simpatias pelo regime cubano, a leitura de O homem que amava os cachorros é ainda mais impactante, por fazer a descrição do inferno de dentro para fora.
Poucos sabem, mas Ramón Mercader terminou seus dias como hóspede do regime cubano, em outubro de 1978. Após sair da prisão no México, migrou para a União Soviética (onde foi condecorado) e depois acabou preferindo mudar-se para a ilha tropical. Virou amigo e conselheiro de Fidel Castro.

“De que outra coisa podem falar os náufragos, a não ser do mar?”, diz, numa passagem do livro, o homem que treinou o Soldado 13. Espero sinceramente que os amigos esquerdistas leiam O homem que amava os cachorros. Para o ideal socialista, é um livro tão devastador quanto Arquipélago Gulag, O Zero e o Infinito ou A Revolução dos Bichos. Náufragos, falem do mar.


22 de maio de 2015
Paulo Briguet
 

UMA SOCIEDADE QUE SE MATA

RIO DE JANEIRO - De onde talvez menos se esperasse, surgiu a voz mais lúcida sobre o assassinato do médico Jaime Gold, num assalto na terça (19), no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Mesmo sob o impacto de ter perdido de forma brutal o pai de seus dois filhos, Márcia Amil disse ao jornal "O Dia": "Sei que Jaime foi vítima de vítimas, que são vítimas de vítimas. Enquanto nosso país não priorizar saúde, educação e segurança, vão ter cada vez mais médicos sendo mortos no cartão postal do país. E não só médicos. Afinal, morrem cidadãos todos os dias em toda a cidade, não só na zona sul".

Em vez do ódio, a clareza. Em vez do etnocentrismo, a visão ampla. Em vez do "olho por olho, dente por dente", cabeça e coração.

No mesmo dia da morte de Gold, foram assassinados numa padaria, no morro do Dendê (zona norte), um estudante de 13 anos e um trabalhador de 24 –que tinha ido comprar pão para o filho. Um helicóptero da polícia disparava tiros, e eles correram para se proteger. Um policial entrou no lugar e os fuzilou.

Não se trata de uma morte ser mais importante do que outra. E sim de que uma morte é tão importante quanto outra. Esse "tão" significa cidadania, direito à vida e esperança (vã) de que ainda venha a emergir uma nação desse pântano em que chafurdamos mais e mais.

Nesta quinta (21), o jornal "O Globo" disse que a morte de Gold "choca o Rio" e lhe dedicou seis páginas. Para as mortes do Dendê, duas colunas escondidas numa página par. É um retrato do Rio e do Brasil.

"A imagem mítica do brasileiro simpático existe só no samba. Na relação entre as pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata. Esse é o Brasil que vemos hoje na internet", resumiu o sociólogo espanhol Manuel Castells.



22 de maio de 2015
Luiz Fernando Vianna

CRIME REFORÇA PRESSÃO POR NOVA MAIORIDADE PENAL

Crimes como a morte do médico Jaime Gold, e outros com o envolvimento de adolescentes, são tragédias anunciadas que se alimentam na esquizofrênica resistência de parte da sociedade a enxergar uma realidade insustentável. 
Como em ocorrências anteriores em que a violência dos criminosos levou ao óbito, ou provocou ferimentos graves nas vítimas, também desta vez há fortes indícios de participação de jovens com idade inferior a 18 anos. 
Ou seja, de antemão virtualmente inalcançáveis pela Justiça, um salvo-conduto balizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescentes para a criminalidade sem o risco de punição efetiva.

Ontem, um dos suspeitos da morte de Gold foi, no jargão politicamente correto, “apreendido”. Aos 16 anos, o rapaz já tem uma vida longa no crime, com 15 anotações criminais — a primeira das quais aos 12 anos. 
E, pelo protocolo, não é difícil adivinhar que essa provável 16ª anotação terá a mesma tramitação das anteriores: inimputável, graças ao anteparo do ECA, logo ele estará de volta às ruas, ao círculo vicioso da violência, incorporando mais ocorrências ao prontuário — ou sendo ele mesmo uma nada improvável vítima dessa realidade que produz tragédias em série.

Não é mais argumento a ser colocado na mesa a suposta atenuante de que jovens com menos de 18 anos não têm consciência de seus atos. Falso. Fora a evidência de que adolescentes ingressados na marginalidade têm maturidade suficiente para medir o grau de violência que empregam para intimidar as vítimas, outras duas particularidades desses crimes em série desfazem essa impressão. Uma delas diz respeito à consciência do abrigo que o ECA lhes oferece. 

Não é por acaso que esses rapazes praticam crimes desembaraçadamente, à vista de quantos estejam testemunhando: o Estatuto os protege. Outra, a inegável rede de informações que os bandos trocam entre si, do que é prova o uso, cada vez mais constante, de facas em assaltos na rua. Sabem que portar arma branca não é prova de crime, um conceito que os delinquentes aprenderam e adotam em favor de seus atos.

Contra a flexibilização da lei brande-se também a relativização do envolvimento de menores em crimes, principalmente homicídios. Por menor que seja o índice, não é por isso que atos de violência, principalmente os que levam à morte, deixam de ser trágicos — logo, graves.

O debate sobre a inimputabilidade de delinquentes juvenis é contaminado por esse tipo de argumentos que desfocam a discussão. Espera-se que, agora, as trágicas consequências de crimes como o desta semana na Lagoa contribuam para dar-lhe o rumo correto. Da parte do Legislativo, as ações parecem bem encaminhadas com a aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, da emenda que reduz para 16 anos o limite da inimputabilidade penal — o que poderia ser feito dando-se ao juiz competente o arbítrio de decidir pela punibilidade de acordo com a gravidade do caso. Um choque de realidade que precisa ser corroborado pelo plenário.
22 de maio de 2015

O Globo

MÃOS AO ALTO, CIDADÃO!

Certamente uma das mais pesadas e polêmicas frases dita aos 4 ventos pelos libertários mundo afora é “IMPOSTO É ROUBO.” Se considerarmos a forma como ele nos é retirado forçadamente e sem chance de defesa, e se atentarmos às consequências de não acatar a “ordem” dada, o imposto é sim um roubo. 
O monopólio da violência dá ao estado essa possibilidade, para não dizer premissa, para retirar do cidadão parte de algo que não lhe pertence. Mude o sujeito da frase é terá caracterizado um ladrão.

Advogados me corrijam se estiver errado, mas temos os tipos de roubo: furtos ou assaltos. Os impostos indiretos, ou seja, aqueles que o consumidor paga sem sabe que esta pagando se assemelham ao furto; enquanto os impostos mais diretos e escandalosos, tal qual era a CPMF é são hoje ainda IPVA, IPTU, ITBI etc, são assalto mesmo, à mão armada e sem chances de defesa!

Sempre se escuta uma tia bem intencionada dizer que “aceitaria pagar impostos se recebêssemos de volta as contrapartidas. É assim na Suécia.” . Também me perdoem os amigos psiquiatras, mas ela certamente sofre da “Síndrome de Estocolmo”, com o perdão do trocadilho. 
É a paixão doentia por aquilo que pode lhe fazer o mau. Certamente o modelo escandinavo é menos pior do que o nosso “tropicaliente”, mas não torna o ato de tributar menos imoral. Tributados não são os produtos/serviços; quem é tributado é o próprio cidadão! É sobre nós que a carga pesa.

Se o imposto é ou não roubo, não há consenso. Mas claramente há coisas que o imposto não é (ou não deveria ser), e muitas delas o governo insiste em ignorar.
Só para começar:

Imposto não é ferramenta de justiça social: não deve ser usado para “distribuir” a riqueza. Tributar a renda de forma predatória inibe a construção de poupança interna.
Imposto não é ferramenta sócio-educativa: sobretaxar a bebida, o cigarro, os alimentos chamados “não nutritivos” não faz com que as pessoas bebam, fumem ou comam menos porcaria.
Imposto nao é uma proteção para o trabalhador nacional: esse mesmo trabalhador é um consumidor e vai pagar mais caro pelas coisas de que precisa pra viver. Tanto as feitas no país quanto as que vem de fora.

Comicamente esses usos são mais comuns do que se pensa. O governo não decide o que quer.
Taxa o cigarro, o adesivo de nicotina e o remédio da quimioterapia;
O hambúrguer, o moderador de apetite e o tênis de corrida;
A bebida alcoólica, a consulta com o endocrinologista e o suco natural.
O papel, a tinta, o livro e a renda que ganha o autor.

Depois dá bolsa cultura pra poder comprar a obra de Paulo Coelho ou o CD do Chico Buarque.
Existe uma imoralidade indissociável da cobrança de tributos: ao encarecer o preço final das coisas, os impostos dificultam o acesso das pessoas aos avanços civilizatórios, desde os mais simples aos mais complexos. 
Somos tributados a todo momento: água tratada, luz, remédios, combustível, comida, roupas, educação, tratamentos de saúde, habitação, veículos, passagens aéreas e terrestres, ferramentas, maquinário e uma infinidade de itens que não teria linhas suficientes para citar.

Pragmaticamente falando, impostos deveriam ser a fonte arrecadatória para pagar aquelas atividades definidas pela sociedade como sendofunções do Estado. As sociedades precisam então impor aos seus respectivos estados o limite; além de fiscalizar os gastos e questionar com veemência cada aumento alardeado como sendo para “o bem comum”. 
O “bem comum” é um álibi historicamente terrível e sob o seu pretexto foram cometidas enormes atrocidades. E nada nos fará melhor que um Brasil com menos impostos.”

22 de maio de 2015
Guilherme Moretzsohn


TAKE YOUR TIME, BRAZIL!

Quando a poetisa americana Elizabeth Bishop visitou o canteiro de obras da cidade de Brasília não pode deixar de registrar seu espanto com a ausência de ferrovias que a levassem até lá. Executava-se um projeto deveras ambicioso, o de levantar no coração do Brasil, no meio do nada, na aridez do sertão, uma grande capital imperial de nome latino, tal qual idealizara José Bonifácio; e, contudo, na precipitação dos trabalhos, entre a escavação de lagos artificiais e a ereção de monumentos comunistas, ninguém até então se dera ao trabalho de considerar como os brasileiros, ora pois, deveriam chegar até o local! 
Era o espírito do tempo, do Brasil de JK, a urgência de avançar, progredir, de percorrer “50 anos em 5”.

Somos uma nação jovem, diz o cliché; donos de nosso destino apenas a partir de 1822. Como ensina Mário Vieira de Mello em seu Desenvolvimento e Cultura, nosso primeiro século de existência independente foi um tempo de condescendência, no qual se reconhecia as mazelas, se apontava os problemas, com a consciência de que havia muito por fazer, mas reputando tudo sempre como desculpável, explicável por nossa juventude. 

Com o tempo, com o trabalho, cedo ou tarde haveríamos de atingir o patamar dos povos da Europa, que tinham o privilégio de carregar uma bagagem de séculos, ou até milénios de civilização. Engatinhávamos. Subitamente, todavia, despontou ao Norte um gigante que vencia europeus no campo de batalha, que erguia torres que chegavam até o céu, que fabricava automóveis, aviões, navios, e tudo o mais que se possa imaginar, que decidia uma guerra mundial. 

O êxito fulminante dos Estados Unidos, quase tão jovens quanto nós, abateu-se sobre o Brasil como pujante humilhação. Doravante não havia mais desculpa, não havia mais perdão. Caiam as escamas dos olhos nacionais. O Brasil revelava-se definitivamente um país atrasado, periférico, um povo bárbaro que ficara para trás na carreira da História.

Desde então a pressa, um sentimento de urgência, um aflitivo imediatismo, tomou de vez a alma nacional. O Brasil já não tinha tempo a perder, era preciso correr, fazer 50 anos em 5, construir um Brasil-Potência até o ano 2000, realizar um Programa de Aceleração do Crescimento, etc. e tal. Pressa, pressa, sempre a pressa a pautar nossas decisões! Levamos luz elétrica aos rincões e aos subúrbios, mas em horrorosos postes de concreto com a fiação exposta. Construímos estradas e pontes, mas com aparência militar, cinzas, feias, sem adorno, sem acabamento. Conspurcamos as paisagens naturais e urbanas com obras apressadas, minhocões, aterros, autovias, com símbolos do “progresso”. 
Em Desterro, no Rio de Janeiro, nas cidades costeiras do Nordeste, erguemos desnecessários arranha-céus, numa arquitetura culturalmente estranha, inadequada ao clima, que deletou a linha do horizonte e soterrou a herança tradicional portuguesa. Tudo feito em nome do progresso, do avanço econômico e da urgência. E tudo em vão, continuamos bárbaros, comparativamente pobres, irrelevantes.

Anos atrás, fazendo check-in num dos aeroportos de Londres, vi-me apressado, buscando freneticamente os documentos dentro da bolsa, como se acossado por capatazes imaginários, quando a gentil atendente da companhia aérea tranqüilamente me disse: “Take your time, sir”. Só então percebi que não havia nada premente, que eu podia fazer as coisas com calma, respirando, num ritmo humano. Mais tarde pensei: Como traduzir esta expressão inglesa apropriadamente? “Take your time”? Por muito tempo não consegui achar equivalência directa.

Pensei em “tome o tempo que quiser”, que talvez funcione como tradução; mas logo percebi que, sinceramente, ninguém fala deste jeito no Brasil, e que o fato era que a sugestão tranqüilizante daquela mui polida senhora britânica estava ausente do vocabulário (e do imaginário) pátrio. No Brasil vivemos com tão intensos reflexos de pressa, um dos males da modernidade que por aqui fertilmente se alastrou, que a simples possibilidade de agir com calma sumiu de vez da nossa consciência. Não a toa somos campeões universais no consumo de ansiolíticos, tarjas pretas, maconha e afins. Ademais, se tudo é feito com pressa, nervosamente, também tudo é feito nas coxas, sem acabamento, sem planeamento, acabando por confirmar o adágio popular que diz ser a pressa inimiga da perfeição.

Já passou da hora de tirar o pé do acelerador e de se resignar. Os brasileiros da minha geração devem aprender que nós não vamos conseguir arrumar esta baderna que herdamos em menos de cinqüenta anos. Talvez seja preciso até um século; ou dois; ou três... Não adiante mais ficarmos oscilando nosso humor entre rompantes de otimismo injustificado, ao estilo “ninguém segura este país”; e ataques de frustração que dão azo aos decretos sombrios de que “isto aqui não tem jeito mesmo”. 

Em curto prazo, realmente, não tem; vamos continuar nesta lengalenga por umas boas décadas, talvez comemorando alguns eventuais vôos de galinha, talvez gozando alguma prosperidade vinda desde fora, de investimentos externos. Nada além disso. Uma nação próspera e civilizada é coisa que não veremos em nosso tempo de vida. 
E se quisermos que nossos netos ou bisnetos habitem um lugar mais respirável, precisamos começar agora a firmar as fundações do Brasil do século XXII, plantando sementes de civilização dentro de nós e de nossos filhos. Devemos começar a partir do básico, como o fez Alcuíno na corte carolíngia quando começou um Renascimento a partir das letras do alfabeto. 

Um Brasil melhor começa ensinando as crianças a ler e a escrever, a fazer contas, dando-lhas uma catequese decente, exigindo delas e de nós mesmos que sigam os códigos elementares de polidez e gentileza, que saibam agir como humanos autônomos, capazes de buscar com calma e reflexão a solução para cada um dos problemas do dia-a-dia. E também colocando livros de verdade para circular, imprimindo os milhares de títulos, clássicos e contemporâneos, faltantes na bibliografia disponível em língua portuguesa; e depois tratando de estudá-los, assimilá-los e propagá-los. Tudo bem devagarzinho, mas bem feito.

Preparemos o futuro, porque o petismo vai passar, de um jeito ou de outro chegará o dia em que os brasileiros vão enxotar esta que é a mais infame camarilha que já governou a nação. Então restarão os escombros, o rastro de destruição deixado pelos gafanhotos vermelhos. Mas em meio às ruínas hão de brotar as sementes que estamos plantando. E como o Mosteiro da Luz de Frei Galvão ou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição de Santa Paulina, obras magnânimas e duradouras impulsionadas pelo mais puro sentimento de amor ao próximo, se Deus quiser, nossos esforços resistirão aos séculos.

22 de maio de 2015
Diogo de Almeida Fontana

PARA ONDE VAI ESSE TREM?

Num texto endereçado a cineastas, Chris Marker citou uma frase de De Gaulle: às vezes os militares, exagerando a impotência relativa da inteligência, descuidam de se servir dela. Marker defendia filmes inteligentes contra o populismo de alguns pares. Creio que De Gaulle criticava a superestimação da força armada. Algo que ficou célebre na pergunta atribuída a Stalin: quantas divisões tem o papa?

A oposição brasileiro tem se descuidado de usar a inteligência não por valorizar a força armada, mas as possibilidades eleitorais. Quantos votos nos dará esse projeto? Foi assim com a derrubada do fator previdenciário. Nada mais agradável do que votar pelos aposentados e ao mesmo tempo ganhar um bom número de votos.

Norberto Bobbio dava muita importância à questão da aposentadoria e a considerava um elemento divisor entre os conceitos de esquerda e direita. Não vejo assim no Brasil. A ideia de um sistema que garanta aposentadoria digna é universal no espectro político.

As coisas se complicam quando se discute a sustentabilidade do sistema. Tensioná-lo com mais gastos num momento de crise aguda acaba despertando propostas como a de Joaquim Levy: aumentos de impostos.

Um projeto político no capitalismo não implica apenas respeito às normas democráticas. Implica também a admissão das próprias leis do capitalismo. Se nos levamos apenas pelo coração, faremos muitas bondades até que chegue o momento de pagar a conta. Os deputados jogaram essa conta para o governo, que, por sua vez, a transfere, via impostos, para a sociedade.

Quando Levy fala em ajustar a economia e, simultaneamente, em aumentar impostos a partir das bondades parlamentares, suas tesouras são apenas um passatempo como agulhas de crochê. As tesouras de Levy refletem o mesmo conflito de ideais socialistas com as leis do capitalismo.

E a oposição tem de se manifestar claramente sobre isso: é um modelo de crescimento que faliu. Derrotá-lo não significa usar os mesmos métodos populistas, certamente com grandes dividendos eleitorais. Derrotá-lo é propor um novo caminho.

O caso das pensões e dos salários de pescadores, embora tenha distorções, no meu entender, merecia rejeição, ao menos para negociar.

Como começar um ajuste fiscal sem conhecer os cortes do governo? Este é o tema mais importante no ajuste. É nele que uma visão de oposição tende a se fixar: a racionalização da máquina, a redução de inúmeros e inúteis cargos de confiança.

Minhas críticas são feitas de fora, o trabalho na estrada não permite conhecer todos os dados. Mas a oposição precisa mostrar uma certa coerência com o próprio programa. O problema de votar, em alguns momentos, com o governo também é eleitoral: medo de desapontar o eleitorado que rejeita Dilma e o PT.

Mas é preciso dividir as esferas de atuação: um programa claro sobre o ajuste econômico e um trabalho sério sobre a corrupção, reconstruir e punir. A responsabilidade pela devastação da Petrobrás, a gestão temerária, o escândalo do desvio de bilhões é um fato histórico ainda em movimento, pois a Justiça não se manifestou sobre ele.

Nesse contexto, um fervoroso eleitor de Dilma é indicado para ministro do Supremo. Os principais nomes da oposição faltaram à sabatina. Era preciso fazer perguntas, descortinar a visão política de Luiz Edson Fachin e apresentar uma interpretação de seu discurso.

Não posso dizer que a culpa seja de Fernando Henrique Cardoso.

Cada um avalia as prioridades, organiza a agenda, é uma escolha política: a homenagem a Fernando Henrique em Nova York ou a sabatina de candidato ao Supremo no Brasil. O resultado é que não foi dada toda a atenção à hipótese de o governo aparelhar o Supremo e bloquear as conquistas da Operação Lava Jato.

Estou, talvez, reduzindo a escolha de um juiz a um fato conjuntural. Mas o escândalo da Petrobrás é mais que isso, é o espaço em que se vai jogar o que mais interessa às pessoas que foram às ruas: avançar na luta contra a corrupção.

Vivemos um momento em que nem governo nem oposição se movem de forma articulada, com ideias claras e compartilhadas sobre sua trajetória. Vivi outros momentos assim, mas muito rápidos. Usávamos uma expressão para descrevê-los: a vaca não reconhece seus bezerros.

Num texto para homenagear Robert Frost, John F. Kennedy escreveu: a poesia é o meio de salvar o poder de si próprio. Sem menosprezar a poesia, tenho uma expectativa mais pedestre: só as pessoas, com suas dificuldades cotidianas, sonhos e frustrações e pequenas conquistas, podem salvar o poder de sua degradação. Nenhuma força política parece preocupada em responder a essa expectativa com um projeto coerente, verificável nos movimentos cotidianos.

O Congresso parece desgovernado. Vota, simultaneamente, medidas de contenção e de mais gastos. Os repórteres estão sempre fazendo contas para verificar se estamos economizando ou gastando mais.

Era esperado um choque de posições no debate do ajuste; os setores atingidos procuram se defender: não há nenhuma previsibilidade de mudanças no tamanho da máquina nem o tipo de País que vai surgir desse debate. Vendo as universidades federais fluminenses em ruína antes mesmo da aplicação dos cortes, é razoável duvidar da retomada do crescimento com um simples ajuste fiscal. Tudo o que não funciona nos serviços públicos vai ganhar com os cortes uma poderosa desculpa para mascarar a incompetência: não há dinheiro.

Assim, a Nova República vai morrer e nascerá a Novíssima República, como aqueles antigos trens italianos, o rápido, o rapidíssimo, que nunca chegavam na hora. Será difícil achar a luz no fim do túnel se não decidirmos, pelo menos, em que direção procurá-la. 
O Brasil não precisa apenas de um ajuste fiscal, mas de rever todo o modelo que nos jogou no buraco.

21 de maio de 2015
Fernando Gabeira

FUNDOS DE INVESTIMENTO DE 8 PAÍSES ABREM NOVO PROCESSO CONTRA PETROBRAS

CORTE DE NOVA YORK

PEDIDO DE INDENIZAÇÃO ALEGA QUE A EMPRESA ESCONDEU INFORMAÇÕES DO PETROLÃO



É O SEGUNDO PROCESSO SÓ ESTE MÊS A ENTRAR NA
CORTE DE NOVA YORK CONTRA A PETROBRAS E O QUARTO
ABERTO POR FUNDOS EM AÇÕES PRÓPRIAS (FOTO: REUTERS)


Fundos de investimento e de pensão de oito países, incluindo Canadá, Emirados Árabes, Coreia do Sul, Hong Kong, Austrália, e até uma associação de caridade dos Estados Unidos entraram com um novo processo contra a Petrobrás na Corte de Nova York pedindo uma indenização pelos supostos prejuízos "bilionários", de acordo com o texto do documento, causados pela Operação Lava Jato aos investidores estrangeiros.

É o segundo processo só este mês a entrar na Corte de Nova York contra a Petrobrás e o quarto aberto por fundos, que resolveram entrar com ações próprias e não participar de uma ação coletiva que corre na Corte e terá a primeira audiência dia 25 de junho. Ao todo, desde dezembro, a Petrobrás tem nove ações judiciais nos Estados Unidos ligadas à Operação Lava Jato.

O novo processo foi aberto na terça-feira, 19, mas só divulgado hoje pela Corte e envolve vários fundos, principalmente ligados à gestora Aberdeen, que tem operações globais e cerca de US$ 500 bilhões sob gestão. Entraram no processo subsidiárias da gestora com sede, entre outros países, nos EUA, Canadá, Reino Unido e Austrália.

Além da Aberdeen, uma série de gestoras de outros países estão processando a Petrobrás. Entre elas, a AAAID Equity Portfólio, dos Emirados Árabes, e a Myria Asset Management, com sede na França.

Vários fundos de pensão, que inclui a associação de professores da cidade de Alberta, no Canadá, da cidade de Devon, na Inglaterra, e o National Pension Service, da Coreia do Sul, também entraram no processo, que tem ainda uma associação de caridade chamada Mother Teresha Care and Mission, do Estado de Illinois, nos EUA, onde está Chicago.

Os fundos argumentam que compraram papéis da Petrobrás na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) entre janeiro de 2010 e janeiro de 2015 e tiveram perdas porque a empresa escondeu informações dos investidores sobre o esquema de corrupção e pagamento de propinas. Quando elas se tornaram públicas, as ações despencaram e vieram os prejuízos "substanciais". "Se os fundos investidores tivessem sabido de antemão dos problemas, não comprariam os ativos da Petrobrás", afirma o texto do processo, que tem 202 páginas e é assinado pelos escritórios Kessler Topaz Meltzer & Check LLP e Stradley Ronon Stevez & Young LLP, ambos do Estado da Pensilvânia.

O balanço auditado da Petrobrás do terceiro e quarto trimestre de 2014 é citado como evidência do esquema de corrupção. O texto cita as perdas com a Lava Jato e a reavaliação contábil ("impairment") da companhia que somam US$ 19,5 bilhões. "Esta ação judicial tem origem por conta de um amplo esquema para canalizar bilhões de dólares em pagamentos de propinas para executivos na Petrobrás", afirma o documento entregue na Corte pelos fundos.

No processo aberto agora o único réu é a Petrobrás, ao contrário das ações anteriores, que incluíram executivos da empresa, como a ex-presidente Graça Foster, e bancos que cuidaram da emissão de papéis no mercado internacional, além de subsidiárias internacionais da petroleira. Apesar de não ser citada como réu, o nome de Graça é mencionado várias vezes no documento, ressaltando que ela insistiu que a empresa era uma "líder mundial em transparência e governança", mas nada fez para comunicar o esquema de corrupção, que ficou escondido por anos. (AE)



22 de maio de 2015
diário do poder

DONOS DE "CONSULTORIAS" MULTIPLICARAM BENS EM ATÉ 97 VEZES


APENAS 11 'OPERADORES' DO ESQUEMA FATURARAM R$ 311,2 MILHÕES


AS POSSES DO LOBISTA MILTON PASCOWITCH MULTIPLICARAM 
POR 50, SALTANDO PARA R$ 28,2 MILHÕES. 
(FOTO: LUIZ CARLOS MARAUSKA/ESTADÃO CONTEÚDO)


Donos de empresas de consultoria e assessoria investigados na Operação Lava Jato tiveram um enriquecimento meteórico entre 2003 e 2013, período em que o esquema de corrupção na Petrobrás funcionou, segundo seus delatores, de forma “institucionalizada”. Conforme o caso, o patrimônio dos envolvidos se multiplicou por até 97 vezes.

Os dados constam de relatório da Receita Federal elaborado a pedido da força-tarefa encarregada das investigações. O Fisco avaliou as finanças declaradas por 11 pessoas apontadas como operadoras do esquema e descobriu que, apenas entre 2006 e 2013, elas movimentaram R$ 311,2 milhões.

O lobista Milton Pascowitch era dono de bens e direitos que somavam R$ 574 mil em 2003. As posses se multiplicaram por 50 no período, saltando para R$ 28,2 milhões.



22 de maio de 2015
diário do poder

FRAUDE MILIONÁRIA

GRUPO CANHEDO É ACUSADO DE FRAUDES DE R$ 875 MILHÕES

CANHEDO CONTROLA O TRADICIONAL HOTEL NACIONAL E FOI DONO DA VASP


A Polícia Federal deflagrou em Brasília a Operação Patriota, destinada a desbaratar um esquema fraude em execuções fiscais, em conjunto com a Procuradoria da Fazenda Nacional, que lesou os cofres públicos em mais de R$ 875 milhões.

O nome da operação se refere a um dos negócios do Grupo Canhedo, controlador do tradicional Hotel Nacional, de Brasília. A identidade dos envolvidos não foi confirmada oficialmente porque o caso corre em segredo de Justiça.

Para tentar fugir à fiscalização e ao bloqueio judicial de suas contas bancárias, os negócios do grupo eram feitos apenas com dinheiro vivo e cheques. Até os clientes do hotel precisavam pagar suas diárias dessa maneira. Para receber esse dinheiro, o grupo criou empresas fantasmas, segundo os investigadores.

Foram cumpridos 29 mandados judiciais, sendo 18 de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva. O Grupo Canhedo, que já foi proprietário da empresa aérea Vasp, construiu sua fortuna com a empresa de ônibus Viplan, que foi uma das maiores do País.

A operação, solicitada pela PF, foi determinada pela 10ª Vara Federal do Distrito Federal, que também decretou intervenção nas empresas investigadas, com sua gestão entregue a um Auditor Fiscal a ser indicado pela Receita Federal. Essa medida, segundo os investigadores, está prevista no artigo 319 do Código de Processo Penal, entre as medidas alternativas à prisão.

Com o afastamento dos gestores e a indicação de um interventor a intenção é garantir que as empresas continuem funcionado e que, portanto, os empregos dos funcionários do grupo sejam mantidos e os valores devidos ao Fisco voltem a ser recolhidos.

Ainda não foram divulgados mais detalhes do caso, como a identificação do grupo e dos seus controladores, o que somente vai acontecer em instantes, às 10h30, em entrevista na superintendência da PF em Brasília.

Informações preliminares dão conta de que não foram realizadas prisões, mas apenas cumpridos mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva, para prestar depoimentos.



22 de maio de 2015
diário do poder

ENTREVISTA A LA POLITÓLOGA GLÓRIA ÁLVAREZ




22 de maio de 2015

NINGUÉM GOSTA DE NOVELA


Meu primeiro encontro com ela foi há muito, muito tempo. Basta dizer que a televisão ainda era televizinha. Se eu acrescentar que nessa época as pessoas conversavam e sabiam conversar, você talvez nem consiga situar-se no tempo e no espaço; ou talvez pudesse dizer espaço-tempo, só para lembrar Einstein.

Nessa época longínqua, muito longínqua, fazer uma visita e não participar da conversa era grosseria, falta de educação. Por aí você percebe que estou falando de outro mundo, que era civilizado sem precisar de tecnologia digital, computador, celular, televisão. Além de civilizado, era educado, decente, humano, tranquilo, pensativo, agradável. Como estamos longe de tudo isso!...

Você já concluiu que hoje o alvo das minhas flechas é a tecnologia. Mais especificamente, a televisão. Começo por contar-lhe as circunstâncias em que ela me foi apresentada. Ou melhor, nem houve apresentação, ela se intrometeu.

Eu havia terminado as provas do vestibular, e os resultados estavam previstos para daí a uma semana. Um amigo convidou-me para visitar com ele a fazenda dos pais, onde descansamos agradavelmente quatro dias. Um dos dias foi dedicado a visitar os parentes que residiam na cidade. Fomos muito bem recebidos em todas as casas, exceto uma. Nada contra os anfitriões, que também nos receberam muito agradavelmente. Quem não recebeu bem fui eu.

(Como!? Então você era o visitante, e diz que não os recebeu bem?)

Era eu o visitante, sim, na companhia do meu amigo. Mas o fato é que não agi como visitante; ao menos como um que possa considerar-se educado. O que aconteceu então? É que havia na sala uma televizinha, onde tolos diziam tolices como as que depois ocuparam cadeira cativa. Reluzentemente iluminada, e até então desconhecida para mim, a curiosidade desviou minha atenção, desligando-me dos donos da casa. Minha sorte foi que o meu amigo falava pelos quatro cotovelos (os joelhos dele também falavam), e supriu a minha deseducada ausência mental.

Parece que o meu amigo não percebeu a minha distração, mas quando ele depois comentou trechos da conversa, constatei que não me lembrava de quase nada. Foi assim que passei a encarar a televisão como minha inimiga pessoal.

Enquanto isso os professores examinavam as provas, e devem ter gostado das minhas, pois na volta fui surpreendido com um terceiro lugar entre mais de oitocentos candidatos.

Durante o curso universitário, não me sobrava tempo para defrontar-me com a televizinha. Concluído o curso, o exercício profissional deixou-me menos tempo ainda. Enquanto isso a TV foi ocupando o lugar de visita não convidada em todas as casas e emudecendo os familiares. Mas a minha ferrenha inimizade permaneceu e há de permanecer em constante crescimento, mesmo que no final a avalanche televisiva me marginalize como derrotado. Sou seu detrator contumaz, principalmente devido à destruição da vida de família, e mesmo da própria família. Não perco oportunidade para deblaterar contra essa ação deletéria, mas venho constatando este fenômeno estranho: embora todos tenham televisão, ninguém gosta dela.

(Esse sujeito é maluco! Quem é que não gosta de televisão?!)

Caro leitor, não estou falando só da minha experiência, da minha idiossincrasia (dê uma olhada no dicionário). Digo isso com fundamento estatístico, baseado em pesquisa de campo. Com frequência algum amigo me pergunta se vi tal coisa na televisão. Respondo comodamente, desafiadoramente:

— Não vi, porque não vejo televisão.

— Como!? Você não tem televisão?!!

— Não tenho, nunca tive, nunca vou ter. E se alguém me der uma de presente, ela vai para o lixo, fazer companhia aos muitos outros lixos que ela despeja dentro de casas como a sua.

Trombadas assim são muito eficientes. Logo o atingido procura atenuar sua culpa no delito que denunciei. Mais ou menos assim:

— É... de fato a televisão leva pra dentro de casa muito lixo, como nas novelas. Eu só tenho a minha para ver noticiário, um futebolzinho...

(Uhn! Sei! Onde foi mesmo que deixei minha aljava? Ah!! Lá vai flecha!)

— E junto com isso entra todo o outro lixo, não é?

Bem, leitor, vamos abrir as exceções de praxe, e ponderar que você não anda tão mal, se gosta de noticiário e de um futebolzinho. Mas junto com isso entram torrentes de imundícies, como novelas agressivas, humoristas desqualificados, propagandas inescrupulosas, modelos seminus e analfabetos loquazes. Então vamos colocar a coisa assim: Você não gosta de novela, como todo mundo, por isso vai se desfazer da televisão para não ter em casa esse lixo; e também muitos outros que o acompanham.


22 de maio de 2015
Jacinto Flecha

CRIME & CASTIGO

Se a Operação Lava-Jato chegar um dia a um final sem que todos os seus denunciados recebam a devida condenação pelos crimes perpetrados, resta-me o consolo da lei da vida.

A grande punição dessa pandilha de empreiteiros, empreitados. empreitadores e receptadores flagrados na Petrobras roubando o que há e o que não há atrás de cada porta da máquina governamental, é que o crime é tão ou mais humilhante e deplorável que a cadeia. É que o crime em si mesmo é que faz, é que configura o criminoso.

Qualquer um desses celerados que escape da prisão, não escapa de si próprio. O mal que tenha feito corroerá sua consciência, mais dura e implacável condenação de um homem a si mesmo. E se, amortecida estiver a sua essência moral, então não escapará da sociedade que sempre o terá como um criminoso, como um delinquente, como um bandido.

Nem seus filhos desejarão que seus filhos sejam um dia como o avô. Tem que ser muito desgraçado para se dependurar nos galhos da árvore da vida, atravessar a sua própria história como um nababo e chegar a um final de existência tão miserável quanto sinistro e desumano.



22 de maio de 2015
Laoviah Raziel

A REBELIÃO DOS CANÁRIOS


Os mineiros tinham, até bem adiantado o século XX, uma técnica infalível para proteger-se nas profundidades da rocha: os canários.

A pequena ave, mais sensível que o homem à falta de oxigênio e aos gases tóxicos, morreria primeiro que estes se nas minas houvessem gases venenosos ou demasiado monóxido de carbono. Se os mineiros vissem os canários morrerem ou asfixiarem-se, sabiam que deviam abandonar a mina à toda velocidade. O canário era o primeiro que sofria por um mal que acabaria por matar a todos.

Em Skopje, na ex Iugoslávia, encontrei certa vez um ancião que havia sobrevivido à história eriçada de guerras de seu país. Me contou o segredo de sua sobrevivência: “Quando os judeus são perseguidos ou escapam – disse com sua boca desdentada – é hora de fazer as malas”.

O ancião iugoslavo tinha razão: na história moderna os judeus foram os “canários” do mundo. Elementos minoritários e vulneráveis da sociedade, os judeus foram sempre o primeiro alvo dos movimentos de destruição e desumanização.

Na Inglaterra covarde do “apaziguamento”, Winston Churchill denunciava o verdadeiro caráter da Alemanha Nazi. Um regime que começa perseguindo os judeus – dizia Churchill – cedo ou tarde ameçaria a liberdade e a vida de todos.

A temperança moral do mundo é posta à prova. Se os judeus podem ser perseguidos ou assassinados impunemente – raciocinam os tiranos – então pode-se passar para o próximo passo. Todas as grandes ditaduras de nossa época – nazismo, stalinismo, esquerda, direita – tiveram os judeus como o alvo predileto e como coelhinhos da índia de sua violência assassina. Todas terminaram por causar milhões de mortos de todas as nações.

Se o gás mata o canário, cedo ou tarde matará o mineiro. E isto é o que sucede hoje em dia com o fundamentalismo islâmico. O integralismo é o novo totalitarismo que ameaça as sociedades ocidentais. Sob um verniz de conceitos religiosos, o fundamentalismo é uma doutrina política totalitária e fascista. Israel e os judeus foram seu primeiro alvo e, graças à indiferença do mundo, agora o flagelo estende-se por qualquer lugar como uma impiedosa epidemia.

Quando israelitas morrem despedaçados pelas bombas terroristas, o mundo cala. Vozes de condenação se levantam contra Israel e não contra os assassinos. Os algozes e não as vítimas recebem a solidariedade do mundo. O judeu entre as nações ocupa o mesmo lugar que o judeu entre as gentes: o eterno culpado, o vilificado, o causador de problemas. Israel é acusado de causar o terrorismo islâmico. Na realidade, o estado judeu é sua primeira vítima e é um campo de provas para os assassinos.

A covardia e a indiferença do mundo em lidar com o terrorismo, convenceu os assassinos de que poderiam atacar os Estados Unidos, a Europa e a Ásia.

Assim, o terrorismo – que poderia ter sido entendido com uma ação combinada e enérgica – converteu-se em um mal em escala mundial.
Houve também outros “canários” na história moderna. Em 1938 o estado pacífico e democrático da Checoslováquia foi a primeira vítima de Hitler. Foi um balão de ensaio do Nazismo. Se Praga caísse, cairiam também Varsóvia, Amsterdam, Paris e Londres. No infame tratado de Munique, as potências democráticas claudicaram ante Hitler que, convencido de sua debilidade, sentiu-se confiante para lançar a Segunda Guerra Mundial.

A lógica de Munique continua viva, tanto na Europa quanto nos assassinos. Quando a voracidade de Hitler reclamava a Checoslováquia, França e Inglaterra assinalavam o pequeno país centro-europeu como o culpado de uma tensão que levaria à guerra. “Esse país insolente deve ceder – dizia Chamberlain, referindo-se à Checoslováquia – para salvar a paz”.

Praga foi forçada a ceder, a Checoslováquia desapareceu e assim começou a guerra. Hoje em dia a mesma lógica se aplica a Israel. Frente ao terrorismo, Israel deve ceder, para salvar a paz.

A falácia desse argumento é óbvia: o fundamentalismo islâmico não busca tal ou qual reivindicação territorial, senão a destruição de Israel e do Ocidente em seu conjunto. Frente a esta realidade, o Ocidente e especialmente a Europa são suicidamente cegos.

Se, como a Checoslováquia, Israel cai ante o fundamentalismo, qual será o próximo passo? França, que tem em seu seio milhões de muçulmanos e onde os grupos fundamentalistas ganham cada vez mais poder? Inglaterra, onde imãs fundamentalistas queimam bandeiras inglesas?

O que o Ocidente parece não entender é que Israel é o campo de batalha onde lança seu próprio futuro. Se Israel cai frente ao terrorismo, então todo o Ocidente estará ameaçado. As mesmas redes de tráfico de armas e dinheiro que os terroristas usam para atacar Israel, são utilizadas para atacar os Estados Unidos e outros países ocidentais.

Im’ad Magnia, o assassino do Hezbollá que organizou o atentado à AMIA, foi ativo na rede que permitiu a tragédia do 11 de setembro. Ramzee Yussef, o líder do primeiro atentado às torres gêmeas em 1993 fez suas primeiras armas no Hamas. O Irã arma o Hezbollá e com as mesmas redes comandou o assassinato de dissidentes nas ruas de Berlim.

Em Istambul, a estratégia dos “judeus primeiro, depois o resto” é ensaiada com sangrenta eficácia: duas sinagogas são atacadas e só uns poucos dias depois alvos ingleses e turcos também o são.

Berlim e Jerusalém: Durante a Guerra Fria, o mundo pareceu ter aprendido. O Ocidente se deu conta de que Berlim era o canário que não podiam deixar morrer. Enquanto a ditadura comunista construía o muro de Berlim, John F. Kennedy visitou a cidade sitiada e clamou “Eu sou um berlinense”. Estava enviando uma mensagem clara e forte: Se Berlim é atacada, todo o Ocidente o é. Se deixamos Berlim cair, isolada e fechada em um mar de forças hostis, então nós seremos os próximos.

Israel – curioso paradoxo – é como Berlim: um oásis democrático e ocidental rodeado de forças hostís e de um mundo árabe em crescente radicalização. Assim como Berlim podia ser deglutida pela “maré” soviética, Israel pode desaparecer sob 20 ditaduras árabes.

Porém, a lucidez do mundo – em especial da Europa – durou pouco. A cegueira judeofóbica não deixa ver o óbvio e empurra a Europa para uma espiral suicida. Em vez de olhar o problema na cara, os europeus consideram Israel como “um perigo para a paz”. Igualmente ridículo que houvesse sido considerar Berlim – e não aos que a ameaçavam- como um perigo para a paz. A mesma cegueira que fez com que Chamberlain chamasse Benes (o líder checoslovaco) de insolente e não a Hitler.

Aos franceses, que por moda ou ódio judeofóbico acusam Israel de ser “o país que mais ameaça a paz mundial”, lhes perguntaria: Se o Hamas vence, como deterão os fundamentalistas da França? Na mente dos fundamentalistas, a queda de Israel aplanará o caminho para futuras conquistas, no coração mesmo da Europa.

Devido à cegueira e à covardia de Munique, a França passou a ser de primeira potência do mundo a um patético país de terceira e a Europa perdeu para sempre seu espaço de preeminência. Agora, graças a seu anti-semitismo e à sua hipocrisia, permitirá ao fundamentalismo islâmico reinar sobre o continente.

A Europa pensa “se Israel não existisse, o mundo seria um lugar mais seguro” da mesma maneira que pensava “se a Checoslováquia não existisse, a Europa estaria mais segura”.

É tão ridículo como um mineiro que veja o canário sofrer se enoje com ele, em vez de pensar que ele e seus companheiros correm perigo.
A “correção política” e a covardia não deixam atacar o problema na raiz.

Experts alemães realizaram, a pedido da União Européia, um estudo sobre os atos de anti-semitismo que assolam a União. A conclusão foi taxativa: elementos radicais muçulmanos estavam por trás da onda de violência anti-judaica e a “nova esquerda” dava legitimação e sustento ideológico aos ataques.

A demonização de Israel nas mídias, coadjuvava a violência.
A reação das autoridades frente a este estudo mostra porquê a Europa vai direto ao desastre: a reportagem foi engavetada por considerar-se demasiado “ofensiva”. Em vez de fazer frente ao problema e tomar medidas enérgicas, a comissão encarregou outra reportagem “mais lanceada”.

Alguém dirá: “Sim, porém, e os palestinos?” “Eles são os oprimidos e não Israel”.

A atitude da Europa não tem nada a ver com os justos reclamos dos palestinos.
Também durante Munique os alemães dos Sudetes (região Oeste da Checoslováquia) eram considerados oprimidos. Eles foram a desculpa de Hitler para reclamar o desmantelamento do pacífico país centro-europeu, apesar de que Praga havia acedido a quase todas as demandas de autonomia dos germanófobos dos Sudetes.

Israel, tal como os judeus, não é odiado pelo que faz, senão pelo que é.
Israel é odiado por ser um oásis democrático e ocidental em um mar de ditaduras. Israel é odiado por apoiar-se em valores de humanidade e liberdade cercado de tiranias sangrentas. Israel é odiado porque apresenta um exemplo nefasto para ditadores e tiranos. Não são os defeitos de Israel o que os terroristas odeiam – os quais existem em abundância -, senão suas virtudes.

A intifada não foi lançada por causa da falta de negociações de paz, senão para fazê-las fracassar. Os atentados suicidas começaram em pleno processo de paz, foram causa e não conseqüência de seu fracasso. Aos olhos da Europa Arafat ganhou popularidade e legitimidade precisamente após rechaçar a paz e lançar uma guerra.

A falácia de que maiores concessões por parte de Israel deterão o terrorismo é tão óbvia quanto perigosa. Ainda os que cremos, como a autora destas linhas, na justiça do reclamo palestino e na necessidade de um Estado Palestino ao lado de Israel, devemos saber que o terrorismo – e a hostilidade da Europa – têm pouco a ver com essa reivindicação.

A solidariedade com os palestinos é, talvez, uma das maiores hipocrisias do século. A Europa que colonizou o mundo árabe, que oprime suas próprias minorias muçulmanas e que cala complacente frente às tiranias que assolam o mundo muçulmano, se descobre como campeã dos direitos humanos precisamente no tema palestino.

A Europa, que - como a França – interveio dezenas de vezes em suas ex-colônias africanas, lava suas culpas nas costelas de Israel. A Europa que inventou o colonialismo, o genocídio e o totalitarismo converte as vítimas em culpados.

A Europa jamais protestou quando os palestinos eram submetidos pelo Egito, Síria e Jordânia. Tampouco quando o Kuwait expulsou 300.000 palestinos de seu território. Só quando Israel é o suposto “perpetrador”, a solidariedade se faz ver.

Longe de ser solidária, a Europa trata outra vez de “apaziguar” assassinos. Os que pagam, são outra vez os judeus.

Se não temos canários – pensaria um mineiro néscio e suicida – então não haverá gás tóxico na mina. Se não existisse Israel – pensam europeus covardes e anti-semitas – então não haveria fundamentalismo islâmico.
Os europeus são – nas palavras do grande Milan Kundera – “os engenhosos aliados de seus próprios coveiros”.

Israel, é como disse um jornalista israelense, um país “on probation”. O problema não são os territórios ocupados, nem o conflito palestino. O tema é o direito de Israel existir. A legitimidade mesma da existência de um Estado Judeu. Nenhum outro país do mundo tem sua existência mesma questionada. Inclusive os que cremos na necessidade de entregar territórios em troca da paz, não devemos enganar-nos. A hostilidade da Europa não tem nada a ver com os territórios.

Em uma notória pesquisa, 19% dos italianos disseram que Israel deveria deixar de existir. Mais revelador que o resultado é propriamente a pergunta: Por que é legítimo para um pesquisador europeu pôr em dúvida o direito de Israel existir e não o da Índia, Síria, França ou Itália?

Israel tem que pedir permissão e perdão pelo mero fato de existir. Quem acompanha atentamente as emissões televisivas européias verá que já não se debate acerca de tal ou qual plano de paz, nem acerca de regras territoriais. O debate centra-se em deslegitimizar a existência do Estado.

A “nova esquerda”, que na realidade tem pouco de nova e muito de ranço stalinista totalitário, converteu em legítimo e cool o anti-semitismo e a deslegitimização de Israel. Os anti-semitas modernos já não são velhos nazis ou fascistas repulsivos, senão intelectuais progressistas e da moda. Como dizem Alain Finkielkraut, “é o tempo dos anti-semitas simpáticos”.
O filósofo judeu-francês – que, diga-se de passagem, é um antigo militante pela causa palestina – queixa-se amargamente: “os debates nos quais participamos não são discussões, senão tribunais”.

Aceita-se a terrível irracionalidade de ser anti-semita como condição necessária para ser liberal e anti-racista. O “direito de solo” que os intelectuais judeus têm que pagar para serem aceitos continua subindo: se antes tinha que ser pró-palestino, agora há que franca e plenamente negar o direito a Israel de existir.

A sociedade e os meios de comunicação colaboram ativamente. “Quando Le Pen – líder da extrema direita francesa – atacava os judeus, era condenado unanimemente; quando Tarik Ramadam – pseudo intelectual muçulmano de esquerda – lança uma lista de ‘judeus suspeitos’, é convidado a explicar sua posição em ‘tout le monde en parle” (um programa da atualidade muito em moda na elite artísitica e intelectual francesa).
Se houvesse objetividade, se poderia lutar com a mesma força pelos direitos dos palestinos e pelo direito de Israel de existir livre e seguro, como um estado judeu e democrático.

Paradoxalmente, as posturas israelenses mais extremas se vêem fortalecidas por esta atitude. Se o que se nega é a existência mesma do Estado, inclusive em suas fronteiras de 1967, - pensa a extrema direita – então, de que serve fazer dolorosas concessões?

Se o que se deslegitimiza é Tel Aviv, então para que renunciar a Hebron? O argumento é logicamente irreprochável. Para que ceder territórios que se tenham no coração da consciência histórica judaica, se esse sacrifício não nos assegurará a paz, o reconhecimento e a segurança?

Frente a isto, a esquerda se vê esvaziada de argumentos e impelida aos extremos, e os que desejam um acordo baseado em concessões mútuas sentem-se como ingênuos que ignoram os verdadeiros motivos de seus adversários.

Quando o presidente francês Daladier voltou de Munique esperava ser linchado por sua claudicação ante Hitler. Em vez disso, foi recebido por uma multidão que o ovacionava por ter salvado a paz. Ninguém queria “morrer pela Checoslováquia”. Fingindo um sorriso, voltou-se para seu ministro das Relações Exteriores e murmurou: “Quels cons!” “(Que imbecis!)”.

As similitudes com a época atual são arrepiantes. Líderes que legitimam ditadores e assassinos são tratados como “heróis da paz”, enquanto asseguram um futuro de mais guerra e terrorismo. Me pergunto se enquanto desfrutava de seu orgasmo midiático anti-americano e anti-israelense, Jacques Chirac se havia voltado para Dominique de Villepin para dizer “Quels cons”...

Canários indóceis. Agora bem, suponhamos que em uma mina, os canários dizem basta! Basta de morrer para alertar os mineiros de perigos iminentes. Basta de sofrer, porque de todos os modos os mineiros não nos prestam atenção e seguem envenenando-se lentamente com os gases tóxicos da mina.

Basta de morrer gratuitamente, porque a triste verdade é que aos mineiros não importa.

Basta de asfixiar-nos por nada, porque a única coisa que recebemos é o ódio e não a solidariedade dos mineiros aos quais salvamos. Basta, porque os mineiros jamais aprenderão a lição e jamais entenderão que se nós morrermos, morrerão eles também. Basta, porque nem sequer cuidam de nós, para cuidarem-se a si mesmos.

Basta. Nos negamos a ser as cobaias da mina; vamos fazer o que fazem todos os demais: defender nossa própria vida antes de tudo.
Esta é a legítima eleição de Israel hoje.


22 de maio de 2015Pilar Rahola foi deputada no Parlamento espanhol pela "Izquierda Republicana Catalana" e vice-prefeita da cidade de Barcelona. Escreve nos jornais El País, El Periódico e Avui (em catalão). Dirige o programa de entrevistas na TV espanhola. Além disso, participa de debates públicos e congressos internacionais sobre a temática da mulher e da infância. Tem vários livros publicados em catalão e castelhano.