"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

COLONIZAÇÃO CULTURAL

 

Um dos recalques mais profundos de que sofrem certos integrantes de nosso «governo popular» é definido pela magistral locução complexo de vira-lata. Muitos figurões – entre os quais nosso guia – não conseguem se libertar desse sentimento de inferioridade que lhes corrói as tripas.
 
Cachorro 23
O Lula, apesar de ser hoje um homem rico e de ter ocupado o posto mais importante da República, continua vendo um fosso entre ele e a «zelite». Convenhamos que, em grande parte, o culpado é ele mesmo.
 
Discurso 2
 
Desde que subiu pela primeira vez numa caixa de sabão pra discursar na porta da fábrica onde trabalhava, passaram-se quase quarenta anos. Tempo para estudar, houve. Se nosso guia preferiu dedicar-se exclusivamente a assuntos que lhe pareceram mais lucrativos, foi por opção livre e consentida. Se ainda hoje é inculto, fala palavrão em público e gospe pro santo, que não se espante se a maioria o rejeita.
 
Arribado à presidência, seus áulicos o aconselharam a empreender ações firmes para liberar o povo dos grilhões da colonização estrangeira. Passaram a estigmatizar tudo o que lembrasse louros de olhos azuis. Abriram os braços a Ahmadinedjad, do Iran; a Chávez, da Venezuela; aos bondosos irmãos Castro, de Cuba; a Evo, da Bolívia. Para reforçar, sorriram a ditadores africanos.
 
Na cabeça dessa gente, o remédio para nos livrarmos do complexo de inferioridade é renegar a cultura ocidental, justamente aquela da qual fazemos parte.
 
Discurso 3
 
Raciocínio míope. Antes de descartar uma camisa, convém ter outra à mão, caso contrário, periga-se sair à rua descamisado. Dado que ninguém pensou em providenciar camisa nova, continuamos usando a que ia ser jogada fora. Com furos, rasgos e remendos aumentados e visíveis.
 
Na França, uma das funções da Académie – instituição equivalente a nossa ABL – é sugerir termos e expressões para substituir empréstimos estrangeiros. Por conselho dos acadêmicos, não se diz marketing, mas mercatique. Não se fala em software, mas em logiciel. Ninguém jamais disse fax, mas télécopie. Email é conhecido como message électronique. E assim por diante. Certos neologismos pegam, outros não. C’est la vie.
 
Chamada Estadão, 29 jul° 2015
                                                       Chamada Estadão, 29 jul° 2015
 
A chamada que colhi hoje no Estadão mostra que a aproximação com Ahmadinedjad, Chávez, Castro & cia não surtiu efeito tangível no campo cultural. Continuamos colonizados. Food park, contêiner, food truck, bike food… um condensado de falta de imaginação!
A desenvoltura que muitos demonstram na hora de roubar é proporcional à timidez de que todos dão prova na hora de ousar expressões novas. É pena.
 
24 de agosto de 2015
José Horta Manzano

!INVADIR O BRASIL! EVO MORALES. iSSO É IDIOTICE, UM SOPRO DE NOSSO EXÉRCITO BASTA PARA O SEU VIRAR PÓ;"




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Nos últimos dois dias a editoria da Revista Sociedade Militar recebeu algumas centenas de emails informando sobre supostas declarações do presidente Evo Morales, que teria dito que “invadiria” o Brasil, e que não permitiria um “golpe”. Se referindo a uma possível deposição de Dilma Roussef. 
Alguns sites respeitáveis republicaram, como provenientes de Morales, termos como “vamos invadir“, “se precisar vamos atacar” etc.

Compreendemos a preocupação de nossos leitores e amigos civis. Contudo, para qualquer militar profissional, uma declaração desse tipo – bastante improvável – soaria como idiota, além de desprovida da ética que deve permear as declarações de um chefe de estado.

O presidente Boliviano disse (veja aqui): “Não vamos permitir golpes de Estado no Brasil e nem na América Latina. Vamos defender as democracias… Pessoalmente, nossa conduta será defender Dilma, presidente do Brasil, e o Partido dos Trabalhadores …’

e “A direita imperialista quer desarticular os processos revolucionários na América Latina. Nós lutaremos e apoiaremos incondicionalmente os governos de Brasil, Equador, Uruguay, Venezuela, Cuba … é nossa obrigação defender os processos democráticos e a democracia”. (tradução livre)

Para nós, o novo showzinho de Evo Morales não soa como ameaça, na verdade traduz-se em ótima notícia, significa que a esquerda latino-americana reconhece que o governo de Dilma Rousseff chega ao ocaso e que é apenas questão de tempo para que a hegemonia esquerdista também termine na América do Sul.


Quanto a “invadir o Brasil”, uma “ameaça” desse tipo não merece nem discussões técnicas aprofundadas.

Não podemos aqui adjetivar os militares bolivianos, haja vista que as declarações partiram de Evo Morales, um político, e não de soldados profissionais. A despeito das falácias do presidente, que não mencionou forças armadas ou invasão, seus generais não seriam irresponsáveis e nunca entrariam numa pendenga com o Brasil. Seria um crime cometido contra seu próprio país.

Se Dilma Roussef ou qualquer outro político for afastado de seu cargo como consequência de um processo conduzido de forma legal, as instituições permanentes aqui existentes estarão prontas para cumprir o seu papel de garantir os poderes constituídos, caso estes sejam ameaçados.

Atualmente o Brasil tem condições de dizimar quase completamente o exercito boliviano ainda antes que saísse de dentro dos quarteis. Somente com o emprego de nossa artilharia terra-terra, o Brasil pode varrer mais que 50% do território de Evo Morales. Por conta disso tudo, é tecnicamente impossível que militares bolivianos empreendam qualquer ação que ameace minimamente nossa soberania.


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Se existisse um ranking oficial de poderio militar na America latina, a Bolívia ficaria próximo do último lugar enquanto o Brasil ocupa o primeiro. O exército boliviano sempre esteve mais orientado para ações policiais do que para defesa nacional.

Há apenas dois anos Evo Morales teve que se aquietar quando o Chile o advertiu que parasse de insistir na tão pretendida saída para o pacífico. Na época o presidente chileno deixou claro que se fosse necessário iria defender seu território “com toda a força do mundo“. Evo recuou.

Revista Sociedade Militar. Obs: A Revista Sociedade Militar Online é em veículo independente, sem vínculos com partidos políticos ou instit. governamentais, que divulga análises, artigos e notícias relacionados à politica, segurança pública e defesa. Contamos com vários militares, oficiais e praças, entre nossos colaboradores.



24 de agosto de 2015
Original/Completo em http://www.sociedademilitar.com.br/wp/2015/08/invadir-o-brasil-evo-morales-isso-e-idiotice-um-sopro-de-nosso-exercito-basta-para-o-seu-virar-po.html

UM GENERAL QUE CONVERSA

Foi na segunda-feira passada. Na sede da entidade, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil lançava um livro de conotação jurídica, cercado de associados, quando chegou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. 
Vinha prestigiar o autor. Como sempre acontece em reuniões de advogados, a oportunidade foi aproveitada para saudações e discursos. 

Nada haveria a registrar não fosse o conteúdo das palavras do chefe da mais alta corte nacional de Justiça. Ele dedicou longos minutos a exaltar a pessoa do Comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, que nem estava presente e, muito menos, relaciona-se com a ciência jurídica, apesar da postura eclética que adota nos intervalos do desempenho de suas funções castrenses. 
É conhecido por reunir-se com representantes das diversas categorias sociais, de empresários, intelectuais e, obviamente, advogados e ministros de tribunais superiores. Como Lewandowski.

Nada há a estranhar. Já se foram os tempos bicudos em que qualquer conversa de general acendia luzes amarelas nos variados semáforos de Brasília. Ressalte-se, apenas, que o Comandante do Exército não parece seguir o figurino de seus antecessores mais recentes, empenhados em praticar o isolamento e o mutismo. Afinal, as Forças Armadas integram as instituições nacionais. Por que não ouvi-las?

O vice-presidente Michel Temer comentou, dias atrás, necessitar o país de alguém capaz de uni-lo. Muita gente supôs estar-se referindo a ele mesmo, coisa que não correspondia à sua postura cautelosa e cordata. Auxiliares da presidente Dilma conseguiram envenená-la e o resultado foi uma espécie de isolamento de Michel, apesar de sua condição de coordenador político do governo. A tréplica não se fez esperar, sobrevindo informações de que entregará a missão, considerando-a cumprida depois da aprovação do ultimo projeto do ajuste fiscal.

Ontem, bombeiros do palácio do Planalto tentavam apagar o incêndio, mas não estava fácil. De qualquer forma, a conclusão será de que o vice-presidente, se pretendia, perdeu as condições de aglutinador de soluções inusitadas. Não poderá unir nada. Ainda mais se progredir no Tribunal Superior Eleitoral o pedido do ministro Gilmar Mendes para investigações sobre a existência de dinheiro podre na campanha petista do ano passado.

Nesse caso, se anulada a eleição, a nulidade atingiria a presidente Dilma e seu vice. Como Eduardo Cunha e Renan Calheiros, na fila sucessória, encontram-se impossibilitados de unir até seus respectivos plenários, a bola cairia nos pés de Ricardo Lewandowski, mesmo por noventa dias para convocar novas eleições.



24 de agosto de 2015
Carlos Chagas

O GOVERNO PETISTA ACABOU

O governo petista acabou! Como um doente terminal, pode durar meses ou anos, com todos os sofrimentos daí resultantes. Impeachment ou renúncia teriam a imensa vantagem de dar um basta a essa situação, com a segunda alternativa sendo muito melhor que a primeira, por ser mais rápida e menos traumática. Aguardar as eleições de 2018 pode significar que o novo governo que assumir terá de reestruturar totalmente um País exaurido.

O discurso petista de que qualquer abreviamento do mandato da atual presidente seria um golpe nada mais é que um mero instrumento demagógico. Impeachment é um instrumento previsto constitucionalmente e utilizado quando do governo Collor, forçando-o à renúncia. A transição não foi traumática, o então vice-presidente Itamar Franco fez um governo exemplar, de união nacional, e foi o responsável pelo Plano Real. O mesmo pode repetir-se agora com o vice-presidente Michel Temer, a quem não faltam condições para tal mudança.

Aliás, o PT parece não ter memória, pois chegou a apregoar o impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Não era golpe! No que diz respeito às convicções democráticas, o PT e seu governo têm dado sinais indeléveis de seu pouco apreço pelas instituições republicanas, defendendo os governos bolivarianos e o socialismo do século 21 em nossos países vizinhos. A democracia desmorona a golpes de facões chavistas na Venezuela e nosso governo não cessa de defender sua “democracia”.

Mais recentemente, o presidente da CUT, Vagner Freitas, declarou, dentro do Palácio do Planalto, que ele e seus comparsas pegariam em armas para defender o atual governo. Como assim, pregando a violência no palácio e chamando isso de defesa da democracia? A situação não deixa de ser hilária. O PT não defende o Estatuto do Desarmamento? Terão os sindicalistas da CUT armas? Onde as obtiveram?

O ex-presidente Lula tentou logo depois fazer um remendo, dizendo que a verdadeira arma seria a “educação”. Conversa fiada. Repete o comportamento que o caracterizou no governo: atiça o fogo e logo diz atuar como bombeiro.
Acontece, porém, que o País mudou. Nas manifestações nacionais do dia 16 um boneco inflável de Lula como presidiário virou meme nas redes sociais e apareceu nos jornais e na mídia em geral. Um símbolo, nesse dia, ruiu. É toda uma época que chega ao seu término.

O boneco estampava o número do PT e um artigo do Código Penal, em clara demonstração de que seu nome já está associado à corrupção, à Lava Jato e à prisão. 
Perdeu o efeito teflon, ou talvez tenhamos agora um outro tipo de teflon, o negativo, tudo passando a colar nele e na sua sucessora. 
Os acordos negociados com o presidente do Senado não tiveram nenhum efeito popular senão o de colar o senador Renan Calheiros às figuras de Dilma e Lula. O acordão não funcionou para esse importante setor da opinião pública.

As manifestações, ao contrário das anteriores, focaram no afastamento da presidente, insistindo no impeachment ou em eventual renúncia. Sua imagem não apresenta nenhuma melhora. Ao contrário, piora. Os protestos estão apontando para o fim do ciclo petista, procurando abreviá-lo.

Note-se que essas manifestações foram maiores e mais importantes do que se previa – supostamente uma baixa adesão. Foram maiores que as de abril reuniram acima de 1 milhão de pessoas, apesar de jornalistas e “analistas” simpáticos ao PT procurarem camuflar esse fato. Globo e G1 fizeram um cálculo, segundo as Polícias Miliares (PMs), de 879 mil participantes, não contando os manifestantes do Rio e do Recife, sem estimativas das respectivas PMs.

Ora, o Rio congregou pelo menos 100 mil pessoas e o Recife, 50 mil, o que dá um total superior a 1 milhão. Esses números só perdem para as manifestações de março. As imagens cariocas foram impressionantes.

Ademais, trata-se de um processo que começou em março, seguiu em abril e chegou a agosto com novas manifestações já sendo previstas. Tivemos três enormes manifestações em cinco meses, algo inédito na História do nosso país. Por último, esta última manifestação teve foco, centrado nas figuras de Dilma e Lula, com a bandeira explícita do impeachment.

Exemplo público a ser seguido concretizou-se no aparecimento de camisas e faixas em apoio ao juiz Sergio Moro. Ele representa atualmente um ideal de Justiça, algo digno de ser imitado. A Nação não mais tolera metamorfoses ambulantes, quer correção na vida pública e esperança de um País justo, no qual um novo futuro possa ser vislumbrado.

Do ponto de vista político, essas manifestações de apoio a Moro significam uma forte sustentação à Operação Lava Jato contra qualquer tipo de pizza. A sociedade está atenta aos seus desdobramentos e, certamente, não aceitará nada que possa prejudicá-la. Os culpados deverão ser punidos, tanto no setor empresarial quanto no político. Se isso não ocorrer, as manifestações poderão ganhar ainda mais fôlego. Um recado foi enviado!

Apostar numa melhora da situação econômica significa voltar a ouvir os cantos de sereias que nos guiaram desde a saída de Antônio Palocci do Ministério da Fazenda. Os “mágicos” economistas petistas levaram o País a esse buraco, os ditos desenvolvimentistas incrustados no governo e no partido. A inflação deve alcançar dois dígitos (ou perto disso) no final do ano, o desemprego está aumentando, o PIB é estimado em 2% negativo neste ano e deve permanecer negativo no próximo, o poder de compra da classe média e dos trabalhadores em geral está caindo, e assim por diante.

O Natal e o ano-novo não serão de festa do ponto de vista social. A quebra de expectativas e a desesperança só tendem a piorar. E será nesse cenário que o clima de insatisfação política se vai expandir.



24 de agosto de 2015
Denis Rosenfield

CATARSE REPUBLICANA

SÃO PAULO - O acordão fracassou. A tentativa de conchavo feita nos gabinetes escurecidos entre integrantes do meio empresarial e do político, para dar sobrevida tutelada à Presidência Rousseff, arruinou-se com menos de 20 dias de existência.

A manutenção da pressão nas ruas contra Dilma, o distanciamento de Michel Temer e do PMDB em relação ao Planalto e a certeza de que a economia e o petrolão produzirão novas avarias na nave presidencial e petista inviabilizaram o acerto.

O acordão, velho cacoete elitista de arrancar privilégios de governos fracos, não pode ser financiado por um Tesouro em farrapos. Não pode, sobretudo, ser justificado à luz do que ocorre hoje no Brasil.

Esta sublime catarse republicana não permite que prospere a prática das conversas ao pé do ouvido, das mensagens assopradas, dos recados de gente influente e dos gestos de associações empresariais financiadas à moda varguista. Os atalhos à aplicação impessoal da lei e à ação mecânica das instituições de controle, se não foram de todo bloqueados, estão muito mais custosos de ser trilhados.

Há uma crise institucional, mas não no sentido que políticos desesperados para salvar o próprio pescoço balbuciam por aí. A crise é de afirmação, quiçá de consolidação, das instituições da República.

Eduardo Cunha poderá livrar-se das fundadas acusações contra ele apenas pela via regular do contraditório e do devido processo legal. As contas da campanha de Dilma Rousseff à reeleição não escaparão de escrutínio, assim como as manobras que permitiram ao Executivo federal uma soberba gastança no ano eleitoral de 2014.

Se alguém pensa que se controla o desfecho político dessa eclosão multicolorida de atuações institucionais, está iludido e engana seus interlocutores. O futuro, mesmo o mais próximo, está aberto. A única certeza que pode ser dita sobre ele é que se desenvolverá em praça pública.



24 de agosto de 2015
Vinicius Mota

DESCENDO A LADEIRA



Dilma é a presidente do “sem”.

Sem programa de governo.

Sem equipe que preste.

Sem base de apoio no Congresso.

Sem interlocutores de confiança nos partidos.

Sem apoio popular.

Sem futuro?

Apesar disso, contava com dois fiadores desde o início do seu segundo mandato: Joaquim Levy, Ministro da Fazenda, e Michel Temer, o vice-presidente a quem entregou a coordenação política do governo.

Em breve ficará sem Temer.

“Eu não posso desembarcar. Eu sou o vice”, repetiu Temer à exaustão quando colegas do PMDB cobravam seu afastamento do governo.

Em uma conta grosseira, metade ou pouco mais de metade do partido torce pela queda de Dilma para que Temer a substitua.

Do governo, em definitivo, ele não desembarcará. Seria uma covardia. Afinal, foi eleito junto com Dilma.

Desembarcará, sim, da coordenação política. Porque desembarcado já foi pela própria Dilma.

É no que dá ter-se juntado com uma pessoa que não sabe lidar bem com seus semelhantes.

Dilma pediu socorro a Temer depois de convidar Eliseu Padilha, ministro da Aviação Civil, para assumir a coordenação política do governo. Ouviu um sonoro “não”. Foi humilhada.

O que teria acontecido se o vice-presidente também tivesse dito “não”?

Temer disse “sim” porque acreditou na chance de sair do anonimato reservado aos vices direto para a boca do palco. De fato foi parar ali.

Mas ao protagonismo, condição sem a qual político algum sobrevive feliz, não correspondeu o exercício de fato do poder. Dilma não lhe delegou poderes. Temer acabou boicotado pelo PT.

No regime presidencialista brasileiro, a cooptação de aliados se dá com a distribuição de cargos para que roubem e permitam roubar, e de dinheiro destinado à construção de obras nos redutos eleitorais de deputados federais e senadores.

Temer prometeu cargos e dinheiro e não entregou. Por fim, pregou que “alguém” unificasse o país. Dilma entendeu que esse “alguém” seria ele, e detestou. Perdeu a confiança em Temer.

Tomou-lhe a coordenação política sem dizer que o fazia. Passou, ela mesma, a distribuir cargos e autorizar a liberação de dinheiro para obras eleitoreiras.

Até que a taça transbordou para o lado de Temer: foi quando Dilma entendeu-se diretamente com Renan Calheiros, presidente do Senado.

Em troca do empenho do governo para que ele escape da Lava Jato, Renan inventou a “Agenda Brasil”.

Trata-se de... De nada sério.

Renan reuniu mais de 40 projetos que tramitam no Congresso e batizou-os de “Agenda Brasil”.

Dilma fez de conta que a agenda poderá salvar seu governo do buraco e aproximou-se de Renan.

Atropelado, Temer concluiu que chegara a hora de devolver a Dilma a tarefa que ela lhe deu e tomou sem aviso prévio. Chega! Basta! Estou fora! E assim será.

O que Dilma ganhará com a troca de Temer por Renan? Um aliado capaz de barrar no Congresso as pautas bombas de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara denunciado à Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro.

O comportamento errático de Dilma é típico de quem não entende e não gosta do serviço que faz, e tampouco se cerca de quem entende, embora possa gostar.

É assim que ela pretende se arrastar pelos próximos 40 meses de mandato. Talvez consiga. Não se depõe presidente só porque ele governa mal.

O preço que o país pagará por um governo desastroso será gigantesco, todavia. Aumenta o desemprego. Haverá dois anos consecutivos de crescimento negativo.

Quem sabe essa não será a única forma de aprendermos a votar melhor?



24 de agosto de 2015
Ricardo Noblat

O GOVERNO DILMA E A SÍNDROME DE ESTOCOLMO


Há alguns meses, uma dupla de vagabundos me encostou uma pistola na barriga e exigiu a chave do carro. Ainda sob o impacto do acontecido, fomos, minha mulher e eu, à delegacia mais próxima relatar a ocorrência. 
Era o que se impunha fazer naquele momento e esperávamos, ademais, que a notificação urgente possibilitasse - quem sabe? - recuperar o que nos haviam roubado. Mas isso não aconteceu.

Estou convicto de que tivemos um comportamento normal. 
É o que se faz em tais circunstâncias. Reage-se indo à polícia. Espera-se que os criminosos sejam apanhados. Exige-se que as quadrilhas sejam trancafiadas.

Diante do que acabo de descrever, impõem-se inquietante questão: por que, diabos, quando na condição de cidadãos que veem o país ir à gaita, tantos se recusam a admitir que estão sendo roubados? 
Por que, após serem ludibriados com mentiras, muitos se mantêm defendendo os mentirosos? 
Que síndrome de Estocolmo (1) social e economicamente sinistra é essa que ainda sai às ruas, assina colunas de jornais, esgrima comentários no rádio e na tevê e se entrincheira nas redes sociais para defender o governo?

Agem como vítimas que, após o dano sofrido, saem conversando amavelmente, abraçadas com quem as prejudicou - "Bye, bye, voltem sempre!". (1) 
Essa síndrome designa o vínculo emocional com os sequestradores, desenvolvida pelos sequestrados durante um roubo a banco na capital da Suécia em 1973.

Recebi, ontem um levantamento segundo o qual, somando-se os filiados ao Partido dos Trabalhadores com os militantes do MST, Via Campesina, MTST, UNE e ONGs financiadas pelo governo federal, acrescidos dos blogueiros, MAVs pagos pelo partido e titulares de cargos de confiança, chega-se a umas 15 milhões de pessoas, ou seja a 7% do eleitorado. 
E esse seria, portanto, o piso da aprovação ao governo.

No entanto, os números parecem um pouco inflados. Há gente que não se enquadra em qualquer dessas categorias e se conta entre os tais 7%. 

Quando milhões saem às ruas em centenas de cidades do país, expressando a natural indignação de quem se percebe roubado, ludibriado e vítima de estelionato eleitoral, os protetores do governo tratam de desqualificar suas admiráveis manifestações. 

Afirmam que são mobilizações exclusivas da classe média, como se um governo que fez mais da metade dos votos e em poucos meses cai para 7% de aprovação, não tivesse perdido apoio de todas as classes sociais.

Nestes dias, o petismo busca salvação no andar mais elevado dos poderes de Estado, reunindo homens da estirpe de Lula, Sarney, Renan, Jucá, Barbalho. 
Janta com ministros do STF! Encontra-se secreta e casualmente com Lewandowsky na cidade do Porto. 
Usa e abusa dos nossos recursos, aumentando os gastos com a publicidade oficial para domar a mídia e distribuindo favores aos currais eleitorais do Norte e do Nordeste.

E tem buscado, inutilmente, arregimentar apoios, também, no andar térreo, convocando os "exércitos" de Stédile (MST) e de Vagner Freitas (CUT). 
Que fiasco! Para cada cem manifestantes do dia 16, o governo conseguiu, no dia 20, transportar e colocar nas ruas uns 4 ou 5 gatos pingados, que se moviam em visível constrangimento e com a animação de velório de monge budista. 

Não é humano, não é natural, não é normal, aplaudir corrupção, inflação, desemprego, carestia, recessão e incompetência. 
Quando isso acontece, ou há interesses em jogo, ou é síndrome de Estocolmo.

24 de agosto de 2015
Percival Puggina

MERQUIOR SEGUNDO OLAVO DE CARVALHO


Fizemos um link para um artigo sobre Merquior na Folha. 
Hoje Olavo de Carvalho posta suas respostas as perguntas do jornalista que escreveu o artigo sobre Merquior, mas não o citou apropriadamente [que surpresa!?]. 
Olavo como de costume vai direto e certeiro ao alvo: 
"O verdadeiro ponto fraco do Merquior, do ponto de vista político, foi que, rompendo ideologicamente com a esquerda, ele continuou psicologicamente dependente de seus antigos companheiros de esquerdismo, aos quais cortejava com delicadezas de namorado enquanto eles o achincalhavam e difamavam. Ele queria convencê-los, não vencê-los, enquanto eles só queriam destrui-lo. Ele nunca percebeu a diferença."

24 de agosto de 2915
Olavo de Carvalho

OAB CASSA REGISTRO PROFISSIONAL DE JOSÉ DIRCEU

Para Tribunal de Ética da entidade, petista não tem "idoneidade moral" para exercer a advocacia
A seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu nesta segunda-feira cassar o registro de advogado do ex-ministro José Dirceu. 

Dos 80 integrantes do Pleno, 76 votaram por impedir que o petista, preso na Operação Lava Jato, exerça atividades ligadas à advocacia após aplicarem entendimento de que o Estatuto da Advocacia considera inidôneo o advogado “que tiver sido condenado por crime infamante”.

O pedido de cancelamento do registro de José Dirceu chegou à OAB-SP depois que um advogado questionou o motivo de o ex-chefe da Casa Civil ainda manter a inscrição 90.792 mesmo depois de ter sido condenado a sete anos e 11 meses de prisão no julgamento do mensalão.

Durante a análise desta ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), em 2010, o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP chegou a negar a cassação do registro porque o processo a que Dirceu respondia na época ainda permitia a apresentação de recursos por parte da defesa.

As suspeitas de envolvimento do petista no escândalo do petrolão não foram levadas em conta pela OAB-SP porque o petista não foi condenado neste caso


24 de agosto de 2015
Veja.com

A CAMPANHA DE ÓDIO CONTRA OS QUE PEDEM "FORA DILMA";

O caso do/da cartunista Laerte. Ou: A última da baranga moral!


Laerte já viveu segundo o que é — um homem — e agora decidiu viver segundo o que não é: uma mulher.
Sugiro que tente experimentar o gênero humano… Quem sabe!
Laerte vestido de Laerte. A aberração aqui não é óbvia: é intelectual


O cartunista Laerte Coutinho, como expressão política, é um farsante. E nem me refiro ao fato de ele ter decidido parar de se vestir de homem para ser baranga na vida. Fosse uma sílfide, sua ética não seria melhor. Não é a mulher horrenda que há nele que o faz detestável, mas o que há de estúpido. E aí, meus caros, pouco importa como ele use os instrumentos com os quais o dotou a natureza.
Em 2012, esse farsante, que então se dizia bissexual e declarava ter uma namorada, foi flagrado usando o banheiro feminino de um restaurante. Estava, como se diz, montado. Uma mulher, segundo os dotes da natureza, sentiu-se incomodada. Especialmente porque estava no recinto com a sua filha, uma criança. Indagado se não era justo o incômodo já que, afinal, ele se dizia também atraído por mulheres, deu a seguinte resposta: “Não importa. Como é que elas se sentiriam com uma lésbica dentro do banheiro?”.
Depende. A resposta parece esperta, mas é típica de um argumentador picareta. Em primeiro lugar, Laerte é homem, não lésbica. Em segundo lugar, ainda que alguns traços estereotipados (mas nem sempre) possam indicar o lesbianismo, uma hétero só poderia reclamar da presença de uma lésbica se fosse alvo de algum assédio. Em terceiro lugar, o exibicionismo certamente doentio de Laerte faz dele o mais famoso homem que se veste de mulher do país.
Na sua insaciável compulsão por mandar a lógica às favas — ele pensa mal não importa como esteja travestido —, afirmou ainda: “Eu sou uma pessoa transgênera e quero usar o banheiro feminino”. Laerte acredita que o fato de ele “querer” alguma coisa transforma essa coisa num direito. Mais: salvo demonstração em contrário, o banheiro feminino é reservado às mulheres, e a menos, então, que sejam consultadas, essa maioria não poderia ser submetida aos desejos da minoria “transgênera” — na hipótese, não comprovada, de que ele representasse a dita-cuja, o que também é falso.
Ocorre que esta falsa senhora transita num meio em que o único preconceito aceitável é não ter preconceitos, como se as escolhas que fazemos ao longo dos dias, das semanas, dos meses, dos anos e da vida não comportassem uma carga de saberes prévios e necessários à organização em sociedade. Mas nem vou me ater agora a esse aspecto. Registro apenas que um esquerdista como Laerte, a despeito de sua ignorância política amplamente demonstrada em suas charges (as que fazem sentido ao menos…), é uma figura icônica desses tempos em que tudo pode desde que seja visto como transgressão — ainda que não se saiba por que transgredir e com que finalidade. Em suma: o sujeito é esquerdista, gay, “transgênera” (seja lá o que isso signifique) e sempre tem, como disse Mencken, respostas simples e erradas para problemas complexos.
Na terça, dia 18, a Folha publicou a charge de Laerte que abre este post.
Para o homem-mulher que pretende usar o banheiro feminino porque se diz “transgênera” e que acusará o “preconceito” de qualquer um que ouse obstar os seus balangandãs entre vaginas, a sua generalização é insuportavelmente preconceituosa. Pior ainda: desta feita, é a minoria que está no poder — e Laerte pertence inequivocamente ao terreno dos que governam o país há 13 anos — ironizando a maioria que não está. Associar as pessoas que pedem “Fora Dilma” a supostos policiais que praticam chacinas é duplamente doloso:
1 – porque atribui a milhões de pessoas que vão às ruas comportamento e escolhas criminosas;
2 – porque associa a Polícia Militar, como instituição, ao crime.
Vera Guimarães Martins, ombudsman da Folha — entre os melhores textos que já passaram pela função, diga-se —, escreveu a respeito neste domingo. Laerte se pronunciou, defendeu sua charge estúpida e produziu esta pérola:
“Muitos manifestantes tiraram selfies ao lado de PMs e as reproduziram fartamente nas redes sociais, transformando esse gesto num ícone de todas as marchas até agora. Essas pessoas não estavam confraternizando com soldados específicos –estavam demonstrando apoio a uma corporação que vem sendo apontada como uma das mais envolvidas em mortes de pessoas, no país (segundo esta Folha, no primeiro semestre, foram 358 mortes “em confronto”). Os recentes assassinatos apontam, segundo as investigações, para ação motivada por vingança, por parte de policiais. O que busquei foi juntar as pontas desses fatos sociais e estimular a reflexão.”
É asqueroso. Pessoas fazem, sim, selfies com policiais que estão sem máscara, de cara limpa, acompanhando pacificamente uma manifestação política de… pacíficos! De fato, demonstram seu apoio à instituição que responde pela segurança pública, não a eventuais assassinos que se acoitam na corporação. Afirmar — e notem que é isso que ele faz — que esses manifestantes estariam apoiando esquadrões da morte é delinquência intelectual. Mais: as investigações estão sendo conduzidas, entre outros entes, pela própria Polícia Militar.
Há mais burrices na fala da baranga moral: há mais de 50 mil assassinatos por ano no Brasil, e a Polícia Militar não está entre as que mais matam. É mentira! No caso, as mortes aconteceram em São Paulo, estado que tem hoje a menor taxa de homicídios do país.
A figura travestida de pensador ainda ousa: “Toda redução será, em algum grau, injusta”. É verdade. Mas Laerte não produziu só a “redução” inevitável de uma charge. A “trangênera” que participou de um evento no Instituto Lula no dia 16 de agosto, enquanto mais de 600 mil pessoas pediam o impeachment de Dilma, as associou a todas ao crime, à violência e a execuções sumárias. No mesmo dia, naquele instituto, os “companheiros” faziam a defesa de petistas presos, flagrados com a boca da botija.
O homem que se finge de mulher associa manifestantes pacíficos a criminosos para que possa participar de um ato que, fingindo-se de pacífico, defende criminosos. Laerte é uma fraude de gênero. Laerte é uma fraude lógica. Laerte é uma fraude moral.
Mas que se note: ele não está só. Multiplicam-se os textos no colunismo que tentam associar os que pedem o impeachment de Dilma, ancorados na lei, à defesa da violência e da truculência, embora essas pessoas tenham promovido as três maiores manifestações políticas do país sem um único incidente. A pauta de uma minoria, que pede intervenção militar, é usada como exemplo do suposto perfil antidemocrático de quem sai às ruas. Não obstante, até agora, só duas lideranças com alguma projeção acenaram com confronto armado foram Vagner Freitas, presidente da CUT, e Guilherme Boulos, chefão do MTST. O assunto sumiu da imprensa.
Para encerrar
Quanto à tal “redução” que “será, em algum grau, injusta”, como ele disse, dizer o quê? Abaixo, seguem algumas “reduções” sobre os judeus que eram publicados na imprensa alemã durante o nazismo ou que ilustravam livros escolares. A gente viu em que deu aquela “redução“: seis milhões de mortos. Vejam. 
              Ali está escrito: “Não confie numa raposa em campo verde nem no juramento de um judeu”
          Crianças judias, mais feias do que as arianas, passam em frente a uma escola de alemães. Fazem careta e hostilizam os alegres infantes. Um garoto judeu puxa a trança da alemãzinha…
         Uma criança alemã explica como é o nariz de um judeu, que se parece com um “6″, a pior nota que se podia tirar na Alemanha, o equivalente ao nosso “zero”

24 de agosto de 2015
Reinaldo Azevedo, Veja online

LAVA JATO AVANÇA SOBRE CONTRATOS NO SETOR NAVAL

ÁREA QUE ABRANGE A CONSTRUÇÃO E O AFRENTAMENTO DE NAVIOS E EMBARCAÇÕES

OS PAGAMENTOS SÃO REFERENTES ÀS CONTRATAÇÕES, EM 2006 E 2007, DE DOIS NAVIOS-SONDAS FOTO: AGÊNCIA PETROBRAS


A condenação, em primeira instância, do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e a primeira denúncia criminal da Procuradoria-Geral da República nos processos da Operação Lava Jato envolvendo políticos com mandato, contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na última semana, marcam os primeiros resultados do aprofundamento das investigações de contratos do setor naval na Petrobras.

Área que abrange a construção e o afretamento de navios e embarcações, obras de plataformas de petróleo e sondas de perfuração marítima, o setor era comandado pelo PMDB e pelo PT, segundo investigadores da Lava Jato. Chamadas de obras offshore, elas envolvem investimentos bilionários do pré-sal e trazem, além das empreiteiras brasileiras do esquema de cartel, multinacionais e novos nomes de operadores de propina e agentes públicos envoltos na corrupção montada na estatal petrolífera.

Strike

Cerveró e um dos operadores do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, foram condenados a 12 anos e a 16 anos de prisão, respectivamente, pela cobrança e recebimento de US$ 40 milhões em propina, supostamente paga pela multinacional Samsung Heavy Industries e pelo lobista Julio Gerin Camargo.

Os pagamentos são referentes às contratações, em 2006 e 2007, de dois navios-sondas, usados para exploração de petróleo em alto mar - para uso na África e no Golfo do México. O contrato era responsabilidade da Diretoria Internacional, cota do PMDB no esquema de divisão partidária de setores estratégicos da Petrobras.

A condenação imposta pelo juiz federal Sérgio Moro - que conduz os processos de primeira instância da Lava-Jato, em Curitiba - diz que PT, PMDB e PP fatiaram diretorias na estatal e a partir de 2004 passaram a cobrar de 1% a 3% de propina, em contratos que eram superfaturados em até 20%.

Os dois contratos, em que Moro considerou haver provas para a condenação dos envolvidos, são os que podem levar ao banco dos réus o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Pelo menos US$ 5 milhões desse montante foram pagos a Cunha, afirma o procurador-geral da Repúblico, Rodrigo Janot, na denúncia criminal apresentada na última quinta-feira. O lobista Julio Camargo, que atuava em nome da coreana Samsung e sua parceira japonesa Mitsui, confessou ter pago o valor, após pressão pessoal exercida pelo deputado.

A denúncia criminal será analisada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki. Nos próximos dias, ele avalia se torna Cunha réu do primeiro processo da Lava Jato envolvendo parlamentares com mandato.

Investigadores consideram que ao desmontarem o esquema de fraudes, desvios e corrupção nesse primeiro pacote de contratos de navios-sonda, fizeram um "strike" - termo do boliche, usado quando jogador com uma bola só derruba todas as peças da partida - ao atingir peças chave do esquema do PMDB em seus três núcleos: agentes políticos (Cunha), agentes públicos (Cerveró) e operadores financeiros (Fernando Baiano).

PT

De acordo com as investigações, o partido do governo tinha parte do esquema na Diretoria Internacional e também controlava duas estratégicas áreas relacionados aos contratos do setor naval: Diretoria de Serviços e Diretoria de Exploração e Produção.

Um dos casos alvo da Lava-Jato, foi a propina de 1% que réus confessos dos processos da Lava Jato confirmaram ter existido na contratação de 28 navios-sonda para o pré-sal, feitos pela empresa Sete Brasil - criada pela Petrobras em parceria com bancos e fundos de pensão. O PT seria um dos beneficiários dos valores desviados do pacote de US$ 22 bilhões em contratos.

Próximo alvo de denúncia criminal da força-tarefa da Lava-Jato, em Curitiba, o ex-ministro José Dirceu - preso na Operação Pixuleco, desde o dia 3 - também teria atuado na área naval.

Defesa

Os advogados de Cerveró e do lobista Fernando Baiano negaram que seus clientes tenham recebido propinas no esquema na Petrobras.

A Petrobras é vítima do cartel de empreiteiras e atua como assistente de acusação do Ministério Público Federal nos processos contra seus ex-dirigentes, empreiteiros, lobistas e doleiros.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu afirma, por seu advogado, o criminalista Roberto Podval, que sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, nunca prestou serviços no âmbito de contratos da estatal petrolífera. E que todos os trabalhos de consultoria efetivamente foram realizados.

O PMDB afirma que nunca autorizou ninguém a falar em nome do partido. O PT afirma que todos os recursos arrecadados foram contabilizados e declarados à Justiça eleitoral.(AE)



24 de agosto de 2015
diário do poder

TEMER DESCOBRE4 TARDE QUE CAIU NA ARMADILHA DO DESGASTE POLÍTICO

Brasília - Michel Temer, político experiente, deixa a articulação do governo tarde. Esperou que os petistas desgastassem a sua imagem e agora sai arranhado com o seu PMDB em ebulição. Veja: Eduardo Cunha virou adversário ferrenho do Planalto, Renan apresentou uma Agenda Brasil para juntar os cacos da economia e parte do PMDB na Câmara está na dissidência. E agora, o vice tem a missão de juntar os pedaços do partido para encontrar uma saída que não lhe dificulte, daqui para frente, comandar o PMDB, sem rumo, que atira em várias direções.


Michel descobriu agora que foi manipulado pela cúpula petista que cerca a Dilma. Aloizio Mercadante, o pequeno príncipe da presidente, mostrou-se uma fortaleza dentro do Planalto. Resiste até hoje a todas as pressões políticas para deixar o cargo. O Lula já tentou e não conseguiu apeá-lo do poder. Juntou-se aos peemedebistas, insuflou os partidos de base contra o ministro e até hoje ainda fala do Mercadante pelas costas. Nada disso até agora adiantou. A Dilma não dispensa os sábios conselhos do seu principal ministro, pelo menos por enquanto.


Como faltam pessoas qualificadas dentro do Palácio do Planalto, a Dilma prefere ainda o colo de Aloizio Mercadante pela experiência parlamentar. Sabe, por exemplo, que o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, é homem do Lula lá dentro, portanto, não é confiável. Deu-lhe imunidade para não vê-lo preso na operação Lava a Jato. Ele é acusado de usar 8 milhões de reais roubados da Petrobrás na campanha dela. Mesmo com toda essa fragilidade, ela fortalece o ex-tesoureiro com dissimulação. Optou por ele para falar sobre as manifestações que levaram milhões de brasileiros às ruas contra o seu governo, mesmo sabendo que Edinho é alvo do juiz Sergio Moro. Um acinte ao povo brasileiro.


Diante de tanta denúncia de corrupção, desarranjos políticos e falta de credibilidade dessa administração, Michel Temer não se negou a ajudar. Entregou-se de corpo e alma na articulação para tentar salvar o governo. Não resistiu aos apelos do Lula que, na verdade, pretendia mais desarticular o Mercadante de quem tem ódio por ocupar a principal pasta do governo. Jogou dentro do Congresso toda sua esperteza de ex-presidente da Câmara, de vice-presidente e de presidente do PMDB mas se frustrou e decepcionou os peemedebistas. Não tinha, do Planalto, nenhum respaldo político e nem autorização para mexer nas nomeações do primeiro e segundo escalões. Juntou-se, na verdade, ao time de assessores medíocres do Planalto que o chamavam jocosamente de chefe de departamento de pessoal.


Para Dilma, o desgaste do vice chega no momento certo. Afinal de contas, dividir o desgoverno com Michel minimiza seus males. Mostra para a população que o vice não teria também condições políticas de administrar o pais na vacância do cargo, já que não soube exercer com competência nem o cargo de chefe de departamento pessoal. Não à toa, a mídia chapa-branca, por orientação do Planalto, tratou de espalhar a notícia de que a Dilma não teria substituto à altura caso fosse impedida de exercer o mandato.


Veja que coisa notável: a estratégia petista funcionou tão bem que tirou Michel Temer do sério, um político acostumado a adversidades. E o desfecho ocorreu quando ele veio a público dizer que o pais estava sem comando. As palavras do vice foram interpretadas por Dilma como conspiração. E pela primeira vez, um vice-presidente se submete ao vexame de levar um pito de um presidente, igualando-se aos auxiliares submissos da chefe, submetidos diariamente a vergonhosos esporros em público.


Agora, praticamente fora da articulação, Michel vai tentar juntar os pedaços do PMDB. Com habilidade, certamente isso ele vai conseguir. Difícil mesmo será catar os cacos da reputação que ficaram espalhados por esse Brasil afora.



24 de agosto de 2015
Jorge Oliveira
diário do poder

ELES ROUBARAM O BRASIL E SE DIZEM HONESTOS





Eles continuam mentindo para o povo. Eles roubaram o Brasil e se dizem honestos. Eles roubaram para o partido e para si mesmos. Eles não merecem continuar comandando o nosso grande país. Não é à toa que apenas 8% aprova o governo Dilma. Pesquisa de hoje. Nunca um presidente foi tão mal avaliado. O povo sabe, o povo acordou. Fora, Dilma, fora PT.

24 de agosto de 2015
in graça no país das maravilhas

COMEÇO A ACREDITAR QUE REALMENTE A JUSTIÇA É CEGA... OU SE FAZ DE CEGA!

Enquanto isto ....STF condena três perigosos ladrões: de 1 par de chinelos, de 15 bombons e de 2 sabonetes




O Brasil enfrenta efetivamente profundas crises (econômica, política, social, jurídica e, sobretudo, ética). Quando a Corte Máxima de um país é chamada para julgar três ladrões (um subtraiu 1 par de chinelos de R$ 16, outro 15 bombons de R$ 30 e o terceiro 2 sabonetes de R$ 48) e diz que é impossível não aplicar, nesses casos, a pena de prisão, ainda que substituindo-a por alternativas penais, é porque chegamos mesmo no fundo do poço em termos de desproporcionalidade e de racionalidade. 
Usa-se o canhão do direito penal para matar pequenos pássaros (Jescheck).

Em países completamente civilizados, para esse tipo de questão adota-se a chamada “resolução alternativa de conflitos” (RAC). 

O problema (enfrentado por equipes de psicólogos, assistentes sociais etc.) nem sequer vai ao Judiciário (desjudicialização). 
Do que é mínimo não deve se encarregar o juiz (já diziam os romanos, há mais de 2 mil anos). 

O fato não deixa de ser ilícito, mas a cultura evoluída se contenta com esse tipo de solução (que faz parte de um contexto educacional de qualidade). 

É exatamente isso o que acontece nas faixas ricas no Brasil. Muitos filhos de gente rica, nos seus respectivos clubes ou nas escolas, praticam subtrações de pequenas coisas. 
Tudo é resolvido caseiramente (sem se chamar a polícia). 
A vítima pobre não tem a quem chamar, salvo o 190. 
Daí a policialização e judicialização de todos os conflitos, incluindo os insignificantes. Coisa de paiseco atrasado, de republiqueta (marcadamente feudalista).

Vivemos a era da emocionalidade (J. L. Tizón, Psicopatologiía del poder). No campo penal, por força da oclocracia (governo influenciado pelas massas rebeladas), dissemina-se (com a intensa ajuda da mídia) o populismo penal irracional centrado no uso e no abuso da prisão desnecessária. 


A explosão do sistema penitenciário é uma tragédia há tempos anunciada. Agrava-se a cada dia (somente em SP, o saldo dos que entram e dos que saem chega a 800 novos presos por mês).

A pena de prisão para fatos insignificantes conflita com o bom senso (com a racionalidade). Os países desenvolvidos aplicam outros tipos de sanção. 


Em sistemas acentuadamente neofeudalistas como o nosso, tenta-se disseminar o chamado princípio da insignificância, que elimina o crime (evitando a condenação penal).

País que não cuida da prevenção (e que conta com escolaridade média ridícula de apenas 7,2 anos, exatamente a mesma de Zimbábue) tem que se expor internacionalmente ao ridículo. 


Chega na sua Corte Máxima o furto de bombons, de um par de chinelos, dois sabonetes, um desodorante, duas galinhas etc. 
O País e os juízes que julgam penalmente coisas pequenas jamais serão grandes.

24 de agosto de 2015
in graça no país das maravilhas

DILMA É RETARDADA...




 Chego a uma conclusão sobre a Dilma. Não queria pensar nela, nestas horas de dormir. Mas é inevitável. Acho que entendi a mulher que ela é. “Mulher”, digamos. A Dilma é retardada.

Essa palavra é inconveniente, cheira politicamente incorreta. Mas insisto: retardada. Quer dizer, a inteligência dela não chega à normalidade, fica na metade de baixo das pessoas medianamente dotadas. Daí que todos, no mundo em volta dela, se aproveitam dessa deficiência mental, dessa fragilidade de seu raciocínio. E o problema é que ela seriamente acredita que merece estar no lugar onde chegou. Está tomada de arrogância.

Acho que o Lula, quando a escolheu, pensou que com esse QI deficiente da Dilma, seria fácil levá-la pela rédea, para onde quisesse. Errou. Ela agora acredita no personagem poderoso que fingem ela ser, espertamente. Tudo na Dilma é ligeiramente fora de prumo. O jeito de olhar, de falar, as besteiras que ela gagueja sem nenhuma auto-crítica.
Uma pessoa assim entra em grandes frias. Todo mundo sabe que ela faliu uma lojinha de artigos chineses de 1.99. Fez guerrilha porque a levaram para isso. Ela não tem nem bagagem ideológica, vai na onda, segue quem está na frente. O guindaste que a elevou às alturas de ministra e depois presidenta, é um cara instintivo, esperto, mas ignorante. Ele se impressionou com o laptop dela, os números que ela citava nas reuniões, que faziam acreditar que havia muita informação e bom julgamento naquela senhora.

Os dois erraram em suas mútuas avaliações. Nossa maior miséria é ela acreditar em si mesma, com sua vaidade sendo assoprada por todos que lhe querem aplicar um estelionato. Muitos fizeram isso. E ainda vão fazer. Assim o país vai para baixo, a bunda dela sentada pesadamente em cima da nossa cabeça. Vamos de desgraça em desgraça e ela, nem aí.

Seu único objetivo é continuar onde está, usufruindo as luzes do palco. Metade dessas luzes já está apagada, mas ela se ajeita para pegar mais uma resto de iluminação que confirme sua megalomania galopante.

É uma retardada. O que nem é um xingamento, mas uma classificação.

24 de agosto de 2015
Enio Mainardi

MERQUIOR, O CONFORMISTA COMBATIVO


se pela erudição, curiosidade intelectual e capacidade de trabalho. A obra do ensaísta e diplomata, que vai da literatura à política, passando pela arte e pela filosofia, está sendo reeditada. Liberal e crítico do marxismo, ele tornou-se exemplo de conservador civilizado.
Zé Otávio
Uma certeza e uma dúvida pairam sobre José Guilherme Merquior. Não há, mesmo entre seus desafetos, que não eram poucos, quem não reconheça sua inteligência superior e imensa cultura. Por outro lado, até para seus admiradores, também numerosos, por vezes é difícil avaliar o legado de sua produção intelectual.

Diplomata, ensaísta, crítico literário, Merquior morreu aos 49 anos em 1991. Deixou uma obra espantosa, tanto pelo volume (19 livros) quanto pela variedade de temas (literatura, filosofia, política, economia, sociologia, história).

Defensor do liberalismo, crítico feroz do pensamento de esquerda, Merquior foi uma figura de destaque no debate cultural brasileiro entre os anos 1960 e 1980.
À erudição somava-se o gosto irrefreável pela polêmica. Talvez sejam essas duas marcas que ainda hoje embaralhem a avaliação de sua carreira.

O pensamento de Merquior voltou à tona há três anos, quando a editora É Realizações iniciou o projeto de reedição de seus livros, acrescidos de cartas, documentos e análises inéditas sobre sua obra.

O próximo a sair, "Formalismo & Tradição Moderna" (1974), previsto para setembro, dá uma boa medida da ambição que norteou sua carreira. Em 13 longos ensaios, ele comenta o modernismo brasileiro, as artes plásticas, a cultura kitsch, a pintura renascentista, um poema de Camões, a tradição da poesia lírica e muito mais.

João Cezar de Castro Rocha, professor de literatura comparada da Uerj e coordenador das reedições, convida a encarar com olhos livres os textos do ensaísta, para além das dicotomias que o marcaram em vida. "A produção da cultura ocidental foi marcada por uma distinção rígida entre direita e esquerda. Nós precisamos ler o Merquior hoje reconhecendo um fato elementar: a queda do Muro de Berlim. Se o fizermos, vamos descobrir coisas interessantíssimas. Ele foi um dos maiores intelectuais do século 20."

FORA DO COMUM

Merquior nasceu em abril de 1941, no bairro carioca da Tijuca, em uma família de classe média sem vocação intelectual. Mais velho de quatro irmãos, impressionou desde cedo pela inteligência fora do comum.
Arquivo José Guilherme Merquior/É Realizações Editora
José Guilherme Merquior durante visita a Paris, em 1976
José Guilherme Merquior durante visita a Paris, em 1976

Quando se pergunta aos irmãos como era ele, a resposta invariável é: alguém que nasceu para ler, sempre enfronhado em livros.
"Ele carregou um livro até na primeira vez em que fomos ao Maracanã, ainda garotos, ver um jogo do Fluminense. Leu durante o jogo inteiro. Só interrompeu quando saiu um gol. Então ele olhou para o campo e perguntou de que time era o homem de camisa preta. Era o juiz", se recorda, aos risos, Carlos Augusto, um dos irmãos.
Da primeira viagem a Paris, aos 15 anos, voltou com a mala cheia de livros e o busto pesado de Voltaire, um de seus ídolos.
Merquior não praticava esportes, saía pouco de casa, nunca teve muita habilidade para atividades práticas. Nem só a literatura, contudo, ocupava a cabeça do garoto prodígio. Aos 16 anos se apaixonou por uma colega de escola um ano mais velha, Hilda. Depois disso nunca mais se separaram – casaram-se em 1963 e tiveram dois filhos, Pedro e Julia.
Hilda, hoje aos 75 anos, sofre de uma doença degenerativa e perdeu a memória. Pedro morreu aos 33, de acidente de moto, em 2004. Julia, 49, é dona de uma loja de produtos sustentáveis no Rio.

CÁUSTICO

Aos 18, Merquior começou a publicar críticas na imprensa. O tom cáustico marcou a coluna "Poesia para Amanhã", no prestigiado "Suplemento Dominical" do "Jornal do Brasil".

Sobre o poeta amazonense Thiago de Mello e o seu "Vento Geral" escreveu em junho de 1960: "T.M é mau poeta: e só. Mas tem pelo menos uma vantagem: entre os maus, é o pior. 'Vento Geral' representa o apogeu da retórica, a mais preciosa reunião de vácuo verbal que surgiu de 1945 para cá".

Em 1961, durante um festival de cinema russo e soviético, o filósofo marxista Leandro Konder (1936-2014) aproximou-se de "um jovem de rosto rechonchudo, que falava pelos cotovelos", conforme declarou ao jornal "O Globo" em 1991.

Na conversa, Konder citou um texto de Merquior. Ao que ouviu: "Mas Merquior sou eu". Gargalharam e ficaram amigos, apesar das diferenças ideológicas.
Caiu também nas graças de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. O primeiro ofereceu-lhe, em 1963, um poema como presente de casamento. O segundo, um ano antes, sem conhecê-lo pessoalmente, convidou-o a ajudá-lo na antologia "Poesia do Brasil".

RAZÃO

Em 1965, Merquior lançou seu primeiro livro, "Razão do Poema". O título já denotava um elemento que seria central em todos os seus livros posteriores –a crença no racionalismo.
A antologia com ensaios sobre Gonçalves Dias, Drummond, Murilo Mendes, João Cabral e outros foi saudada como um acontecimento.
Arquivo José Guilherme Merquior/É Realizações Editora
Merquior (à direita) com Carlos Drummond de Andrade
Merquior (à direita) com Carlos Drummond de Andrade


"Os textos são formidáveis. Apenas Antonio Candido entende e sente a poesia como ele", diz o poeta Armando Freitas Filho. O próprio Candido, em conferência em homenagem ao autor, em 1991, afirmou que Merquior "foi sem dúvida um dos maiores críticos que o Brasil teve, e isto já se prenunciava nos primeiros escritos".

Há certo consenso de que o melhor de sua produção foi a crítica literária, especialmente a de poesia. É a partir de meados dos anos 1970 que política e economia ganham mais terreno em seus livros – em parte reflexo de seu trabalho no Ministério das Relações Exteriores.

Formado em direito e filosofia, prestou concurso para o Itamaraty em 1962. E, sim, foi o primeiro colocado. "Naquele ano houve dois concursos para nossa turma. Ele foi o primeiro colocado em um, eu em outro. Isso criou certa solidariedade entre nós", conta o embaixador Luiz Felipe Lampreia, ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso.

"Merquior priorizou a parte intelectual à atuação rotineira de um diplomata. Não tinha vocação para ser negociador comercial, como eu fui. Notabilizou-se pelo brilho intelectual, como João Cabral, Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes."
O embaixador Marcos Azambuja, formado em 1957 no Itamaraty, conta que Merquior chegou ao Instituto Rio Branco com grande reputação. "Sempre que tínhamos alguma dúvida sobre qualquer assunto, íamos falar com ele. Era uma pessoa realmente extraordinária, agradabilíssima."

Azambuja faz uma descrição curiosa da ambivalência do colega. "Ele tinha uma cara redonda, risonha, ao mesmo tempo angelical e demoníaca. Tinha uma impaciência tremenda com as pessoas que pensavam o lugar-comum."

Após o golpe militar de 1964, Merquior foi chamado a prestar depoimento, sob suspeita de ligações com grupos de esquerda. Provavelmente caiu no radar dos militares por ter realizado conferências no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), extinto pelo governo logo após o golpe.

No seu acervo, hoje em posse da É, há uma cópia do processo administrativo aberto contra o jovem diplomata e da resposta dele –que foi absolvido. A editora planeja publicar os documentos.

O processo é datado de 11 de setembro de 1964. Traz nove perguntas sobre formação universitária, filiação partidária e opinião sobre o novo governo, entre outros temas. A oitava indagava acerca dos conflitos ideológicos no mundo moderno. Aos 23, ele defendia pontos-chave de seu pensamento.

"Uma das características do mundo moderno é o pluralismo", escreveu. "[...] É evidente que a solução dos conflitos ideológicos mais gritantes do nosso tempo deverá ser buscada através da prática de uma atitude em que prevaleça o espírito de franco debate e o ânimo de solidariedade internacional."

O caso leva a uma questão irônica: um dos futuros expoentes do liberalismo no Brasil, que iria declarar diversas vezes a morte do marxismo, teria sido de esquerda aos 20 e poucos anos?

Os amigos do Itamaraty acham que não. "Não era de esquerda nem de direita, mas de centro", acredita Lampreia. Mas talvez se possa dizer que o jovem Merquior nutria certa simpatia pela esquerda, alimentada sobretudo pela vasta curiosidade intelectual.

"Merquior nunca chegou a ser marxista, mas na época estava interessado na teoria estética do marxismo, sobretudo em Lukács. Mas ainda antes do golpe de 1964 ele reviu sua posição e me escreveu uma carta, na qual se manifestava insatisfeito até com a teoria estética", escreveu Konder em 1991.

Lukács é uma das referências do segundo livro de Merquior, "Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin" (1969).
O alemão Gunter Karl Pressler, professor de teoria literária na Universidade Federal do Pará, aponta um feito histórico do livro –teria sido o primeiro do mundo a analisar sistematicamente a Escola de Frankfurt: "Este estudo foi publicado antes da referência sempre citada sobre a Escola de Frankfurt: 'A Imaginação Dialética', de 1973, do americano Martin Jay", diz.

PARIS

Em 1966, Merquior partiu para seu primeiro posto internacional, como terceiro-secretário na embaixada em Paris. Em 72, concluiu doutorado na Sorbonne sobre a poesia de Drummond. Depois de passagem por Bonn, na Alemanha, foi levado pelo embaixador Roberto Campos para ser primeiro-secretário em Londres, em 1975.

Os quatro anos na Inglaterra e o convívio com Campos e com intelectuais como Ernst Gellner e Raymond Aron marcaram o início de sua conversão ao liberalismo. Na London School of Economics, obteve seu segundo doutorado.
"Ninguém no Brasil sintetizou melhor a essência do 'argumento liberal' nem mostrou mais claramente o antagonismo que existe entre os ideais liberais e as modas intelectuais 'pós-modernas'", avalia hoje o filósofo Olavo de Carvalho.

Especialmente a partir dos anos 1980, Merquior, como observou Campos, passou da "convicção liberal" à "pregação liberal". São dessa fase o citado "O Argumento Liberal" (1983), "Michel Foucault, ou o Niilismo de Cátedra" (1985) e "O Marxismo Ocidental" (1987).

Tomando o partido da modernidade e do racionalismo, iniciou então uma cruzada contra o marxismo, a psicanálise e a arte de vanguarda. Via nos três alvos exemplos de dogmatismo, de pessimismo, de rejeição ao racionalismo iluminista, de condenação da civilização moderna e da ciência.

Mas "seria possível atacar o marxismo, a psicanálise e a arte de vanguarda sem ser reacionário em política, ciências humanas e estética?", indagou-se Merquior no prefácio de "As Ideias e as Formas" (1981). Essa questão resume as principais críticas a sua obra.

"Embora fosse seu amigo e admirador de sua erudição, não posso negar que fosse política e intelectualmente um conservador", afirma Luiz Costa Lima, crítico e professor emérito da PUC-RJ. "Há observações pontuais muito boas na obra dele, mas dentro desses limites", completa.
"Os contrapontos que fez às vanguardas artísticas são extremamente superficiais. O elogio do progresso iluminista se tornou equivocado no final do século 19. Por um equívoco de visão, ele não percebeu nada disso."

Alcir Pécora, professor de teoria literária da Unicamp, acredita que Merquior tendia "a uma visão conformista". "Há algo de profundamente 'diplomático' na sua maneira de pensar: uma esperança de resolução das contradições da cultura e da sociedade depositada na mesa das racionalizações normativas institucionais."

Outra crítica costumeira é a de que o autor jamais produziu ideia original. Seria, nessa visão, essencialmente um catalogador de conhecimento, não um pensador.
Castro Rocha discorda. "Ele pegou as ideias mais importantes da cultura ocidental e realizou uma síntese de uma clareza que ninguém mais poderia fazer. Para fazer isso é preciso ter ideias."

BRIGÃO

Nos anos 1980, Merquior participou de polêmicas hoje lendárias no meio intelectual brasileiro. José Mário Pereira, editor da Topbooks e um dos mais próximos amigos do escritor na última década de vida dele, acompanhou todas de perto. "Ele adorava uma polêmica. Parecia um menino brigão, se exacerbava. Às vezes passava um fim de semana inteiro respondendo a alguma crítica."

Pereira recorda, por exemplo, uma disputa com Ricardo Musse, então doutorando em filosofia, hoje professor do departamento de sociologia da USP. Em texto publicado na Folha em novembro de 1990, Musse escreveu: "No figurino redutor de Merquior, toda e qualquer crítica à modernidade nada mais é do que um ressaibo de irracionalismo romântico".

Duas semanas depois, veio a resposta, também publicada na Folha. "Não sei se aos doutorandos em 'filô' da USP se exige saber ler antes de pretender julgar. Em caso positivo, temo pelo doutoramento de Musse", escreveu.

No meio do texto soltou uma de suas tiradas: "O chocolate, quando bom e bem-feito, pode ser muito agradável ao paladar. Mas sua consistência será sempre algo precária. Não assim a de Musse".

Merquior também atacou (e foi atacado) por psicanalistas, teve entreveros com Paulo Francis, chamou Caetano Veloso de "um pseudointelectual de miolo mole".
O cantor retrucou na época: "Prefiro o Belchior". Caetano ainda se lembra bem do episódio. "O fato é que 'intelectual de miolo mole' é uma expressão genial para descrever a geração de cançonetistas dos anos 60. Pelo menos é certa em relação a mim", diz hoje. Ele leu há pouco e achou excelente o livro de Merquior sobre Foucault.

A mais famosa controvérsia de Merquior, porém, foi com Marilena de Souza Chaui, professora do departamento de filosofia da USP.
Em texto publicado em maio de 1981 no "Jornal do Brasil", ele notou a presença literal –dispensada de aspas– de parágrafos do filósofo francês Claude Lefort no livro "Cultura e Democracia", de Chaui.

Dois meses depois, a professora publicou sua resposta no "JB". "Merquior sugere que houve apropriação indébita. Equivocou-se."
"Esclareço ainda que devo a Claude Lefort muito mais do que o leitor sequer poderia imaginar e que muitas das suas ideias e minhas nasceram juntas, o que me deixa sempre muito à vontade para transitar entre elas."

O caso ganhou fumaças de guerra entre esquerda e direita e repercutiu por meses. Dois anos depois, Lefort veio ao Brasil e disse ter sido reconhecido por várias pessoas nas ruas.

Na mesma época, Merquior foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e nomeado assessor do então ministro da Casa Civil, Leitão de Abreu, durante o governo de João Figueiredo –oferecendo munição pesada a seus desafetos, que passaram a tachá-lo de reacionário e "intelectual da ditadura".

"Foi uma injustiça que fizeram com ele", considera Armando Freitas Filho. "Nunca foi reacionário. Era um liberal no sentido inglês."

Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro da Fazenda (governo Itamar Franco), considera um absurdo dizer que Merquior fosse um homem de direita. "Nada tinha do liberal favorável à redução ou limitação do papel do Estado na luta contra a desigualdade e a miséria."

Em entrevista à Folha em 1986, Merquior definiu-se como liberal em economia, social-democrata em política e anarquista em cultura.
"Nenhum liberal que eu conheça disse que o mercado resolve todos os problemas sociais. Daí a necessidade de um Estado protetor. Também não resolve todos os problemas econômicos, daí a necessidade, menor, mas também importante, de um Estado promotor", declarou ao "JB" em 1990.

João Cezar de Castro Rocha define assim o credo liberal de Merquior: democracia como valor universal; racionalismo como estrutura de pensamento; pluralismo como método intelectual; economia de mercado, porém com a presença do Estado como força de equilíbrio das desigualdades.

Castro Rocha vê três fases na carreira de Merquior. Na primeira, nos anos 1960, as preocupações eram puramente estéticas. Na segunda, a partir dos 1970, a análise é menos detalhada e mais panorâmica. O liberalismo torna-se o eixo de reflexão. A arte deixa de ser vista em seus próprios termos e passa a simbolizar a crise da cultura.

A terceira fase, a partir dos anos 1980, não chegou a se concluir, mas Castro Rocha levanta a hipótese de que Merquior já não se contentava em ser apenas um pensador e considerava a ideia de colocar em prática um projeto de país.

Já definiram Merquior como um intelectual em busca de um príncipe, alguém de quem pudesse ser o mentor. Por um momento Fernando Collor de Mello ocupou esse papel. Roberto Campos conta em suas memórias que, antes e depois de eleito presidente da República, Collor procurou Merquior em Paris, onde ele era embaixador do Brasil na Unesco. Queria "colher ideias sobre a modernidade" e pediu-lhe um programa partidário.

O diplomata elaborou um documento de 33 páginas, espécie de "agenda social-liberal" para o Brasil. Também escreveu grande parte do discurso de posse.
"Ele ficou muito impressionado com o Collor. Achava que ele tinha vontade, visão, empenho em construir um novo Brasil. Certamente ele lamentaria tudo o que ocorreu depois", afirma José Mário Pereira.

"Ele fez uma avaliação errada daquele momento", diz Marcos Azambuja. "Acreditava que o Brasil tinha maturidade para encontrar o caminho racional. Ele achava que o Collor era o que parecia ser, o jovem político idealista, e não viu o que era na realidade, o velho político de Alagoas."

Merquior escreveu a plataforma partidária já tomado pelo câncer de intestino que o mataria.
Em dezembro de 1990, fez sua última palestra, em Paris. Mesmo bastante debilitado fisicamente, falou por quase uma hora, em francês, sem texto escrito, sobre os últimos cem anos da história do Brasil.

O último projeto foi "O Liberalismo - Antigo e Moderno", que concluiu pouco antes de morrer. O livro póstumo foi o fecho perfeito de uma trajetória que impressiona e instiga –e permanece longe de ser um consenso.

Títulos relançados pela É Realizações
"Razão do Poema" (1965)
R$ 63; 336 págs.
"Formalismo & Tradição Moderna" (1974)
R$ 64,90; 512 págs.
"A Estética de Lévi-Strauss" (1975)
R$ 39; 168 págs.
"Verso Universo em Drummond" (1976)
R$ 59; 416 págs.
"De Anchieta a Euclides" (1977)
R$ 49,90; 400 págs.
"O Liberalismo" (1991)
R$ 39,90; 384 págs.
MARCO RODRIGO ALMEIDA, 31, é jornalista da Folha.
ZÉ OTÁVIO, 31, é ilustrador e expõe na Plus Galeria, em Goiânia