"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 17 de janeiro de 2016

"NUM SIGNIFICA NADA..."

Lula vs Lula - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=NbAIJX3zBBU
11 de set de 2015 - Vídeo enviado por Lula Lula
Lula x Lula. ... O Lula de 2008 afirma que como o país conquistou selo de bom ... Já o Lula de 2015 .

17 de janeiro de 2016
m.americo

A SUBMISSÃO DE ESTADO E DOS GOVERNOS AO CAPITAL


Charge do Sinovaldo (reprodução do Jornal NH)















Quando professora no antigo curso básico da Fafich, da UFMG, ao tempo da ditadura, como todos os outros, eu me via em apuros para falar, sem poder esclarecer, sobre a realidade do que diz o título deste artigo. 

Capitaneados pelos militares, a serviço dos interesses do capital, agiam no Brasil os governos e o Congresso Nacional, este com um ou outro espasmo de oposição, como os “autênticos” do MDB, por exemplo, ou os que punham a cabeça de fora e que eram logo, logo decapitados – o falecido Márcio Moreira Alves, um Chico Pinto. Sem falar dos que, exilados, aposentados ou simplesmente calados, sofríamos todos ao vermos a “grande Pátria, Mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações…”, como cantou Chico Buarque.

O Poder Judiciário foi o último a ser submetido inteiramente aos novos desígnios de quem mandava. Castello Branco soube seguir o ensinamento de seu chefe da Casa Civil, Luíz Vianna Filho, e utilizou o estratagema do “packing the Court”, usado por Roosevelt ao tempo do New Deal, nos Estados Unidos. 

Explico: diante de dificuldades e tropeços com o Judiciário norte-americano na implementação de medidas avaliadas como necessárias ao enfrentamento da crise de 1929, o presidente Roosevelt foi aconselhado a alterar a composição da Corte Suprema. Aqui, o conselho de Vianna resultou no AI 6, de 1º de fevereiro de 1969, depois que o próprio Ato 2 já passara a competência judicante do STF para os tribunais militares nos casos de aplicação de medidas excepcionais.

SOB CENSURA

Como explicar aos estudantes tudo o que vinha se passando no país quando éramos diuturnamente vigiados em sala de aula por notórios membros das forças de repressão, alguns deles torturadores? Assim, vivíamos colocando em prática subterfúgios para lograr dizer o que a censura proibia a toda forma de expressão.

Quis a fatalidade que o partido que ajudei a fundar viesse a ser agora o primeiro a ser pego com a boca na botija, misturando figurões e figurinhas da República e seus aliados na farsa de eleições livres, isto é, quando o financiamento de campanhas pelos empresários mostra ter sido o principal passaporte de acesso a todos os escaninhos do Estado e do governo. 
Financiamentos pra cá, licitações fajutadas pra lá, e todos se locupletavam.

LAMBUZADOS…

As últimas revelações propiciam um panorama ainda mais escandaloso: não se trocavam apenas gordas propinas por obras superfaturadas, mas se chegava mesmo a nomear altos executivos de grandes empreiteiras para cargos em governo estaduais. 
Não quer dizer que apenas o PT atuou desse jeito. Só que esse partido se deixou pegar segundo o conhecido adágio popular: “Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.
E não adianta reclamar de “vazamentos seletivos” ou de que alguém não enriqueceu pessoalmente. Ou será que se esqueceram da famosa frase de Zé Dirceu: “O PT não rouba e não deixa roubar”? Ora, bolas!

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A ex-deputada petista Sandra Starling é a autora da Lei 9882/99, que o Supremo desrespeitou ao julgar a ação do PCdoB sobre o rito do impeachment, em dezembro. A lei por ela criada é ótima e garante o devido processo legal e o direito amplo de defesa que o Supremo casuisticamente decidiu negar.(C.N.)


17 de janeiro de 2016
Sandra StarlingO Tempo

O PETRÓLEO NÃO É DO PT...

Charge de Paixão (reprodução da Gazeta do Povo)














A campanha do “O Petróleo é Nosso”, pela criação da Petrobrás, estava no auge, em 1953, eletrizando todo o país. Em Belo Horizonte, entidades estudantis, sindicais, de jornalistas e intelectuais preparamos um comício para a Praça da Estação e convidamos os parlamentares. A polícia proibiu, alegando que era comício dos comunistas. Nenhum deputado federal apareceu. A praça cheia, cercada pela policia.
Lá na frente, servindo de palanque, vazio, pusemos um caminhão sem as laterais e com um microfone. De repente, chega o deputado federal do PTB, querido professor licenciado da Faculdade de Direito e candidato a senador, Lucio Bittencourt, alto, magro, terno claro, bigodinho preto, e vai direto para o caminhão. Fomos juntos. Com ele, a polícia não teve coragem de barrar-nos. Alguns de nós falamos. Ele pegou o microfone e começou:
– Ontem, chegando a Minas, li nos jornais que a policia havia proibido este comício. Liguei para o governador Juscelino, ele me disse que eram ordens do Exército, do Rio. Confesso que tive dúvidas de vir. Mas, à noite, dormindo, ouvi o povo me dizendo:
– Vai, Lucio, vai! Vai!
E Lucio foi. Subiu no caminhão, deu um passo à frente e caiu embaixo do caminhão. Ainda tentei segurá-lo pela ponta do paletó, não adiantou. Nosso querido professor desabou. Acabou o comício.
LULA
No dia seguinte, no palácio, Juscelino dava gargalhadas:
– Eu bem disse a ele: – “Não vai, Lucio! Não vai!
Aquela queda ajudou Lucio Bittencourt, o “senador do petróleo”, a ter uma vitoria consagradora para senador em Minas, no ano seguinte.
Quando vejo o escárnio do PT gigoloteando a Petrobrás e destruindo-a, comendo por dentro como cupins, penso em tantos que, como Lucio Bittencourt 60 anos atrás, Eusébio Rocha, Rômulo Almeida,Gabriel Passos, Francisco Mangabeira , lutaram incansável e bravamente para que o petróleo fosse de fato nosso, do povo brasileiro e não de Lula e sua gangue.
Uma ação da Petrobras valer um “pixuleco” é uma afronta à historia.
LUCIO
Dois anos depois, em 1955, já criada a Petrobrás e Getulio morto, o Partido Comunista, embora ilegal, estava apoiando Juscelino e Jango para Presidente e vice, e Lucio Bittencourt, recém-eleito senador do PTB, para governador. Lucio disputava com Bias Fortes (PSD) e Bilac Pinto (UDN).
Fui destacado para ajudar a campanha de Lucio como jornalista. Haveria uma excursão ao Norte e Nordeste de Minas, ele me chamou:
– Vamos lá, você morou e foi professor em Pedra Azul, conhece bem o vale do Jequitinhonha, Araçuaí, aquela região toda.
Fiquei animado. Mas logo o “Jornal do Povo” me propôs acompanhar Juscelino ao Nordeste brasileiro. Entre o nordeste de Minas e o meu Nordeste, traí Lucio Bittencourt. Falei com ele, ele compreendeu, outro companheiro da Faculdade foi em meu lugar e fui com Juscelino.
Em Campina Grande, Juscelino estava no palanque com Rui Carneiro, Alcides Carneiro, Samuel Duarte, Abelardo Jurema, o PSD todo da Paraíba. Falava um deputado. Chega um “western” (telegrama especial da época) urgente da “Ultima Hora” informando que Lucio Bittencourt acabava de morrer em desastre de avião, em Minas, saindo de Araçuaí e quase chegando a Pedra Azul. Morreram o piloto, ele e meu substituto.
Gelei. Sentei em um canto do palanque e quase chorei. Alguém, um colega da Faculdade, morrera em meu lugar. Os assessores ficaram sem saber como dar-lhe a noticia. Nós jornalistas escolhemos Fernando Leite Mendes, o brilhante e gordo baiano da “Ultima Hora”, que Juscelino chamava de “Pero Vaz de Caminha” de sua campanha:
– Governador, uma noticia ruim, de Minas. Lucio Bittencourt morreu perto de Pedra Azul em desastre de avião.
Juscelino arregalou os olhos, fechou-os, baixou a cabeça, ficou alguns instantes em silencio, visivelmente chocado, como se estivesse rezando, e murmurou:
– Foi reza forte do Bias.
Pegou o microfone e fez comovente homenagem a Lucio Bittencourt.
DELCÍDIO
Se, pouco tempo atrás, a algum candidato de um “Enem” qualquer dessem esses nomes para dizer quem são, tiraria inapelavelmente “zero”:
Cerveró, Delcídio,Youssef, Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Bumlai. Mas, no entanto, são capitães de longo curso. E como navio não anda sozinho, alguém os trouxe para a gangue e a porta do xadrez.
Delcídio era um guapo engenheiro de Corumbá que apareceu lá pelas bandas do Pará e logo o governador Jader Barbalho, rapaz de raro faro, o fez diretor da Eletronorte e logo ele saltou para diretor da Eletrosul, em Santa Catarina. Especializou-se em gás, gasodutos, termoelétricas e Bolívias, tendo Cerveró como fiel escudeiro. Virou senador e líder de Dilma. Deu no que deu.
17 de janeiro de 2016
Sebastião Nery

COM O SUPREMO DESSE JEITO, QUEM NOS GUARDARÁ DOS GUARDIÕES?



Estamos avançando na questão dos erros no julgamento do rito do impeachment da presidente Dilma Rousseff, pisando firme na realidade do bendito Direito Público, mas sem ilusões e sem fulanizar, compartilhando informações. Amadurecendo o debate. Temos que acreditar , apoiar e divulgar o Mandato de Segurança a ser impetrado em breve. Por uma simples razão: o que é ilegal deve ser anulado. Ponto parágrafo. Porque, se nada for conquistado, ainda assim o Supremo terá que se posicionar.
Se o Mandado de Segurança for negado monocraticamente pelo relator, sempre caberá um agravo regimental e, no caso, a discussão e o constrangimento supremos serão levados a plenário. E televisionados.
Pela frente , em vez de “cognição sumária”, em vez de explicações rasas e adjetivas, tais como “está tudo dominado” que não nos levam a nada, é preciso entender, profundamente , por quais razões estes senhores e senhoras, na tentativa de dificultar o impeachment da presidente, atropelaram uma Lei Federal, impediram novo contraditório para “muitas outras partes, a saber: o PSDB, o DEM, o PT, o PSOL, o PSB, o Solidariedade, a Rede, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e o PP,” e se calaram cúmplices da mais do que evidente e já provada mentira do ilustre ministro Luís Roberto Barroso.
SANDRA STARLING
Neste sentido, é bom reler o que pensa, por exemplo, a ex-deputada Sandra Starling (PT-MG), sob cuja iniciativa foi construída a lei que regula a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, que recentemente teve aqui postado um artigo. Diz a deputada sobre o julgamento:
Tenham todos certeza, a loquaz divergência aberta pelo professor-doutor Luís Roberto Barroso, e alegremente seguida pelos que temem ser eivados de comparsas de Eduardo Cunha, não me deixou mais dúvida: o direito é interpretado à luz das circunstâncias do momento. Não tivesse coincidido o pedido de impeachment com as interpretações de Cunha, ou outra fosse a linha sucessória de Sua Excelência, a presidente, teríamos tido outro rito de julgamento do crime de responsabilidade
Será? Será que a aversão a Eduardo Cunha – transformado no vilão corrupto do “golpe” pela propaganda do Comissariado – é capaz de explicar esta presepada jurídica cometida pelo STF? Será que a biografia do presidente da Câmara foi determinante para que nossos impolutos togados, violassem a lei, escarnecessem do princípio basilar na democracia de independência entre os Poderes, tratassem a Câmara Federal como se fora um playground de moleques e colocassem no colo amigável do Senado o destino do impeachment?
CUNHA E RENAN
Pergunto: por que fingir – quem acredita? – que a folha corrida do deputado Eduardo Cunha – aquele que parece ser o único bandido de estimação do procurador-geral Rodrigo Janot – é menos extensa do que a do “Coronel” Renan Calheiros, dono do município de Murici nas Alagoas , aquele da farta cabeleira implantada , aquele que “reclamou da falta de repasse de propina”, que é investigado em meia dúzia de inquéritos na Lava Jato, aquele cujas denúncias que não andam sob a tutela do Procuradoria, aquele cuja residência o ministro Teori Zavascki não permitiu que a Polícia Federal visitasse, o mesmo que nega tanto quanto o Instituto Lula quaisquer propinas não “institucionais” e que, simultaneamente , tanto preside o Senado da República quanto se encontra – faz tempo! – denunciado no Supremo, acusado de ter falsificado as notas fiscais de venda de alguns bois virtuais e de ter permitido – agradecido! – que uma empreiteira pagasse pelas fraldas descartáveis de uma filha que teve fora do casamento, com aquela talentosa jornalista que acabou na capa da Playboy.
Não sei, mas vale continuar perguntando: Quem nos guardará dos guardiões?

17 de janeiro de 2016
Moacir Pimentel

TOFFOLI SE AFASTA CADA VEZ MAIS DO PLANALTO, DE LULA E DO PT?



Por sugestão de Gilmar, Toffoli mudou para turma do STF que julga Lava Jato
Gilmar Mendes é o melhor amigo de Toffoli no STF
Decisões recentes do ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Dias Toffoli, ampliaram o distanciamento entre ele, o PT e o Palácio do Planalto. O desgaste foi reforçado pela “dobradinha” entre o ex-advogado-geral da União na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF mais crítico ao governo, Gilmar Mendes.
No Palácio do Planalto, três episódios ilustram o afastamento de Toffoli em relação ao governo e ao PT, embora ainda hoje ele seja alvo de grupos antipetistas. O mais recente ocorreu na análise do rito do impeachment no Supremo, em dezembro.
“Se um presidente não tem apoio de 1/3 dos deputados, fica difícil a governabilidade”, afirmou o ministro naquela sessão, ao se alinhar aos votos vencidos de Luiz Edson Fachin e Gilmar Mendes, contrários à tese governista, que venceu a discussão.
Dois meses antes, no TSE, Toffoli votou pela abertura da ação de impugnação de mandato de Dilma. O processo pode culminar na cassação da presidente e do vice Michel Temer.
O Planalto também atribui a Toffoli um imbróglio diplomático com a Venezuela. Em outubro, ele suspendeu a participação do TSE na comissão da União das Nações Sul-americanas (Unasul), que acompanharia as eleições parlamentares no país, em dezembro. A justificativa foi a de que a Unasul rejeitara o nome do ex-ministro Nelson Jobim para chefiar a missão.
Auxiliares de Dilma asseguraram, porém, que não houve veto a Jobim e que Toffoli agiu de forma precipitada. Até mesmo Lula ficou contrariado com o episódio. Responsável pela indicação de Toffoli ao STF, Lula é um dos maiores críticos da aproximação dele com Gilmar.
AFINIDADE
A afinidade entre os dois ministros do Supremo e do TSE começou a se revelar em março passado. Por sugestão de Gilmar, Toffoli mudou da 1ª para a 2ª Turma do STF, colegiado responsável pelos processos da Lava Jato. A transferência engessou o Planalto, que perdeu a chance de indicar um nome para compor a turma que julgaria os casos relacionados à corrupção na Petrobrás.
Nos bastidores do governo, o comentário é que Toffoli não gosta de Dilma desde que teve de deixar a Casa Civil, em 2005. Ele era subchefe de Assuntos Jurídicos quando a petista assumiu a pasta no lugar de José Dirceu – abatido no escândalo do mensalão – e o exonerou. Na avaliação do Planalto, o ministro quer mostrar total autonomia porque ficou na mira da mídia pela ligação com o PT, antes de integrar o STF.
INDEPENDÊNCIA
Ao Estado, Toffoli disse que “sempre” teve “posição de total independência” em relação ao governo. “Não se trata de algo recente”, afirmou, ao destacar que as decisões no STF e no TSE são tomadas com base na Constituição e na legislação.
No PT, a mágoa com Toffoli teve início já no julgamento do mensalão, em 2012. Apesar de absolver Dirceu, com quem trabalhou, o ministro condenou o ex-presidente do partido José Genoino.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Este assunto foi levantado aqui na Tribuna da Internet há mais de um ano. Toffoli sabe que Dilma, Lula e o PT não têm o menor futuro. Por isso, desligou-se da influência deles e está escrevendo sua própria biografia. Atualmente, demonstra muito mais dignidade do que outros ministros do Supremo, que tentam agradar ao Planalto passando até por cima das leis. Mas há controvérsias. Diz-se que seria tudo armação e que, na hora H, Toffoli seguiria fechado com o Planalto e o PT. A conferir. (C.N.)
17 de janeiro de 2016
Vera Rosa, Beatriz BullaEstadão

POR QUE PRECISAMOS DE "GRAMMAR SCHOOLS"?



ARTIGOS - CULTURA

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Manter a alta cultura viva é crucial para a preservação da paz e da democracia”.
Roger Scruton

A notícia de que a Inglaterra está prestes a ter sua nova “grammar school” em 50 anos despertou uma reação hostil de quase toda a esquerda. Isso era previsível porque existe uma tensão entre nossa cultura democrática e o tipo de educação tradicional que se espera encontrar em uma boa “grammar school”. Frequentemente ouvimos que um sistema que ‘segrega’ aqueles que são capazes de receber um educação acadêmica rigorosa dos que não são é ‘elitista’ e que, portanto, é contrário aos princípios igualitários de uma verdadeira democracia. Isso é verdade, especialmente no mundo da alta cultura. Se uma determinada cultura não está disponível para todos – segundo os igualitários – então ela deve ser deixada de lado como uma questão privada, que não tem espaço na educação pública.
É difícil argumentar contra essa visão. É duro persuadir alguém que cresceu sem cultura de que ela é uma coisa valiosa; e discutir com um “igualitário” é inútil, uma vez que isso pressupõe que as boas razões são superiores às más, e isso é uma opinião elitista. Tudo o que podemos fazer é abrir um espaço para a cultura em um mundo ruidoso e convidar os estudantes a entrarem. Porém, estou convencido de que isso não é inútil e que a recompensa, tanto aos professores quanto para os alunos, supera os custos.
Devemos rejeitar a visão de que a alta cultura, como algo que pertence à elite, seja inútil aos que não a possuem. Isso é tão falso quanto aquela opinião de que a ciência ou a matemática avançada sejam inúteis àqueles que não lhes compreendam. O conhecimento científico existe porque algumas pessoas talentosas estão prontas para gastarem suas energias para adquirirem-no. É para isso que serve a universidade; e uma vez que não é possível transmitir um conhecimento difícil sem discriminar entre alunos que podem obtê-lo e outros que não podem, a discriminação é um bem social. Pode-se dizer o mesmo da alta cultura. Os que podem adquiri-la serão uma minoria e o processo de transmissão cultural será criticamente impedido se o professor ensinar Mozart e Lady Gaga lado a lado para satisfazer alguma agenda igualitarista.12540482_745507695550002_502172765_n
Entretanto, como a maioria desprovida de cultura se beneficia de uns poucos que a possuem? Eis a questão crucial. É como a velha pergunta feita sobre as aristocracias, ou seja: o que eles fazem de bom para todos nós? Por que devemos apoiar um estilo de vida baseado no prazer e no luxo se somente um pequeno grupo pode tê-lo? Essa pergunta foi feita durante a revolução francesa e, não antes da derrota de Napoleão – após 2 milhões de mortes – que as pessoas começaram a entender que uma classe ociosa, capaz de lidar com assuntos diplomáticos e dialogar com seus parceiros por toda a Europa, teve sua importância ao evitar guerras destrutivas em larga escala que imediatamente se seguiram após sua queda.
Todos temos interesse na existência de uma elite cultivada que possa garantir que a imaginação tenha um papel fundamental nas decisões que afetam a todos nós. Talvez um conhecimento de literatura e história não fosse de ajuda imediata a um soldado nas frentes de batalha durante a segunda guerra mundial; sem ele, entretanto, teria sido impossível que Churchill exercesse o tipo de liderança que lhe tornou notável e que despertou, mesmo nos mais desprovidos de educação, a sensação de que muito mais estava em risco do que eles podiam notar. Esses exemplos nos ajudam a entender o que realmente perderíamos se nossa alta cultura desaparecesse da memória. Todos entraríamos em uma crise futura sem nem ao menos sabermos o motivo.
O conhecimento adquirido é um presente para todos nós; o conhecimento perdido, uma derrota em que todos sofrem. Não importa quem tenha o conhecimento: o mais importante é que ele esteja lá, disponível ao público, e que as pessoas saibam como obtê-lo a partir do domínio público. A educação mantém o conhecimento vivo por conferir às pessoas a habilidade de recuperá-lo, tanto por tê-lo internalizado quanto por poder acessar os livros e registros onde ele é mantido. Porém, a menos que alguém realmente ‘domine essa área’, os livros e registros não são melhores que o livro da natureza, que nos encara silenciosamente até que possamos redescobrir o feitiço que lhe permita falar.
Não se transmite cultura somente pelo seu ensino. Você a transmite através de iniciação: apresentando um exemplo, um convite, uma oportunidade de se juntar. Nós, professores, temos de mostrar aos jovens não apenas o que admiramos ou por que admiramos, mas devemos mostrar a nossa admiração. Nós temos de deixar claro que a arte e a literatura que admiramos mudaram nossas vidas, e devemos convidar nossos alunos a se juntarem a essa experiência que nos foi concedida. Quando fazemos isso, mostramos nosso respeito pelos alunos. Isso é, sem dúvida alguma, o que o espírito democrático realmente espera de todos nós.
Notas:
* “Um dos tipos de escola do sistema inglês de ensino, atualmente orientada para o ensino médio, destinada aos alunos mais bem dotados academicamente.”

17 de janeiro de 2016
ROGER SCRUTON
Tradução: Felipe Galves Duarte
Revisão: Jonatas/ Hugo Silver

DAS CINZAS AO CARNAVAL



A Operação Lava Jato começou o ano desatando fios de várias meadas. Um deles, as mensagens telefônicas do ex-diretor da OAS Léo Pinheiro. No vácuo político do recesso, a única variável com poder de alterar o quadro é o curso da Lava Jato e de outras operações da Polícia Federal.

As mensagens de Léo Pinheiro comprometem o ministro Jaques Wagner em alguns pontos. Um deles, sua interferência num fundo de pensão, a pedido da OAS. Negócio de R$ 200 milhões. Mais ou menos no mesmo período vazou trecho da delação de Nestor Cerveró também comprometendo Wagner. Desta vez na construção de um prédio destinado a abrigar a direção financeira da Petrobrás.

Cruzo os dados não para demonstrar culpa de Wagner. Mas para reafirmar que a Lava Jato é uma espécie de termômetro que permite vislumbrar ao menos algumas nesgas do futuro. No caso de Lula não poder disputar em 2018, Wagner era uma espécie de plano B. Há pedras no caminho.

As mensagens de Léo Pinheiro expuseram ainda mais o superexposto Eduardo Cunha. Trabalhavam intimamente, Cunha era um lobista da OAS. Eram tão próximos que combinavam doações que seriam feitas por empresa adversária, a Odebrecht. Na intimidade do diálogo com Léo Pinheiro, Cunha chamava a Odebrecht de "os alemães", expressão usada nos morros do Rio para designar os rivais de outra área.

Eduardo Cunha já está enredado até a medula. E na troca de mensagens com o diretor da OAS ainda expôs outros políticos do PMDB e até a campanha de Temer para vice. Sinal de alerta para o futuro do partido. Lobão já teve seu sigilo bancário quebrado. Até que ponto é possível prever o futuro do PMDB antes do fim da Lava Jato?

O PSDB também aparece em delações premiadas. A primeira denúncia foi de Paulo Roberto Costa: teria pago R$ 10 milhões a Sérgio Guerra, então presidente do partido, para tornar inviável uma CPI da Petrobrás. Novos vazamentos da delação de Nestor Cerveró revelam que ele denunciou uma propina de US$ 100 milhões no período de Fernando Henrique Cardoso, paga por um negócio feito na Argentina, a venda da petrolífera Pérez Companc.

Tanto Sérgio Guerra como o ex-presidente da Petrobrás Francisco Gross já morreram. Mas isso não impede a investigação dos fatos, no momento muito vagos ainda. Mas se a Operação Lava Jato tiver a mesma duração de quatro anos da italiana Mãos Limpas, terá condições de iluminar ao máximo o período, para a nova fase da democracia brasileira começar a cumprir as promessas que vêm lá da luta pelas diretas.

O PT reclama de vazamentos seletivos. Tem vazado geral, para todos os lados. Parte do PP está atrás das grades. O problema do PT, além do volume, é o amplo domínio da máquina, a corrupção como forma de governo. Não bastasse Pasadena, surgiu agora Moamba-Major.

Esse é o nome de uma barragem em Moçambique, feita pela Andrade Gutierrez. Os africanos precisavam abrir uma conta no exterior, o governo brasileiro decidiu suspender essa condição para facilitar um empréstimo do BNDES de US$ 320 milhões. O banco afirma que foi uma operação normal e não viu risco no empréstimo. A resposta desse e de outros enigmas está na própria Lava Jato, pois deve começar logo a delação premiada da Andrade Gutierrez.

Como a agenda da Lava Jato domina os futuros passos políticos, o começo do ano novo é só um prolongamento do velho. Outra variável de peso que vem de 2015, a economia se degrada e o governo ainda me parece perdido. Ao mesmo tempo que lança metas inalcançáveis para melhorar suas contas, como CPMF e reforma da Previdência, orienta os bancos oficiais a facilitar o crédito.

Volta e meia se fala nas reservas nacionais, em detoná-las para criar um impulso na economia. O Brasil tem muito dinheiro, vamos gastá-lo. Mas o Brasil tem dívidas. Contando direitinho, ativos e dívidas, sobra menos do que parece. Além de ser pouco para o que pretendem, vai nos deixar totalmente na lona. Jaques Wagner disse que o governo não tem nenhum coelho na cartola para superar a crise econômica. A impressão é de que, se o tivesse, teria tirado. O enfoque da magia não foi rejeitado. Só acabaram os truques.

As variáveis Lava Jato e crise econômica não conseguem fechar o quadro. Mas influenciam uma terceira que, em combinação com elas, pode resultar na mudança.

Apesar de manifestações aqui e ali, a sociedade ainda não se pôs em movimento este ano. Até que ponto se vai manter distante? Não é uma passividade qualquer: cada vez recebe mais dados negativos sobre o País e seus governantes. É uma passividade informada. Ao menos tem os dados para avaliar, sabiamente, a hora de passar de um estado para outro, a hora de agir.

Dizem que o ano no Brasil só começa depois do carnaval. Mas o fluxo de dados não para. Ele transborda no carnaval em marchinhas, máscaras, fantasias e passa ele mesmo a ser um dado na própria análise da crise. Mesmo porque até o carnaval muita gente pode sambar.

A História não tira férias de verão. Já temos uma espécie big data dos escândalos, enriquecido diariamente com revelações, cruzamentos, checagens.

Sabemos que as chances de Eduardo Cunha ter feito fortuna no mercado são menores do que ganhar a Mega-Sena. As chances de os negócios de Cunha terem rendido o que declarou é de 1 em 257 setilhões; as de ganhar a Mega-Sena, 1 em 50 milhões. É o que diz um documento do inquérito. Não era preciso fazer tanta conta.

Melhor é apressar o passo. Num certo nível, o Brasil ganha credibilidade internacional com a Lava Jato: as investigações são independentes e nos põem no limiar da maturidade democrática. Em outro, as hesitações e fantasias diante da crise econômica agravam o quadro e solapam tal credibilidade.

Na Quaresma voltam os políticos. Mais uma variável da equação. Que instinto os moverá nessa volta, o de sobrevivência? Continuarão dançando na beira do abismo?

Nessa hora o carnaval já terá passado. É 2016.




17 de janeiro de 2016
Fernando Gabeira é escritor, jornalista e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro.