"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

VERGONHA DESSE PAÍS


A gente fica meio assim, encabulado, tímido, introspectivo. Às vezes nem comenta, porque já está até chato, mas fica ali matutando, com o assunto na cabeça. Tem sido assim nesse nosso país já faz mais de ano, parece que entramos numa espiral

Qual vai ser a próxima? Qual será a frase que nossa presidente dirá e que passaremos a semana inteira ironizando e sacaneando? Será que ela vai citar de novo a volátil mosquita?

Quem vai aparecer da tumba, para não morrer deitado, e virá com mais revelações picantes de caráter pessoal? A famosa Rose, do Lula? Daria tudo para conseguir essa entrevista, nesse momento o poço dourado dos jornalistas que cobrem política. Se pudesse estaria no rastro dela - instinto de repórter na veia.

Mesmo se eu não a encontrasse, tenho certeza que boas pistas no caminho não falhariam. Guerra é guerra e está visível que nesse momento está deflagrada uma fantástica batalha de ódio e comunicação, uma interessante maratona para ver quem consegue levar o Barba à linha de chegada, aliás, para bem além dela. Ou encontrar quem consegue anular a prova.

Será que essa semana, além do constrangimento de ver o senador Delcídio do Amaral, o preso-solto-morto-vivo, adentrar o Senado, vamos ter o Japonês da Federal lá dentro para buscar algum outro? Ou será que o Japonês da Federal vai ter o ego subindo pra cabeça e vai voltar lá só para fazer selfies, inclusive posando pimpão com os investigados?

Pode ser que na nossa tevê apareça algum comercial novo, vindo da lama, como se a lama envenenada já não falasse mais alto a cada dia que passa; comercial variado e com outros funcionários sorridentes, bonitinhos, assumindo a culpa e a desculpa. Não tem jeito: você também ainda vai ter de ouvir a propaganda de um vampiro de tez bem branca falar que não devemos aceitar propaganda enganosa dos partidos, e que o dele é que é legal. (!)

Por falar nisso, quantas criancinhas não estão comendo nem o lanche que atrai para a educação, porque alguém está abrindo a lancheira no caminho para surrupiar o leitinho, morder a maçã, quebrar o biscoito? Quantos olhinhos cabisbaixos eles mostrarão jurando que não, que merenda escolar é sagrada e aliás eles nem sabiam que existia, como é que iriam roubá-la? O que mais não vamos poder saber enquanto não se passarem 50 anos? Inovador: governo inventa Cápsula do Tempo. Um buraco, as informações dentro de uma caixa, e que só daqui a 50 anos será aberta. Imaginando, né? - a grande importância que coisas deste governo medíocre terão daqui a 50 anos. Ou mesmo hoje.

Vergonha.

Nós nos rebaixaremos tanto que mostraremos os fundilhos ao mundo que nos observa, num misto de pasmo com curiosidade? Quanto mais se abaixa, diz o provérbio português, mais o fundilho se lhe vê. Aliás, não é exatamente fundilho a palavra que usam. Nem mesmo muitos brasileiros temos ainda capazes de encantar. Jogadores também nos envergonham, e era uma de nossas artes.

Que números mostraremos às mães? Quantas serão as crianças doentes? Que acontece que somente agora viram o que a mosquita carregava em seus voos, sem ser incomodada por nada, nem fumaças, nem autoridades sanitárias, ou outra autoridade qualquer, e a lista aumenta, ameaçando severamente a nós todos? Qual bobagem dirá o ministro, se é que ele não vai precisar ir até ali por algumas horas participar de alguma votação importante - para ele?

Vergonha. Se não chove, não tem água. Se chove, acaba a luz. O lixo entope os bueiros, água sobe, as árvores caem, as pessoas se desesperam e nada acontece e assim por diante já sabemos o que vai acontecer assim que o céu ruge.

Que faremos? Se de um lado nos divertimos com os Trapalhões, de outro temos de ver como substituir esse espetáculo dantesco, e o que se vê diante de nós é tosco demais, filme-B, Z.


São Paulo, 2016, sonhos de uma noite de verão



22 de fevereiro de 2016
Marli Gonçalves, jornalista

ODEBRECHT TERIA CONTROLE DE PAGAMENTOS A SANTANA E A DIRCEU, INFORMA PR

PF ACREDITA QUE MARQUETEIRO COMPROU APARTAMENTO COM DINHEIRO DA EMPREITEIRA

NESTA FASE OPERAÇÃO FORAM APREENDIDAS OBRAS DE ARTE, LANCHAS E DIVERSOS DOCUMENTOS

Os investigadores da Operação Lava Jato acreditam que o empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015, teria o controle sobre pagamentos feitos por meio de offshores ao publicitário João Santana, ao ex-ministro José Dirceu, também preso pela operação, além de funcionários públicos da Argentina.

Em coletiva concedida na manha desta segunda-feira, 22, a Polícia Federal disse que trabalha com a informação de que o marqueteiro das campanhas do PT, inclusive de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, comprou um apartamento em São Paulo com o dinheiro que recebeu da Odebrecht. Nesta fase da Lava Jato, batizada de Acarajé, foram apreendidas obras de arte, lanchas e diversos documentos.

Cinco dos alvos dessa nova fase da Operação Lava Jato estão no exterior, incluindo João Santana e a mulher Mônica. A PF disse que havia uma previsão de o casal voltar ao Brasil neste sábado, 20, mas por algum motivo isso não ocorreu. "Não dava para adiar a operação (porque alguns dos alvos estão no exterior). O nome deles deve entrar em difusão vermelha, de procura e captura no exterior, mas esperamos que eles se apresentem espontaneamente." A assessoria da Polis, empresa de Santana, informou que dará detalhes no início da tarde sobre o retorno do casal.

Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, as buscas e apreensões de documentos realizadas hoje reforçam o que já havia sido descoberto. Ele disse esperar que Moro levante o sigilo dos documentos para que possam ser de conhecimento público. Santos Lima disse que a nova fase revela duas linhas de investigação: uma envolvendo o casal (João Santana e Mônica Moura) e outra envolvendo um grupo de funcionários da empreiteira Odebrecht no exterior. Marcelo Odebrecht está sendo levado nesta manhã à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba para prestar esclarecimentos sobre os fatos apurados nesta 23ª fase da Lava Jato.

Na coletiva, foi dito também que Armando Tripodi, ex-chefe de gabinete da presidência da Petrobras na gestão Sergio Gabrielli e gerente de Responsabilidade Social, foi um dos alvos de busca dessa nova fase da Lava Jato, batizada de Acarajé.

Campanha

Na coletiva, foi esclarecido que a Lava Jato não investiga especificamente campanhas eleitorais, mas a origem ilícita do dinheiro desviado da Petrobras e que poderia ter abastecido campanhas. A Lava Jato pediu novamente a prisão de Marcelo Odebrecht, que está preso em Curitiba desde junho do ano passado, mas o juiz Sergio Moro, responsável pela condução dessa operação, indeferiu o pedido. O empreiteiro ficará sob custódia até a investigação ser concluída.

O procurador Santos Lima afirma que o engenheiro Zwi Skornicki está envolvido na corrupção da Petrobras e, por esse motivo, este é um claro indicativo de que os valores envolvidos tiveram origem na estatal petrolífera. "Não estamos trabalhando com caixa 2 somente", disse o procurador.(AE)



22 de fevereiro de 2016
diário do poder

CRUZAMENTO DE DADOS PROVA ESQUEMA DE MARQUETEIRO

                                  OPERAÇÃO ACARAJÉ

OFFSHORE CONTROLADA POR SANTANA RECEBEU US$ 7,5 MILHÕES DA ODEBRECHT


A força-tarefa da Operação Lava Jato cruzou documentos enviados dos Estados Unidos com provas reunidas em fases anteriores da investigação e números da Receita Federal para comprovar que o marqueteiro João Santana - responsável pelas campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e da presidente Dilma Roussef, 2010 e 2014 - e sua mulher e sócia, Mônica Moura, são controladores da offshore Shellbill Finance S.A.. A offshore foi aberta no Panamá. Contas dessa empresa receberam pelo menos US$ 7,5 milhões, entre 2012 e 2014, da Odebrecht e do operador de propinas Zwi Skornicki, sustenta representação da Operação Acarajé, deflagrada nesta segunda-feira, 22. O casal está com a prisão decretada.

"Além do bilhete apreendido na residência de Zwi Skornicki, por meio do qual Mônica Moura faz alusão expressa a 'sua' conta mantida em nome da Shellbil Finance SA no Banque Heritage, observa-se que a cópia do contrato encaminhado por ela ao operador da Keppel Fels - firmado entre a Shellbill Finance SA e a Klienfeld Services Ltd - possui sua própria assinatura, o que exime de dúvidas quanto a titularidade e controle tanto da empresa offshore quanto da conta no banco suíço", informa o delegado Filipe Hille Pace, da força-tarefa da Lava Jato.

A Klienfeld é uma offshore que já havia caído no radar da Lava Jato pelo pagamento de propina para outros acusados, entre eles o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque - indicado ao cargo pelo PT. A carta foi localizada na 11ª fase da Lava Jato, batizada de My Way, na casa do operador de propinas Zwi Skornicki, que trabalhava para o estaleiro Keppel Fels.

Um dos materiais considerados prova no pedido de prisão de Santana, entregue ao juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, veio da cooperação obtida nos Estados Unidos. O Banco Citibank, onde a Shellbill usava uma conta de passagem do dinheiro, remeteu uma primeira parcial com extrato das movimentações feitas da conta da offshore do marqueteiro do PT - no Banco Heritage, na Suíça -, que tiveram crédito ou débito naquele país. "São indícios contundentes que a conta pertence ao casal (Santana e Mônica)", afirmou o delegado Pace.

O documento serve de mapa dos dados bancários de transferências "realizadas de maneira oculta - em contas no exterior - e dissimulada - a partir de contratos de consultoria ideologicamente falsos - por Zwi e Bruno Skornicki e pelo Grupo Odebrecht em favor de João Santana e Mônica Moura".

Os extratos enviados pelos Estados Unidos sobre a conta no Citibank por onde a Shellbill movimentava dinheiro mostram o nome da filha de Santana, Suria Santana, e de seu genro, Matthew Pacinelli.

"Além disso, os números depósitos para Suria Santana, filha de João Cerqueira de Santana Filho, residente no exterior - em Washington D.C., EUA - e casada com Matthew S. Pacinelli, que também recebeu recursos da conta da suíça mantida em nome da Shellbill Finance, não deixam quaisquer dúvidas sobre a titularidade e controle da conta no exterior abastecida com recursos provenientes da corrupção na Petrobras", informa a PF, no pedido de prisão do casal apresentado ao juiz federal Sérgio Moro.

Segundo o documento, Suria Santana "recebeu, em 80 transações, no período de 28 de novembro de 2008 a 30 de março de 2015, o valor de USD 442.800,00 da conta no Banque Heritage em nome da Shellbill". "O genro do marqueteiro recebeu, em oito transações, entre 4 de março de 2009 e 11 de março do mesmo ano USD 75.000,00."

Contrato rasurado


Outro documento é o modelo de contrato enviado para o Zwi e seu filho Bruno - operadores de propina do estaleiro Keppel Fels - que traz a assinatura de Mônica Moura.

O contrato era um modelo para um aditamento entre a Shellbill e a Klenfeld, para justificar as movimentações financeiras. "É um modelo de 2013 que mostra que em 2011 já havia outro contrato. Ele foi enviado na carta encontrada nas buscas na casa de Zwi Skornicki, no ano passado", explicou o delegado.

Para a PF, depois de analisar os recebimentos de R$ 198 milhões das empresas de João Santana de campanhas do PT entre 2004 e 2014 e as declarações de rendimentos do casal, a "conclusão que se tem é que a fonte de renda de João Santana e Mônica Moura, no Brasil, advém essencialmente das atividades de marketing e publicidade que prestam ao Partido dos Trabalhadores, razão pela qual é extremamente improvável que a destinação de recursos espúrios e provenientes da corrupção na Petrobras aos dois, no exterior - em conta em banco suíço mantida em nome de empresa offshore - e de maneira dissimulada - mediante a celebração de contratos falsos -, esteja desvinculada dos serviços que prestaram à aludida agremiação política". (AE)



22 de fevereiro de 2016
diário do poder

LOROTA PRESIDENCIAL

REDUÇÃO DOS SALÁRIOS DA PRESIDENTE E DOS MINISTROS ERA SÓ CONVERSA FIADA
PROMETEU CORTAR 10% DO SEU SALÁRIO E 3.000 CARGOS: ERA LOROTA


DILMA NO MOMENTO EM QUE ANUNCIA CORTE DE 10% DO SEU SALÁRIO, EM 2 DE OUTUBRO. (FOTO: LULA MARQUES)


Não passou de lorota o anúncio da presidente Dilma Rousseff, em outubro, e redução do seu próprio salário e o de todos os ministros em 10%. Quatro meses depois, a medida nem sequer saiu do papel e os salários dela e dos ministros, de R$ 30.934,70, continuam sendo pagos integralmente. Dos 3 mil cargos comissionados que o governo cortaria, apenas 528 foram extintos até agora.

A proposta está no Congresso, mas o governo e seus representantes não se empenham por sua aprovação. Inicialmente, a relatora do projeto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, deputada Simone Morgado (PMDB-PA), só apresentou o parecer por sua aprovação em 16 de novembro e aprovado no colegiado apenas no dia 9 de dezembro.

A partir dali, a mensagem presidencial transformou-se em projeto de decreto legislativo, mas dormita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desde 15 de dezembro. O relator escolhido na CCj, deputado Décio Lima (PT-SC), nem sabia da designação. “Eu não estou sabendo que sou o relator. Se fui designado relator, ainda não fui informado”, afirmou.

Dos cargos já extintos pelo governo,16 foram na Casa Militar; 24 na Embratur; cinco na Fundação Alexandre Gusmão; 74 no Ministério da Justiça; 34 no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; 216 no Ministério do Planejamento; 24 no Ministério do Turismo; 112 na Secretaria de Governo; e 23 na Suframa.

Dilma também anunciou a criação de uma central de automóveis para unificar o atendimento aos ministérios, além de metas de gastos com água e energia, limites para uso de telefones, diárias e passagens aéreas, mas isso também não foi implementado até agora.



22 de fevereiro de 2016
diário do poder

JUIZ MANDA PRENDER MARQUETEIRO JOÃO SANTANA QUE ESTÁ NO EXTERIIOR

SERGIO MORO DECRETA PRISÃO DO MARQUETEIRO DE LULA E DILMA


JOÃO SANTANA COMANDOU AS CAMPANHAS ELEITORAIS DA PRESIDENTE DILMA E DE LULA. (FOTO: ANDRÉ DUSEK/AE)



A 23ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal nesta segunda-feira (22), que tem como um dos alvos o marqueteiro das campanhas do PT, João Santana, contra quem foi expedido um mandado de prisão. A nova fase, batizada de Operação Acarajé (dinheiro vivo), cumpre 51 mandados, sendo dois de prisão.

Esta fase da Lava Jato tem como alvos também a empreiteira Odenrecht, que fez pagamentos a João Santana no exterior, e o operador de propinas Zwi Skornicki, também com prisão decretada, em cuja residência a PF havia encontrado, em mandado de busca e apreensão anterior, uma carta da mulher do marqueteiro indicando contas no exterior para receber pagamentos.

Santana se encontra no exterior, mas, esta semana, ele havia se colocado à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos. A força-tarefa apurou que ele tem contas bancárias no exterior não declaradas à Receita Federal. A ação é realizada em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

A Operação Lava Jato investiga um esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras e teve início em março de 2014.

O publicitário começou a ser investigado na operação Lava Jato em um inquérito sigiloso depois que a PF apreendeu na casa do operador de propinas do esquema da Petrobras, Zwi Skornicki , um manuscrito atribuído à mulher de João Santana indicando contas dele fora do paí



22 de fevereiro de 2016
diário do poder

SUIÇA CONFIRMA TER BLOQUEADO DINHEIRO DE JOÃO SANTANA

OS SUÍÇOS JÁ CONGELARAM MAIS DE 300 CONTAS RELATIVAS AO ESCÂNDALOS DA PETROBRAS

SUSPEITAS SOBRE O FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS HAVIAM SURGIDO AINDA EM MEADOS DO ANO PASSADO NA SUÍÇA FOTO: CLÁUDIO GATTI/ ESTADÃO


O Ministério Público da Suíça confirmou que um "montante substancial" foi congelado em nome de João Santana em um banco do país. Por e-mail, a procuradoria suíça indicou que não daria nem o nome do banco e nem os valores congelados. Mas confirmou que o dinheiro está bloqueado.

"Um montante substancial foi congelado por uma instituição financeira da Suíça", indicou o Ministério Público. "Nenhuma informação suplementar será dada neste momento", completou.

Os suíços já congelaram mais de 300 contas relativas ao escândalos da Petrobras e ampliaram as investigações diante de indícios de irregularidades com contas relativas à Odebrecht. No total, mais de US$ 400 milhões haviam sido identificados nos bancos suíços com origem suspeita, o que levou o MP local a admitir que o sistema financeiro havia sido afetado.

As suspeitas sobre o financiamento de campanhas haviam surgido ainda em meados do ano passado na Suíça. Em agosto, procuradores brasileiros estiveram em Lausanne e informaram aos suíços que estavam em busca de indícios de um suposto pagamento de propinas para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010. Eles ainda apuravam indícios de que a rede de pessoas beneficiadas por subornos seria maior do que se conhecia até aquele momento.

Parte do inquérito estava dirigido contra as empresas offshore supostamente criadas pela Odebrecht e com contas na Suíça. Desde então, a construtora passou a atuar nos tribunais suíços para tentar impedir que os extratos e documentos fossem enviados ao Brasil. Nesta segunda-feira, 22, foi deflagrada a 23ª fase da Operação Lava Jato, batizada de 'Acarajé', que tem como alvo o marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff de 2010 e 2014 e do ex-presidente Lula de 2006. João Santana, que está na República Dominicana, teve prisão temporária decretada.(AE)



22 de fevereuri de 2016
diário do poder

PF APONTA PARA ENVOLVIMENTO DE LULA EM PRÁTICAS CRIMINOSAS

PARA PF, ODEBRECHT BANCOU A CONSTRUÇÃO DA SEDE DO INSTITUTO LULA


RELATÓRIO APONTA RUBRICA "PRÉDIO IL" ACHADA NO CELUALAR DE ODEBRECHT COMO INSTITUTO LULA. FOTO: HEINRICH AIKAWA/INSTITUTO LULA


A Polícia Federal aponta para "possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em práticas criminosas". Em relatório de 44 páginas anexado ao inquérito da Operação Acarajé - 23.ª etapa da Lava Jato -, em que complementa pedido de buscas o delegado Filipe Hille Pace analisa a anotação "Prédio (IL)" encontrada em celular do empresário Marcelo Odebrecht ao lado de valor superior a R$ 12 milhões.

"Em relação à anotação 'Prédio (IL)' a Equipe de Análise consignou ser possível que tal rubrica faça referência ao Instituto Lula. Caso a rubrica 'Prédio (IL)' refira-se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva."

O delegado assinala que "é importante que seja mencionado que a investigação policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de 'A' ou 'B'. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. A partir disto, se tais fatos apontarem para o cometimento de crimes, é natural que a persecução penal siga seu curso, com o indiciamento pelo delegado de Polícia, o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público."

"O possível envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas deve ser tratado com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional", ressalta o relatório.

O delegado aponta para uma planilha com anotações "possivelmente idealizada por Marcelo Bahia Odebrecht". Os dados, segundo ele, "revelam, a partir do que foi possível apurar em esfera policial, o controle que o dirigente máximo do Grupo Odebrecht tinha sobre a destinação de recursos, à margem da lei, ao Partido dos Trabalhadores."

O relatório faz menção, ainda, ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015 na Lava Jato. "Há, em anotação do celular de Marcelo Bahia Odebrecht menção a palavra 'Prédio'. Na nota, a palavra está acompanhada de 'Vaca', sendo que a conclusão alcançada foi a de que seriam disponibilizados recursos a João Vaccari Neto."

O documento pontua a composição do montante de R$ 12,42 milhões supostamente destinado à construção do Instituto Lula - três vezes o valor de R$ 1.057.000,00 (R$ 3.171.000,00), acrescidos dos valores de R$ 8.217.000,00 e 1.034.000,00.

"A composição do valor de R$ 12.422.000 faz referência a valores específicos, possivelmente devidos em razão de serviços prestados, por exemplo, cujo valor é calculado com base no preço de produtos e mão de obras. As investigações policiais conduzidas na Operação Lava Jato demonstraram que a negociação de vantagens indevidas, quando se referiam a transferências bancárias no exterior ou disponibilização do recurso em espécie, permaneciam, geralmente, em números inteiros - tal como R$ 500.000,00, R$ 1.000.000,00, R$ 1.500.000,00. Não é crível que o agente corrompido solicitasse a disponibilização, em espécie, de valores quebrados, tal como R$ 1.057.000,00", aponta o texto.

"Valores 'quebrados' foram identificados em duas situações: quando a vantagem indevida era calculada a partir de porcentuais - no caso dos contratos da Petrobras - e quando a vantagem se travestia na disponibilização de serviços, bens e outras benesses passíveis de serem valoradas precisamente. Assim, caso a rubrica 'Prédio (IL)' refira-se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva."



22 de fevereiro de 2016
diário do poder

A MIGRAÇÃO NO MEDITERRÂNEO E O RADICALISMO ISLÂMICO


Com toda certeza, a terceira guerra mundial já está em cu




Quanto mais próximo estiver de sua origem, de seu ponto de partida, mais um movimento religioso se mantém fiel à ideia que o fez nascer. Se voltarmos aos séculos I e II, encontraremos o cristianismo passando pelas catacumbas de Roma, o cerco em sítios ermos às margens do Mediterrâneo e, sobretudo, tocado pelo martírio que enfrentava nas arenas do Império. Coerentemente com a trajetória de Cristo, que foi martirizado na cruz, o fiel cristão entendia que para seguir o caminho mais reto, aquele que leva ao reino do céu, ao nirvana cristão, ele deveria passar pelas pegadas do martírio, do sofrimento mais cruel. Martirizados foram Pedro e Paulo sinalizando o fim do bom cristão.
A história oficial que chegou até nós, depois de séculos influenciada pelo Vaticano, fez dos romanos apenas carrascos. Entretanto, o Império Romano tinha outras preocupações em relação a quem vinha de Israel, calçando sandálias e pregando pobreza.
A tradição de Roma não era certamente a perseguição religiosa, e os cristãos eram minoria desarmada e inócua no século I. Roma era a capital do sistema de Estado mais amplo e mais bem-estruturado de todos os tempos. Seu modelo republicano foi roubado dos gregos, que, no seu melhor momento, se organizaram em cidades repúblicas, autônomas, com população média de 20 mil habitantes – seguindo o mito da Cidade do Sol. A cidade helênica era estruturada para ser autossuficiente e soberana, com seu sistema de defesa, concedendo a todos a igualdade de direitos, com os melhores cidadãos chamados para governar e, os mais velhos, para legislar, organizados em assembleia.
AMPLIANDO A REPÚBLICA
Roma ampliou o sistema de república e a estendeu a um território de milhões de pessoas de origens e culturas variadas num raio de 3 mil quilômetros de seu centro. A firmeza romana se ancorava, entretanto, na tolerância, cultural e religiosa. Deixar viver era a forma de assimilar. Roma tinha templos e imagens de tudo o que se venerava e adorava no Império.
Cristo foi crucificado numa colônia por decisão dos judeus quando Pilatos, vencido, lavou as mãos. Roma era tolerante para se manter como “caput mundi” sem resvalar em polêmicas religiosas. O sincretismo permitiu encontrar a saída às diferenças. E o cristianismo, em seguida, mais que substituir tradições, cristianizou a Páscoa, o Natal e outras antigas festividades.
O cristão dos primeiros dois séculos após a morte de Cristo não era apegado aos bens materiais, os desprezava, seguia estritamente o que Cristo ensinou por meio de seus apóstolos e discípulos: “Faça da pedra que encontrar o seu travesseiro”. Ou ainda: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que a Ele pertence…”. Os primeiros cristãos almejavam o martírio como forma de serem fiéis, procuravam esse fim, e o martírio, em muitos casos, os gratificava. Os romanos nunca tinham se dado a um fenômeno de aspirantes ao martírio.
A martirização tinha como prêmio o paraíso e ainda era o exemplo recente de Pedro e Paulo. A presença estaminal do Cristo Redentor, morto há poucas décadas, pulsava nas veias dos fiéis.
FILÓSOFOS LAVAM AS MÃOS…
Adriano, Antonino e Marco Aurélio, os imperadores filósofos, apesar de serem contrários à perseguição e de se esquivarem das arenas, não conseguiam contrastar o desejo dos mártires e a tendência da crueldade praticada nas arenas. Os imperadores filósofos também lavavam as mãos.
A superação da dor se realizava em êxtases que precediam a união com o Supremo, e os mártires, mesmo sendo recortados e queimados, pareciam não se importar. Sentavam-se em cadeiras de ferro incandescentes ou deixavam-se mutilar impassíveis como faquires.
Quando a religião cristã se alastrou no terceiro século, desequilibrou o sistema e determinou sua queda. O romano guerreiro foi contido pelo romano que acreditava no perdão.
Roma minguou de 1 milhão para 25 mil habitantes. Embora o cristianismo fizesse ruir o Império, ele aproveitou sua organização para que a Igreja Vaticana pudesse se expandir como um império religioso.
A ideia que a renúncia à vida levaria ao paraíso e melhoraria o mundo ressurge 20 séculos depois. A intensidade (fanatismo) que marcou o cristianismo primordial foi revivida no islamismo radicalizado do Estado Islâmico, o que leva um contingente numeroso a banalizar a importância da vida e a exaltar a morte e o martírio por uma causa.
O ISLAMISMO AVANÇA
Como o cristianismo cimentou seus alicerces com o sangue dos mártires, os mártires islâmicos atraem um número crescente e avassalador de seguidores fanáticos. A relativização da importância da vida determina o abandono da “razão comum” e promove o extermínio como mérito.
A declaração de uma possível terceira guerra mundial se deu em 11/09/2001, sem delimitar fronteiras e provocando êxodos, migrações e horrores que assombram todos os continentes. A pressão sobre a Europa, laboratório da civilização ocidental, se faz insuportável e nos deixa imaginar uma escalada islâmica, até ajoelhar, em poucas décadas, o continente inteiro.
Provavelmente, faltou no século XX entender que era necessária uma distribuição de oportunidades em países da mesma bacia mediterrânea. A proximidade ficou desproporcional à diversidade de condições e de culturas. O estrago está aí.
A humanidade parece que ainda vai sofrer muito até encontrar uma solução.

22 de fevereiro de 2016
Vittorio Medioli
O Tempo

A MORBIDEZ DO PT


O PT sofre uma afecção grave, cujo sintoma é a tendência à alienação da realidade, substituída pela visão de um mundo paralelo que melhor se conforma a seus anseios e conveniências. Uma demonstração contundente desse comportamento mórbido foi a reunião de um tal “conselho consultivo” da presidência do PT realizada na manhã de segunda-feira num hotel em São Paulo. Lula e Rui Falcão, presidente nacional da legenda, não chegaram exatamente, pelo que se apurou, a consultar os consultores sobre nada, mas explicaram tudo em que devem acreditar a respeito dos problemas políticos e econômicos que o Brasil enfrenta, e como resolvê-los.

Fora do roteiro previamente imaginado por Falcão para o encontro ficou apenas a questão da “tarefa muito especial” da “montagem de uma poderosa bateria de ações, recursos, debates e mobilizações de solidariedade a Lula”, vítima da “escalada de ataques” da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da “mídia golpista”. Mas Falcão, que anunciara esse tema da pauta uma hora antes do encontro, não deve ter consultado previamente o chefe, pois logo após a reunião se desmentiu: “Isso não ocorreu. Isso não foi mencionado. Isso não estava na pauta”. De acordo com participantes do encontro, Lula foi categórico sobre esse assunto: “Não aguento mais falar disso”. Reação tipicamente nervosa, reveladora de um quadro de óbvia disfunção. Afinal, ele não consegue dar explicações razoáveis e consistentes a respeito do sítio de Atibaia que está à sua disposição – e por isso se exaspera.

Mas tem imaginação para ditar cátedra sobre como resolver a crise econômica – embora sobre a crise política e, sobretudo, moral em que a tigrada mergulhou o País ele prefira nada falar. Chegou até a dar um prazo para que o governo de sua pupila Dilma Rousseff comece a apresentar resultados positivos na economia: o fim deste semestre. Se isso não acontecer, previu o Oráculo petista, a partir do segundo semestre os indicadores econômicos e sociais, que avançaram durante sua gestão, poderão regredir aos índices do final do governo FHC: “Aí não vai ter povo para defender”.

Sobre a questão econômica foi apresentado durante a reunião um documento, obviamente sacramentado por Lula, que cobra do governo a adoção de medidas para a retomada do crescimento econômico. Os termos desse documento são um magnífico exemplo do voluntarismo petista, que parte do pressuposto de que tudo o que precisa ser feito é óbvio e depende exclusivamente de vontade política. Ou seja, se até agora Dilma Rousseff não implementou essas medidas foi porque não quis.

Afirma o documento petista: “Não se pode aguardar mais para inaugurar medidas que retomem o crescimento econômico sustentável, com inclusão social, geração de empregos, distribuição de renda, controle da inflação, melhoria dos serviços públicos, investimentos em infraestrutura”. Tudo muito simples e fácil. Afinal, quem não é a favor de tudo isso, e ainda da paz mundial, da descoberta da cura do câncer, do extermínio do Aedes aegypti, da extinção da fome no planeta, de fins de semana ensolarados...

A triste realidade, que a morbidez em estado avançado impede os petistas de enxergar, é que durante os oito anos de Lula nada foi feito de concreto para estimular e garantir um “crescimento econômico sustentável”. Em vez disso, torrou-se o dinheiro público, por exemplo, em programas socialmente necessários, mas equivocados, porque sem o amparo de medidas econômicas que lhes garantissem sustentabilidade no longo prazo. É claro, e até Lula sabe disso hoje, que o primeiro mandato de Dilma foi catastrófico porque, embalado pelo voluntarismo estatista da “nova matriz econômica”, foi incapaz de criar mecanismos de proteção da economia brasileira, de modo especial a produção industrial, das ameaças de uma conjuntura adversa. O resultado dessa incúria se colhe agora. Mas o lulopetismo, obcecado pela ideia de sobreviver numa realidade paralela, é incapaz de fazer autocrítica e propor medidas renovadoras, reestruturantes, para o governo que elegeu. Insiste em continuar tocando música para os ouvidos de eleitores que, na verdade, já perdeu.

22 de fevereiro de 2016
Estadão

SOBRE OVOS E GALINHAS


Sou repetitivo. Há, confesso, temas que recorrem neste espaço bem mais que gostaria, mas, mesmo admitindo minhas obsessões, o problema maior é com o país, que insiste em ser ainda mais repetitivo do que eu.

Veja agora o pleito de governadores por mais uma rodada de renegociação de suas dívidas com a União. Desde que o governo federal assumiu as dívidas estaduais, na segunda metade dos anos 1990, governadores (e também prefeitos) vêm brigando para não pagar o que devem. O que ocorre agora não é diferente, exceto que, desta vez, parece que irão vencer, com consequências potencialmente desastrosas para as finanças públicas.

A narrativa é conhecida: como as dívidas com o governo federal são tipicamente indexadas ao IGP, pagando ainda uma taxa de juros elevada, governadores reclamam que se tornaram impagáveis, em geral comparando a dívida anos atrás com a atual. Por exemplo, o conjunto das dívidas interna e externa dos Estados atingia R$ 216 bilhões em dezembro de 2001; já em dezembro de 2015 esse valor havia subido para R$ 646 bilhões, praticamente três vezes maior do que em 2001 e, portanto, impagável.

Ou não. Quem costuma apresentar os números dessa forma espertamente deixa de mencionar que o PIB e as receitas estaduais cresceram no período, pela força combinada da inflação e da expansão real da atividade econômica. O PIB nominal (sem a correção pela inflação) aumentou 4,5 vezes, praticamente a mesma magnitude de crescimento das receitas, seja pelo lado da arrecadação, seja pelas transferências federais.

Assim a dívida estadual –que era equivalente a 15,5% do PIB em 2001– caiu para 11% do PIB em 2015. Da mesma forma, a dívida equivalia a 1,5 ano de receitas em 2001, caindo para 1 ano em 2015.

Isso dito, a comparação acima (2015 contra 2001) não captura a piora observada a partir de meados de 2014, quando a dívida estadual saiu de 9% do PIB para os atuais 11% do PIB. O notável, porém, é que esse aumento não resultou das dívidas reestruturadas nos anos 1990, isto é, do que é devido ao governo federal, mas principalmente de outras duas modalidades: a dívida com bancos locais (+0,6% do PIB) e dívida externa (+1,0%), esta última em parte impulsionada pela valorização do dólar no período.

Posto de outra forma, o aumento observado nos últimos 18 meses não parece ter resultado das regras associadas à dívida com o governo federal, mas da assunção de novas dívidas, devidamente autorizadas pelos (ir)responsáveis de plantão.

Embora, ao menos em tese, Estados possam ter incorrido em novas dívidas para pagar à União, na prática esse pagamento se manteve constante como proporção da receita líquida dos Estados, sugerindo que o endividamento adicional ocorreu por outros motivos, a saber, gastos mais altos, em especial associados ao funcionalismo. Em alguns casos as perspectivas de receitas mais elevadas, por exemplo, royalties da exploração de petróleo, induziram governadores a gastar por conta, contando com o proverbial ovo já na galinha.

Apesar do comportamento gastão, o governo federal agora acena com a possibilidade de novamente resgatar os pródigos, gerando incentivos para mais irresponsabilidade à frente. E mais uma coluna apontando os erros dessa política...


22 de fevereiro de 2016
Alexandre Schwartsman, Folha SP

TATICA "FUBANGA"


Contrariamente ao anunciado poucas horas antes, nada se deliberou na reunião do Conselho Político do PT a respeito das acusações envolvendo o ex-presidente Lula e as empreiteiras OAS e Odebrecht.

Pelo menos, foi o que afirmou o presidente do partido, Rui Falcão, ao fim do encontro realizado nesta segunda-feira (15) em São Paulo.

Talvez não houvesse mesmo grandes explicações a dar sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá. Falcão limitou-se a negar fundamento às acusações.

Argumentou que o sítio não é formalmente propriedade de Lula, sem abordar a questão, entretanto inevitável, de quem teria financiado as reformas na propriedade, e por que teriam duas grandes empresas de obras públicas interesse em prestar gentilezas desse tipo.

Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência, teve atitude mais amena, em entrevista à Folha antes da reunião. "Se formos falar desse tríplex, ele é bem fubango, não é?", perguntou; "considero meu apartamento melhor".

Concordando ou não com esse julgamento, o fato é que os demais membros do Conselho Político teriam, portanto, segundo a versão oficial, discutido assuntos mais elevados do que uma simples cobertura no Guarujá, e não tão prosaicos quanto pescarias e passeios de pedalinho.

Tratou-se, assim, da necessidade de um "plano nacional de emergência" para responder à crise econômica, propondo alternativas ao receituário "neoliberal".

As dificuldades do PT, nessa seara, tendem a ser consideráveis do ponto de vista político. Apesar das próprias relutâncias, o governo Dilma Rousseff tem insistido na necessidade de cortar de gastos, reformar a Previdência e retomar a cobrança da famigerada CPMF.

Ao mesmo tempo em que defende a presidente, o partido busca todavia afastar-se do pouco que a atual administração ainda mantém de acertado em seus caminhos.

Na defesa do ex-presidente, não se esconde o mal-estar: o apartamento é mixuruca. Aliás nunca foi de Lula. Mais ainda, favores como os das empreiteiras são normais, como sugeriu o ex-ministro Gilberto Carvalho recentemente.

Para utilizar uma expressão popular, é como se o partido estivesse órfão de pai e mãe: Lula e Dilma não são mais o que eram, e o "plano de emergência" para a economia talvez valha tanto quanto as explicações sobre Atibaia.

Elabore-se algum arrazoado, jurídico ou financeiro, para ganhar tempo. Contabilizem-se os votos que já foram perdidos de qualquer modo, e que o resto se arranje até 2018. A tática é bem "fubanga", seja lá o que isso signifique, mas é o que o PT tem a oferecer.


22 de fevereiro de 2016
Editorial Folha de SP

PERDIDOS NO ESPAÇO


De acordo com relato de seus companheiros, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva fez um desabafo na reunião do conselho político do PT: “Não aguento mais falar disso”. Não aguenta? Diz como se alguma coisa estivesse falando a respeito das quatro investigações das quais é alvo no Ministério Público e na Polícia Federal.

Na realidade nua e muito crua o que ele não suporta é ser questionado por correligionários que lhe pedem uma orientação sobre como enfrentar o assunto perante a sociedade. Lula (agora e sempre) quer apenas que o defendam. O problema é que não lhes fornece argumentos consistentes e suficientes para tal. Sendo assim, os pobres fiéis não têm alternativa: vestem a saia-justa e deixam que as batatas quentes lhes queimem as mãos, pagando o preço do constrangimento público.

Ocorreu com a presidente Dilma Rousseff, com o presidente do PT, Rui Falcão, com os ministros da Casa Civil e da Justiça, para citar só os de patente mais alta. Constrangida entre o dever de ofício petista e as obrigações de chefe de Estado, Dilma equilibrou-se nessa corda bamba dizendo que o antecessor é vítima de “grande injustiça”. Qual violação de direitos mesmo? A presidente não pode detalhar sem incorrer no risco de desqualificar o trabalho das instituições do País a que comanda.

Em situação embaraçosa semelhante viram-se envolvidos os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça). À falta de argumentos objetivos, pronunciaram-se como se acabassem de descobrir a pólvora. Wagner apontou a existência de uma “caçada” por comprovações do envolvimento de Lula em procedimentos ilícitos – criminal e eticamente falando. Já José Eduardo Cardozo constatou o “interesse” da oposição em macular a imagem do líder petista.

Limitaram-se, ambos, a fazer cair chuva no molhado. Tal seria se à oposição interessasse endeusar a figura do adversário que tanto a demonizou enquanto estava com cacife alto. Quanto à referida “caça”, o que existe é a busca por elementos de prova por parte do MP, da PF e do Poder Judiciário na estrita observância do dever de esclarecer se as suspeitas em torno de Lula e companhia são verdadeiras ou falsas, se ele – na condição de beneficiário maior – tinha ou não o domínio sobre os fatos infratores.

Perdido nesse espaço de pouca luz e muitas sombras esteve também o presidente do PT, Rui Falcão, que anunciou a discussão sobre a situação de Lula como pauta principal do encontro do conselho do partido, para ser logo desmentido pelo chefe, indisposto que estava para discutir “questões pessoais” naquele encontro. A pauta, por escolha dele, foi o governo da sucessora.

E o conteúdo, claro, as agruras pelas quais não se sente minimamente responsável. “Se persistir a crise, o povo não defenderá o governo”, ponderou no intuito evidente de desviar o debate e se postar no papel daquele que soluciona, quando, hoje, é o que produz problemas.

É de se perguntar até quando os petistas vão achar interessante (e, sobretudo, producente) celebrar o comandante que só pensa em si, na hora do naufrágio, deixa cada um por si.

Falso brilhante. A liberação de ministros e secretários por parte de presidente e governadores, para assumir os mandatos parlamentares e votar na eleição da liderança na bancada de partidos não deixa de ser uma fraude.

Eles votam, elegem quem seus “donos” determinam, voltam para suas atividades e não participam como integrantes de fato do grupo de deputados representantes dos eleitores.




22 de fevereiro de 2016
O Estado de São Paulo

EFEITO DA RECESSÃO


Vivemos uma queda que ainda não chegou ao fim e que muito provavelmente será a pior recessão da nossa história. No biênio 2015- 2016, o PIB está contraindo algo em torno de 7,7%. As vendas do varejo ampliado caíram 8,6% no ano passado, segundo o IBGE divulgou ontem. Mesmo assim, como tudo na economia, há dois lados nesta moeda. E da forma mais amarga possível está sendo feito um ajuste.

Um dos lados é a coleção dos efeitos que se pode chamar de positivos da queda do consumo, como a redução do ritmo da inflação, o afastamento de riscos, como o apagão, e a melhora externa. Não serve de consolo. Todos os bons resultados poderiam ser conseguidos com boa administração da política econômica. A recessão é sempre um momento doloroso, mas é nela que o diretor do Banco Central Altamir Lopes se baseia para dizer que a inflação pode cair mais do que o mercado está calculando e ficar em 6,5%. Segundo ele, a recessão permitirá que a taxa de 2016 fique no teto da meta. A previsão das instituições financeiras, ouvidas pelo Boletim Focus, está acima de 7,5%.

É triste a situação de esperar que a má notícia traga a boa, mas é isso que tem acontecido. Houve uma redução forte do consumo de energia provocada pela recessão, que derrubou a produção industrial, e pelo tarifaço, que reduziu a demanda das famílias. Isso fez com que o país superasse o risco do apagão. O governo se vangloria de ter evitado o pior, mas não foi por gerenciar bem a crise. Foi decorrência da maior queda da produção industrial da série histórica e do corte no consumo familiar. O certo teria sido a presidente Dilma Rousseff admitir em 2013 que errara ao baixar a tarifa em 2012. Isso permitiria uma correção mais suave e uma adaptação ao período de baixo nível de chuvas. A correção foi adiada por razões eleitorais. Por isso, e só por isso, o país foi atingido pelo tarifaço de 2015.

O ajuste externo também é resultado em parte do encolhimento da economia brasileira. A queda da importação é maior do que a diminuição da exportação, e o superávit comercial nasceu por disso. As importações de petróleo foram reduzidas como resultado do petróleo reequilibrando a balança setorial, que estava com um rombo explosivo.

Não precisávamos estar na situação de contar com a recessão para fazer o trabalho de reduzir um pouco a pressão inflacionária, diminuir o consumo de energia e reequilibrar as contas externas. Tudo poderia ter sido feito pela forma correta. As tarifas de energia não deveriam ter servido para uma demagogia eleitoreira, os preços dos combustíveis não deveriam ter ficado defasados, quando o petróleo estava subindo para além de US$ 100. Se o governo não tivesse cometido esses erros, a Petrobras não teria tido o prejuízo calculado pelos especialistas entre U$ 50 bilhões a U$ 60 bilhões importando combustíveis a preços mais altos do que os que podia vender no mercado interno. As empresas distribuidoras de energia não teriam enfrentado o desequilíbrio financeiro que as fez tomar empréstimos bancários para cobrir dificuldades de caixa.

Hoje, o país poderia aproveitar a onda deflacionária na área de energia, que reduziu a inflação em todos os países do mundo. Pelos erros do passado, o mundo inteiro está com deflação no setor energético, pela queda dos preços do petróleo, mas só o Brasil tem justamente na energia o mais importante fator a elevar a inflação.

A alta de preços agravou a recessão, ao tirar poder de compra das famílias e reduzir a confiança para os investimentos dos empresários. E não é garantido que a queda do PIB reduza a pressão inflacionária. O índice está tão alto que qualquer choque que ocorra, qualquer piora das expectativas, qualquer nova desvalorização cambial vai continuar mantendo a inflação elevada.

O mundo estava ajudando nos últimos anos com a economia americana se recuperando, a Europa saindo da crise e a China crescendo. Houve uma piora rápida das expectativas em relação ao cenário mundial. Se o Brasil piorou quando o mundo estava melhorando, o que acontecerá agora que a situação se agrava aqui e fica mais instável nas principais economias do mundo?

A recessão acaba corrigindo alguns desequilíbrios, mas é a pior forma de ajustar uma economia.


22 de fevereiro de 2016
Míriam Leitão. O Globo

ROSEMARY CONTINUA A SER UMA MIRIAN DUTRA EM POTENCIAL



Charge de Sponholz (sponholz.arq.br)


















Os petistas comemoraram entusiasticamente a divulgação das confissões de Mirian Dutra, a jornalista que teve um filho nos anos 90 e atribuiu a paternidade ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o reconheceu e assumiu em cartório, mas depois exames de DNA feitos no Brasil e nos Estados Unidos apontaram que o pai seria outro – um “biólogo”, segundo a própria Mirian admitiu a colegas, conforme relatou este sábado o jornalista Ricardo Noblat, sabidamente um dos mais bem informados de Brasília, em artigo publicado por O Globo.
A empolgação dos petistas não tinha base sólida, porque é ilusão achar que erros de FHC possam apagar malfeitos os cometidos pelo ex-presidente Lula, cuja imagem de homem público está cada vez mais arruinada, embora milhões de brasileiros ainda o continuem idolatrando, por julgarem que ele está sendo perseguido pela oposição, pela imprensa, pelos procuradores da República e pelos promotores de São Paulo, vejam como há teorias conspiratórias com adeptos incondicionais.
Sonhar não é proibido, mas este fim de semana foi mais um pesadelo para Lula, sua sucessora Dilma Rousseff e os petistas de um modo geral, porque a imprensa voltou a publicar notícias arrasadoras e tenebrosas. Não se trata mais de denúncias, mas de provas materiais, que incriminam não somente Lula e dona Marisa Letícia, mas também Dilma e Michel Temer, que estão sendo processados pela Justiça Eleitoral, sob ameaça de cassação.
NOTÍCIAS SINISTRAS
Enquanto os petistas ainda tentam manter o foco nas confissões íntimas da repórter Mirian Dutra, uma das principais revelações do fim de semana saiu na “Veja”, que exibiu mensagens trocadas entre dirigentes da OAS, reforçando as provas materiais de que as reformas do tríplex e do sítio foram feitas para Lula e dona Marisa Letícia, tratados pelos empreiteiros como “chefe” e “madame”.
Outra reportagem importantíssima foi publicada na revista “Época”, que divulgou provas de envolvimento direto de Lula em tráfico de influência para beneficiar a empreiteira Odebrecht, com o Ministério Público Federal comprovando também da participação do atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, como era um dos principais agentes do esquema de corrupção.
Já a revista “IstoÉ” entrou em outra vertente para mostrar que o juiz federal Sérgio Moro praticamente decretou a cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, ao enviar ao Tribunal Superior Eleitoral quase 2 mil páginas de documentos da Operação Lava Jato e recomendar a relação das testemunhas a serem ouvidas pela Justiça Eleitoral nos processos abertos pelo PSDB.
Para culminar, o colunista Merval Pereira, de O Globo, escreveu um artigo anunciando que será confirmado o acordo de delação premiada do senador petista Delcídio Amaral, que é uma espécie de personagem de Hitchcock como “O Homem que Sabia Demais”.
O EFEITO MIRIAN DUTRA
Os petistas pensam (?!) que as confissões de Mirian Dutra podem isentar Lula de vários crimes previstos da Lei da Improbidade Administrativa, cometidos ao sustentar uma segunda-dama com recursos públicos, concedendo-lhe uma função sem trabalho, diárias de viagem em dólar, cartão de crédito internacional, automóvel chapa branca, motorista e assessores, e ainda arranjar empregos bem remunerados para o ex-marido Luiz Claudio Noronha e a filha Mirelle, que só um teste de DNA pode demonstrar se é ou não filha do Lula.
Portanto, é uma ilusão achar que o caso Mirian Dutra possa passar a borracha nas estripulias amorosas e administrativas do líder do PT.
ROSEMARY AMARGURADA
O que está acontecendo é justamente o contrário. Antes de vir à tona esse escândalo envolvendo FHC, aqui naTribuna da Internet  recebemos uma informação segura de que Rosemary Noronha está muito amargurada, e não é para menos, porque os dias de glória acabaram, não há mais viagens ao exterior nem fins de semana em resorts de luxo, vive reclusa, praticamente não sai de casa.
Nada lhe falta, Lula é generoso, mas a depressão de Rose é um problema. O fato é que ele terá de sustentá-la indefinidamente. Não pode cometer o mesmo erro de FHC, que pensou (?!) que a TV Globo seguiria bancando eternamente a doce vida da ex-amante dele na Europa.
FHC é hoje carta fora do baralho político, mas Lula continua a ter milhões de admiradores, que contestam tudo que se diz sobre ele, por acreditarem que está sofrendo perseguição política por sua luta em favor dos pobres. Esta é a realidade. E viva o povo brasileiro!, como dizia João Ubaldo Ribeiro.

22 de julho de 2016
Carlos Newton

PARA NÃO SER CASSADO, DELCÍDIO AMEAÇA CHANTAGEAR SENADORES



“Se me cassarem, levo metade do Senado comigo”


















Depois de passar quase três meses na prisão, o senador e ex-líder do governo Delcídio do Amaral (PT-MS) volta ao Senado nesta semana, estuda tirar uma licença de até 120 dias e já avisou a aliados que não admitirá ter o mandato cassado, um de seus maiores temores.
“Se me cassarem, levo metade do Senado comigo”, afirmou a interlocutores quando ainda estava preso. A frase foi entendida como uma ameaça de que está decidido a entregar seus pares caso lhe tirem a cadeira de parlamentar.
Ao retornar ao Senado, Delcídio fará corpo a corpo com os demais colegas, argumentando que é inocente e pedindo amparo. Deve bater às portas de integrantes de partidos aliados e da oposição, com quem sempre manteve diálogo. Poucos, no entanto, devem ser os que darão apoio público ao petista.
FORO PRIVILEGIADO
Uma das maiores preocupações do senador é ter o mandato cassado porque, com isso, ele perderia o chamado foro privilegiado e seu caso iria para a primeira instância. Lá seria analisado pelo juiz Sérgio Moro, do Paraná, que tem sido célere em suas decisões envolvendo réus da Operação Lava Jato.
Em 1º de dezembro, dias após a prisão do senador, o Senado recebeu representação feita por dois partidos, Rede Sustentabilidade e PPS, que pedem a cassação de Delcídio sob acusação de quebra de decoro parlamentar.
O processo foi aberto no Conselho de Ética da Casa, sob relatoria do senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Na semana passada, a defesa de Delcídio pediu a substituição do relator, alegando que o tucano não pode permanecer na relatoria do caso por falta de isenção do PSDB. O pedido ainda será analisado.
DESGASTE
Correligionários do petista veem a licença como uma alternativa para, em um primeiro momento, evitar mais desgaste ao próprio senador e ao PT, uma vez que não precisariam conviver cotidianamente com um colega em regime de prisão domiciliar.
Quando estava preso, o petista foi colocado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em uma licença especial e manteve o salário de R$ 33,7 mil e demais benefícios do cargo.
Solto, o senador tem a opção de uma licença por questões médicas ou por motivos pessoais (neste caso, ele não receberia salário). Ao final desse prazo, caso ele não retorne, o suplente é chamado para assumir o mandato.
Outro motivo de constrangimento é a presidência da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, ocupada anteriormente por Delcídio. O PT não quer vê-lo de volta ao posto.
SUBSTITUIÇÃO
O líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou à Folha que a substituição de Delcídio pela senadora Gleisi Hoffmann (PR) na CAE já foi, inclusive, publicada no “Diário Oficial”.
Boa parte dos petistas vê a troca como ponto pacífico, por não acreditar que o colega tenha condições morais e força política para comprar briga pela permanência.
O STF decidiu prender Delcídio baseado em gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Na conversa, um plano de fuga e uma mesada de R$ 50 mil foram propostos por Delcídio em troca de Cerveró não fazer delação premiada. O ex-diretor, no entanto, acabou assinando acordo de delação.

22 de julho de 2016
Gabriel Mascarenhas e Marina Dias
Folha