"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

BRASIL DÁ VEXAME ECONÔMICO EM RELAÇÃO À AMÉRICA LATINA



Reprodução do Arquivo Google
O contraste entre o Brasil e países latino-americanos governados com mais seriedade e competência foi mostrado, mais uma vez, na apresentação, na Cidade do México, do panorama econômico da região preparado pela equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os dados e análises contidos nas 125 páginas do relatório reforçam, no essencial, os diagnósticos e projeções formulados por muitos economistas brasileiros e estrangeiros de alta reputação: os problemas econômicos do Brasil são basicamente de origem nacional e refletem a qualidade das políticas federais.
Desmentem mais uma vez, portanto, as alegações da presidente Dilma Rousseff, acostumada a atribuir a recessão, o desemprego, a quebradeira de empresas e outros males às condições internacionais.
Numa entrevista a jornalistas estrangeiros, no dia 19, a presidente novamente alegou inocência em relação ao desastre econômico brasileiro, negando ser responsável “pelo fim do superciclo das commodities” e pela “brutal crise que afetou, a partir de 2009, os países desenvolvidos”.
BRASIL EMPACADO
De fato, ela é inocente desses males, mas os países desenvolvidos voltaram a crescer e a criar empregos, enquanto o Brasil empacou em 2014, com expansão de apenas 0,1%, encolheu 3,8% em 2o15 e deve repetir esse desempenho em 2016 – mas a partir de uma base mais baixa –, de acordo com a estimativa do FMI, muito parecida com a mediana das projeções do mercado brasileiro.
A maioria dos países latino-americanos tem exibido e continuará a exibir maior dinamismo, mas há uma diferença mais importante entre eles e o Brasil.
Muitas economias da região foram afetadas pela desaceleração do comércio mundial, pelo menor crescimento da China, grande compradora de matérias-primas, e pela depreciação dos produtos básicos. “No entanto”, acrescenta o relatório do FMI, “em alguns casos os fatores internos foram a causa principal da pronunciada queda da demanda interna, particularmente dos investimentos.” O primeiro exemplo citado é o do Brasil.
SEM AJUSTE FISCAL
Os autores do estudo relacionam para começar, entre os principais fatores negativos, “a deterioração da dinâmica fiscal em meio a sinais políticos incoerentes (na gestão econômica) e a dificuldades para implementar o ajuste”. Mencionam também as condições financeiras apertadas, os “grandes aumentos dos preços da energia necessários, desde muito tempo, para corrigir erros de política”, além da “incerteza política”. No caso do Equador, há uma referência à rigidez das políticas macroeconômicas – num cenário complicado, obviamente, pela valorização do dólar, usado como moeda nacional. Resta um grande exemplo, o da Venezuela, mas esse é o mais simples e se pode resumi-lo com a lembrança das “arraigadas distorções políticas” e do profundo e prolongado desequilíbrio fiscal. A previsão de um ano com retração econômica de 8% e inflação de 700% é mais expressiva que qualquer condenação.
RECESSÃO E ENDIVIDAMENTO
O Brasil ainda é citado várias vezes no relatório, quase sempre com algum novo detalhe negativo. A retração econômica e o alto endividamento de muitas empresas, por exemplo, podem resultar em maior pressão sobre os bancos, até agora classificados entre os mais seguros do mundo. Além disso, a profunda crise brasileira é apontada como fator de risco para a região. Uma piora do quadro do Brasil tanto pode afetar o comércio sul-americano quanto elevar o custo do financiamento das economias da vizinhança.
A posição brasileira fica ainda mais desfavorável quando se aponta a condução prudente da política econômica de vários países da região. Melhores fundamentos têm permitido a alguns governos adotar políticas compensatórias ou alongar os ajustes. Graças a isso tem sido possível manter taxas ainda positivas de crescimento. Detalhe: para o Brasil, a baixa dos preços das commodities foi bem menos danosa do que para o Chile, o Peru, o Equador e a Colômbia. Os estragos foram mesmo causados principalmente pela baixa qualidade da política econômica.
(artigo enviado pelo comentarista Guilherme Almeida)

29 de abril de 2016
Deu no Estadão

TEMER CONFIRMA QUE NÃO SERÁ CANDIDATO EM 2018 E ACABARÁ A REELEIÇÃO


Em entrevista ao Jornal do SBT nesta quinta-feira, 28, o vice-presidente Michel Temer disse que se vier a assumir a Presidência não será candidato à reeleição em 2018. Ele confirmou notícia antecipada pelo colunista Claudio Humberto, do Diário do Poder. Temer afirmou que se posicionará favoravelmente ao fim da reeleição. Na entrevista, o vice também tratou de Lava Jato, crise econômica e programas sociais.

Durante toda a entrevista, Temer pontuou que estaria falando apenas em hipóteses e que é preciso respeitar o Senado e todo o processo. Apesar disso, o peemedebista confessou que já está sentindo o peso do processo que pode culminar com sua própria posse como presidente. “Tem um peso, um peso muito grande, principalmente porque não tive tempo de preparar esse governo, tanto fisicamente como nas ideias”, afirmou. Ainda assim, o vice disse ter planos voltados ao “crescimento econômico” do País.

Temer espera contar com o apoio do Congresso para medidas que devem focar, principalmente, a geração de emprego. “O plano econômico deve buscar a abertura de vagas”, disse. O ainda vice-presidente ressaltou que não vai mexer em programas sociais como o Bolsa Família. “Não tenho a menor dúvida em relação a isso”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de interferir no andamento da Lava Jato, Temer foi enfático ao dizer que não haverá influência na sequência das investigações. Ele garantiu que, num provável governo, sua prioridade seria colocar “o Brasil em rota de crescimento e pacificar o País”. Temer falou em uma Nação que recuperasse a capacidade de ser “alegre e descontraída”.

Sobre eleições gerais, Temer disse que “essa tese perdeu substância nos últimos tempos”. O vice garantiu não se impressionar com uma provável oposição do PT e dos movimentos sociais. “É democrático, desde que não cause obstruções”. Ele disse que não dará atenção esse tipo de oposição, mas aos problemas do País.

Em relação à imagem de “golpista” que o PT, movimentos sociais e a presidente estão tentando fixar, Temer disse que não responderia, mas que “tem um respeito e apreço pessoal por Dilma Rousseff” e “pretende manter uma relação institucional adequada”.

29 de abril de 2016
diário do poder

AS BURRICES QUE PODEM ATRAIR TERRORISMO NA OLIMPÍADA



Charge do Duke, reprodução de O Tempo
A Agência Brasileira de Inteligência comunicou em nota que o Brasil teria sido ameaçado, em novembro, pelo Estado Islâmico, por meio de um twitter supostamente assinado por um francês chamado Maxime Hauschard, um “integrante do grupo”, cujo perfil teria sido posteriormente deletado. O assunto, segundo a ABIN, veio à tona por causa de uma palestra do chefe do “Departamento de Contraterrorismo” da agência, no Rio de Janeiro, falando sobre a Olimpíada.
Ora, não se conhecia que a ABIN dispusesse de um “Departamento de Contraterrorismo”, e seria interessante saber sob que circunstâncias ele foi criado, e com autorização de quem, já que essa atitude – que muitos veriam como normal e corriqueira – tem diretas consequências para a diplomacia e as relações externas do país e cabe à Presidência da República, por meio do Gabinete de Segurança Institucional e da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, supervisionar as atividades da organização, e ao Congresso Nacional exercer o controle externo, por meio de órgão composto, entre outros membros, dos líderes da maioria e da minoria na Câmara e no Senado, assim como dos Presidentes das Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional das duas casas, como reza a legislação que lhe deu origem.
MUITAS DÚVIDAS
Voltando ao twitter supostamente assinado por Maxime Hauschard, será difícil saber se esse cidadão realmente existe, e, em caso afirmativo, virtualmente impossível comprovar se ele, um “terrorista” foragido, foi realmente o autor da mensagem, ou se “Monsieur” Haushard foi “clonado” e a mensagem eventualmente “plantada”.
O perfil dele, que sequer se sabe se era falso, foi, curiosamente, apagado depois – por agentes de inteligência  de outros países interessados em envolver  o Brasil com uma doutrina “antiterrorista” que não lhe diz respeito, com o objetivo de assegurar o alinhamento de nossas forças de inteligência e de segurança a organizações congêneres “ocidentais”, levando-nos a  tomar partido em uma briga que não é nossa, com uma decisão de administrativa de grande gravidade, que, para ser tomada, precisaria ser discutida no âmbito do Congresso, da diplomacia e da sociedade, de forma ampla, transparente e irrestrita.
UMA AMEAÇA
Se a mensagem tratava, de fato, de uma ameaça, ela não deveria – em benefício da estratégia e da discrição característica dos serviços de inteligência – ter sido divulgada, e, sim, combatida e investigada, em sigilo.
Se, em caso de uma improvável comprovação inequívoca de sua autoria, tratou-se apenas de um episódio irrelevante, de um mero twitter de um “integrante” do grupo, e não de um ameaçador vídeo, com um refém decapitado, por exemplo, como costuma ser feito pelo EI, mereceria menos ainda ter sido digna de nota oficial e de divulgação à imprensa, até mesmo para evitar caracterizar uma reação despropositada e uma postura exagerada de confronto, que poderá, sim, nos criar problemas no futuro.
E BOM PARAR…
Os órgãos de inteligência e de segurança brasileiros precisam parar de querer ficar emulando seus congêneres estrangeiros de potências que se metem na vida e em territórios alheios, como a Europa (via OTAN) e os Estados Unidos, a ponto de terem armado os grupos que deram origem ao próprio Estado islâmico, no início, para derrubar governos estáveis em países que tinham uma vida relativamente normal antes da Primavera Árabe, e que hoje se transformaram em um monte de ruínas.
Os inimigos dos EUA não são, por mais que cresçamos vendo filmes e séries de TV norte-americanas – e muitos quisessem abjetamente ter nascido nos EUA – necessariamente, como por osmose, nossos inimigos.
INTERESSES PRÓPRIOS
Temos, como nação, interesses próprios, ditados por nosso lugar no mundo e nossa posição geopolítica, é com eles que devemos nos preocupar, e entre essas prioridades não está a de ficar vendo ou inventando fantasmas onde não existem, para justificar eventos, leis específicas, ou, indiretamente, a existência de agências de inteligência, que são, sim, extremamente importantes para qualquer nação, mesmo aquelas que não confundem a busca da preservação da paz e da soberania, com eventual fraqueza ou  vulnerabilidade.
Antes de se começar a falar em Lei Antiterrorista, não se identificavam “ameaças” contra o Brasil na internet – nem mesmo um mero e discutível twitter.
OLIMPÍADA
É recomendável parar de ficar discutindo exaustiva e publicamente a possibilidade de haver atentados durante a Olimpíada no Rio de Janeiro, antes que eles venham a se confirmar, eventualmente, não por causa da suposta mensagem de novembro, mas como reação à excessiva ligação que o Brasil tem estabelecido, nos últimos tempos, com países ditos “ocidentais” nesse contexto.
O trabalho de inteligência se faz entre quatro paredes, com a preservação, sob segredo, tanto de eventuais preocupações, como das informações coletadas que estejam relacionadas a elas.
NO CÓDIGO PENAL
Com todo o respeito, ao dar publicidade ao “fato” a ABIN faz o mesmo que fez o governo Dilma, ao aprovar uma Lei Antiterrorista desnecessária.
O Código Penal, sem chamar a atenção, e sem qualquer matiz ideológico, bastava para investigar e colocar atrás das grades responsáveis por homicídios ou atentados – inócua – em outros países esse tipo de lei não tem evitado a ocorrência de ataques – e inadequada do ponto de vista diplomático e estratégico: age como se estivesse procurando – correndo o risco de dar bom dia ao quadrúpede – chifre em cabeça de cavalo.

29 de abril de 2016
Mauro Santayana
JB online

SOBRE AS IMEDIATAS E FANTASIOSAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS



Charge do Newton Silva (newtonsilva.com)
Trinta senadores, liderados por Paulo Paim, do PT, assinaram e apresentaram esta semana no Senado emenda constitucional antecipando as eleições diretas de presidente e vice-presidente da República para maio próximo ou, no máximo, para outubro, junto com as eleições municipais.
Para eles, seria a única forma de reunificar o país. A eleição exigiria, antes, a renúncia da presidente Dilma e do vice Michel Temer, sendo que os eleitos disporiam de mandatos de dois anos, sem direito à reeleição.
Essa solução serviria para desfazer o atual impasse político que faz prever confusão generalizada caso Dilma seja cassada e Temer assuma, abrindo lugar para o deputado Eduardo Cunha ficar como vice-presidente, mesmo fulminado por inúmeras denúncias de improbidade. Há quem preveja, nessa hipótese, a crise das crises, apesar de o impeachment de Madame, hoje, parecer mais provável.
TEMER SE ADIANTA
Por conta disso, Michel Temer já cuida de compor seu ministério, por sinal recheado de indicações pouco afetas ao ideal da competência. Eliseu Padilha, na Casa Civil, Romero Jucá, no Planejamento, Geddel Vieira Lima, na secretaria de Governo, Henrique Meirelles, na Fazenda, entre outros, não seriam propriamente as escolhas mais acordes com a eficiência e a probidade administrativa.
Argumentam seus adptos que a nova eleição presidencial serviria como forma de afastar Dilma e Temer e permitir a pacificação nacional.
CONVENCER DILMA E TEMER
Claro que nem a presidente nem seu vice morrem de amores por essa proposta. Ela, porque ainda mantém esperanças, mesmo tênues, de o Senado negar seu impeachment, permitindo-lhe completar o mandato para o qual foi eleita. Ele, porque está a um passo de tornar-se presidente e imprimir ao governo um perfil completamente diverso de Dilma, adotando uma volta à direita.
Mesmo assim, no Senado, entre os trinta signatários da emenda, existem expectativas razoáveis. A mudança constitucional ensejaria importante alteração institucional, como a convocação de uma Constituinte Exclusiva a ser eleita junto com os novos presidentes, com a finalidade de promover a reforma política, a começar pela extinção do princípio da reeleição. Os mandatos seriam fixados em cinco anos, inclusive de deputado e senador.
UM SONHO DE OUTONO
Tem gente imaginando tratar-se de sonho de noite de verão em pleno outono. Primeiro, porque Dilma não se submeteria à humilhação de renunciar. Depois, porque Temer não aceitaria abrir mão de um objetivo já quase conquistado. Acresce que o Congresso também rejeitaria abrir mão de sua prerrogativa exclusiva de rever a Constituição. Apesar disso, em meio à confusão política e institucional dos dias atuais, bem que se constituiria numa saída.
Quanto à fantasiosa eleição imediata, certamente que o Lula seria o candidato do PT, com grandes chances de eleger-se, coisa que faz os companheiros simpáticos à emenda, pois não perderiam o poder.

29 de abril de 2016
Carlos Chagas

TEMER VAI ABRIR A CAIXA-PRETA DOS BANCOS ESTATAIS NA ERA DO PT




Charge do Benett, reprodução da Folha

















O vice-presidente Michel Temer definiu uma das primeiras medidas que tomará se assumir o governo. Fará auditoria nas contas dos bancos públicos. Os alvos serão as operações na Caixa Econômica, Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia nos 13 anos da gestão petista. A justificativa é que, depois da Petrobrás e pedaladas, há motivos para o pente-fino. Mais do que isso. Será uma sinalização de que Temer manterá a guerra com o PT mesmo podendo atingir o PMDB, que tem seis vice-presidências na Caixa.
Na área social, o vice-presidente adiou a divulgação de seu programa. Primeiro, quer ouvir sindicalistas. A divulgação estava marcada para esta quarta-feira, 27. Além disso, há divergências no PMDB quanto ao momento de torná-lo público.
ESTRATÉGIA
Para a cúpula da legenda, o partido deve se concentrar para fazer avançar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Senado. Também avalia que o PMDB não deve entrar no debate de benefícios sociais já existentes. O entendimento desses peemedebistas é de que o foco deve ser tomar conhecimento do tamanho do problema na área econômica para depois defender possíveis ajustes nos benefícios.
A apresentação do programa social do PMDB é uma tentativa de o partido se blindar das acusações de petistas segundo as quais, se Temer assumir a Presidência, programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Pronatec vão acabar.
CENTRAIS SINDICAIS
Temer busca, ainda, respaldo de centrais sindicais. Para tanto, recebe hoje presidentes da Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Sindicatos do Brasil (CSB) e Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), a fim de construir um contraponto à CUT, apoiadora do PT que o classifica como “golpista”.
Na conversa de hoje os sindicalistas tentarão obter de Temer um compromisso de preservação dos direitos dos trabalhadores. “Vemos com preocupação a defesa de empresários, liderados pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, de temas como a flexibilização genérica na área trabalhista”, disse o presidente da UGT, Ricardo Patah.
“CASTANHAS EM JOGO”
A recente e longa conversa de Temer com o presidente da Fiesp deixou sindicalistas em alerta. “Ele tem ouvido empresários e financistas, então queremos ir lá também colocar nossas castanhas em jogo”, disse o presidente da CSB, Antonio Fernandes dos Santos Neto.
Para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), da Força Sindical, não haverá reforma trabalhista. “Se já é difícil para um governo eleito, imagina para um governo transitório.” Ele pretende dizer, porém, que a conta da recessão e do ajuste “não pode ser paga por um lado só, o dos trabalhadores.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se realmente a gestão Temer abrir a caixa-preta dos bancos estatais, muita gente irá para a cadeia. Será uma nova versão da Lava Jato, específica para o setor bancário. Vamos aguardar a confirmação dessa providência. (C.N.)

29 de abril de 2016
Marcelo de Moraes, Erich Decat e Lu Aiko Otta
Estadão

NA CHINA, ATÉ UM NETO DE MAO TSÉ TUNG ESTÁ ENVOLVIDO NA CORRUPÇÃO



Charge do Nani (nanihumor.com)
Há meses, Gu Kailai estava preocupada com um segredo que ameaçava acabar com sua vida confortável e interromper a ascensão de seu marido aos postos mais altos da liderança política da China. Então decidiu agir.
Em um quarto de hotel na mega cidade de Chongqing, no sul da China, ela misturou chá com raticida numa garrafa; em seguida, ela despejou a mistura na boca do seu sócio, o britânico Neil Heywood, que estava prostrado na cama do hotel bêbado e zonzo. Os funcionários do hotel encontraram o corpo dois dias mais tarde.
Gu acabou confessando o crime ocorrido em 2011. Ela disse que foi levada a cometê-lo porque Heywood ameaçava revelar um perigoso segredo: milhões de dólares em imóveis numa conta offshore do outro lado do mundo.
Se ele contasse que ela usara a companhia nas Ilhas Virgens Britânicas para esconder o fato de que Gu possuía uma vila no sul da França, o escândalo comprometeria o ingresso do marido, Bo Xilai, na Comissão Permanente do Politburo, um organismo composto por menos de 10 integrantes na mais alta esfera do poder político na China.
OUTRO SÓCIO
Pouco mais de duas semanas após o assassinato – num documento do qual ninguém tinha conhecimento – a propriedade da companhia offshore de Gu de repente mudou de mãos. Suas ações na companhia foram transferidas para outro sócio, provavelmente na tentativa de criar uma cortina de fumaça em torno dos vínculos dela com a companhia ou com a finalidade de tornar mais fácil para o associado agir rapidamente à medida que os acontecimentos iam se desenrolando, segundo consta de alguns documentos secretos.
No fim, os segredos de Gu não puderam mais ser ocultados. Sua tentativa de manter no anonimato a propriedade offshore acabou em morte para Heywood e na prisão para ela e o marido – e acrescentou mais combustível às preocupações a respeito dos esconderijos utilizados pela elite chinesa para burlar o Fisco e ocultar sua riqueza.
MAIS DETALHES
Documentos que acabaram vazando no chamado Panamá Papers fornecem novos detalhes sobre as transações de Gu no exterior e também revelam uma quantidade de novas informações sobre os bens que as famílias de outros chineses poderosos mantêm no exterior.
O próprio Xi Jinping, considerado o ‘Presidente de Tudo’ na China – seus títulos incluem o de presidente, líder do Partido Comunista e comandante chefe militar – tem um cunhado proprietário de companhias estabelecidas em paraísos fiscais. Os parentes de pelo menos sete outros ex-integrantes da restrita Comissão Permanente – inclusive dois que atualmente estão ao serviço de Xi – também possuem bens no exterior, segundo os registros.
Um destes parentes é um neto de Mao Tsé Tung, o fundador da República Popular da China.
FILHOS E NETOS
Não é nenhum segredo que vários filhos e netos de heróis revolucionários da China tiveram sucesso no mundo dos negócios. A China é a segunda maior economia do mundo e tem centenas de bilionários. Mas o fato de alguns dos indivíduos com vínculos políticos mais profundos terem se servido das redes offshore para ocultar seus bens dos olhos do público é bem pouco conhecido.
Um número extraordinário destes documentos secretos (mais de 11 milhões) foi obtido pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ na sigla em inglês), pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e por outros parceiros da mídia. Os registros mostram como atua internamente a Mossack Fonseca, um escritório de advocacia panamenho especializado na criação de empresas que podem ser usadas para ocultar bens.
CUNHADO DO LÍDER
Entre os clientes chineses de alto bordo do escritório de advocacia está Deng Jiagui, cunhado do líder supremo Xi Jinping, que fez da luta contra a corrupção a marca do seu governo. Deng Jiagui adquiriu uma companhia offshore por intermédio da Mossack Fonseca em 2004 e mais duas em 2009.
As companhias foram chamadas Supreme Victory Enterprises Ltd., Best Effect Enterprises Ltd. e Wealth Ming International Ltd. Não está claro com que finalidade as empresas foram usadas, pois a Supreme Victory foi dissolvida em 2007 e as outras duas se tornaram inativas na época em que Xi se tornou líder do Partido Comunista em 2012.

29 de abril de 2016
Alexa Olesen e Wen Yu
Estadão

FERNANDO BAIANO DIZ QUE LEVAVA DINHEIRO VIVO PARA ENTREGAR A CUNHA




Depoimento do lobista destrói o que restava de Eduardo Cunha




















O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou em depoimento ao Conselho de Ética nesta terça-feira (26) que esteve pessoalmente com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), “mais de dez vezes”, incluindo em seu gabinete no Congresso, em sua casa, no Rio de Janeiro, e no escritório político no Rio. Baiano foi ouvido como testemunha do processo de cassação de Cunha e confirmou os depoimentos de sua delação premiada. Afirmou que pediu ajuda de Cunha para cobrar a dívida de uma propina devida pelo lobista Julio Camargo e que entregou cerca de R$ 4 milhões em espécie no escritório do peemedebista no Rio.
A propina de Julio Camargo era por contratos obtidos junto à diretoria Internacional da Petrobras, com intermédio de Fernando Baiano.
O lobista relatou ter conhecido Cunha em 2009, por meio de um amigo em comum durante um café da manhã no Rio de Janeiro, e que se aproximaram após isso. “A primeira vez que eu vim, que eu fiz essa aproximação com o deputado, eu fiz essa visita a ele no gabinete dele [na Câmara]”, contou.
NA CASA DE CUNHA
Questionado sobre a casa de Cunha, o lobista descreveu como eram os encontros no local: “Você passou pela porta principal, tinha logo uma porta à esquerda que era o escritório dele. Todas as vezes a gente conversava nesse escritório. Não posso falar de toda a casa do deputado porque não tive acesso a todas as dependências”.
Sobre o fato específico analisado pelo Conselho de Ética, a acusação de que Cunha mentiu aos pares ao dizer não possuir contas no exterior, já que foram descobertas quatro contas bancárias ligadas a ele na Suíça, Baiano disse não ter informações.
“Relativo a esse assunto [as contas no exterior], não fiz nenhum pagamento. Foi sempre em espécie”, afirmou, ao ser questionado pelo relator do processo de cassação de Cunha, Marcos Rogério (DEM-RO).
TUDO REGISTRADO
A Folha revelou em setembro do ano passado que a Câmara registrou nove visitas de Fernando Baiano entre 2005 e 2014, algumas delas dias antes de receber os pagamentos de Julio Camargo que seriam divididos com Eduardo Cunha.
Questionado sobre as visitas ao gabinete de Cunha no Congresso, ele respondeu: “Talvez duas, três vezes”.
Pelo relato de visitas à casa de Cunha, o deputado Julio Delgado (PSB-MG) afirmou que ficou configurada mais uma mentira do peemedebista no depoimento à CPI da Petrobras, porque Cunha havia dito que nunca recebeu Baiano em sua casa.
Baiano contou ainda que, certa vez, recebeu o pagamento destinado a Cunha em um fim de semana e queria entregar o dinheiro na casa do deputado, no Rio, mas ele não aceitou. “Como eu não gostaria de ficar com esses valores em minha residência, eu comuniquei ao deputado que tinha esse valor já comigo, [perguntei] se eu poderia entregar a ele na residência dele. E ele preferiu que não, pediu que eu entregasse na segunda-feira no escritório dele”, contou.
‘É PROPINA MESMO’
O lobista disse ainda que ofereceu a Cunha um aumento de 20% para 50% do valor da dívida que dividiria com ele para “um estímulo a mais” na cobrança a Julio Camargo.
O lobista afirmou que, ao pedir ajuda de Cunha na cobrança da dívida de Julio Camargo, não especificou ao deputado que se tratava de propina. “Eu falei que nunca tratei com o deputado Eduardo Cunha falando esse termo ‘propina’. Agora que é propina é. É vantagem indevida, é propina, é isso mesmo”, disse.
Durante o depoimento, Fernando Baiano chegou a pedir um aparte para comentar que a corrupção partia sempre dos políticos, e não dos empresários.
PARTIA DOS POLÍTICOS…
“Os pleitos sempre vinham dos políticos, utilizando os agentes públicos colocados por eles nas agências públicas. Não são os empresários os culpados do que está acontecendo”, afirmou.
A defesa de Cunha tem negado as acusações de Fernando Baiano. Afirma que ele não recebeu propina por contratos da Petrobras e que não ajudou na cobrança de Julio Camargo. Em nota, a assessoria de Cunha informou que “a alegação é antiga, sem provas, integra a denúncia do STF, e foi desmentida com contundência pela defesa do deputado”.
O depoimento durou cerca de duas horas e meia e, por um acordo com a defesa de Baiano, ocorreu sem a presença de fotógrafos e cinegrafistas.

29 de abril de 2016
Aguirre Talento
Folha