"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O VÍDEO QUE VOCÊ NUNCA VIU... ASSISTA EM TELA CHEIA!

"Think about it.!" - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=mMq1FqiM8Qc

2 de jan de 2016 - Vídeo enviado por Suchende Freunde der Wahrheit
http://bit.ly/-our-planet !!!!! -- Quellen : Ausschnitte aus ca. 30 Filmen/Clips Musik: Soundtrack aus "Zwei ...


16 de maio de 2016
postado por m.americo

TEMER DESAUTORIZA MEIRELLES E MORAES, QUE ESTÃO FALANDO O QUE NÃO DEVEM


Temer ficou irritado com as declarações dos ministros

















Em meio aos desafios que tem para enfrentar e tirar o país da crise, o presidente em exercício Michel Temer está tendo que se ocupar também com declarações polêmicas de ministros. Primeiro foi o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na sexta-feira (13), em sua primeira entrevista coletiva após empossado, ao comentar a necessidade de uma reforma da Previdência. Meirelles deu a entender que direitos adquiridos não seriam respeitados. Nesta segunda-feira (16), foi a vez do ministro da Justiça, Alexandre Moraes.
Ele defendeu em entrevista à Folha de S.Paulo que o governo Temer não dê tanto poder à Procuradoria-Geral da República nomeando o mais votado de uma lista tríplice enviada pela instituição para a escolha do presidente da República. Prerrogativa do chefe do Executivo escolher, a exemplo do que acontece com os ministros do Supremo Tribunal Federal, a indicação da chefia do Ministério Público não está prevista na Constituição. No entanto, a partir dos governos do PT, tornou-se praxe escolher o primeiro da lista, que significar dizer o mais votado entre os membros da corporação.
SAIAS JUSTAS
Diante das duas saias justas em que os ministros colocaram o governo interino, Temer desautorizou os dois colaboradores. A primeira vez ocorreu nesse domingo, em entrevista ao programa “Fantástico”. O presidente em exercício garantiu que todos os direitos adquiridos, em se tratando da Previdência Social, serão mantidos.
Nesta segunda-feira, de novo, ele voltou a desautorizar um de seus ministros. Em resposta à proposta de Alexandre de Moraes, Temer, por meio da assessoria, que manterá a tradição de escolher o mais votado na eleição interna dos procuradores da República.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A reportagem do Estado de Minas, enviada pelo comentarista Wilson Baptista Jr., esqueceu um dado importante. Temer convocou as centrais sindicais para discutir nesta segunda-feira o que pode mudar na Previdência, baixando a bola de Meirelles, que também está falando demais, num momento delicado. Quanto a Alexandre de Moraes, é muito jovem e prepotente. Se bobear, será substituído. Temer não está para brincadeiras, é autoritário e decidido. Raramente sorri. Dar uma risada, podem crer, é praticamente impossível. Para os ministros, todo cuidado é pouco. (C.N.)

16 de maio de 2016
Iracema Amaral
Estado de Minas

EVITAR O RETROCESSO

O exemplo do Proer, que saneou os bancos mas não evitou punições, é um princípio a ser seguido

Aadministração lulopetista arredada do governo com o afastamento da presidente Dilma deixou o Planalto com algumas bombas armadas. Na reta final das análises da admissibilidade do impeachment, quando já se desenhava como irreversível o pleito da oposição, ela abriu um pacote de bondades que impactará o já comprometido equilíbrio fiscal (aumento do Bolsa Família, dos subsídios do Plano Safra e do Minha Casa Minha Vida, reajuste da tabela do Imposto de Renda), artefato que custará ao país R$ 10 bilhões. Se Temer o mantiver da maneira que está.

Outras armadilhas foram armadas antes, mas também quando o impeachment já se desenhava como uma derrota de Dilma. Caso, por exemplo, da medida provisória 703, que altera dispositivos da Lei Anticorrupção (de 2013), visando a modificar o instituto dos acordos de leniência com empresas envolvidas em atos lesivos ao Erário (e, subjacentes, em ações contra a ética nas suas relações com o poder público).

A medida, editada em dezembro do ano passado, é alvo de críticas de juristas e do Ministério Público, por esvaziar o papel do MP na celebração dos acordos de leniência (a delação premiada para empresas apanhadas em atos de corrupção) — um retrocesso, tendo em vista que, como organismo não ligado organicamente a qualquer dos poderes, a Procuradoria atua de forma independente, autônoma, como tem demonstrado no curso da Operação Lava-Jato.

Especialistas apontam também um perigoso “jabuti” no texto da MP. O artigo 16º da Lei Anticorrupção estabelece que a autoridade máxima de cada ente público (União, estados e municípios) pode celebrar acordos de delação com as empresas. Mas a medida provisória flexibiliza a competência, no âmbito do poder público, para promover acordos de leniência, estendo-a a órgãos próprios de controle interno, isoladamente ou em conjunto com o Ministério Público — neste último caso, no entanto, apenas se dando ciência à Procuradoria após a instauração do processo administrativo. Ou seja, a apuração fica praticamente no âmbito do Executivo, um enviesado caminho para negligenciar o combate à corrupção.

Ao anunciar a MP, Dilma o fez com um fundamento correto: na imagem que criou, se era preciso punir os CPFs, também era imprescindível preservar a saúde operacional dos CNPJs. Certo, mas o que especialistas e procuradores temem é que, embutida na redação da medida, esteja a intenção de defender do ajuste de contas com a Justiça empresas “amigas” — aquelas flagradas em “malfeitos” pela Lava-Jato. Preservar empresas e empregos é um princípio justo, mas é preciso ter o cuidado de que, no curso dessa providência, não se pretenda blindar patrimônios das pessoas físicas (sócios, acionistas etc.) e livrar os CNPJs de alguma punição.

Com o Proer, firmaram-se critérios para casos de gestão temerária, vizinha da corrupção. O programa de saneamento de bancos resguardou as instituições financeiras, mas impôs sanções aos sócios controladores e executivos. Um cuidado que, testado, teve resultados positivos. A MP 703 vence dia 29. Aprová-la seria retrocesso.



16 de maio de 2016
Editorial O Globo

MEDINA OSÓRIO, DA AGU, AFIRMA QUE CARDOZO NÃO PODERIA TER DEFENDIDO DILMA


Ministro Medina Osório quer criar uma agenda anticorrupção


















Recém-empossado ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), o gaúcho Fábio Medina Osório, 48 anos, assume disposto a dar mais ênfase à prevenção de ilícitos no setor público, de forma a evitar ações judiciais, de improbidade e também penais. Com o cuidado de quem sabe que se trata de um período de interinidade, não descarta também analisar de perto a atuação do antecessor, José Eduardo Cardozo, na defesa da presidente afastada, Dilma Rousseff, na fase inicial do processo de impeachment.
Na avaliação dele como jurista, ainda preliminar, Cardozo, enquanto advogado-geral da União, não poderia ter defendido a tese de que há em curso “um golpe de estado”.
Ex-promotor e secretário adjunto de Justiça e Segurança do governo do Rio Grande do Sul, Medina Osório defende uma atuação em defesa do Estado por parte da AGU. Diz que vai acompanhar de perto questões caras ao governo que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a forma de recálculo da dívida dos estados e municípios. Institucionalmente, pretende fortalecer o órgão, valorizar as carreiras que compõem a AGU.
Quais são os principais desafios que o senhor vai enfrentar na AGU?A AGU precisa hoje, após alguns percalços, que estão talvez marcando mais recentemente a sua história, se caracterizar por uma auto-estima dos seus membros, das pessoas integrantes das suas carreiras, valorização dessas pessoas, estímulo. São integrantes extremamente qualificados do ponto de vista pessoal, profissional, intelectual. E, ao mesmo tempo, é necessário tratar as carreiras integrantes da AGU como uma autêntica advocacia de Estado. Vincular cada vez mais a uma advocacia de interesse público. Deve haver a valorização das carreiras. O maior prestígio possível.
Quais mudanças o senhor deve propor?A primeira grande, profunda mudança, é um diálogo mais estreito com as carreiras que integram a Advocacia-Geral. Ouvi-las, valorizá-las, qualificá-las. Muitos órgãos estratégicos dessas carreiras são essenciais à Justiça e estão sucateados, desmantelados.
Em Brasília, quando se fala em valorização de carreiras, automaticamente se pensa em aumento de salário, que acabou de ser aprovado. Como o senhor vai lidar com isso?
A valorização de profissionais é uma pauta muito mais complexa do que mero aumento salário. Eu, que já integrei o Ministério Público por mais de 14 anos, sei que passa por uma agenda mais sofisticada que salário. Passa por meritocracia, valorização, prestígio, motivação, por ideias. Estrutura de trabalho, atribuições, respaldo, conjunto de fatores que transcendem completamente a questão salarial. A valorização financeira é um aspecto, mas é uma agenda muito mais complexa.
O sr. fala em advocacia de estado. O que difere uma atuação de uma defesa de estado de uma defesa do governo?Eu falo em defesa de estado porque nós temos que ter sempre a noção — e isso tem sido enfatizado pelo presidente Michel Temer — de que os governos são todos passageiros, e essas carreiras permanentes são de estado e, portanto, todo governo, ao formular políticas públicas, acaba formulando também políticas que merecem sempre uma perspectiva de continuidade administrativa. É inaceitável que o governo que se instale nesse país promova o desmonte da máquina pública.
Havia algumas críticas de que o ex-ministro agia como um advogado de governo fazendo a defesa de Dilma. Como fica isso agora?Esse é um tema que será oficialmente analisado pela AGU. E, portanto, nós não nos pronunciaremos ainda formalmente sobre o assunto, que poderá ter desdobramentos. Teremos de formalizar um posicionamento sobre este tema, ou seja, sobre qual é o reflexo jurídico da atuação anterior da AGU nesses processos, a jurisdicidade dessa atuação, e a posição da AGU nesses processos. Desde logo, nós temos uma perspectiva de que a AGU só pode atuar quando haja um ato impugnado revestido de interesse público. Nesses casos também, ela defende o agente político. Se houver no ato impugnado o interesse público poderá defender também o agente político eventualmente envolvido no processo.
Em relação a um dos processos no Supremo, o que trata da dívida dos estados. Tem alguma ação que o senhor vai apresentar?A AGU vai acompanhar muito de perto, até porque o anterior AGU não pode acompanhar esse processo porque estava envolvido na defesa pessoal da presidente da República no processo de impeachment.
O senhor entende, então, que a defesa foi pessoal. Entende que houve um desvio na conduta do AGU nesse sentido?Posso adiantar que, do ponto de vista jurídico, havia e houve fundadas dúvidas sobre os limites, tanto que associações de classe suscitaram uma perplexidade. Agora, para analisar com maior profundidade, tem que se analisar os atos praticados, e quais foram as teses levantadas. Porque não podemos esquecer que a AGU também tem um compromisso ético com o tipo de tese que ela sustenta em juízo. Ela não pode afrontar os poderes de Estado. Um advogado-geral da União, por exemplo, jamais poderia sustentar uma tese de golpe de Estado em curso no nosso país. Isso sim seria algo completamente inapropriado.

16 de maio de 2016
Denise Rothenburg e Julia Chaib
Correio Braziliense

O ACERTO E OS ATRASOS

O governo Michel Temer começou com alguns acertos e inaceitáveis atrasos. Na economia, o que os ministros e o presidente interino falaram faz todo o sentido. O país está, de fato, diante de uma emergência fiscal e é preciso buscar o equilíbrio perdido. Outros sinais dados pelo novo governo mostram que ele não entendeu a lógica do mundo atual. Não percebeu sequer o simbólico.

Não ter mulher no Ministério diz muito. Revela que eles nunca olharam como se formam governos em outros países atualmente. É impensável uma administração só de homens brancos, porque é preciso ser preconceituoso para não ver os talentos que a diversidade de um país oferece. Não é um detalhe. Não é para fazer figuração. É que o poder hoje em qualquer lugar do mundo é compartilhado, e a diversidade é um valor. Olhem para fora, senhores. Nos governos de François Hollande, Pierre Trudeau, Barack Obama, Angela Merkel e David Cameron há muita diversidade. Na França, a divisão é meio a meio, com 9 mulheres e 9 homens, entre 18 pastas. No Canadá, elas são 14 das 31. Na Alemanha, além da chefe de governo, Angela Merkel, 5 de 15 ministros são mulheres. Na Inglaterra de governo conservador, um terço, com sete dos 21 secretários de Estado, e mais 3 de 8 ministros. Nos Estados Unidos, são 4 dos 15 secretários e 3 dos 7 postos que têm status de ministro. E elas são brancas, negras, diversas, como deve ser. Ninguém hoje, exceto em um país árabe, teria uma ideia tão ruim quanto uma composição apenas masculina.

Instalar a Secretaria de Direitos Humanos sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, que tem uma coleção de controvérsias exatamente na área de direitos humanos, é demonstrar desprezo por bandeiras que são parte da democracia moderna. Nomear ministros investigados pela Lava-Jato e defender a operação no discurso de posse é, no mínimo, estranho.

A grande batalha será travada na economia. Ela está aos pedaços. Como disse o ministro Eliseu Padilha, é a maior crise econômica do país. Quando o ministro Henrique Meirelles diz que buscará a estabilização da dívida pública, ele está escolhendo um alvo que é síntese de vários outros. Muitas decisões precisam ser tomadas na direção certa para que ela pare de subir; tarefas duras e difíceis. É preciso que o déficit primário volte a ser superávit, o déficit nominal caia, a economia cresça, a arrecadação suba, os gastos sejam reduzidos, e as reformas sejam aprovadas. Muita coisa tem que dar certo para que a dívida interrompa a trajetória de alta acelerada do governo Dilma. Parece a história da sopa de pedra. Só fica pronta se houver todos os outros ingredientes.

E é fundamental interromper o crescimento da dívida pública, por um motivo central: os credores somos nós, todos os que aplicam em títulos da dívida pública brasileira. Foi muita irresponsabilidade da presidente Dilma ter deixado a dívida crescer como cresceu. Ela foi alertada e desprezou o alerta. O novo governo fez bem em focar esse ponto.

A última vez que o PMDB foi tão forte quanto agora foi em 1986, quando o sucesso do Cruzado encheu as urnas de votos no partido. Há 30 anos, eles foram beneficiários da abundância e da euforia. Agora serão sócios da penúria. E terão que aplicar remédios amargos. Farão isso?

O Palácio do Planalto estava lotado de políticos, a maioria do PMDB, na quinta-feira de tarde. E quem olhava a paisagem humana ficava na dúvida se as concessões a serem feitas para aqueles políticos todos não iriam revogar as promessas de austeridade no gasto. O que Eliseu Padilha disse na coletiva de sexta-feira é que justamente por ter base ampla e sólida o governo tem condições de fazer o programa difícil, de salvação nacional.

O presidente Temer queria acertar o tom e pediu uma cerimônia discreta e sóbria. E deu errado. Em vez de fazer a posse coletiva dos ministros no Salão Nobre do Planalto, ele escolheu o Salão Leste, mais acanhado. O ar-refrigerado não comportou, o empacotamento das pessoas tirou a visibilidade dos fotógrafos, que se revoltaram. Um pouco antes de começar, gritaram em coro: “Não vai ter foto”. Foi servida apenas água. Foi assim que o governo Temer começou. Com sinais mistos. A austeridade é bem-vinda. O projeto econômico é difícil e necessário. Mas há sinais em descompasso entre este governo e o mundo contemporâneo.



16 de maio de 2016
Miriam Leitão, O Globo

GOVERNO TEMER PRECISA AUDITAR AS CONTAS E MOSTRAR A REAL SITUAÇÃO DO PAÍA


Charge do Amorim, reprodução do Correio da Cidadania



















Muitas vezes escrevi: “Um governo sério que assuma a condução do país, terá de fazer realizar auditoria interna/externa de tudo”. O presidente Michel Temer, seja o que for e como for, terá de informar, com a maior brevidade possível, a real situação das finanças do país. É a forma de defender seu mandato e a face da verdade. Chega de entrar e sair governantes e não saber-se a quanto andamos, o quanto devemos.
Lula, Dilma, Mantega, Augustin e tantos outros, responsáveis e co-responsáveis pela baderna administrativa e financeira em que colocaram a nação, precisam ser responsabilizados, julgados, punidos, condenados e engaiolados.
E que os valores possíveis de localização, de dinheiro e bens físicos, sejam retornados aos seus verdadeiros e únicos donos: os brasileiros honestos. Se não morrerem de morte natural, que terminem seus últimos anos na cadeia! Qualquer outro encaminhamento, decisão ou proposta não poderá merecer acolhida.
SEM FISCALIZAÇÃO
A imensa maioria dos órgãos de fiscalização em nosso país é uma pouca vergonha. Funcionando por amostragem, com “olhos fechados”, ajudam a tudo apodrecer.
A segunda coisa que ajuda muito a corrupção e as falcatruas é a falta de qualidade dos agentes. E, por fim, a terceira e tão grave como as anteriores, são as multas pequenas, quase sempre perdoadas.
È o caso dos partidos políticos, abastecidos com recursos públicos, que usam como bem entendem. Partidos reincidentes duas, três vezes, deveriam perder direitos e, em situações graves, ter suas portas fechadas e sua extinção. No entanto, são “punidos” apenas com pequenas multas, que pagam usando recursos públicos do Fundo Partidário. Parece piada.
“Burro velho” não aprende lições com palavras, mas com pauladas.

16 de maio de 2016

O NOVO BRASIL

Há mais alguma coisa importante a dizer? Agências de notícias nacionais e internacionais cobriram extensivamente o julgamento no Senado de Dilma Rousseff mesmo antes do voto na Câmara que aprovou a continuação do processo de impeachment. Raramente se viu tão ampla cobertura do Brasil.

Duas questões importantes foram menos discutidas e justificam uma análise.

A primeira é a clara diferença entre a cobertura nacional e a internacional. Ao passo que as fontes nacionais enfatizaram o extenso processo de julgamento, estabelecido pela Constituição, daí sua legitimidade, no exterior falou-se mais sobre um vergonhoso “golpe” perpetrado pelos ricos cujo poder foi reduzido pelo PT para favorecer os pobres. Na América do Sul, Venezuela e Bolívia se uniram ao clamor.

Simplesmente, tenha sido o processo judicial ou político, o fato é que a frustração com mais uma década perdida transbordou para uma ação imediata.

A segunda questão vem depois. E neste caso analisei rapidamente as perspectivas de mudança como resultado do ato do Senado.

Hamilton, baseado na vida do primeiro secretário do Tesouro norte-americano, Alexander Hamilton, é hoje o musical mais popular em Nova York, e com justiça. O grande interesse público fez com que ele continue estampado na nota de 10 dólares. Era um homem sábio e à frente do seu tempo. Lembro uma das suas citações: “o maior perigo será de que o (impeachment) seja dirigido mais pela força comparativa dos partidos do que por uma real demonstração de inocência ou culpa”. Onde o político termina e a lei constitucional começa?

Não há dúvida que os “restos a pagar” ocultos de Dilma, a insistência no congelamento de preços e a rápida ampliação de uma burocracia de Estado com fraco desempenho contribuíram diretamente para a queda do Brasil, afastando-se de um avanço iminente para a condição de país em desenvolvimento. Envolvida como dirigente do Conselho da Petrobrás desde 2005, o que ocorreu na estatal com a Lava Jato é outro caso. Sua inabilidade para trabalhar com o Congresso e a total insistência na sua própria capacidade econômica são bem conhecidas.

Isso é suficiente para um impeachment? Até certo ponto, o impeachment politicamente motivado se converteu em um voto de confiança do Parlamento e daí a necessidade de uma nova eleição. Em agosto do ano passado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apelou à renúncia de Dilma como um meio de solucionar a crise persistente. Na semana passada, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa sugeriu uma nova eleição como a única maneira de sair do impasse, mas para isso seria necessária a renúncia de Dilma e do vice Michel Temer. O que certamente não sucederá.

Agora, Temer está no comando por um prazo máximo de 180 dias, período em que o Senado deverá reconsiderar seu voto anterior, 55 senadores a favor de uma saída temporária de Dilma e 22 contra. Um gabinete de governo modestamente menor foi formado, consistindo de homens brancos e mais velhos vindos de 11 partidos políticos. Muitos foram selecionados entre membros do Congresso, indicando o reconhecimento de Temer de que a maior tarefa que tem pela frente nos próximos dois anos e meio é aprovar leis que permitam a retomada do crescimento econômico.

Temos de saber mais do ministro da Fazenda Henrique Meirelles sobre suas opções para postos dentro do ministério, como também o presidente do Banco Central. Ele não descartou impostos provisórios, como a CPMF, e também se referiu a reduções de gastos. O que já levou muita gente a rever para cima suas estimativas de crescimento de renda e reduções no déficit fiscal, mesmo para 2016 e mais para 2017. Há uma confiança internacional em sua liderança e provavelmente teremos um aumento dos investimentos, nacionais e estrangeiros.

Uma revisão séria, contudo, levará tempo. Este Congresso, afinal, fez pouco até agora. O grande perigo é acreditar que os problemas econômicos e políticos serão resolvidos em breve. O excesso de confiança comporta riscos, como quando Dilma prometeu em 2011, quando os preços do petróleo estavam na faixa dos US$ 150 o barril, dobrar a renda pessoal em 2022. Prometer demais e muito rapidamente é uma prática ruim que uma boa liderança deve evitar.

Temer já se comprometeu a manter os avanços sociais realizados nas últimas décadas. Similarmente, está se abrindo a uma maior participação privada para ajudar a financiar os necessários investimentos na infraestrutura brasileira e em outras áreas. E mudanças são necessárias nos campos da educação, saúde, habitação e saneamento, além da Previdência Social.

Bons projetos demandam tempo para planejar e supervisionar. A pressa pode ter resultados negativos: O BNDES e o PAC são bons exemplos. Sempre existe a tentação de responder com novas nomeações políticas para satisfazer demandas que naturalmente ocorrerão. O que logo intensificará o grande problema do Brasil: um Estado inchado sempre necessitando de recursos adicionais sem resolver de modo adequado os problemas subjacentes. Foi exatamente o que sucedeu nas últimas décadas.

No âmbito político, revisões há muito tempo prometidas do processo eleitoral e uma redução no número de partidos têm despertado atenção limitada. O foco maior é no debate acadêmico e não na implementação de medidas. Entretanto, são mudanças necessárias se o objetivo é evitar o que ocorre neste momento: a decisão de antigos líderes do PT dentro de municípios de buscar alternativas mais complacentes. Um número menor de partidos políticos se traduzirá numa escolha popular de fato e uma melhor governança.

Foi prometido que as investigações judiciais continuarão. Não sabemos quais novas evidências surgirão. Pela primeira vez, líderes da indústria e políticos enfrentam a possibilidade de sentenças de prisão longas ou delação premiada. Esta última, como temos visto, tem sido cada vez mais usada. Agora que Dilma também está sob investigação, esse processo deve acelerar.

O Ministério Público atraiu procuradores jovens e empenhados que estão gerando mudanças reais e cada vez maiores. Enquanto muitos líderes políticos hoje de algum modo se apagaram, as multidões nas manifestações e em respostas a pesquisas populares deixaram clara sua importância. Na verdade, Dilma nomeou novamente Rodrigo Janot no início do seu segundo mandato e não existe nenhuma evidência de que contabilizou ganhos. O juiz Sergio Moro é reverenciado pelos seus esforços persistentes na busca da verdade.

E como ficamos? Nos últimos anos escrevi dois livros, O Novo Brasil, e uma versão posterior mais curta em inglês, Starting Over. Talvez os títulos tenham sido muito otimistas. A combinação de uma boa macroeconomia, uma classe média em expansão e uma substancial redução da pobreza era a promessa de um Brasil melhor no futuro.

Não é tarde demais, mas recomeçar não será tarefa fácil. Houve avanços importantes. Tudo o que é necessário agora é uma melhor governança e racionalidade econômica. / 


16 de maio de 2016
Albert Fishlow é economista e cientista político
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

INÚMERAS REGALIAS. MARA GABRILLI VAI PEDIR SUSPENSÃO DE BENEFÍCIOS DE CUNHA

DEPUTADA COBRA PARECER TÉCNICO DA CÂMARA QUE JUSTIFIQUE REGALIAS
DEPUTADA COBRA PARECER TÉCNICO DA CÂMARA QUE JUSTIFIQUE REGALIAS. FOTO: CÂMARA


Terceira-secretária da Mesa Diretora da Câmara, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) vai cobrar da Casa um parecer técnico que justifique a decisão de manter a maior parte das prerrogativas do presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A parlamentar está coletando assinaturas para convocar uma reunião da Mesa nesta terça-feira, 17, e convencer seus pares a sustar o ato da Mesa até que os técnicos apresentem um embasamento jurídico para a medida.

A iniciativa da deputada enfrenta resistência de outros membros, já que convocação de reunião da Mesa deve partir do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), ou ter a assinatura de quatro titulares. Mara informou que se não conseguir reunir o colegiado, vai pedir vista por escrito do processo. Se não houver uma posição da Mesa, a tucana estuda uma forma de levar o assunto para deliberação do plenário.

Na semana passada, quatro membros da Mesa Diretora assinaram o ato que oficializou os benefícios que Cunha continuará tendo direito. O ato estabelece que Cunha terá salário integral de R$ 33.763,00, uso da residência oficial em Brasília, segurança pessoal, assistência médica oferecida pela Casa, carro oficial reserva e transporte aéreo da FAB (mais simples que o usado pela presidência da Câmara). "Também quero ficar um mês em casa sem trabalhar e ganhando. Isso não é punição", declarou a tucana.

O peemedebista também poderá contar com uma equipe do gabinete pessoal e terá R$ 92.053,20 para gastar com os funcionários. Só foram cortados de Cunha o chamado "cotão" - uma verba adicional de R$ 35.759,20 para atividade parlamentar destinada ao pagamento, por exemplo, de aluguel de carros e passagens aéreas - e o auxílio-moradia de R$ 4.253,00 (recurso que ele já não utilizava por dispor da residência oficial).

Além de Mara, outros membros questionam a ausência de estudo técnico para a medida. "Quero ver como foi feito", afirmou o quarto-secretário da Mesa, Alex Canziani (PTB-PR).

Os parlamentares reconhecem que não havia uma regra para situações como a do peemedebista, que foi afastado do cargo e do mandato por tempo indeterminado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Mara chama de "absurda" a decisão dos colegas da Mesa em usar como parâmetro as prerrogativas da presidente afastada Dilma Rousseff e não consultar todos os membros. "O impeachment está na Constituição e ele (Cunha) está suspenso por obstrução da Justiça. Isso parece mais um privilégio", protestou. Para ela, a decisão da Mesa está sujeita a ser contestada futuramente em ação de improbidade administrativa.

A deputada do PSDB lembrou que Cunha estabeleceu o critério na Casa de descontar do salário até R$ 4 mil dos deputados que faltassem em votações, conseguindo assim com que o plenário sempre estivesse cheio. "Me importa ele não ir a nenhuma sessão e receber o salário inteiro. Por que com os outros é uma coisa e com ele é outra?", questionou.

A tucana sugeriu que Cunha volte ao Rio e aguarde de lá uma decisão judicial que o traga de volta à atividade parlamentar. "Ele quer continuar em Brasília, do lado da Câmara, para continuar interferindo", concluiu.



16 de maio de 2016
diário do poder

VOO DA ALEGRIA. DOIS SENADORES INVESTIGADOS VÃO A PORTUGAL DENUNCIAR 'GOLPE'

ENROLADOS NA LAVA JATO VÃO A PORTUGAL FALAR MAL DO GOVERNO

REQUIÃO E VANESSA GRAZZIOTIN, QUE NÃO ESTÃO ENROLADOS, E OS ENROLADÍSSIMOS GLEISI HOFFMANN E LINDBERGH FARIAS (QUE NÃO APARECEM NA FOTO), NA SALA VIP DO AEROPORTO DE BRASÍLIA.


Um grupo de senadores realiza uma excursão a Portugal, por conta do contribuinte brasileiro, para falar mal do Brasil difundindo a mentira do “golpe” na qual nem mesmo eles acreditam – do contrário, teriam feito essa alegação ao Supremo Tribunal Federal (STF), que atua como guardião da Constituição.

O “vôo da alegria” foi integrado dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), investigados na Operação Lava Jato, que apura o roubo à estatal Petrobras, alem de Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Roberto Requião (PMDB-PR).

Eles viajaram a pretexto de participar de reuniões da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, a Eurolat, em Lisboa, que começa esta segunda-feira (16) e acaba no próximo dia 18.

Senador enrolado

“Nossa orientação é de ir ao mundo inteiro denunciar esse golpe”, disse Lindbergh, confirmando a intenção do grupo, enquanto deixa de explicar as acusações contra ele. Mais da metade das “doações” eleitorais obtidas pelo senador petista foram feitas por empresas investigadas na operação Lava Jato, da Polícia Federal, por pagarem propina a políticos e partidos como recompensa por contratos superfaturados da Petrobras nos governos do ex-presidente Lula e Dilma. Ele declarou à Justiça Eleitoral ter arrecadado R$7,3 milhões.

Senadora indiciada

A pedido da Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a senadora Gleisei Hoffmann e o marido, ex-ministro Paulo Bernardo, por mais uma suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.

A investigação descobriu indícios de corrupção envolvendo a senadora, cuja campanha eleitoral de 2010 recebeu dinheiro de propina. Um delator, Antônio Carlos Pieruccini, confirmou em depoimento que transportou o dinheiro, em espécie, de São Paulo a Curitiba em quatro viagens, entregando-o a um intermediário ligado ao casal, Ernesto Kugler.



16 de maio de 2016
diário do poder

O QUE REALMENTE É O FASCISMO


fascismo.jpg

Todo mundo sabe que o termo fascista é hoje pejorativo; um adjetivo frequentemente utilizado para se descrever qualquer posição política da qual o orador não goste. Não há ninguém no mundo atual propenso a bater no peito e dizer "Sou um fascista; considero o fascismo um grande sistema econômico e social."

Porém, afirmo que, caso fossem honestos, a vasta maioria dos políticos, intelectuais e ativistas do mundo atual teria de dizer exatamente isto a respeito de si mesmos.

O fascismo é o sistema de governo que opera em conluio com grandes empresas (as quais são favorecidas economicamente pelo governo), que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos (como a liberdade de empreender em qualquer mercado que queira) e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade.

Tente imaginar algum país cujo governo não siga nenhuma destas características acima. Tal arranjo se tornou tão corriqueiro, tão trivial, que praticamente deixou de ser notado pelas pessoas. Praticamente ninguém conhece este sistema pelo seu verdadeiro nome.

É verdade que o fascismo não possui um aparato teórico abrangente. Ele não possui um teórico famoso e influente como Marx. Mas isso não faz com que ele seja um sistema político, econômico e social menos nítido e real. O fascismo também prospera como sendo um estilo diferenciado de controle social e econômico. E ele é hoje uma ameaça ainda maior para a civilização do que o socialismo completo. Suas características estão tão arraigadas em nossas vidas — e já é assim há um bom tempo — que se tornaram praticamente invisíveis para nós.

E se o fascismo é invisível para nós, então ele é um assassino verdadeiramente silencioso. Assim como um parasita suga seu hospedeiro, o fascismo impõe um estado tão enorme, pesado e violento sobre o livre mercado, que o capital e a produtividade da economia são completamente exauridos. O estado fascista é como um vampiro que suga a vida econômica de toda uma nação, causando a morte lenta e dolorosa de uma economia que outrora foi vibrante e dinâmica.

As origens do fascismo
A última vez em que as pessoas realmente se preocuparam com o fascismo foi durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela época, dizia-se ser imperativo que todos lutassem contra este mal. Os governos fascistas foram derrotados pelos aliados, mas a filosofia de governo que o fascismo representa não foi derrotada. Imediatamente após aquela guerra mundial, uma outra guerra começou, esta agora chamada de Guerra Fria, a qual opôs o capitalismo ao comunismo. O socialismo, já nesta época, passou a ser considerado uma forma mais branda e suave de comunismo, tolerável e até mesmo louvável, mas desde que recorresse à democracia, que é justamente o sistema que legaliza e legitima a contínua pilhagem da população.

Enquanto isso, praticamente todo o mundo havia esquecido que existem várias outras cores de socialismo, e que nem todas elas são explicitamente de esquerda. O fascismo é uma dessas cores.

Não há dúvidas quanto às origens do fascismo. Ele está ligado à história da política italiana pós-Primeira Guerra Mundial. Em 1922, Benito Mussolini venceu uma eleição democrática e estabeleceu o fascismo como sua filosofia. Mussolini havia sido membro do Partido Socialista Italiano.

Todos os maiores e mais importantes nomes do movimento fascista vieram dos socialistas. O fascismo representava uma ameaça aos socialistas simplesmente porque era uma forma mais atraente e cativante de se aplicar no mundo real as principais teorias socialistas. Exatamente por isso, os socialistas abandonaram seu partido, atravessaram o parlamento e se juntaram em massa aos fascistas.

Foi também por isso que o próprio Mussolini usufruiu uma ampla e extremamente favorável cobertura na imprensa durante mais de dez anos após o início de seu governo. Ele era recorrentemente celebrado pelo The New York Times, que publicou inúmeros artigos louvando seu estilo de governo. Ele foi louvado em coletâneas eruditas como sendo o exemplo de líder de que o mundo necessitava na era da sociedade planejada. Matérias pomposas sobre o fanfarrão eram extremamente comuns na imprensa americana desde o final da década de 1920 até meados da década de 1930.

Qual o principal elo entre o fascismo e o socialismo? Ambos são etapas de um continuum que visa ao controle econômico total, um continuum que começa com a intervenção no livre mercado, avança até a arregimentação dos sindicatos e dos empresários, cria leis e regulamentações cada vez mais rígidas, marcha rumo ao socialismo à medida que as intervenções econômicas vão se revelando desastrosas e, no final, termina em ditadura.

O que distingue a variedade fascista de intervencionismo é a sua recorrência à ideia de estabilidade para justificar a ampliação do poder do estado. Sob o fascismo, grandes empresários e poderosos sindicatos se aliam entusiasticamente ao estado para obter proteção e estabilidade contra as flutuações econômicas, isto é, as expansões e contrações de determinados setores do mercado em decorrência das constantes alterações de demanda por parte dos consumidores. A crença é a de que o poder estatal pode suplantar a soberania do consumidor e substituí-la pela soberania dos produtores e sindicalistas, mantendo ao mesmo tempo a maior produtividade gerada pela divisão do trabalho.

Os adeptos do fascismo encontraram a perfeita justificativa teórica para suas políticas na obra de John Maynard Keynes. Keynes alegava que a instabilidade do capitalismo advinha da liberdade que o sistema garantia ao "espírito animal" dos investidores. Ora guiados por rompantes de otimismo excessivo e ora derrubados por arroubos de pessimismo irreversível, os investidores estariam continuamente alternando entre gastos estimuladores e entesouramentos depressivos, fazendo com que a economia avançasse de maneira intermitente, apresentando uma sequência de expansões e contrações.

Keynes propôs eliminar esta instabilidade por meio de um controle estatal mais rígido sobre a economia, com o estado controlando os dois lados do mercado de capitais. De um lado, um banco central com o poder de inflacionar a oferta monetária por meio da expansão do crédito iria determinar a oferta de capital para financiamento e estipular seu preço, e, do outro, uma ativa política fiscal e regulatória iria socializar os investimentos deste capital.

Em uma carta aberta ao presidente Franklin Delano Roosevelt, publicado no The New York Times em 31 de dezembro de 1933, Keynes aconselhava seu plano:

Na área da política doméstica, coloco em primeiro plano um grande volume de gastos sob os auspícios do governo. Em segundo lugar, coloco a necessidade de se manter um crédito abundante e barato. ... Com estas sugestões . . . posso apenas esperar com grande confiança por um resultado exitoso. Imagine o quanto isto significaria não apenas para a prosperidade material dos Estados Unidos e de todo o mundo, mas também em termos de conforto para a mente dos homens em decorrência de uma restauração de sua fé na sensatez e no poder do governo. (John Maynard Keynes, "An Open Letter to President Roosevelt," New York Times, December 31, 1933 in ed. Herman Krooss, Documentary History of Banking and Currency in the United States, Vol. 4 (New York: McGraw Hill, 1969), p. 2788.)

Keynes se mostrou ainda mais entusiasmado com a difusão de suas ideias na Alemanha. No prefácio da edição alemã da Teoria Geral, publicada em 1936, Keynes escreveu:

A teoria da produção agregada, que é o que este livro tenciona oferecer, pode ser adaptada às condições de um estado totalitário com muito mais facilidade do que a teoria da produção e da distribuição sob um regime de livre concorrência e laissez-faire. (John Maynard Keynes, "Prefácio" da edição alemã de 1936 da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, traduzido e reproduzido in James J. Martin, Revisionist Viewpoints (Colorado Springs: Ralph Myles, 1971), pp. 203?05.)

Controle estatal do dinheiro, do crédito, do sistema bancário e dos investimentos é a base exata de uma política fascista. Historicamente, a expansão do controle estatal sob o fascismo seguiu um padrão previsível. O endividamento e a inflação monetária pagaram pelos gastos estatais. A resultante expansão do crédito levou a um ciclo de expansão e recessão econômica. O colapso financeiro gerado pela recessão resultou na socialização dos investimentos e em regulamentações mais estritas sobre o sistema bancário, ambos os quais permitiram mais inflação monetária, mais expansão do crédito, mais endividamento e mais gastos. O subsequente declínio no poder de compra do dinheiro justificou um controle de preços e salários, o qual se tornou o ponto central do controle estatal generalizado. Em alguns casos, tudo isso aconteceu rapidamente; em outros, o processo se deu de maneira mais lenta. Porém, em todos os casos, o fascismo sempre seguiu este caminho e sempre descambou no total planejamento centralizado.

Na Itália, local de nascimento do fascismo, a esquerda percebeu que sua agenda anticapitalista poderia ser alcançada com muito mais sucesso dentro do arcabouço de um estado autoritário e planejador. Keynes teve um papel-chave ao fornecer uma argumentação pseudo-científica contra o laissez-faire do velho mundo e em prol de uma nova apreciação da sociedade planejada. Keynes não era um socialista da velha guarda. Como ele próprio admitiu na introdução da edição nazista da Teoria Geral, o nacional-socialismo era muito mais favorável às suas ideias do que uma economia de mercado.

Características

Examinando a história da ascensão do fascismo, John T. Flynn, em seu magistral livro As We Go Marching, de 1944, escreveu:

Um dos mais desconcertantes fenômenos do fascismo é a quase inacreditável colaboração entre homens da extrema-direita e da extrema-esquerda para a sua criação. Mas a explicação para este fenômeno aparentemente contraditório jaz na seguinte questão: tanto a direita quanto a esquerda juntaram forças em sua ânsia por mais regulamentação. As motivações, os argumentos, e as formas de expressão eram diferentes, mas todos possuíam um mesmo objetivo, a saber: o sistema econômico tinha de ser controlado em suas funções essenciais, e este controle teria de ser exercido pelos grupos produtores.

Flynn escreveu que a direita e a esquerda discordavam apenas quanto a quem seria este 'grupo de produtores'. A esquerda celebrava os trabalhadores como sendo os produtores. Já a direita afirmava que os produtores eram os grandes grupos empresariais. A solução política de meio-termo — a qual prossegue até hoje, e cada vez mais forte — foi cartelizar ambos.

Sob o fascismo, o governo se torna o instrumento de cartelização tanto dos trabalhadores (desde que sindicalizados) quanto dos grandes proprietários de capital. A concorrência entre trabalhadores e entre grandes empresas é tida como algo destrutivo e sem sentido; as elites políticas determinam que os membros destes grupos têm de atuar em conjunto e agir cooperativamente, sempre sob a supervisão do governo, de modo a construírem uma poderosa nação.

Os fascistas sempre foram obcecados com a ideia de grandeza nacional. Para eles, grandeza nacional não consiste em uma nação cujas pessoas estão se tornando mais prósperas, com um padrão de vida mais alto e de maior qualidade. Não. Grandeza nacional ocorre quando o estado incorre em empreendimentos grandiosos, faz obras faraônicas, sedia grandes eventos esportivos e planeja novos e dispendiosos sistemas de transporte.

Em outras palavras, grandeza nacional não é a mesma coisa que a sua grandeza ou a grandeza da sua família ou a grandeza da sua profissão ou do seu empreendimento. Muito pelo contrário. Você tem de ser tributado, o valor do seu dinheiro tem de ser depreciado, sua privacidade tem de ser invadida e seu bem-estar tem de ser diminuído para que este objetivo seja alcançado. De acordo com esta visão, é o governo quem tem de nostornar grandes.

Tragicamente, tal programa possui uma chance de sucesso político muito maior do que a do antigo socialismo. O fascismo não estatiza a propriedade privada como faz o socialismo. Isto significa que a economia não entra em colapso quase que imediatamente. Tampouco o fascismo impõe a igualdade de renda. Não se fala abertamente sobre a abolição do casamento e da família ou sobre a estatização das crianças. A religião não é proibida.

Sob o fascismo, a sociedade como a conhecemos é deixada intacta, embora tudo seja supervisionado por um poderoso aparato estatal. Ao passo que o socialismo tradicional defendia uma perspectiva globalista, o fascismo é explicitamente nacionalista ou regionalista. Ele abraça e exalta a ideia de estado-nação.

Quanto à burguesia, o fascismo não busca a sua expropriação. Em vez disso, a classe média é agradada com previdência social, educação gratuita, benefícios médicos e, é claro, com doses maciças de propaganda estatal estimulando o orgulho nacional.

O fascismo utiliza o apoio conseguido democraticamente para fazer uma arregimentação nacional e, com isso, controlar mais rigidamente a economia, impor a censura, cartelizar empresas e vários setores da economia, escolher empresas vencedoras e privilegiá-las com subsídios, repreender dissidentes e controlar a liberdade dos cidadãos. Tudo isso exige um contínuo agigantamento do estado policial.

Sob o fascismo, a divisão entre esquerda e direita se torna amorfa. Um partido de esquerda que defende programas socialistas não tem dificuldade alguma em se adaptar e adotar políticas fascistas. Sua agenda política sofre alterações ínfimas, a principal delas sendo a sua maneira de fazer marketing.

O próprio Mussolini explicou seu princípio da seguinte maneira: "Tudo dentro do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado". Ele também disse: "O princípio básico da doutrina Fascista é sua concepção do Estado, de sua essência, de suas funções e de seus objetivos. Para o Fascismo, o Estado é absoluto; indivíduos e grupos, relativos."

O futuro

Não consigo imaginar qual seria hoje uma prioridade maior do que uma séria e efetiva aliança anti-fascista. De certa maneira, ainda que muito desconcertada, uma resistência já está sendo formada. Não se trata de uma aliança formal. Seus integrantes sequer sabem que fazem parte dela. Tal aliança é formada por todos aqueles que não toleram políticos e politicagens, que se recusam a obedecer leis fascistas convencionais, que querem mais descentralização, que querem menos impostos, que querem poder importar bens sem ter de pagar tarifas escorchantes, que protestam contra a inflação e seu criador, o Banco Central, que querem ter a liberdade de se associar a quem quiserem e de comprar e vender de acordo com termos que eles próprios decidirem, que querem empreender livremente, que insistem em educar seus filhos por conta própria. Principalmente, por aqueles investidores, poupadores e empreendedores que realmente tornam possível qualquer crescimento econômico e por aqueles que resistem ao máximo a divulgar dados pessoais para o governo e para o estado policial.

Tal aliança é também formada por milhões de pequenos e independentes empreendedores que estão descobrindo que a ameaça número um à sua capacidade de servir aos outros por meio do mercado é exatamente aquela instituição que alega ser nossa maior benfeitora: o governo.

Quantas pessoas podem ser classificadas nesta categoria? Mais do que imaginamos. O movimento é intelectual. É cultural. É tecnológico. Ele vem de todas as classes, raças, países e profissões. Não se trata de um movimento meramente nacional; ele é genuinamente global. Não mais podemos prever se os membros se consideram de esquerda, de direita, independentes, libertários, anarquistas ou qualquer outra denominação. O movimento inclui pessoas tão diversas como pais adeptos do ensino domiciliar em pequenas cidades e pais em áreas urbanas cujos filhos estão encarcerados por tempo indeterminado e sem nenhuma boa razão (senão pelo fato de terem consumido substâncias não-aprovadas pelo estado).

E o que este movimento quer? Nada mais e nada menos do que a doce liberdade. Ele não está pedindo que a liberdade seja concedida ou dada. Ele apenas pede a liberdade que foi prometida pela própria vida, e que existiria na ausência do estado leviatã que nos extorque, escraviza, intimida, ameaça, encarcera e mata. Este movimento não é efêmero. Somos diariamente rodeados de evidências que demonstram que ele está absolutamente correto em suas exigências. A cada dia, torna-se cada vez mais óbvio que o estado não contribui em absolutamente nada para o nosso bem-estar. Ao contrário, ele maciçamente subtrai nosso padrão de vida.

Nos anos 1930, os defensores do estado transbordavam de ideias grandiosas. Eles possuíam teorias e programas de governo que gozavam o apoio de vários intelectuais sérios. Eles estavam emocionados e excitados com o mundo que iriam criar. Eles iriam abolir os ciclos econômicos, criar desenvolvimento social, construir a classe média, curar todas as doenças, implantar a seguridade universal, acabar com a escassez e fazer vários outros milagres. O fascismo acreditava em si próprio.

Hoje o cenário é totalmente distinto. O fascismo não possui nenhuma ideia nova, nenhum projeto grandioso — nem mesmo seus partidários realmente acreditam que podem alcançar os objetivos almejados. O mundo criado pelo setor privado é tão mais útil e benevolente do que qualquer coisa que o estado já tenha feito, que os próprios fascistas se tornaram desmoralizados e cientes de que sua agenda não possui nenhuma base intelectual real.

É algo cada vez mais amplamente reconhecido que o estatismo não funciona e nem tem como funcionar. O estatismo é e continua sendo a maior mentira do milênio. O estatismo nos dá o exato oposto daquilo que promete. Ele nos promete segurança, prosperidade e paz. E o que ele nos dá é medo, pobreza, conflitos, guerra e morte. Se queremos um futuro, teremos nós mesmos de construí-lo. O estado fascista não pode nos dar nada. Ao contrário, ele pode apenas atrapalhar.

Por outro lado, também parece óbvio que o antigo romance dos liberais clássicos com a ideia de um estado limitado já se esvaneceu. É muito mais provável que os jovens de hoje abracem uma ideia que 50 anos atrás era tida como inimaginável: a ideia de que a sociedade está em melhor situação sem a existência de qualquer tipo de estado.

Eu diria que a ascensão da teoria anarcocapitalista foi a mais dramática mudança intelectual ocorrida em minha vida adulta. Extinta está a ideia de que o estado pode se manter limitado exclusivamente à função de vigilante noturno, mantendo-se como uma entidade pequena que irá se limitar a apenas garantir direitos essenciais, adjudicar conflitos, e proteger a liberdade. Esta visão é calamitosamente ingênua. O vigia noturno é o sujeito que detém as armas, que possui o direito legal de utilizar de violência, que controla todas as movimentações das pessoas, que possui um posto de comando no alto da torre e que pode ver absolutamente tudo. E quem vigia este vigia? Quem limita seu poder? Ninguém, e é exatamente por isso que ele é a fonte dos maiores males da sociedade. Nenhuma lei, nenhuma constituição bem fundamentada, nenhuma eleição, nenhum contrato social irá limitar seu poder.

Com efeito, o vigia noturno adquiriu poderes totais. É ele quem, como descreveu Flynn, "possui o poder de promulgar qualquer lei ou tomar qualquer medida que lhe seja mais apropriada". Enquanto o governo, continua Flynn, "estiver investido do poder de fazer qualquer coisa sem nenhuma limitação prática às suas ações, ele será um governo totalitário. Ele possui o poder total".

Este é um ponto que não mais pode ser ignorado. O vigia noturno tem de ser removido e seus poderes têm de ser distribuídos entre toda a população, e esta tem de ser governada pelas mesmas forças que nos trazem todas as bênçãos possibilitadas pelo mundo material.

No final, esta é a escolha que temos de fazer: o estado total ou a liberdade total. O meio termo é insustentável no longo prazo. Qual iremos escolher? Se escolhermos o estado, continuaremos afundando cada vez mais, e no final iremos perder tudo aquilo que apreciamos enquanto civilização. Se escolhermos a liberdade, poderemos aproveitar todo o notório poder da cooperação humana, o que irá nos permitir continuar criando um mundo melhor.

Na luta contra o fascismo, não há motivos para se desesperar. Temos de continuar lutando sempre com a total confiança de que o futuro será nosso, e não deles.

O mundo deles está se desmoronando. O nosso está apenas começando a ser construído. O mundo deles é baseado em ideologias falidas. O nosso é arraigado na verdade, na liberdade e na realidade. O mundo deles pode apenas olhar para o passado e ter nostalgias daqueles dias gloriosos. O nosso olha para frente e contempla todo o futuro que estamos construindo para nós mesmos. O mundo deles se baseia no cadáver do estado-nação. O nosso se baseia na energia e na criatividade de todas as pessoas do mundo, unidas em torno do grande e nobre projeto da criação de uma civilização próspera por meio da cooperação humana pacífica.

É verdade que eles possuem armas grandes e poderosas. Mas armas grandes e poderosas nunca foram garantia de vitória em guerras. Já nós possuímos a única arma que é genuinamente imortal: a ideia certa. E é isso que nos levará à vitória.

Como disse Mises,

No longo prazo, até mesmo o mais tirânico dos governos, com toda a sua brutalidade e crueldade, não é páreo para um combate contra ideias. No final, a ideologia que obtiver o apoio da maioria irá prevalecer e retirar o sustento de sob os pés do tirano. E então os vários oprimidos irão se elevar em uma rebelião e destronar seus senhores.