"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

MONTEIRO LOBATO: IMBATÍVEL

No Brasil, já tivemos nos Institutos de Educação o curso de literatura infantil, mas foi estranhamente desativado. Isso demonstra o quanto a nossa literatura infantojuvenil é desprezada pelas autoridades.

Se antes tínhamos que nos sujeitar à tradução de obras estrangeiras, hoje o que se vê é outra realidade. Desde que pais, professores e pedagogos passaram a se preocupar com o conteúdo dos livros dirigidos às crianças, surgiu em nosso meio editorial o que se pensou que fosse um fenômeno, um boom, mas na verdade, era o florescimento dos nossos competentes autores e ilustradores.

Foi nesse período que surgiu a chamada “corrente realista” na literatura infantojuvenil. A preocupação moralista e também pedagógica deu lugar aos temas ligados à nossa perspectiva sociocultural. Passou-se a questionar a realidade brasileira por intermédio de um humor feito com bastante seriedade. A questão da fantasia ou realidade deixou de ser relevante, o que importava (e ainda importa) era a criança vista como um ser humano e não como um pré-adulto, ou um adulto miniaturizado.

E onde entra Monteiro Lobato, depois do surgimento dessa corrente?

Simplesmente ele é imbatível. A literatura infantojuvenil brasileira tem nele o seu divisor de águas. Apesar de ter sido um escritor conservador para os adultos, Monteiro Lobato era modernista para as crianças. E foi o primeiro a criar a fantasia “abrasileirada”, sem trenós, neves e outros elementos estranhos à nossa realidade, numa época em que o pouco que produzia era uma cópia de modelos estrangeiros.

O livro destinado à formação docente aponta tratamento discriminatório, mas enfatiza que os alunos não devem ser privados da riqueza de outros pontos do legado do autor por conta disso. Perderemos parte significativa do que a obra de Lobato pode nos ensinar sobre o Brasil se reduzirmos essa personagem a uma mera manifestação de preconceito. Dizer que os livros infantis de Lobato são preconceituosos e recusá-los ou censurar passagens, em nome do combate ao preconceito, é esquecer que são ficções e que seus personagens e situações formam um mundo à parte, por mais que se relacionem de diferentes formas com o mundo real.

19 de abril de 2017
Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor.

COMENTÁRIOS

Walter Campos ·
Juiz de Fora
A mancha que se quis trazer à grande obra do inigualável e único Monteiro Lobato é, apenas, um retrato da esquizofrenia delirante que acometeu várias camadas da sociedade brasileira. Quem não entende o papel da "tia Nastácia" nas suas obras, deveria se debruçar sobre a história do Brasil e entender o contexto da obra. Conheci, nos anos 50 e 60, ainda criança, outras " Nastácias", em propriedades rurais, perfeitamente integradas e felizes com as famíiias com as quais viviam e faziam parte, sempre merecedoras de muito respeito e carinho. Outro dia, falou-se em banir algumas marchinhas e outras músicas da MPB , porque o seu conteúdo seria discriminatório. A vingar este pensamento, logo chegará a vez de José de Alencar, de Machado de Assis e outros clássicos brasileiros...

Tarcisio Martins ·
Works at Universidade Estadual de Londrina
A paranóia esquerdopata do politicamente correto é absurda e idiota. Olhando o universo criado por Lobato percebe-se o quanto ele está à frente de seu tempo. Entrega às crianças e a tia Anastácia toda possibilidade de criar sem a interferencia dos adultos, sem o comando dos país, que, àquela época, comandavam tudo e obrigavam as crianças acompanha-los em todos tipos de cerimonias e rituais. Anastácia não interfere, apoia e completa o que as crianças imaginam e criam em um mundo próprio.
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Moacir Antônio Bordignon
Lobato é inigualável quando traz lições de cunho nacionalista ao seu genial fabulário infanto juvenil, inculcando ideias de formacao nacional, mesmo neste cenário profundamente caldeado, predisposto a disparidades culturais impedientes. A censura obtusa que seus detratores ideologicamente imbecilizados fazem ao seu gênio, só confirma a mediocracia que esses apedeutas pregam.

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